sábado, agosto 28, 2004

O ensino em Portugal nos últimos 200 anos

Carlos Fiolhais no seu livro "A coisa mais preciosa que temos", Gradiva, 2002, dedica um seccao ao "Atraso Português". É um texto brilhante onde é feito o retrato do ensino em Portugal nos últimos 200 anos. Esse texto vem acompanhado de significativos dados estatísticos que explicam inequivocamente a origem do nosso atraso. A comparacao entre a percentagem de pessoas de todas as idades que frequentavam a escola entre 1840 e 1928 dá-nos uma ideia muito clara da origem do nosso atraso:

País: % de pessoas na escola em
1840,1850,1887,1928

EUA: 15, 18, 22, 24
Inglaterra: ?, 12, 16, 16
Holanda: 12, 13, 14, 19
Rússia/URSS: ?, 2, 3, 12
Alemanha: 17, 16, 18, 17
França: 7, 10, 15, 11
Hungria: ?, ?, 12, 16
Espanha: 4, ?, 11, 11
Grécia: ?, 5, 6, 12
Portugal: ?, 1, 5, 6

Outro dado importante é o ano em que se atingiu a alfabetizacao de metade da populacao nas diferentes regioes da Europa. Eis o gráfico respectivo tirado do livro "A sociedade da confianca" publicado pelo Instituto Piaget:



A introducao tardia da escola primária em Portugal explica em parte este atraso. Apenas em 1894 se decretou que que o Ensino Primário Elementar era obrigatório para todas as criancas dos seis aos doze anos. Os 48 de ditadura salazarista acabaram por consolidar o atraso que já vinha do passado.

O JPT do Ma-Schamba tem razao quando diz que eu nao devo personalizar a discussao deste assunto atacando em demasia Fátima Bonifácio. A minha ideia era pegar no artigo de Fátima Bonifácio como um exemplo de uma opiniao típica bastante errada e arrogante sobre o ensino em Portugal. Do ponto de vista qualitativo o artigo de Fátima Bonifácio é muito semelhante `a opiniao do caixeiro viajante que telefona para o Forum da TSF e comeca todas as frases por "é assim". Refiro-me `a tradicional opiniao de que agora os jovens sao todos uns burros (versao Fátima é ignorantes) e que "dantes é que o ensino era bom".
O que eu esperava de uma especialista em história contemporânea era uma opiniao bem fundamentada, independentemente de ser certa ou errada. Acaba por ser irónico que um físico como Carlos Fiolhais escreva um artigo (também publicado no Primeiro de Janeiro) com muito mais qualidade e muito mais certeiro do que o artigo de Fátima Bonifácio. Por exemplo, quando Fátima Bonifácio critica que o investimento na educação é "uma promessa que em Portugal tem sido feita, com intermitências, de há perto de duzentos anos a esta parte" condenando a injeccao de dinheiro no sistema, perante os dados que Fiolhais nos fornece nao percebemos muito bem onde é que Portugal andou a investir a mais. O grande problema de Portugal é que investiu sempre a menos e demasiado tarde! Um indivíduo que nao conhecesse os autores dos dois artigos era capaz de se enganar e atribuir o artigo de Fiolhais a um especialista de história contemporânea!

JPT eu concordo contigo mas quando as pessoas usam e abusam da arrogância há que aplicar um valente puxao de orelhas como "dantes, quando o ensino era bom".

quarta-feira, agosto 25, 2004

Transpor a fasquia saltando por baixo

Para um fisico uma das modalidades mais interessantes do atletismo e' o salto em altura. E' um exemplo de como se pode transpor um obstaculo passando por baixo. O segredo esta na colocacao do corpo em relacao 'a fasquia, de modo a fazer passar o corpo por cima enquanto o centro de massa do atleta se mantem sempre abaixo da fasquia. A tecnica que mais se aproxima deste conceito - que e' mais de natureza teorica - foi implementada por Dick Fosbury, um saltador americano que espantou toda a concorrencia nos Jogos Olimpicos de 1968 do Mexico. Nessa epoca a tecnica mais em voga era o rolamento ventral. Fosbury ganhou a medalha de ouro no salto em altura com a marca de 2,24 m. Os espectadores maravilhados com a tecnica original de Fosbury acompanhavam cada salto gritando "Ole'".

