quarta-feira, março 31, 2004

Cinema: as minhas 10 actrizes preferidas

Eu sei que isto parece coisa de adolescente, mas apetece-me lançar algumas sementes aparentemente fúteis para alguma discussão cinéfila. Talvez seja a costela científica, a mania das listas, das tabelas, das classificações ou ainda as minhas visitas ao interessante Blog sobre Kleist que se diverte a inventar listas de perfumes de gelados. Independentemente do motivo aqui vai:

Solveig Dommartin (Asas do Desejo, Wim Wenders)
Fanny Ardant (La femme d'à côté, François Truffaut)
Catherine Deneuve (Belle de Jour, Luis Buñuel)
Isabelle Huppert (A Pianista, Michael Haneke)
Rossy de Palma (Kika, Pedro Almodovar)
Franka Potente (Corre Lola Corre, Tom Tykwer)
Fernanda Montenegro (Central do Brasil, Walter Salles)
Paprika Steen (Festen, Thomas Vinterberg)
Jodie Foster (Contacto, Robert Zemeckis)
Leonor Silveira (Vale Abraão, Manoel de Oliveira)
Sarah Polley (Futuro Radioso, Atom Egoyan)
Theresa Randle (Girl 6, Spike Lee)
Isabella Rossellini (Blue Velvet, David Lynch)
Branka Katic (Gato Preto, Gato Branco, Emir Kusturica)
Rosario Dawson (A última hora, Spike Lee)

Isto começou em 10 e acabou em 15. Não queria ser injusto.
Entre parêntesis indico o filme em que mais apreciei o desempenho de cada actriz e o respectivo realizador.
A Marion de Solveig Dommartin é a personagem que mais me ficou na retina, aquele passeio pela tela que começa no trapézio voador e acaba no beijo ao anjo Damiel já transformado em homem, actuação açucarada pela sua dança solitária ao som de Nick Cave num clube berlinense. Reconheço que é quase pecado colocá-la à frente das duas grandes divas do cinema. Fanny Ardant à frente de Catherine Deneuve também merece uma explicação, eu sei. Acho que a Fanny tem um talento especial para realçar as fraquezas e as dúvidas de personagens profundamente apaixonadas pela vida tornando essas personagens ainda mais "ardentes" (de Fanny "Ardente"). Se Fanny substituísse Deneuve no filme a "Belle de Jour", o filme teria sido demasiado bom. Por outro lado, Deneuve poderia encaixar perfeitamente na personagem de Ardant em "La femme d'à côté", tornando o filme talvez mais poderoso, mas também mais frio.

terça-feira, março 30, 2004

Ditaduras do Caldas

Aconselho a lerem uma série de textos no blogue do Caldas "Cuba: a maior prisão de jornalistas no mundo". Confesso que fiquei intrigado como é que os rapazes do blogue do Caldas poderiam ter a certeza absoluta da contabilidade, dizem eles que são 27 jornalistas presos. Como é que eles sabem que Cuba tem mais jornalistas presos que outras ditaduras do mundo? Será que foram contar os jornalistas um por um em cada prisão de cada uma das ditaduras que existem no planeta? A resposta ocorreu-me rapidamente. Dadas as boas relações entre Paulo Portas e os ditadores da pior ditadura do planeta, a Arábia Saudita, a informação não poderia ser mais fidedigna. Estou a imaginar Paulo Portas sempre que encontra o seu homólogo Abdel Aziz da Arábia Saudita (quiçá para lhe vender mais algum material militar das OGMA) pergunta-lhe quantos jornalistas é que eles têm nas prisões sauditas. Ao que este deverá responder, "já lá deveremos ter uns 26 em Riade, está na hora de decapitar mais uma dúzia na Praça Chop-Chop que é para não ultrapassarmos o record cubano"!

Neste PP de Paulo Portas é caso para dizer se a ditadura for "comuna" é ditadura, se não for "comuna" até lhes vendemos material militar e não se fala mais nisso!

segunda-feira, março 29, 2004

Gosto do email de Paulo Varela Gomes

Já há muito tempo que não me dava tanto gozo ler um texto na blogosfera como o do email que Paulo Varela Gomes enviou ao Ivan do blogue A Praia. O meu gozo continuou à medida que ía lendo as reacções da esquerda "chove no molhado". Era capaz de assinar por baixo daquele texto magnífico se não tivesse pudor de ser um míssil e de ver os olhos esbugalhados do cheique Yassin naquele momento X. Foi o míssil mais justo jamais disparado por Israel, apesar de as consequências não serem famosas. No entanto, discordo em relação à sorte de Berlusconi. Preferia ver Berlusconi condenado por um tribunal pelas suas "habilidades" financeiras e em vez de cumprir pena de prisão deveria cumprir serviço cívico como caiador das linhas do Stadio degli Alpi da "Vecchia Signora" em Turim. Já quanto a Sharon penso que o Tribunal Penal Internacional tem lá uma cadeirinha à sua espera para o ouvir sobre o que se passou no Líbano nos anos 80.

Sinais...

"O meu pai sabe tudo: é jornalista!"

[dito por um miúdo num anúncio institucional a apelar à separação do lixo doméstico]

sábado, março 27, 2004

Sábado em Coimbra V: Fairy durou 73 dias

Descobri mais uma utilidade para os blogues! Graças às datas associadas aos textos, consegui calcular quanto tempo é que me durou o último detergente para a loiça que comprei, pois ficou aqui registado o dia em que o comecei a utilizar. Ontem gastei a última gota. Chego assim à conclusão que o Fairy me durou 73 dias. Voltei a comprar Fairy, mas para a próxima vou dar uma oportunidade a um detergente nacional para mostrar o que vale.

