segunda-feira, maio 31, 2010

Clara Lomba Moreira

A Clara fez muito bem em relembrar o que esteve na origem desta crise. No entanto, continua o tabu do debate sobre a reforma do sistema financeiro tal como o conhecemos.

O Pedro Lomba foi pouco convincente em tentar branquear a responsabilidade do sector financeiro. É verdade que os estados alinharam inicialmente no endividamento para a aquisição de casa própria, mas a cultura consumista e facilitista de endividamento tal como a conhecemos hoje é da exclusiva responsabilidade da banca. Além disso não nos esquecemos que as fraudes financeiras generalizadas no sector financeiro americano do final dos 80 e o rebentar da bolha do sector imobiliário de 2008 são o resultado da desregulação e das pressões do sector financeiro para reduzir a intervenção do estado.

Foi muito fraca a discussão sobre a União Europeia, a começar pelas deixas da apresentadora. Safou-se a erudição sobre a matéria do Prof. Adriano Moreira.

segunda-feira, maio 24, 2010

A implosão da "bolha" chinesa

Na entrevista de Marc Fiorentino ao L'Express, este coloca a hipótese da implosão económica da China. A fundamentação dessa hipótese parece muito credível. A ver vamos...

Et la Chine dans tout cela ?
La Chine ne sera pas « attaquée », elle va carrément imploser !

Qu'est-ce qui vous amène à cette affirmation ?
Cela fait plus de vingt ans que je m'intéresse aux « bulles ». J'ai une check-list de 20 critères qui font qu'on est ou non dans un phénomène de « bulle ». Pour la Chine, j'ai déjà coché au bas mot 15 des 20 cases de ma liste ! Ce pays entretient le mensonge permanent. Ainsi, contrairement aux Etats-Unis et à l'Europe, la Chine n'accepte pas la chute de son PIB. Du coup, elle maintient artificiellement sa croissance économique au-dessus des 8 % fatidiques. Et pour cela, elle a pourri - c'est le terme - le bilan de ses banques. Obligées de prêter à des régions, à des collectivités pour des projets qui ne seront jamais rentables, les banques chinoises croulent aujourd'hui sous les mauvaises créances. Cela étant, prestige oblige, si la Chine fera tout pour tenir jusqu'au terme de l'Exposition universelle de Shanghai, je n'ai cependant pas le moindre doute sur l'implosion prochaine de l'économie chinoise !

sexta-feira, maio 21, 2010

quinta-feira, maio 20, 2010

Mordomias da Alta Finança II

"Dixon [proprietário da Vernon Savings] liked the beach, so he had Vernon Savings buy spectacular, multimillion-dollar homes on the beach in Southern California, and then spend tens of thousands of dollars keeping the homes in fresh flowers. One does not live a full life by the beach alone, so Dixon also had Vernon buy a chalet, near former President Ford, at one of the nation's top ski resorts in Colorado. Naturally, one wishes to be able to join such amenities without plebeian concerns such as baggage screening or possibly having to sit next to a screaming child. Thus was born Vernon's air force. Once one has a fleet of private jets, one discovers that they have little to do most of the time. The answer is to provide them, often (illegally) without charge, to politicians."
"The Best Way to Rob a Bank Is to Own One", William K. Black, University of Texas Press, 2005, pag. 108

Os cortes nos vossos salários, nas vossas pensões e no vosso nível de vida vão servir para pagar isto.

quarta-feira, maio 19, 2010

Ataque à Grécia terá sido apenas um teste?

Vale a pena ler a entrevista ao L'Express de Marc Fiorentino, um ex-corrector da bolsa, que não é propriamente um esquerdista, sobre a forma como funcionam os actuais mercados financeiros. Deixo aqui um primeiro extracto sobre o ataque especulativo à Grécia:

Que pensez-vous de la situation en Grèce ?
Marc Fiorentino : C'est la genèse de mouvements beaucoup plus forts. C'est un « test » avant de mener un jour « la mère de toutes les batailles », celle sur la dette américaine. Le grand public doit donc comprendre que les marchés sont en fait manipulés. Pour l'instant, les fonds spéculatifs fourbissent leurs armes sur des cibles plus petites. Et tout comme Hitler a envahi la Pologne et la Tchécoslovaquie avant de s'en prendre finalement à la France, les fonds spéculatifs s'en prennent pour l'instant à la Grèce avant de s'en prendre par la suite aux Etats-Unis!

Mais de là à imaginer que les Américains accepteront de se (sou)mettre au régime sec du FMI...
Les Américains n'auront pas envie de se défendre et, à la limite, ils en appelleraient presque de leur voeux une attaque sur la dette américaine !

