quinta-feira, dezembro 31, 2009

Filme de 2009



Anne Fontaine realizou "Coco avant Chanel" em jeito de homenagem à mulher que havia em Coco Chanel, uma homenagem ao seu contributo para a emancipação feminina. Fontaine mostra-nos Gabrielle Chanel (Coco), uma mulher que teimava em não ser submissa, em prosseguir os seus objectivos que contrariavam os códigos femininos da época e que aplicou os mesmos princípios com sucesso ao seu trabalho de criação de roupa feminina.
Um dos factos surpreendentes do filme é o retrato extremamente machista da época, a forma repugnante como as mulheres eram tratadas, sobretudo se tomarmos em conta que estávamos no país mais moderno do mundo. Este filme ajuda muito a perceber como o século XX foi essencial para se estabelecer uma relação decente entre os dois sexos.

A Audrey Tautou assenta-lhe bem a personagem de Chanel, mas na minha opinião é o actor Alessandro Nivola a grande revelação deste filme, interpretando o inglês Arthur Capel de quem Chanel foi amante sem o saber.

Um filme que aconselho vivamente a todas as Coco em espírito que lêem este blogue.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Vinho preferido de 2009

A minha descoberta do ano foi este Pinot Noir, apelidado Mas Borràs, da casa Torres. O Mas Borràs é um vinho da Catalunha que já ganhou vários prémios mundiais de vinho: o Mundial de Pinot Noir (2007 e 2005) e o Mundus Vini. É mais caro do que barato, mas é um vinho que vale bem o que custa.

Livros preferidos de 2009

"Os Lusitanos no tempo de Viriato" de João Inês Vaz (Ed. Ésquilo) e "Un roman français" (Ed. Grasset) de Frédéric Beigbeder.

O livro de J.I. Vaz traz novas luzes ao nosso conhecimento sobre Viriato e os Lusitanos (território, tribos, língua, organização, espiritualidade, etc.) e acaba com muita lenda patrioteira que se fez passar por história sobretudo no tempo do Estado Novo.
Da obra de Beigbeder, uma autobiografia romanciada, gostei deste registo, mais complexo que o das obras anteriores. Gostei dessa franqueza sem cinismo (o cinismo muito na moda, tão na moda, que já enjoa) e dessa outra faceta, mais nostálgica, menos glamour, mas mais interessante do egoïste romantique.


quinta-feira, dezembro 24, 2009

Victória do povo americano e... da Europa



O senado americano aprovou um novo sistema de cuidados de saúde que abrange quase todos os americanos. Hoje em dia cerca de 17% dos americanos (~ 40 milhões) não tem qualquer cobertura. No entanto, os EUA são um dos países que mais gasta na segurança social. Como 40 milhões de americanos não têm acesso à saúde, não têm igualmente acesso à medicina preventiva o que encarece o sistema quando se recorre posteriormente apenas à medicina curativa. Hoje os EUA adoptaram finalmente os princípios basilares do Modelo Social Europeu. Esta é também uma vitória da Europa.



Em Los Angeles vi pobreza e gente a dormir na rua como nunca vi na Europa, nem nos países mais pobres. Pensava que tinha visto o pior da América. Mas não, foi naquele parque no centro de Honolulu, no Havai, onde assisti a dezenas de velhinhos, pessoas reformadas e velhas senhoras a competir por um banco, um espaço de relva, transportando a sua vida num velho carrinho das compras. Foi ali que vi o pior da América. Depois de uma vida de trabalho (muitos deles trabalhando em mais do que um emprego), a recompensa para aqueles seres humanos é dormir na rua. A norte de Pearl Harbor, esse porto atacado pelos japoneses infamemente, estende-se um imenso bairro que não é de lata, mas de tendas a perder de vista. Se a infâmia ao ser humano existe mora naquele bairro certamente (fotos de Skid Row, LA, New York Times).