Sábado em Coimbra IV

sexta-feira, março 26, 2004

O astronauta da Catedral de Salamanca

Foi uma bela surpresa descobrir esta recente escultura de um astronauta numa das fachadas da Catedral Nova de Salamanca (sec. XVI). É esta capacidade de aliar a arte, a história e a ciência que é de louvar no clero e na sociedade espanhola. São estes pequenos detalhes que revelam se um país está disposto ou não a entrar na modernidade. Sinceramente ainda não vejo a nossa lusitânia com capacidade para aceitar este tipo de originalidade. Até deve haver muito do nosso clero que não acredita que o homem já foi à Lua. E alguns dos que acreditam têm raiva dessas conquistas, porque acham de algum modo que se está a violar o reino dos céus.









quarta-feira, março 24, 2004

A mania de apalhaçar Michael Moore

Antes de tudo, tenho a dizer que acho Michael Moore um americano inteligente, perspicaz e dinâmico, alguém que faz uso pleno da sua cidadania, um americano que aproveita o que de melhor existe nos ideais fundadores da democracia americana. Posto isto, quanto à tentativa que existe de uma certa direita de apalhaçar pessoas que têm um estilo político atrevido como Michael Moore ou Daniel Cohn Bendit (que é um eurodeputado muito mais empenhado do que qualquer um dos nossos eurodeputados), eu tenho a dizer que não sou muito sensível a essa adjectivação vinda de alguns comentadores de cara séria e de gravata passada a ferro. Aliás até acho estranho que isso aconteça em Portugal onde a direita nos habituou a um estilo bem atrevido e/ou humorado (e ainda bem) como é o caso do jornal Independente, o Diabo, ou dos cronistas Vasco Graça Moura, Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, ou ainda as revistas dos anos 70/80 de graçolas sobre os presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares. Por isso deixo a quem tem esse tipo de opiniões a oportunidade de as fundamentar se não a validade delas é quase nula.

O caríssimo JCD dos Jaquinzinhos decidiu comparar Florbela Queiroz a Michael Moore. Bom, eu prefiro comparar Michael Moore aos seus colegas da indústria cinematográfica, por exemplo : Schwarzenegger, governador do Estado da Califórnia, e Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA. Para já o nível dos filmes de Moore e dos outros nem se compara. Os prémios cinematográficos que Moore já obteve (óscar para o melhor documentário e o césar para o melhor filme estrangeiro) estão completamente fora do alcance intelectual dos outros dois. Se Michael Moore é uma Florbela Queiroz então o que dizer do ex-presidente Ronald Reagan? Que é uma Bota Botilde? O mais curioso é que já li aqui na blogosfera - vindo dos mesmos que tentam apalhaçar Michael Moore - que Ronald Reagan até já salvou o planeta (terá sido quando apoiou os talibãs no Afeganistão ou quando agravou brutalmente a dependência energética do petróleo dos EUA?). Não estou a querer insinuar que Michael Moore poderia ser presidente dos EUA, apesar dessa conclusão ser tentadora quando se olha para Bush ou para Reagan. Acho que Michael Moore é uma pessoa muito valiosa para os EUA, fazendo o que tem feito, usando a sua perspicácia e acutilância para levantar problemas importantes como a legalidade das milícias populares (proibidas em quase todos os estados de direito), a facilidade com que as crianças e adolescentes podem adquirir armas ou fabricá-las e a tragédia do número de homicídios por ano causados por armas de fogo nos EUA.

Astrologia política
O mimo que o JCD me dedicou sobre astrologia provocou-me um riso bem disposto porque foi bem escolhido. ;) Mas não vejo alguma relação entre Michael Moore e a astrologia, essa «arte» de prever o futuro que o estado português continua a financiar na RTP depois de ter expulsado esses «comunas» do Acontece. O grande sucesso cinematográfico de Michael Moore, Bowling for Columbine, conjuga-se no presente e no passado e não no futuro. O recente livro de Michael Moore «Dude, where’s my country?», aborda basicamente o passado recente dos EUA. Vamos a alguns exemplos das questões que Michael Moore coloca a Bush:

Is it true that the Bin Ladens have had business relations with you and your family off and on for the past 25 years?

What is the «special relationship» between the Bushes and the Saudi royal family?

Why did you allow a private Saudi jet to fly around the US in the days after de September 11 and pick up members of the bin Laden family and then fly them out of the country without a proper investigation by the FBI?

Were you aware that while you were governor of Texas, the Taliban traveled to Texas to meet with your oil and gas company friends?

Tirando o tom familiar inerente ao estilo de Michael Moore, o essencial das suas questões é exactamente o mesmo de todas as pessoas que se manifestaram sobre o facto da administração Bush conseguir a proeza de simultaneamente, ser aliada da Arábia Saudita e chamar criminoso a Saddam. E essas pessoas não pessoas quaisqueres, são agentes e ex-agentes (estes falam mais) da CIA, são filósofos respeitáveis como Bernard-Henry Lévy, o ex-inspector da ONU no Iraque Hans Blix e agora Richard Clarke.
Agora quanto a futurologia deixo aqui duas pérolas. Dick Cheney sobre Saddam:

«absolutely devoted to trying to acquire nuclear weapons. And we believe he has, in fact, reconstituted nuclear weapons», 16 de Março de 2003.

O «we believe» não poderia ser mais «científico» à boa moda da astrologia.

Colin Powell na ONU perante o mundo:

«We know that Iraq has at least seven of these mobile agent factories»

Mas JCD tem razão em relação à inexistência de comentários na Klepsýdra andamos a guardá-los para a nossa mudança para o weblog.pt.

terça-feira, março 23, 2004

O grande equívoco Iraquiano por quem sabe do que fala

Quando é o próprio responsável máximo americano pela luta anti-terrorista entre 1998 e 2003, Richard Clarke, a afirmar que a Guerra do Iraque foi um equívoco de alvo na resposta aos ataques do 11 de Setembro, penso que pouco há a acrescentar a tudo o que já tinha sido denunciado por ex-agentes da CIA e por muita gente independente, desde Michael Moore a Bernard-Henry Lévy. Todas estas pessoas já tinham detectado um somatório de ambiguidades na actuação da administração Bush em relação à luta contra o terrorismo que era no mínimo perturbante. As relações ambíguas com ditaduras sanguinárias como a Arábia Saudita e o Paquistão não agradaram nada aos mais cépticos. Richard Clarke escreveu o que lhe vai na alma no livro: "Against All Enemies". Fica a sensação de que Rumsfeld nem sequer é aquela pessoa fria mas inteligente, é sim mais um irresponsável com demasiado poder e uma pessoa bastante perigosa (leia-se o que disse Rumsfeld a seguir ao 11 de Setembro). Rumsfeld é apenas mais um a juntar à caricatura que é George W. Bush.

