Na downtown de Honolulu, por volta das nove e meia da noite, os pobres começavam a ocupar os bancos, os cantinhos, os pedaços de relva para dormir. Eram muitos, muitos mesmo, como já perdemos a memória na Europa. A maior parte eram pessoas de idade, e brancas, que deveriam estar na reforma, mas que aqui chegaram ao fim dos seus dias sem sequer um tecto para dormir.
À minha frente uma senhora vai empurrando um carrinho das compras cheio de tralha, aquela tralha é tudo o que lhe resta após uma vida de trabalho.
Ao meu lado um senhor idoso, obeso, bebe fanta. Nos EUA, a fanta é mais barata do que uma garrafa água, mas tem o ligeiro problema de fazer engordar. Ele fez a opção possível, tecnicamente a única possível.
Junto às praias paradisíacas de Waimea, Mokuleia, Kahana e Kailua, amontoam-se caravanas e tendas que são a residência de famílias inteiras que aproveitam os balneários das praias como casa de banho.
Na costa Oeste de Oahu, ao longo da faixa costeira, longe dos roteiros turísticos, existe um gigantesco "bairro da tenda", uma espécie de bairro da lata composto por tendas de campismo.
Na Europa também temos muitos pobres. Em média, os nossos pobres vivem talvez com menos 100$ por mês do que os pobres americanos, mas não vivem assim, não estão excluídos do sistema desta maneira, não sofrem do mal de falta de tecto de uma forma tão generalizada. E o que vi em Honolulu é tão mau como o que vi em Los Angeles, embora consideravelmente pior do que Washington ou Nova Iorque. Mas a pobreza aliada à exclusão é uma constante das downtowns americanas que visitei, a um nível que começa a ser raro ver-se deste lado do atlântico, mesmo nos sítios piores, como na baixa do Porto, por exemplo.