(Foto do sítio do COI)

terça-feira, agosto 24, 2004

"A Universidade dantes é que era": ponto da situação

Queria agradecer os comentários dos leitores da Klepsýdra sobre o tema "A Universidade dantes é que era". O debate está a ser interessante, peço desculpa por não ter tido muita disponibilidade para responder com mais prontidão a alguns comentários. Entre esses comentários surgem duas questões me parecem importantes:

- Deve uma especialista de História Contemporânea publicar em revistas referenciadas pelo ISI ou não?

- Os novos métodos de ensino são melhores ou piores que os antigos métodos? Será que estes novos métodos são aplicados em todo o território nacional ou estamos a falar apenas de meia dúzia de escolas da capital e eventualmente do Porto ou do litoral?

Existem aspectos mais graves sobre o artigo de Fátima Bonifácio sobre os quais me exprimirei e que são resumidos neste extracto do seu artigo:

"Uma promessa [investimento na educação] que em Portugal tem sido feita, com intermitências, de há perto de duzentos anos a esta parte"

sábado, agosto 21, 2004

"A Universidade dantes é que era"...então não era!

O artigo de Fátima Bonifácio publicado no passado domingo no Publico é mais um daqueles artigos de opinião sobre a Universidade Portuguesa sem consistência estatística e baseada numa experiência pessoal de 25 anos de docência em que a autora invoca o mito de um passado glorioso do ensino em Portugal (do qual não consegue dar nenhum exemplo palpável) e inevitavelmente descreve um ensino actual em que "quase todos os que chegam ao fim saem da Universidade tão ignorantes como lá entraram" (pois claro!).

O primeiro problema do artigo de Fátima Bonifácio é que reduz a Universidade à docência. A Universidade é uma instituição de troca de conhecimento, não é uma simples escola. A Universidade deve formar alunos, mas para além dessa função deve investigar, deve interagir com a sociedade (empresas, autarquias, ministérios, etc.) e deve divulgar o que faz ao grande público numa linguagem que ele entenda. Entre todas estas obrigações da Universidade a que mais falha em Portugal é a interacção com a sociedade. O fraco número de patentes nacionais e o baixo investimento na investigação financiada por empresas privadas são dois indicadores bastante significativos dessa falha.

O segundo problema deste artigo resulta de Fátima Bonifácio - tanto quanto pude investigar na base de dados do ISI (é falível) - não ter nenhum artigo publicado numa revista científica internacional com arbitragem, outra das obrigações da Universidade. Curiosamente a publicação de artigos em revistas internacionais de referência com arbitragem é um indicador que desmonta completamente a teoria de Fátima Bonifácio através de números demolidores. Em Portugal é rara a área de investigação em que o número de publicações científicas não tenha crescido exponencialmente nos últimos 25 anos, mesmo quando olhamos para o número de artigos por investigador. Ora nos últimos 25 anos os que saíram "da Universidade tão ignorantes como lá entraram" (entre os quais se inclui este vosso ignorante) publicaram muito mais artigos científicos em revistas internacionais com arbitragem do que todos os que foram publicados até há 25 anos atrás. Aliás, há 25 anos havia departamentos inteiros das nossas universidades que não tinha um único artigo publicado. Imaginem só que muitos desses "ignorantes" são hoje convidados para apresentar palestras nas mais conceituadas universidades do mundo, outros foram mesmo convidados ou seleccionados para trabalhar em grandes instituições internacionais como o CERN, a ESA, o ESO, etc. E mesmo naquele que é o calcanhar de Aquiles da Universidade, a relação com a sociedade, existem muitos desses "ignorantes" que criaram empresas de tecnologia de ponta de impacto mundial (a Critical Software é uma das mais recentes, portanto com mais "ignorantes") e "ignorantes" numa proporção bastante superior à da época de ouro de Fátima Bonifácio estão hoje a trabalhar em grandes multinacionais.