A três

Mireille Crétinon, Catherine Stroessel e Jean-François Briant têm uma relação a três que dura há 25 anos. Decidiram contá-la num livro intitulado "A trois". O livro foi apresentado este fim de semana no "Tout le monde en parle" (TV5, domingo cerca da meia-noite), o talk show mais interessante que conheço. Desta relação resultaram dois filhos, um de cada mulher! Se Miguel Sousa Tavares sabe uma destas dá-lhe mais um enfarte de bazófia pseudo-políticamente incorrecta.

segunda-feira, março 22, 2004

O que mete dó em Luís Delgado

O que mete dó em Luís Delgado nem é a sua americanofilia dogmática - conheço estalinistas e salazaristas dogmáticos interessantes apesar da repulsa que me causam esses ideais - o que mete dó é que os seus comentários revelam uma falta de informação grave para quem é pago para opinar sobre a actualidade. É mais do que evidente que o homem não tem seguido a política europeia, não lê (nem a LUSA o safa) o que se passa em França, na Alemanha, na Polónia, na Rep. Checa, nas instituições europeias, etc.. Qualquer "puto" acabado de sair de uma licenciatura de Relações Internacionais dava-lhe baile de política internacional. Porque é que neste país se paga ainda a comentadores mal informados? É que depois propagam-se ideias feitas erradas que se dão adquiridas como certas (ex: que o terrorismo chegou à Europa dia 11 de Março, que as polícias alemã e francesa não sabem lidar com o terrorismo, que só agora é a Europa vai tomar medidas contra o terrorismo, que a Al-Qaeda estava no Iraque, etc.). Por mim a SIC e o DN até poderiam ir buscar um comentador americanófilo ainda mais radical, mas pelo menos poderia ser alguém mais bem informado, até poderia ser o tal "puto" de Relações Internacionais recém licenciado.

Subsídios, lucidez e conversa da treta

A descrição do caso particular do projecto de Belgais no texto do Aviz sobre Maria João Pires fundamenta bem a racionalidade da atribuição de subsídios pelo estado, quando esse investimento (chamem-lhe subsídios se quiserem) traz alguma mais valia para o país. É assim que eu penso também. O estado deve investir em projectos de qualidade segundo critérios objectivos e rigorosos. Se não houver critérios, corre-se o risco de estimular a criação de mediocridade, que é um problema bem mais sério do que a tão propagandeada preguiça pelos que acham que o estado não deve financiar nada. Se não houver investimento (subsídios) do estado estamos a eternizar o nosso estatuto de país de merda em certas áreas, nomeadamente na ciência e na cultura.

Conversa da treta
O Aviz refere ainda: "Em Portugal, já vão longe os tempos em que os ricos erguiam bibliotecas, ofereciam livros, contribuíam para centros médicos e de velhice, e, sim, construíam fontanários, que eram um bem necessário e útil nas aldeias.". Também me ocorre a mesma indignação. Tanto liberal que há em Portugal cheio de dinheiro (e de tagarelice) e que odeia tanto os subsídios, mas na hora de criar prémios, programas de investimento e doações, assobiam todos para o ar. Afinal é só conversa da treta. Se não fosse o Pai Natal Gulbenkian que nos caiu do céu vindo da Arménia e Portugal ainda estaria mais na merda (parafraseando a nossa leitora eslava preferida).

Diálogo com a Al-Qaeda II

Sobre a sugestão avançada por Mário Soares para que haja um diálogo com a Al-Qaeda, Paulo Portas proferiu a seguinte frase:

«Quem defende diálogo com terroristas está a defender que o Estado de Direito se pode sentar à mesma mesa com grupos criminosos»

Ora, ironicamente, quando na qualidade de Ministro da Defesa, Paulo Portas tem um encontro com o príncipe Abdel Aziz da Arábia Saudita para celebrar uma cooperação militar entre as OGMA e o regime Saudita, temos um representante de um estado de direito a sentar-se à mesma mesa com um representante de um regime criminoso. O regime do príncipe Abdel Aziz só durante o ano 2000 foi responsável por 125 decapitações publicas na praça Chop-Chop em Riade.

Diálogo entre Paulo Portas e a Al-Qaeda
A Al-Qaeda tem grandes patrocinadores na família real Saudita. Os movimentos bancários entre a família real e uma série de elementos da Al-Qaeda antes do 11 de Setembro não enganam ninguém. Ex-agentes da CIA denunciaram-no, as próprias posições da CIA sobre a Arábia Saudita são bastante divergentes das de Rumsfeld e de Bush. O autor americano Robert Baer vai mais longe e no seu livro “Sleeping With the Devil: How Washington Sold Our Soul for Saudi Crude” denuncia as ligações perversas entre a família Bush e a família real Saudita no contexto da guerra contra o terrorismo.
Perante este cenário, fica a sensação que durante o seu encontro com o regime Saudita, Paulo Portas poderá já ter dialogado com intermediários da Al-Qaeda, seguindo o conselho de Mário Soares sem o saber. Melhor que isto só o ministério da defesa celebrar um acordo militar directamente com Ben Laden ou Mollah Omar. Poderia ser um fornecimento de urânio, a Al-Qaeda agradeceria muito.

sábado, março 20, 2004

Diálogo com a Al-Qaeda

Mário Soares sugeriu o diálogo com a Al-Qaeda. Para termos uma ideia do alcance que um diálogo com a Al-Qaeda poderia ter deixo-vos este diálogo (Klepsýdra 20/02/2004) entre Bernard Henry-Lévy e o adjunto do mufti da mesquita principal de Bonory Town no Paquistão. Há que realçar que o adjunto não sabia que Lévy é de origem judaica, se o soubesse provavelmente não teríamos aqui este belo diálogo para ler.