Hoje é um verdadeiro dia de Natal para quase 40 milhões de americanos.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Copenhaga: 2 Graus Sem Controlo


Foto de Scarlett Hooft Graafland, série Igloolik

(Publicado no portal esquerda.net)
Já era esperado que da Conferência para as Alterações do Clima em Copenhaga não saísse qualquer protocolo ou qualquer documento juridicamente vinculativo. Esperava-se apenas um acordo político prévio sobre as restrições de emissões seguido da definição de uma data limite para elaborar um acordo juridicamente vinculativo no decurso de 2010. Para além de o acordo resultante da Conferência ter sido fraco, não indo além da necessidade de impor um limite à temperatura média do planeta abaixo de dois graus centígrados no horizonte de 2050, o Acordo de Copenhaga foi também marcado pela discórdia visto que teve o apoio de apenas 30 países. Tendo em conta o cenário mais provável, o ponto mais negativo foi a renúncia de estabelecer uma data limite para a elaboração de um protocolo juridicamente vinculativo e o ponto mais positivo foi a definição de um fundo de ajuda aos países em vias de desenvolvimento e aos países mais afectados pelas alterações climáticas. Esse fundo prevê uma ajuda de 30 mil milhões de dólares até 2012 e de 100 mil milhões de dólares até 2010. Foi decidido também continuar as negociações na Cidade do México em Novembro de 2010.

Do Acordo de Copenhaga e das negociações que estiveram na base deste texto, esteve sempre ausente a possibilidade de implementação de um mecanismo de controlo eficaz dos compromissos de redução de emissão de gases de efeito de estufa. De nada serve estabelecer limites de emissão se posteriormente não for supervisionada a efectiva implementação das medidas acordadas. O limite de 2°C situa-se pouco abaixo do limite de não retorno, em que o dióxido de carbono perderá a capacidade de se reciclar nas florestas e oceanos, aumentado a probabilidade de a temperatura do planeta aumentar de uma forma descontrolada. É por isso muito importante que o mecanismo de controlo a implementar seja muito preciso. O limite deverá ser forçosamente de 2°C e não 2,3 ou 2,5°C sob risco de entrarmos na zona de não retorno. A experiência de mecanismos internacionais de controlo não é famosa. Por exemplo, em questões mais concretas como é o caso dos mercados financeiros esses mecanismos revelaram uma grande fragilidade e foram incapazes de detectar a diferença entre a realidade e a ficção financeira. Um mecanismo com a mesma eficiência para controlar o clima poderia revelar-se catastrófico.

A China foi o país que maior resistência ofereceu à implementação de um processo de controlo, tendo o seu representante chegado a ameaçar abandonar as negociações. Dada a seriedade das consequências associadas às alterações do clima, que comportam alguma gravidade mesmo para um aumento de 2°C (morte dos corais, extinção de espécies até 30% e baixa da produtividade agrícola nas regiões mais secas) e que estão já a contribuir para o desaparecimento do Tuvalu, será essencial no futuro a adopção de penalizações para países que não respeitem os acordos. A atmosfera é um espaço partilhado por todos, não é pertença da China nem de qualquer outro país ou organização. Não se pode recear mais a reacção da China, tal como se receou a América de Bush, do que as ameaças que pairam sobre o futuro do planeta. O resultado líquido do falhanço destas negociações terá como consequência a perda de vidas humanas, desemprego e migrações em massa. Nada do que possa fazer a China comunista e ultra-liberal ou um hipotético retorno do fanatismo republicano ao governo dos EUA, se compara ao que está em jogo se a temperatura ultrapassar os dois graus centígrados.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

A esquerda e os capatazes da construção civil

Concordo muito com este texto do Luís Januário, apesar da traulitada (com nível) a algumas pessoas pelas quais tenho alguma estima. Sou adepto dos compromissos e até compreendo algumas guinadas políticas, mas esse fechar de olhos aos "capatazes da construção civil" também me cai muito mal.

Num país onde uma boa parte da população foi educada em seminários, sem a supervisão do sacrossanto casal heterossexual, no país das Casa Pias onde o abuso sexual era considerado normal pela justiça do Estado Novo, causa-me alguma aversão esse calculismo sobre a adopção de crianças por casais homossexuais, sobretudo quando hoje temos dezenas de trabalhos científicos que demonstram que um casal de gays educa melhor uma criança que um bando de padrecos. Relembro esta história da Isabel Moreira passada numa instituição "civilizada" gerida por respeitáveis padres.