Substituindo neste texto "ignorantes" por "geração rasca" quase todas as comparações que faço entre o passado e o presente ganhariam ainda mais validade. Hoje, 11 anos depois, à luz das declarações de Vicente Jorge Silva plenas de irreflexão e de arrogância que colavam o rótulo de "rascas" a todos nós alunos universitários em 1993, não deixa de ser irónica a análise entre o passado e o presente da Universidade Portuguesa...

Noite cigana

Estava eu deliciado a ouvir o Vicente Amigo na Figueira da Foz a dedilhar magistralmente a sua guitarra flamenca e mal sabia eu que em Coimbra Ricardo Quaresma "dedilhava" magistralemente uma bola Adidas (a da segunda parte) oferecendo o 26º título (record do mundo) a Vítor Baía.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Portugal no céu: Cruzeiro do Sul

O Cruzeiro do Sul é uma das heranças mais importantes que Portugal deixou na nomenclatura astronómica. A identificação desta constelação deve-se aos navegadores portugueses que começaram a desbravar a costa africana para lá do equador. O eixo maior do Cruzeiro do Sul aponta para o Pólo Sul. À falta de uma estrela polar no Hemisfério Sul, o Cruzeiro do Sul serviu de constelação de referência na navegação de alto mar a sul do equador.
Algumas das bandeiras de países do Hemisfério Sul representam essa constelação identificada pelos navegadores portugueses: Austrália, Brasil, Nova Zelândia, Papua Nova-Guiné e Samoa Ocidental.

quarta-feira, agosto 18, 2004

"A Universidade dantes é que era"...era, era!

Numa edição da Fundação Bissaya Barreto intitulada "Bissaya Barreto - O Homem e a Obra" podemos ler na biografia que serve de introdução a esta publicação:
"...entrou para a Universidade, matriculando-se em Filosofia, Matemática e Medicina. Viria a concluir as três licenciaturas com a máxima classificação possível: 20 valores." Ainda durante a licenciatura Bissaya Barreto fez greve aos exames de 1907, mas "no ano seguinte, fez todos os exames dos dois anos das três faculdades..."

Após lermos estes extraordinários (ou seriam extra-terrestres?) feitos de Bissaya Barreto percebemos que o facilitismo na universidade portuguesa tem barbas e bengala, não é coisa de hoje. Vem isto a propósito de uma série de emails de leitores do Abrupto sobre a qualidade das universidades portuguesas. Como sempre nestas discussões sobre a qualidade do ensino, as opiniões são más e sem consistência estatística. Normalmente baseiam-se numa experiência pessoal do narrador em que este é um herói da sabedoria e os seus colegas, ou alunos, ou professores (depende de quem se quer atingir) são todos uns ignorantes e vai daí generaliza-se a todas as universidades. Vão lá ler as experiências pessoais para ver se não é assim. Como sempre lá vem o facilitismo outra vez como causa de uma suposta baixa de qualidade da universidade. O texto que acima transcrevi é só um "aperitivo" sobre este tema, ao qual voltarei nas próximas entradas da Klepsýdra. Penso que é uma boa ilustração sobre a treta que se vai lendo sobre um suposto passado de rigor do ensino universitário em Portugal e um suposto facilitismo do presente.

terça-feira, agosto 17, 2004

Portugal no céu: Nuvem de Magalhães

Ainda a propósito da nomenclatura portuguesa no relevo de Marte venho aqui relembrar que Portugal deixou algumas marcas no céu. A Nuvem de Magalhães é o objecto celeste mais importante ao qual foi atribuído o nome de um ilustre português. Fernão de Magalhães observou a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães no céu do hemisfério sul durante a sua viagem de circum-navegação. Ambas são pequenas galáxias satélite da nossa Via Láctea que se encontram a uma distância de cerca de 180 mil anos-luz. Na verdade, ambas já tinham sido identificadas em 964 por Abd Al-Rahman Al Sufi, um astrónomo Persa.