Bernard-Henri Lévy (BHL): Selon vous, Ousama est un homme de paix?

Adjunto do Mufti (AM): Ousama est un bon musulman. C’est notre frère dans l’islam. Il n’a peur de personne, sinon d’Allah. Il a pu faire des erreurs. Mais il distingue entre la demeure de la paix qui rassemble tous les musulmans du monde et la demeure de la guerre qui englobe tout le reste, il a raison, c’est notre position.

BHL: D’accord. Mais le résultat, concrètement, c’est quoi ? Homme de paix ou homme de guerre?

AM: La guerre contre les infidèles n’est pas la guerre, c’est un devoir. Depuis l’attaque américaine en Arabie Saoudite, puis en Afghanistan, il est devoir de tous les musulmans du monde de soutenir le jihad contre l’Amérique et les Juifs.

Bernard-Henri Lévy, «Qui a tué Daniel Pearl», Editions Grasset (2003).

Será que Mário Soares se referia a diálogos deste tipo?

(Continua. Próximo diálogo: Paulo Portas e Abdel Aziz, Príncipe Saudita)

Sábado em Coimbra IV: regar as plantas

Uma das minhas missões mais importantes é cuidar das plantas.
É no mínimo irónico, eu que era o terror das plantas da minha avó.
Nessa altura de bola na mão, no quintal da minha avó rodeado de plantas, imaginava-me entre os melhores jogadores de basquete do mundo, driblava americanos, ganhava ressaltos aos mais altos postes soviéticos, fazia um corte-e-passe com um extremo jugoslavo e afundava na cara de espanhol. A minha avó é que não achava piada nenhuma, sempre que a bola saía das «quatro linhas» quem pagava eram as plantas.
Hoje, sábado em Coimbra, as minhas plantas aplaudem enquanto as rego com água fresquinha.

Sábado em Coimbra III

sexta-feira, março 19, 2004

Horários insólitos dos transportes

O Blogue do Alex também já sofreu na pele as consequências dos magníficos horários da CP e da rede de Expressos.
Num país que precisa urgentemente de reconstruir e de renovar a sua rede ferroviária, o anúncio do encerramento da fábrica da Bombardier na Amadora junta-se ao insólito dos horários. Às vezes tenho a sensação que neste país vivemos uma espécie de episódio eterno da 5ª dimensão. Ti ri ri ri, ti ri ri ri...

quarta-feira, março 17, 2004

Portugal Único VI: Vai para Lisboa? só depois das 9…

Há algo de insólito na organização dos transportes públicos que servem a capital para quem se desloca do Porto ou de Coimbra. Não há um único autocarro ou comboio que chegue a Lisboa a horas decentes para quem quer chegar à capital antes das nove da manhã! Como devem imaginar uma pessoa minimamente dinâmica que habite no Porto ou em Coimbra tem frequentemente reuniões, palestras, deslocações de avião para o estrangeiro, aulas, negócios, etc., em Lisboa. É preciso não esquecer que vivemos no país mais centralista da Europa. Perante este cenário não há pontualidade que resista. Qualquer que seja a actividade que se inicie às 9 horas (ou antes desta hora) está condenada ao atraso do participante de Coimbra ou do Porto que se desloque de transportes públicos para Lisboa.

Comboios
Coimbra-Lisboa/ partida / chegada
Inter-Regional / 2:29 / 5:09
Regional / 5:00 / 9:00
Alfa / 7:19 / 9:17

Autocarros Coimbra-Lisboa
partida / chegada
2:15 / 4:50
6:15 / 9:00

Como podem reparar existem duas opções para chegar a Lisboa antes das 9 horas, mas requerem ao viajante que parta de Coimbra cerca das duas da manhã - hora a que os transportes públicos de Coimbra não funcionam. Pior ainda, este chega a Lisboa cerca das cinco da manhã - hora a que o metro e outros transportes públicos de Lisboa não funcionam - e requer ao viajante que apanhe uma valente seca até às nove da manhã em sítios altamente simpáticos como são as estações de comboios ou de autocarros. Após uma noite praticamente sem dormir, uma pessoa que vá participar numa reunião ou num congresso está obviamente em condições é de se ir deitar, isto é se não tiver o azar de ser assaltada junto à estação às cinco da manhã.

Recebemos frequentemente visitas de investigadores estrangeiros que depois têm que se deslocar para Lisboa para reuniões ou para apanhar o avião e deparam-se com esta situação terceiro-mundista. Os que têm aviões cerca das nove depois contam-nos por email a bela seca que apanharam no aeroporto de Lisboa.
Esta semana vamos cerca de duas dezenas de investigadores de Coimbra apresentar projectos ao fundo CERN a Lisboa às 9 da manhã. As viagens para serem reembolsadas devem ser efectuadas em transportes públicos. Alguns dos meus colegas não estão para se chatear e pagam a gasolina do seu próprio bolso, outros vão de véspera para Lisboa e dormem uma noite num hotel pago pelo contribuinte para lá estarem às nove da manhã minimamente acordados. E é sempre assim sempre que alguém se desloca a Lisboa para lá estar de manhã. O país perde dinheiro e eficiência à custa destas asneiras puramente centralistas.

É o Portugal Único de Miguel Sousa Tavares (MST)! Numa semana em que este cronista voltou a dizer asneiras sobre assuntos que não percebe (ou que não quer perceber), aqui está um exemplo da asneira que resulta da apatia regional deste país e para a qual contribuiu muito o movimento encabeçado por MST.