Pourquoi ?
Dans le langage populaire, on dit aux Etats-Unis que « ce qui est bon pour General Motors est aussi bon pour l'Amérique ». Et GM est en... chapter 11 [NDLR : en concordat] ! Bref, les Américains finiront un jour par dire : « On vous doit 100 mais on ne vous remboursera que 60. Ainsi, on restera debout et on sera toujours vos clients ! » La mentalité des Américains est ainsi faite qu'ils n'ont pas la même idée que nous, Européens, de la cessation de paiements. Là-bas, ne dit-on d'ailleurs pas qu'il faut avoir fait faillite deux fois avant de réussir ?

Mordomias da alta finança

(publicado no Esquerda Republicana)
"Long after his annual compensation at Enron had climbed into the millions, Ken Lay arranged to take out large personal loans from the company. He gave Enron jobs and contracts to his relatives. And Lay and his family used Enron's fleet of corporate jets as if they owned them. (...)
At lunch time, (...) when his meal arrived, his staff carefully unwrapped it, placed the food on fine china, and served him lunch on a covered silver platter".
The Smartest Guys in the Room, Bethany McLean e Peter Elkind, Portfolio, 2003, pag. 4

Ken Lay foi presidente da ENRON desde 1985 até à sua falência em 2001 e um dos principais responsáveis pelas actividades ilícitas da empresa nos mercados financeiros. O "esforço" pedido a parte dos cidadãos da Europa, dos EUA e do mundo serve também para este tipo de personagens poder continuar a roubar.

segunda-feira, maio 17, 2010

Enrequecimento de urânio iraniano na Turquia

(publicado no Esquerda.net)
Este fim-de-semana, o Irão aceitou produzir urânio enriquecido fora do país, suspendendo parcialmente o seu próprio programa de enriquecimento de urânio. Esta decisão resultou de negociações decorridas em Teerão entre o presidente brasileiro Lula da Silva, o primeiro-ministro turco Erdogan e o presidente iraniano Ahmadinejad, cujo objectivo era convencer o Irão a suspender o seu programa de enriquecimento de urânio. Os receios da comunidade internacional em relação ao programa de enriquecimento de urânio iraniano devem-se à possibilidade de utilização de urânio enriquecido para a produção de armas nucleares. Caso o Irão conseguisse dominar todo o processo de produção urânio enriquecido seria extremamente difícil à AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica) garantir que esse material seria utilizado apenas para fins civis. No passado países como a França e Israel iniciaram um programa nuclear civil com o objectivo escondido de criarem o seu próprio programa nuclear militar. Teme-se que o programa nuclear civil iraniano esconda as mesmas intenções.

O acordo agora assinado garante que uma boa parte do urânio fracamente enriquecido no Irão seja processada na Turquia até ao nível de enriquecimento de urânio necessário para a sua utilização num reactor nuclear civil. Paralelamente o Irão estabeleceu acordos de colaboração com o Brasil no domínio energético de quem irá beneficiar de uma linha de crédito de mil milhões de euros. Em resposta a este acordo, Israel declarou que o Irão estava a manipular o Brasil e a Turquia para adiar possíveis sanções da comunidade internacional.

Aquando da criação da AIEA em 1957 pretendia-se que todos os países que possuíssem armas ou materiais para fins nucleares civis ou militares os colocassem sob a égide da própria Agência de forma a diminuir o risco associado à proliferação de armas nucleares. 63 anos depois, ainda estamos muito longe desse objectivo, no entanto o caso iraniano mostra com clareza que para lidarmos com o Irão de uma forma coerente, justa e eficaz, contribuindo de facto para diminuir os riscos de proliferação, seria desejável adoptarmos os princípios fundadores da AIEA.

Seguir o Festival de Cannes

Como é habitual no canal ARTE podemos seguir diariamente os comentários, as curiosidades e as críticas dos filmes apresentados em Cannes. Ligação aqui.

sexta-feira, maio 14, 2010

Vamos pagar os erros do sistema financeiro

Este "esforço" que é exigido aos contribuintes de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e Grécia não é mais do que a factura de erros acumulados nas últimas duas décadas pelo sistema financeiro internacional (em particular o americano), pelo funcionamento irracional das bolsas e pelo laxismo na regulação dos mercados.

Em vez de moralizarmos a economia obrigando o sistema financeiro a pagar parte da crise (nem que fosse a prazo), contratando mais reguladores e inspectores e interditando as empresas que mais crimes financeiros cometeram, em vez disso implementamos medidas que vão permitir que nada mude na Bolsa de Londres e na Bolsa de Nova Iorque. A oligarquia financeira global pode estar descansada, pode continuar a roubar. Se houver problema, nós pagamos!