(Grande Nuvem de Magalhães, imagem do sítio da NASA)

domingo, agosto 15, 2004

Ólympos IV: o evangelista olímpico

Os Jogos Olímpicos de Londres em 1908 foram os primeiros a serem realizados num estádio de concepção moderna com uma pista de 400 m e relvado central. No entanto a piscina e a pista de ciclismo estavam também integradas no mesmo espaço. Uma das curiosidades destes jogos foi a victória de Forrest Smithson dos EUA nos 110 m barreiras. Smithson correu com uma bíblia na mão. Não sei se Zeus lá no alto do Olímpo gostou da provocação, o que é certo é que o deixou vencer. Zeus é tolerante!


(Foto do sítio do COI)

Ólimpos III: desportos bizarros em St. Louis

sábado, agosto 14, 2004

Sábado em Coimbra XIII: entrada mediterrânica

Depois de passar quatro anos em França aprendi a apreciar e a valorizar a cozinha mediterrânica. Por vezes em Portugal nem percebemos a sorte de possuir um clima temperado que nos permite obter da natureza variados e apetecíveis sabores e odores muito típicos da cozinha mediterrânica. Perdemo-nos muitas vezes nesses pratos de grandes nacos de carne banhados em refogados a ferver, que também podem ser bons mas que são pouco apropriados ao calor da primavera e do verão. Hoje preparei uma entrada mediterrânica muito simples: um requeijão, azeitonas pretas e quatro folhas arrancadas a um manjericão (basílico) que me foi oferecido pelo nosso Nuno.

Sábado em Coimbra XII

sexta-feira, agosto 13, 2004

Portugal entra na letra pi (π)

A ordem de entrada dos atletas no novo Estádio Olímpico de Atenas vai seguir obviamente a ordem do alfabeto grego. Portugal entra na letra pi (π) de Portogalia, ou seja Πoρτoγαλια.

Crateras e vales marcianos com nomes portugueses

No Abrupto levantou-se a questão da atribuição de nomes a crateras marcianas.
No hemisfério norte de Marte existem três crateras com o nome de cidades portuguesas: Aveiro, Funchal e Lisboa. Aveiro foi sugerida por um filho de emigrantes portugueses da zona de Aveiro ao seu amigo e director do United States Geological Survey (USGS). É esta instituição que recebe as propostas de nomes para o relevo marciano. Mas quem aprova os nomes é a International Astronomical Union.
No hemisfério sul marciano existem ainda três vales com o nome de três rios portugueses: "Durius", "Munda" (Mondego) e "Tagus".

quinta-feira, agosto 12, 2004

Os meus 30 filmes preferidos

Mais ou menos por ordem de preferência:

As Asas do Desejo (Wim Wenders, 1987)
Underground (Emir Kusturica, 1995)
La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)
Dr. Strangelove (Stanley Kubrick, 1964)
La Vita è Bella (Roberto Benigni, 1997)
Sol Enganador (Nikita Mikhalkov, 1994)
No Man's Land (Danis Tanovic, 2001)
Central do Brasil (Walter Salles, 1998)
Irreversível (Gaspar Noé, 2002)
Karakter (Mike Van Diem, 1997)
Funny Games (Michael Haneke, 1997)
Abre los Ojos (Alejandro Amenábar, 1997)
Une Liaison Pornographique (Frédéric Fonteyne, 1999)
La Pianiste (Michael Haneke, 2001)
Barton Fink (Joel e Ethan Coen, 1991)
Mulholland Drive (David Lynch, 2001)
Eyes Wide Shut (Stanley Kubrick, 1999)
Em Carne Viva (Pedro Almodóvar, 1997)
Festen (Thomas Vinterberg, 1998)
Gato Preto, Gato Branco (Emir Kusturica, 1998)
O Testa de Ferro (Woody Allen e Martin Ritt, 1976)
Morango e Chocolate (Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, 1994)
Delicatessen (Caro e Jeunet 1991)
Exotica (Atom Egoyan, 1994)
Blow Up (Michelangelo Antonioni, 1966)
Belle de Jour (Luis Buñuel, 1967)
Querelle (Werner Rainer Fassbinder, 1982)
Ice Storm (Ang Lee, 1997)
Contacto (Robert Zemeckis, 1997)
Cidade de Deus (Kátia Lund e Fernando Meirelles, 2002)