Vá até ao Portugal Único V, mas tem que pagar portagem

domingo, março 14, 2004

As simpatias pela ETA e não só

O Nuno do Mar Salgado tem razão quando refere que existem simpatias (flirts) de algumas pessoas de esquerda pela ETA. Para quem é de esquerda e acredita realmente nos valores da tolerância e da liberdade, essa simpatia irrita e irrita muito. Mas há simpatias ainda piores de certas pessoas que se dizem de esquerda. Há uma lenda que me irrita solenemente, que é a do agricultor colombiano feliz da vida (assim tipo capa da revista «A vida soviética») que sobrevive à fome e à miséria graças à sua cultura de folha de coca e graças à ajuda da guerrilha revolucionária. Ora a realidade na Colômbia é bem diferente. Os agricultores em geral são tecnicamente toxicodependentes, a maior parte passa os dias a mascar folha de coca. Se um infeliz dessas aldeias «bufa» alguma informação, a aldeia é completamente arrasada, as mulheres violadas e mortas com o resto da população. As atrocidades que se cometem entre a guerrilha e forças para-militares (que recebem alguma simpatia da direita) atingem níveis que fazem da ETA autênticos meninos de coro comparados com esta gente. Por exemplo, muitos dos prisioneiros de uma parte e de outra são barbaramente torturados ao ponto de os obrigarem a comer os próprios órgãos genitais.

Contudo, julgo que no dia 11 de Março aqui na blogosfera houve alguma agressividade excessiva em catalogar como simpatizante ou apoiante da ETA qualquer pessoa que ousasse pôr em causa que a ETA tinha sido responsável pelos atentados. Basta ler alguns textos que foram escritos até às 20h desse dia. Isso foi triste.

sábado, março 13, 2004

Terrorismo: a diferença entre a Al-Qaeda e os outros

Há muitos movimentos terroristas no mundo. Uns de esquerda e outros de direita, mas para se perceber porque é abusivo comparar a Al-Qaeda com qualquer grupo terrorista que existe no mundo leia-se o seguinte:

- O dia do primeiro teste nuclear do Paquistão, dia 28 de Maio, tem um estatuto de feriado religioso, onde os fanáticos desfilam atrás de faixas e bandeirinhas que representam o «Haft», o míssil nuclear paquistanês. Estes fanáticos entre os quais se encontram inúmeros membros do governo, da polícia e dos serviços secretos paquistaneses são membros ou apoiantes da Al-Qaeda ou de grupos ligados à mesma Al-Qaeda.

- Bashiruddin Mahmoud, paquistanês, projectista da fábrica de plutónio que catalisou o programa nuclear paquistanês tem uma teoria segundo a qual a bomba atómica paquistanesa não seria apenas uma bomba paquistanesa, mas uma bomba islâmica! Mahmoud encontrou-se por mais do que uma vez com Ben Laden…

Um pedido de desculpas ficava bem
Todas as pessoas que se precipitaram - compreende-se é humano - e que tentaram de um modo abusivo colar a esquerda, e não só, ao grupo de sanguinários da ETA à boleia de certezas absolutas sobre o atentado do passado 11 de Março deveriam ter um gesto, um pedido de desculpas (houve quem já o fizesse, esses ganham credibilidade), ou qualquer coisa de simpático. Ficava bem.

Sábado em Coimbra III: a dois

Tarefas repartidas, a mim calha-me a ida ao mercado.
O preço dos morangos oscila entre 1,50 e 3 €.
A mulher onde costumo comprar os ovos surpreende-me
com um belo molho de alho francês. Compro!
Desconfio da proveniência do robalo: Atlântico
Cheira-me a viveiro…
Ele pisca-me o olho e salta para a minha cesta!

Sábado em Coimbra II

sexta-feira, março 12, 2004

Memória curta: atentados islâmicos na Europa

Ontem, a precipitação dos acontecimentos levou muita gente a afirmar que se o atentado de Madrid for da autoria da Al-Qaeda isso quer dizer que o terrorismo islâmico chegou à Europa. Errado! O terrorismo islâmico não é nada de novo na Europa. Vamos lá relembrar:

1994 Desvio de um avião da AirFrance vindo de Argel. O objectivo era fazer despenhar o avião contra um alvo simbólico parisiense, se possível a Torre Eiffel. A forças especiais francesas GIGN anularam os terroristas no aeroporto de Marselha. Autor: Groupe Islamiste Armé (GIA)

1995 Metro de Paris. Bombas em duas estações. 8 mortos e dezenas de feridos. Autor: GIA

2000 Mercado de Natal (e/ou sinagoga) de Estrasburgo. Atentado desmontado no último momento pelas polícias alemã e francesa. Autor: grupo ligado à Al-Qaeda. Nota: o mercado de Natal de Estrasburgo chega a atrair cerca de 100 mil turistas por dia à cidade.

Há algumas semanas a ARTE passou uma noite temática onde estes atentados e tentativas de atentados foram analisados. Só se vê a CNN e depois dizem-se coisas erradas. As tentativas de atentado de 1994 e 2000 poderiam ter resultado num numero de mortos bem superior ao do atentado de ontem. É bom não esquecer estes factos só porque as coisas em 1994 e 2000 correram bem.

quinta-feira, março 11, 2004

Madrid: o frenesim opinativo

Existe um frenesim opinativo crónico na blogosfera portuguesa que em dias como estes me dá vontade de vomitar. Hoje, ainda os corpos carbonizados das vítimas de Madrid estavam a fumegar e aqui já se arreava forte e feio da direita à esquerda e da esquerda à direita, tal como no dia em que mais asneiras se disseram aqui na blogosfera: o dia da captura de Saddam. Vão ler o que se escreveu nesse dia. Só passaram cerca de dois meses, mas já nos podemos aperceber do lixo que se escreveu na altura. Não há um compasso de espera para maturação de ideias, é tudo em cima dos joelhos, depois só saem asneiras.