domingo, dezembro 20, 2009

Adeus Lenine



"Good Bye Lenin" é um delicioso filme que retrata o fim do comunismo na RDA através do percurso nostálgico de Alexander que tenta esconder à mãe, uma ex-funcionária do partido comunista, que o regime tinha acabado. Alexander ilude a mãe, acamada num hospital com uma grave doença cardíaca, fazendo-a crer que a RDA ainda existe para a poupar de um choque fatal. Alexander recupera produtos, revistas, comida da ex-RDA que já ninguém quer para demonstrar à mãe que a RDA continua viva e se recomenda. Durante o périplo de Alexander revisitamos os restos de um país vetusto e de um povo encalhado num limbo social, onde se perdeu o pouco de positivo que havia no comunismo e se abraçou o pior do capitalismo. Uma das passagens mais simpáticas do périplo nostálgico dá-se quando Alexander contrata um ex-astronauta da ex-RDA para se fazer passar pelo novo presidente da república num programa de televisão especialmente preparado para a mãe. Apreciei muito a simbologia do astronauta presidente em substituição de Erich Honecker.

A narrativa baseada numa estrutura niilista funciona muito bem, a fazer lembrar "A Vida é Bela" de Roberto Begnini. Por vezes, é mais poderoso alinhar no niilismo para denunciar um regime absurdo do que responder à letra aos seus defensores.

Sugestão cinematográfica para os 20 anos do fim do regime de Nicolae Ceauşescu

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Seis Graus

"Seis Graus" da autoria de Mark Lynas é um livro de divulgação que aborda o problema do aquecimento global de uma forma muito intuitiva, dedicando cada um dos seus seis capítulos ao aumento sucessivo da temperatura do planeta de um a seis graus. O capítulo I é dedicado aos possíveis efeitos correspondentes aumento de um grau da temperatura média do planeta, o capítulo II aos efeitos causados pelo aumento de dois graus e assim sucessivamente até seis graus no capítulo VI. O ponto forte deste livro é o autor ter recorrido centenas de artigos publicados nas melhores revistas científicas com arbitragem pelos pares, como a Nature e a Science, para nos oferecer uma leitura agradável e acessível a leigos. São obras como esta que mostram de uma forma fundamentada da primeira à última página como a ciência que explica o aquecimento global é hoje uma ciência sólida, imune às teorias da conspiração que buscam o pequeno erro, a pequena falha, fora do campo da ciência, para tentar descredibilizar o trabalho científico.
Os trabalhos citados cobrem variadíssimas áreas do saber (biologia, química, meteorologia, geologia, etc.) e percorrem a história da Terra, desde os períodos em que havia um deserto que se estendia até ao Canadá até à era em que Europa estava praticamente toda coberta de gelo. Esses períodos em que a temperatura da Terra desceu muito ou subiu muito dão-nos indicações preciosas sobre o mundo que podemos esperar se variarmos a temperatura do mesmo montante, à excepção de um detalhe. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera nunca foi tão alta no último milhão de anos como o é actualmente. Essa concentração continua a subir vertiginosamente.
Nesta obra Portugal é citado frequentemente em trabalhos científicos, sobretudo na nossa especialidade: os incêndios florestais. Por este andar espera-nos um futuro negro, de céu negro, dos fogos florestais...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Sessão sobre Copenhaga no Santa Cruz

Na sexta-feira, 11 de Dezembro, o GABE (grupo de ambiente do BE) de Coimbra vai promover a sessão "AGIR PELO CLIMA, DECIDIR EM COPENHAGA", que contará com as presenças de João Gabriel (Quercus), Marisa Matias e Rui Curado Silva, tendo como moderador, José Manuel Pureza, na Galeria Santa Clara, em Coimbra a partir das 21h30.
Apareçam!

quarta-feira, dezembro 09, 2009

[REC]2



Aquele que considero o melhor filme fantástico (terror) desde a estreia de Funny Games tem uma sequela: [REC]2. Vai ser muuuuito difícil manter o nível do primeiro filme. No entanto vale bem a pena visitar o sítio oficial. Muito bem feito e com uma interactividade interessante, que ajuda a abrir o apetite.