Sobre as Asas do Desejo convido o leitor a espreitar este texto do Bruno do Avatares onde ele faz uma pequena análise sobre a escolha entre o imutável e eterno universo do divino e o transformável mas mortal mundo terreno. Em breve escreverei sobre este que é o meu filme preferido alguns furos acima de todos os outros que indiquei.
Underground é uma bela parábola e auto-crítica ao que foi o projecto da República Federal Jugoslava no século XX. Essa parábola torna-se ainda mais deliciosa com a música de Bregovic e com a qualidade do conjunto de actores escolhidos por Kusturica, como é habitual nos seus filmes.
Há vários aspectos que adoro em La Dolce Vita. A crítica mordaz e atrevida à igreja (relembro que o filme é de 1960) expressa através de cenas como a imagem inicial de Cristo sobrevoando Roma...suspenso por um cabo a um helicóptero ou a paródia à história da Nossa Senhora de Fátima. Outro aspecto é a crítica à decadente instituição do casal tradicional, ao homem chefe de família que gere as amantes perante uma mulher dependente e obediente. Depois há Fellini, há a deriva, as noitadas que se transformam em manhãs em ambientes bizarros e a vertigem de se estar olhos nos olhos perante relações sem rede.
(continua)

Os meus 20 realizadores preferidos
Os meus 10 actores preferidos
As minhas 10 actrizes preferidas

A olímpica Ute Lemper

If sex were an Olympic sport we'd have won the gold

"The Case Continues", Ute Lemper

terça-feira, agosto 10, 2004

Ólympos III: desportos bizarros em St. Louis

Os Jogos Olímpicos que se realizaram em 1904 em St. Louis, tal como os de 1900 de Paris, foram integrados numa Exposição Universal. Numa das faces das medalhas lia-se "Universal Exhibition", na outra "Olympiad". Do programa deste Jogos faziam ainda parte alguns desportos que hoje seriam considerados bizarros, como: salto em altura sem balanço, salto em comprimento sem balanço, triplo salto sem balanço, lançamento do pavé (25,4 kg), tracção à corda (duas equipas a puxar a extremidade de uma corda), levantamento do peso com um braço, saltos para a água de cabeça, roque (parecido com o críquete), lacrosse (um desporto dos índios americanos que parece misturar regras de basquete, futebol e hóquei).
Mas uma das fotografias que mais impressiona desses jogos, é esta foto do salto à vara. Reparem que não há colchão. O vencedor, Charles Dvorak americano de origem checa, saltou 3,5 m!


(salto à vara, St. Louis, 1904, foto do sítio do COI)