O que me apetece dizer sobre o dia de hoje?
- Que me lembro da primeira vez que fui a Madrid. Desci do comboio em Atocha e fui comer uns churros com chocolate quente numa cafetaria da estação. Era uma manhã muito luminosa de Agosto. Ía para Alicante visitar o meu amigo Benjamin.
- Espero que o Víctor, a Dagmar, a Mercedes e a Beatriz estejam bem.

Aos leitores e amigos de Madrid

Digam qualquer coisa. O email é klepsydra03@hotmail.com

quarta-feira, março 10, 2004

Quando o Estado faz uso errado da ciência

Este artigo do Prof. Carlos Amaral Dias no Público sobre a adopção de crianças por casais homossexuais explica ao comum dos mortais que a ciência não tem grandes dúvidas sobre este assunto. Ora, acontece que a nossa legislação está em contradição com a ciência quando proíbe a adopção de crianças por casais homossexuais. Só pode ser por razões ideológicas. Para que é que gastamos dinheiro em ciência? Será que é legítimo meia dúzia de conservadores fundamentalistas ignorarem a ciência e imporem a lei que bem entendem?

O Analfabetismo Científico
Este foi o meu choque de segunda à noite quando se discutiu a educação de crianças por casais homossexuais no programa Prós e Contras. Em Portugal existe um imenso analfabetismo científico. Isso ficou patente nas intervenções de um misto de ignorância e de ódio do pai da família "normal", de pessoas com responsabilidade em organismos do estado e da infeliz intervenção do José Manuel Fernandes referindo que desconhecia os estudos científicos (logo não eram válidos para ele), mostrando que nem lê o próprio jornal onde foi publicado o artigo acima referido do Prof. Carlos Amaral Dias. Por vezes dá-me a sensação que em Portugal existem pessoas que têm orgulho da sua ignorância científica. Têm orgulho em ser católicos e ignorantes, ou liberais e ignorantes ou marxistas e ignorantes.

Sobremesa Costinha

O Costinha, Dá Cosstá para monegascos e franceses, é um especialista em sobremesas. Quando toda a gente em Old Trafford já estava terminar a bica e a pedir conta, eis que Costinha serve uma das suas magníficas sobremesas. Um soberbo semi-frio, quente para nós e frio, gelado, para os outros. Noutra ocasião, em Arnhem no Euro 2000, eu estava nas bancadas e observei aquela classe das sobremesas à Costinha. Portugal empatava 0-0 com a Roménia de Hagi. No último minuto apareceu Costinha de cabeça a servir um semi-frio que nos qualificou em primeiro para a fase seguinte. A explosão na bancada portuguesa foi imediata. Desci uns 15 degraus em três passadas. Do meio da multidão emerge um emigrante que erguia para o céu um verdadeiro bacalhau. Por um reflexo de identificação primário com o fiel amigo, os adeptos portugueses saltavam agarrados ao emigrante do bacalhau gritando em delírio: Costinha! Costinha!

segunda-feira, março 08, 2004

Elogio do feminino


Jardins de Chenonceaux, Vallée de la Loire, França, 2002

Boorstin sobre os Portugueses

Nada me agradaria mais do que ver aparecer The Discoverers em português – a língua de Camões e dos pioneiros dos descobrimentos do Ocidente. É também espantosamente apropriado que este pequeno símbolo de agradecimento e reconhecimento possa ser mandado do Novo Mundo, que teria sido com certeza um lugar muito diferente e muito menos interessante se não tivesse sido a imaginação, a coragem e o espírito de aventura dos Portugueses na época dos descobrimentos. Os descobridores portugueses ainda não tiveram o reconhecimento e as celebrações que merecem no Ocidente de língua inglesa. (…) Os louros para as grandes obras de descoberta só podem ser ganhos pela posteridade. O povo português e a língua portuguesa desempenham um papel singular e eloquente no acender do espírito de descoberta pelo Mundo. Espero que este livro sirva para encorajar os leitores e os escritores portugueses e manter vivo esse espírito e, assim, recordar-nos de como todos ganhámos com essas aventuras.

Daniel J. Boorstin, Washington D. C., 1987, prefácio do livro “Os Descobridores”, Gradiva.

domingo, março 07, 2004

Equívocos sobre a guerra, os EUA, a Europa e o futuro

O texto do Nuno Mota Pinto no Mar Salgado e de Pacheco Pereira no Público sobre o clima de guerra merecem ser comentados porque fazem eco dos principais equívocos que fazem do mundo de hoje um lugar mais perigoso.

1- Acima de tudo, a questão dos EUA estarem ou não estarem em guerra está intimamente ligada à filosofia de Fukuyama descrita preto no branco na sua obra "O Fim da História e o Último Homem", filosofia essa que é seguida à risca por muitas das principais figuras que fazem parte da actual administração norte-americana e que diz o seguinte:

Uma democracia liberal que pudesse travar uma guerra rápida e decisiva, mais ou menos em todas as gerações, para defender a sua liberdade e independência seria muito mais saudável e realizada do que aquela que apenas conhecesse a paz contínua.

Mais explícito que isto é impossível. As causas (ou desculpas) para iniciar uma guerra poderão ser mais ou menos legítimas, mas em traços gerais seguem a ideia acima descrita.

2- Na guerra contra o terrorismo os EUA têm acumulado atitudes ambíguas. Dá a sensação que os EUA querem combater os terroristas do 11 de Setembro, mas não todos. Não os terroristas dos países que consideram como aliados estratégicos. Senão vejamos:

a) Como já aqui referi os EUA antes do 11 de Setembro gastaram uma boa parte das suas energias a fazer espionagem industrial à Europa, como o revela este relatório do programa ECHELON que nunca foi desmentido pelos EUA. Porque é que durante esse tempo os EUA não gastaram a mesma energia a espiar a Al-Qaeda, a Arábia Saudita e o Paquistão?
b) Porque é que os EUA apoiaram movimentos fundamentalistas no Uzbequistão, Tajiquistão, Turquemenistão, Afeganistão e Paquistão? Porque é que apoiaram movimentos sanguinários como o FIS da Argélia, os talibãs de Kandahar a Cabul, as correntes wahhabitas dos países árabes, os grupos Chechenos mais radicais? E apoiaram ainda os movimentos sunitas mais radicais contra a revolução xiita no Irão (parece-me que li algo em defesa dos xiitas). E que dizer do recrutamento de Ramzi Yousef pela CIA, o futuro cérebro do atentado contra o World Trade Center (WTC)? Ou do visto atribuído a Omar Raman na embaixada dos EUA em Cartum, este que já tinha estado implicado na morte de Sadat. E que dizer de Azzam? Um dos arquitectos dos atentados de 1993 e 2001 ao WTC, que por mais do que uma vez em Oklahoma City participou em cimeiras internacionais de islamismo radical.
c) Actualmente, filiais de instituições financeiras Americanas e Inglesas (como o City Bank ou a HSBC) no Dubai servem de tráfico para tudo o que há de mais podre no mundo. Entre os seus quadros contam-se membros da Al-Qaeda com excelentes qualificações académicas em economia e finanças. Alguns desses quadros juntamente com alguns clientes priveligiados passaram à categoria de milionários no dia 12 de Setembro, depois de transacções financeiras bem sucedidas tirando partido do seu conhecimento prévio da ocorrência do atentado de 11 de Setembro. Quando o FBI, com três-quinze-dias de atraso manda congelar a conta do Sr. Mohammed, nome cuja grafia é adaptada consoante o país para Mouhamad, Ahmad, Ahmed, etc, o divertimento foi absoluto destes seguidores de Ben Laden que se escondem atrás de identidades e pseudónimos infindáveis. Vão congelar a conta dos 30 mil Mohammeds que têm conta no Dubai? E se o FBI se enganou numa letra e se era Mohammad? O caso é cómico, mas não é para rir. Como é? Vamos continuar placidamente a negociar no Dubai como se nada tivesse acontecido? Como se fosse uma praça financeira séria?
d) E que dizer das alianças perversas dos EUA? Que dizer do aliado Saudita? Por exemplo, podemos dizer que os EUA têm como aliado a pior ditadura do planeta. Ou podemos ainda dizer que Sauditas muito próximos do poder estão bastante interessados numa tecnologia de outro aliado dos EUA, o Paquistão. E o que dizer do aliado Paquistanês, esse aliado que possui tecnologia para fabricar a bomba atómica? Enquanto o Paquistão participava na coligação que libertou o Afeganistão, elementos ligados aos seus serviços secretos iam fazendo atentados sobre cidadãos estrangeiros presentes no Paquistão. Daniel Pearl, jornalista e cidadão americano, foi morto por um agente secreto paquistanês enquanto Musharaf apertava a mão a Bush em Washington. E foi morto porque era americano, um americano de origem judaica.

3- Pacheco Pereira refere frequentemente que as transmissões futebolísticas exageradas só servem para excitar a população. E as guerras e os conflitos exagerados, não excitam a população? E as imagens de Bush a exibir-se no Iraque de peru de plástico na mão (já nem refiro as imagens de feridos e mortos) transmitidas nas televisões em cafés a abarrotar de homens na Síria, na Jordânia, no Qatar, no Iemen, no Egipto, em Marrocos, não excitam? Claro que excitam! E é deste modo que desde que começou a intervenção no Iraque, os movimentos mais radicais multiplicaram os seus novos recrutas como nunca o tinham feito na história.

4- Quanto à Europa, julgo que não se deve perder neste lodo que só tem tornado o mundo mais perigoso. A frase de Schröder no final de 2002, embora algo populista, em que afirma que a Alemanha não entrará em aventuras no Iraque e que o mundo se deveria preocupar mais com o clima do nosso planeta, vista agora à distância de um ano e meio, não poderia ser mais acertada. O maior desafio que o nosso planeta enfrenta nos próximos anos é o da falta de água potável e o risco cada vez mais eminente do aquecimento global provocado pelo homem. Enquanto andamos a brincar aos terrorismos arriscamo-nos a ficar sem planeta para viver. É por isso que as próximas eleições europeias são muito importantes para que surja um novo Parlamento que dê prioridade a estas questões. No entanto, não acho que a questão do fundamentalismo seja uma questão menor. Penso que sobretudo os países que contribuíram para excitar o mundo deveriam afastar-se, porque o que quer que façam agora só vai contribuir para o excitar ainda mais. A solução poderá passar pela mediação de países que mantiveram até hoje uma postura afastada do problema. Alguns desses países são europeus.

Eu temo que uma bela manhã possamos acordar com uma notícia péssima, em que algo de terrível aconteceu em Israel, algo que matará tanto Israelitas como Palestinianos, algo cujo sopro impiedoso libertado pelos seus elementos pesados desenhe um cogumelo de morte no céu. Nesse dia não venham dizer que a culpa é da Europa. O melhor é não dizerem mesmo nada.

sábado, março 06, 2004

Sábado em Coimbra II: Sol = lavar o chão

Está um belíssimo dia de Sol.
Corro para a dispensa, empunho com vigor o balde e a esfregona.
Toca a lavar o chão!
Abro as janelas e arejo a casa,
Os tapetes decoram os parapeitos.
Se a minha mãe visse isto ficava orgulhosa de mim!

Sábado em Coimbra I

sexta-feira, março 05, 2004

Daniel Boorstin morreu

j'éprouve un sentiment like the day when Carl Sagan was dead oppure quando la dolce vita di Fellini si è spenta. O Universo, essa grande nação, perdeu mais um dos seus prodigiosos filhos.

O controlo da qualidade do hambúrguer

Nós achamos que o estimado cliente gosta das coisas perfeitas
Gosta do hambúrguer sem defeito
Não gosta de pensar que está a ferrar o dente em vaquinha chacinada e triturada... não gosta de pensar...
Só gosta de acompanhar a vaquinha com molho de tomates normalizados
Gosta de sair do estabelecimento com um balãozinho na mão e um sorriso nos lábios... com o pensamento num admirável mundo novo, onde os meninos são todos "perfeitinhos" e as cotações na Bolsa não param de subir...

quinta-feira, março 04, 2004

Net: passo a bola ao Paulo Querido

Em reacção ao meu texto anterior em que comento um artigo da revista Pro-teste, o Paulo Querido apresenta uma visão bastante diferente do mesmo assunto aqui.
Relembro apenas que os valores medidos são a média entre todos os fornecedores de serviços.