Cinzas de vulcão marciano



Cinzas vulcânicas fotografadas pela Mars Express da ESA na região de Meridiani Planum em Marte.

quarta-feira, maio 12, 2010

A beatificação da cumplicidade com o nazismo

(Publicado no Esquerda Republicana)
A beatificação de Pio XII por insistência do Papa Bento XVI constituirá a celebração de um silêncio mortal, a celebração do oportunismo e a celebração da cumplicidade com o pior da história do século XX. Aliás, o silêncio e a inacção da igreja perante os casos de pedofilia já são uma grande demonstração de coerência com a herança de Pio XII. Mas sobretudo, ao beatificar Pio XII, este Papa envia um sinal bem forte a todos os crentes de que mais vale estar calado, mais vale colaborar e mais vale aproveitar as pequenas oportunidades quando confrontados com as piores arbitrariedades cometidas nos seus locais de trabalho, nas suas famílias e nas suas comunidades.

Apesar do Vaticano precisar que a beatificação de Pio XII considera apenas "as suas virtudes enquanto cristão, pondo de parte qualquer apreciação da importância histórica de todas as suas decisões operacionais", com o mesmo critério poderíamos beatificar operacionais das SS, kapos dos campos de concentração e talvez inclusivamente alguns dos autores da solução final. Tenho a certeza que entre estes indivíduos havia gente perfeitamente honesta, louvável e integra antes de participar activamente na barbárie nazi. Mas é na adversidade que se testa a verdadeira integridade das pessoas ou, por outras palavras, o seu potencial de beatificação. Nesse particular Pio XII fez parte desse pelotão do silêncio, desse pelotão da cobardia perante a barbárie que foi um pelotão tão ou mais terrível que os próprios pelotões SS.

Vickie o Viking



Desde o final de 2009, tem estado a circular na Europa a primeira adaptação para cinema das histórias de Vickie o Viking do sueco Runer Jonsson que fizeram as delícias da infância minha geração quando foram adaptadas aos desenhos animados por uma co-produção japonesa e alemã em 1974. Estou curioso sobre o efeito que produzirá rever aquelas personagens que me faziam flipar com 4 ou 5 anos, o Tjure, o Snorre, o Faxe, o Halvar, a Ylva, o Vickie e a Ylvie.
Até lá quantos disneys lamechas é que vamos ter que gramar até ser lançado o Vickie em Portugal? Entretanto o segundo Vickie já está a ser produzido.

segunda-feira, maio 10, 2010

Entretanto fora da Zona Euro

(publicado no Esquerda Republicana)
Enquanto na zona euro andamos quase histéricos com os défices elevados dos países do sul e da França, fora da moeda única o estampanço de alguns países é total. Na Roménia foram decretados cortes de salários de 25%! E cortes nas pensões de 15%! A economia romena teve uma recessão de quase 8% em 2009. A situação na Hungria, na Ucrânia, nos países bálticos e na Islândia continua dramática.

As medidas que foram tomadas este fim-de-semana para proteger a zona euro e para moralizar a economia dos respectivos países vão no bom sentido. No entanto seria desejável que a UE criasse um mecanismo semelhante para os restantes países e países candidatos e seria sobretudo desejável que tomasse medidas draconianas para a moralização da economia. Não é aceitável a forma como a Bolsa de Londres funciona hoje em dia. A Bolsa de Londres é o lugar da Europa onde mais se rouba e onde se rouba muito. Pior ainda, a Bolsa de Londres é a plataforma que serve para jogar o dinheiro das economias de cidadãos e de pensionistas europeus (sem a sua autorização) na Bolsa de Nova Iorque. Desse dinheiro, nas últimas décadas, tem sido mais aquele que tem ficado por lá do que aquele que tem retornado às contas europeias.

Bibliografia de apoio:
"Meltdown Iceland", Roger Boyes
"The Best Way to Rob a Bank Is to Own One", William K. Black

quinta-feira, maio 06, 2010

Por uma lista negra de instituições financeiras

(publicado no Esquerda Republicana)
A UE publica periodicamente uma lista de organizações terroristas, tal como publica uma lista negra de companhias aéreas que não respeitam regras básicas de segurança.
Seria lógico que as instituições financeiras, cujas actividades especulativas causam muito mais vítimas, desemprego e pobreza do que os grupos terroristas e os acidentes aéreos juntos, deveriam estar sujeitas a regras semelhantes. Uma lista negra de instituições financeiras, cujas actividades fossem interditadas na UE, poderia ser um bom começo para nos libertar de uma oligarquia financeira cujas actividades se enquadram mais na classificação de terrorismo do que propriamente na produção de bens ou prestação de serviços com beneficio para a sociedade. A Goldman Sachs e o Citigroup são dois bons exemplos de terrorismo financeiro recente na Grécia e na Bélgica, respectivamente.