Ólimpos II, os Jogos no Bosque de Bolonha

É isto a filosofia liberal

O pequeno texto do Luís da Natureza do Mal sobre o Paraguai ilustra bem o que é a filosofia liberal, o utilizador-pagador e afins. O Paraguai não é caso único, na Birmânia morrem pessoas porque não há dinheiro para pagar o serviço hospitalar que entrou numa onda fundamentalista de liberalizações, naquele que é um dos mais pobres países do mundo. A filosofia neo-liberal (não confundir com os liberais americanos, anglo-saxónicos e franceses), encabeçada por pessoas como Fukuyama e a linha dura do partido Republicano, é uma das ideologias que mata mais no mundo e em muitos casos consegue ser tão burocrática como os antigos sistemas soviéticos. Os telefones e os serviços hospitalares são dos piores exemplos desta filosofia. Experimentem telefonar nos EUA!
Mas o caso do Paraguai fez-me lembrar (com as devidas diferenças) a vez em que fiquei retido três horas entre a última entrada de acesso à auto-estrada e a barreira de recolha de título no Porto, por causa de obras que a própria Brisa estava aí a efectuar. Perante aquele caos, ninguém da Brisa se decidiu a anular a barreira de títulos, tivemos que gramar mais tempo porque a Brisa não queria perder um cêntimo. Claro, no fim reclamei o que paguei de portagem. A Brisa não aceitou a minha reclamação dando justificações falsas, mas conseguiram comprar-me com um excelente mapa de estradas de Portugal que me enviaram para casa no Natal, diga-se de passagem de maior valor do que o que paguei de portagem.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Mundo de Aventuras VIII

A bandeira é a da China comunista, mas estamos na China Town, o bairro nova-iorquino onde o nome das ruas aparece inscrito em chinês e em inglês, onde o comércio e os habitantes são quase exclusivamente chineses ou americanos de origem chinesa ou asiática.

(Chinatown, Nova Iorque, EUA, 2002)

Vasco Graça Moura treparia pelas paredes
Na Europa, isto não é nada de novo. As judiarias são um dos exemplos de bairros criados por imigrantes onde a sua cultura prevalece sobre a cultura do país de acolhimento. No entanto, essa tradição perdeu-se um pouco, reflexo talvez da onda nacionalista que dominou o nosso continente nos últimos séculos. Mas agora ressurgem na Europa esses bairros em que é dominante a cultura dos imigrantes, temos novos bairros: magrebinos, indianos, paquistaneses, arménios, filipinos, chineses, etc. Esta nova realidade (que de facto é muito velha) incomoda muitos conservadores. Incomodam-se com os mercados onde se fala árabe, hindu ou chinês. Incomodam-se porque "eles nem sequer aprendem a língua do país". Um dos arautos dessa xenofobia escondida com o rabo de fora é Vasco Graça Moura. O nosso eurodeputado tem andado muito chocado com o que tem visto em França e na Bélgica. Mas o mais engraçado é que refere sempre os EUA como o "melting pot" perfeito da imigração. Ora, o que Graça Moura deveria perceber, é que tal como nos EUA, se calhar um dia teremos bairros na Europa onde só se falará árabe, hindu ou chinês e provavelmente teremos por lá a flutuar a bandeira da Índia, da China, do Paquistão, da Argélia ou de Marrocos.
Na passada quarta-feira Vasco Graça Moura voltou à carga, mas desta vez de uma forma mais moderada. Longe de artigos anteriores onde roçava a xenofobia. Mesmo assim Graça Moura conclui que "a identidade europeia poderá vir a tornar-se cada vez mais problemática". O mais certo é a identidade europeia tornar-se mais rica, como Nova Iorque e como o Portugal do renascimento, o Portugal do brilhante judeu Pedro Nunes. Mas será que Graça Moura não tem um espelho lá em casa? Será que ele não topa o seu tom de pele e o seu nariz mediterrânico? Ninguém é capaz de lhe dizer que, apesar das suas ideias, Portugal ganhou em ter absorvido os seus antepassados do Norte de África (ou do Médio Oriente), os tais da "graça moura"?!

Mundo de Aventuras VII

sábado, agosto 07, 2004

Uma solucao para o Estadio Nacional

Ha quem esteja muito empenhado neste pais em fazer mais um estado novo no Jamor, sob o pretexto da renovacao desse magnifico monumento nacional que e' o Estadio Nacional(sao resmas e resmas de turistas que vem a Portugal de proposito so' para ir ver o Estadio Nacional). Entretanto o Mosteiro da Batalha ganha musgo misturado com diesel queimado da EN1, o que lhe da' um colorido especial, mas isso que interessa, o que interessa esses castelos com mais de 7 seculos a cair aos bocados. Interessa e' apostar no Jamor. Eu por mim sugeria isto para o Jamor:

(Radiotelescopio de Arecibo, Porto Rico, Imagem do Observatorio de Arecibo)

Um radiotelescopio ali no lugar daquele monolito e' que era!

sexta-feira, agosto 06, 2004

Saudade

En ce mai de fous messages
J'ai un rendez-vous dans l'air
Inattendu et clair
Déjà je pars à ta découverte
Ville bonne et offerte
C'est l'attrait du danger
Qui me mène à ce lieu
C'est d'instinct
Qu'tu me cherches et approches
Je sens que c'est toi

C'est à l'aube que se ferment
Tes prunelles marina
Sous quel meridien se caresser
Dans mes bras te cacher
Dans ces ruelles fantômes
Ou sur cette terrasse
Où s'écrase un soleil
Tu m'enseignes
Le langage des yeux
Je reste sans voix

Les nuits au loin tu cherches l'ombre
Comment ris-tu avec les autres
Parfois aussi je m'abandonne
Mais au matin les dauphins se meurent
De saudade...

Où mène ce tourbillon
Cette valse d'avions
Aller au bout de toi et de moi
Vaincre la peur du vide
Les ruptures d'équilibre
Si tes larmes se mèlent
Aux pluies de novembre
Et que je dois en périr
Je sombrerai avec joie

De saudade...


"Saudade", Etienne Daho

quarta-feira, agosto 04, 2004

Dominique de Villepin tinha razão sobre o Iraque

O discurso de Dominique de Villepin, Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, perante a ONU na altura em que os EUA estavam na iminência de intervir no Iraque:

"Make no mistake about it: the choice is indeed between two visions of the world. To those who choose to use force and think they can resolve the world's complexity through swift and preventive action, we offer in contrast determined action over time. For today, to ensure our security, all the dimensions of the problem must be taken into account: both manifold crises and their many facets, including cultural and religious. Nothing lasting in international relations can be built therefore without dialogue and respect for the other, without exigency and abiding by principles, especially for the democracies that must set the example. To ignore this is to run the risk of misunderstanding, radicalization and spiraling violence. This is even more true in the Middle East, an area of fractures and ancient conflicts where stability must be a major objective for us."

Agora, um ano e meio depois, a situação é muito mais clara, Villepin tinha razão.
A negrito destaco a frase que considero mais certeira e que rima com a opinião de Richard Clarke sobre o erro da intervenção no Iraque que já aqui transcrevi nesta entrada, onde destaco também a negrito a frase onde Clarke confirma Villepin.

terça-feira, agosto 03, 2004

Ólympos II: Os Jogos no Bosque de Bolonha

Os II Jogos Olímpicos da era moderna ocorreram curiosamente sem estádio olímpico. Realizaram-se no Bosque de Bolonha (hoje um dos antros de prostituição parisiense) a par da Exposição Mundial de Paris de 1900. Pela primeira vez participaram mulheres nas competições olímpicas. Estes jogos realizaram-se em Paris contra a vontade da Grécia que pretendia ser o organizador permanente dos Jogos.

Ólympos I: o triunfo do carteiro!

segunda-feira, agosto 02, 2004

Velocidades da época

É tempo de férias, em geral é tempo de maior contacto com a natureza. Proponho um exercício de Verão aos leitores da Klepsýdra (que poderão ser realizados na praia, no campo, nas montanhas, em grutas, debaixo de um limoeiro, etc.), a verificação experimental das seguintes velocidades:

Velocidade média de crescimento de uma estalagmite: 0,3 pm/s
Velocidade de deslocação dos continentes: 0,3 nm/s
Velocidade média de crescimento de um cabelo humano: 5 nm/s
Velocidade de crescimento de uma árvore: até 30 nm/s
Velocidade de um espermatozóide: 60 a 160 µm/s
Velocidade média de um caracol: 5 mm/s
Velocidade de um serviço em Badmington: 70 m/s
Velocidade média de uma molécula de oxigénio à temperatura ambiente (25ºC): 280 m/s