No endereço www.testenet.com a DECO coloca à disposição uma pagina de teste onde pode ser verificada a velocidade de navegação e de download.

Net: fornecedores de serviços ou ladrões de serviço?

Na revista Pro-teste deste mês é apresentado o resultado de um estudo em que foi medida a velocidade de navegação na internet de todos os fornecedores de serviços portugueses. A discrepância entre os valores anunciados e reais é abismal :

Velocidade anunciada/Média das velocidades medidas (kbps)

56 / 29
128/109
256/198
512/266
1024/444

Velocidade tartaruga por lebre?
É a oportuna pergunta que faz a revista Pro-teste.

terça-feira, março 02, 2004

Guerra secreta contra a Al-Qaeda

A ARTE, esse serviço público europeu de excelência, transmite hoje mais umas das suas interessantíssimas soirées Thema. E o tema de hoje desde as 19.45 até às 21.50 é a Guerra secreta contra a Al-Qaeda. Pretende-se fazer um ponto da situação sobre a eficiência do trabalho dos serviços secretos.

Esquece tudo o que te disse
A seguir a ARTE passa o filme português: "Esquece tudo o que te disse". Ironicamente esta cadeia franco-alemã tem feito mais serviço público português do que as nossas vergonhosas cadeias de televisão privadas. Portugal aparece mais frequentemente em reportagens, programas históricos, programas de artes e letras e em cinema na cadeia ARTE do que nas nossas privadas. Por mim retirava-se já as licenças de televisão à SIC generalista e à TVI (saltavam para o cabo). Passavam a ARTE e a SIC Notícias para os canais abertos 3 e 4!

Daqui a 10 anos

A noite passada foi uma daquelas maratonas cientifico-burocráticas em que se perde a noção do tempo. Uma proposta a enviar através de submissão electrónica para o European Synchrtron Radiation Facility em cima da data limite, com uma página que teimava em "gelar" (como dizem os franceses muito apropriadamente). Nestas alturas esquece-se de tudo e só me lembrei da Rosetta quando abri o Abrupto.

A Rosetta finalmente vai a caminho do cometa Churyumov-Gerasimenko, onde chegará dentro de 10 anos. O nome do cometa é o dos dois astrónomos que o descobriram, um Ucraniano e um Tadjique, respectivamente. A Rosetta nessa altura irá aproximar-se do cometa até ficar a uma distância de 25 km do núcleo e depois lançará uma pequena sonda, Philae, que aterrará na superfície do cometa.


Rosetta lança a sonda Philae para a superfície do cometa Churyumov-Gerasimenko.
(Imagem artística da ESA)

segunda-feira, março 01, 2004

EuroNews transmite debates europeus

A cadeia de televisão Euronews tomou uma iniciativa excelente de transmitir debates entre candidatos ao Parlamento Europeu. A rubrica chama-se Agora. São debates a dois, em que os participantes pertencem a diferentes países e a diferentes sensibilidades políticas. Estes debatem temas importantes da actualidade como a Constituição Europeia ou a adesão da Turquia à UE.

Foi você que pediu para ser escutado?

Eu não fui. Mas a verdade é que todos nós andamos a ser objecto de escutas por parte de programas americanos de intercepção de comunicações como o ECHELON ou o NIMD (Novel Intelligence from Massive Data). Grosso modo a coisa funciona à base da busca de palavras-chave utilizadas durante chamadas telefónicas, em trocas de correio electrónico, em páginas internet, etc. Como se deve imaginar a quantidade de dados a investigar resultantes de intercepções de comunicações onde existem palavras chave é colossal. Esse é o ponto fraco deste tipo de programas, a quantidade de informação a processar é tão grande que apenas uma pequena fracção acaba por ser efectivamente analisada.

O amigo (da onça) americano
O que é grave neste tipo de programas é que já foram utilizados mais do que uma vez fora do espírito para o qual tinham sido concebidos, pois tinham como alvo a intercepção de comunicações de países e organizações que ameaçassem a segurança dos EUA. Durante a Guerra Fria era essencialmente o espaço da URSS e restantes países comunistas. Desde o fim da Guerra Fria seriam essencialmente organizações terroristas. Seriam, mas não foram!
Os EUA passaram a utilizar o programa ECHELON para fazer espionagem industrial a algumas das maiores empresas Europeias. Nomeadamente a Airbus perdeu um contracto milionário para a Boieng à custa de informações confidenciais captadas pelo ECHELON. Mas os abusos não se ficaram por aqui. Em Inglaterra, a Princesa Diana (aquando da sua campanha contra as minas pessoais em Angola) e alguns ministros foram objecto de escuta, tendo levado mesmo à demissão de um desses ministros.
Os abusos tomaram uma proporção tal que a União Europeia acabou por lançar uma comissão de inquérito para investigar o programa ECHELON. O relatório é imenso, revelador e revoltante! O relatório pode ser descarregado nesta página da União Europeia (seleccionar pt, para versão portuguesa).
Por exemplo, o relatório enuncia todos os casos de espionagem industrial ilegal e dá instruções sobre o tipo de antenas de espionagem que os EUA espalharam por todo mundo, muitas vezes sem o conhecimento dos governos dos países onde elas foram implantadas.

Depois destas tristes histórias percebemos perfeitamente como é que os EUA encaram a sua relação com a Europa. É por estas e por outras que o editorial de José Manuel Fernandes (entre outros) no Público de domingo, só pode ser visto ou como um penoso exercício de ingenuidade intelectual ou como uma opinião política de um cinismo muito pouco elegante.