quarta-feira, maio 05, 2010

Mulheres bonitas causam terramotos

Depois de termos visto a semana passada que comer frango causa pedofilia, esta semana chamo a atenção para as declarações de Hojatoleslam Kazem Sedighi, um líder religioso iraniano:

"Muitas mulheres que não se vestem de forma modesta, desviam os jovens do caminho justo e espalham o adultério na sociedade, o que faz aumentar os terramotos"

O João César das Neves é sumidade para concordar com esta brilhante dedução científica.

terça-feira, maio 04, 2010

O portal de Bernard Henri-Lévy

O portal do filósofo Bernard Henri-Lévy intitulado La Règle du Jeu entrou em actividade desde Novembro do ano passado. Ontem foi ali publicada a carta de defesa da honra de Roman Polansky "I can remain silent no longer!" ao bizarro processo de pedofilia que remonta a 1977.

segunda-feira, maio 03, 2010

Nas nuvens



Não é fácil, nem habitual realizar filmes cujo tema é o trabalho. Este "Nas nuvens" de Jason Reitman, o realizador de Juno, junta-se ao grupo restrito de filmes muito interessantes que reflectem sobre o emprego. "Nas nuvens" conta a história de um quadro de uma empresa de despedimentos, uma empresa paga para substituir o empregador no acto do despedimento. Ryan Bingham (George Clooney) percorre a América de lés a lés em registo glamour, percorrendo aeroportos, dormindo em hotéis de luxo, conduzindo grandes bólides, pago a peso de ouro para despedir. Este glamour rima com um cinismo que fazem de Ryan um homem orgulhosamente só, cujo o objectivo principal é atingir 10 milhões de milhas no seu cartão de passageiro frequente. A narrativa flui deliciosa e inteligentemente entre a futilidade e o luxo da vida de Ryan e o desespero dos novos desempregados, entre os amores efémeros de Ryan e as vidas destruídas de trabalhadores que dedicaram décadas da sua vida a uma empresa. No entanto, uma nova recruta da empresa vem perturbar a doce monotonia de Ryan...

Espero ter dado argumentos suficientemente sólidos às leitoras Klepsýdra para convencerem os seus parceiros a deslocarem-se ao cinema ver o George Cloon... opps!... ver este "Nas nuvens", digo. ;)

Programa de protecção da subida do nível do mar

(Publicado no portal Esquerda.net)
Na sequência da publicação de trabalhos científicos que indicam uma subida do nível do mar entre 20 e 80 cm até ao final deste século, da divulgação de estudos que revelam a erosão de 20% da orla costeira europeia e da destruição causada pela tempestade Xynthia, a UE (União Europeia) decidiu implementar dois programas de protecção do seu litoral. Os programas THESEUS e PEGASO abrangem 170 mil quilómetros de costa europeia abrangendo 20 países. Estes dois programas representam um investimento de cerca de 13,5 milhões de euros, no entanto calcula-se que este investimento permitirá dividir por quatro o custo dos estragos causados pela subida do nível do mar. O programa THESEUS consiste na avaliação das consequências económicas, ambientais e sociais da subida do nível do mar e na elaboração de medidas de organização do litoral mais apropriadas. O seu orçamento é de 6,5 milhões de euros e conta com a participação de 31 instituições europeias. O programa PEGASO tem por objectivo a aplicação do protocolo de gestão integrada das regiões costeiras do Mediterrâneo, que permite aos estados em causa gerir conjuntamente o litoral, independentemente das fronteiras legais que dividem o mesmo meio natural. Neste programa participam 23 instituições de 15 países coordenadas pela Universidade Autónoma de Barcelona. A UE contribui em 7 milhões de euros para este programa.

A subida do nível médio da água do mar observada nos últimos 100 anos deve-se à diminuição da massa dos glaciares e à expansão térmica dos oceanos causadas pelo aquecimento global. Apesar de o nível do mar ter subido cerca de 120 metros desde o fim da última era glaciar (há cerca de 21 mil anos) acabou por estabilizar há 2 mil anos atrás. No entanto, desde o início da era industrial o planeta aqueceu e a partir do final século XIX o nível do mar começou a subir a uma taxa progressivamente crescente. Durante o século XX, o nível do mar subiu em média cerca de 1,7 mm por ano. Nas últimas décadas esta média subiu para cerca de 3 mm por ano. No entanto, a evolução do nível do mar não é uniforme, por exemplo nas últimas décadas o nível o Índico Ocidental desceu e o nível do Índico Oriental e do Pacífico Ocidental registaram as subidas mais elevadas do planeta. Desta forma, a destruição do litoral é mais uma consequência do aquecimento global que afectará de forma desigual diferentes regiões do mundo a que se juntarão ainda as desigualdades inerentes à capacidade de diferentes povos para lidar com catástrofes naturais.