Rede de Cidades Verdes

As autarquia que integram a rede de cidades verdes europeias terão de elaborar um plano de metas e medidas concretas para a redução da emissão de CO2 em 20% até 2020, no domínio da eficiência energética e na implementação de energias renováveis.
As cidades portuguesas que assinaram este Pacto de Autarcas são: Águeda, Almada, Aveiro, Cascais, Ferreira do Alentejo, Guarda, Lisboa, Moura, Oeiras, Palmela, Ponta Delgada, Porto e Vila Nova de Gaia.
A sua cidade consta na lista? A minha não...

segunda-feira, dezembro 07, 2009

O porquê do preço desmesurado da água na Figueira

O preço da água na Figueira não sobe por nenhum motivo concreto (investimentos significativos, escassez, aumento de custos de exploração, etc.), sobe porque um contrato com a Águas da Figueira assim o dita. Este tipo de contratos são um abuso cada vez mais comum nos nossos tempos. As empresas que têm a seu cargo milhares de clientes, principalmente em situação de monopólio, aplicam estratégias de contratos que comportam aumentos a longo prazo que não comprometem os políticos que os assinaram, bem explícitos no papel (no caso em concreto: 2005 aumento de 7%; 2007 cerca de 20% e 2010 cerca de 13%) com contrapartidas pouco claras, permitindo a realização de margens de lucro mais flexíveis no futuro. Quanto gasta a Águas da Figueira em investimentos? Esses investimentos justificam o aumento verificado? De modo nenhum.
Assim lucra a Águas da Figueira sem corresponder em serviços ao cidadão figueirense. Isto é a escola da fraudulenta ENRON e de muitas outras empresas que aprenderam a ganhar muito sacando margens de lucro consideráveis graças à negligência de políticos ingénuos (ou espertalhaços). Cada euro que se ganha sem retorno para o cidadão multiplica-se pelas dezenas de milhar de clientes. Um roubo estatístico é na prática um roubo como outro qualquer.

domingo, dezembro 06, 2009

Aquecimento global pior que previsto


Foto de Scarlett Hooft Graafland, série Igloolik

(Publicado no portal Esquerda.net)
Num recente relatório elaborado por alguns dos melhores cientistas na área da climatologia que compila os principais trabalhos científicos publicados durante os últimos três anos desde a reunião do PIAC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) ocorrida no início de 2007, conclui-se que a evolução do clima supera as piores expectativas dos trabalhos científicos anteriormente publicados. A seguir enumeram-se as principais conclusões do referido relatório, intitulado "O Diagnóstico de Copenhaga":

- As emissões de dióxido de carbono relativas a 2008 superam em 40% as emissões de 1990. A este ritmo, dentro de 20 anos a temperatura média do planeta poderá aumentar mais de 2°C com uma probabilidade de 25%, atingindo assim o limiar de não retorno, limiar a partir do qual se considera que o ciclo de produção de dióxido de carbono perderá a capacidade de se reciclar.

- A evolução da temperatura média dos últimos 25 anos reforça a tese do aquecimento provocado pelas actividades humanas. O aumento médio de 0,19°C por década confirma os actuais modelos teóricos que explicam os efeitos causados pelos gases de efeito de estufa. Apesar de uma diminuição da parcela do aquecimento global causada pelo Sol - a nossa estrela passou por um mínimo do seu ciclo de 11 anos - a tendência do aquecimento médio manteve-se.

- A actual rede de satélites de observação do clima mostram inequivocamente que o calote do Árctico está a diminuir a um ritmo mais acelerado do que o previsto, a área que desapareceu nos últimos três anos superou em 40% a área prevista. Como já foi diversas vezes referido o Árctico é muito mais sensível às alterações do clima do que o Antárctico por causa da extensão da sua placa terrestre e da massa oceânica que rodeia o pólo sul.

- As observações de satélite mostram também que o nível do mar subiu em média cerca de 3,4 mm por ano, ou seja 80% acima do valor previsto pelo PIAC, sendo este valor consistente com a contribuição causada pelo degelo acelerado dos pólos. O aumento do nível do mar em 2100 poderá atingir um metro acima do valor inicialmente previsto pelo PIAC, que era cerca de 2 metros no cenário mais pessimista.

- O ano de emissão máxima de gases de efeito de estufa deverá ocorrer muito em breve, entre 2015 e 2020, se quisermos realmente limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 2°C. Para estabilizar a temperatura do planeta será obrigatório estabelecer uma sociedade pouco dependente das emissões de gases de efeito de estufa no final do século XXI, reduzindo em cerca de 80 a 90% as emissões per capita das nações mais desenvolvidas correspondentes ao ano 2000.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Especial Copenhaga por Cohn-Bendit

A edição da Nouvelle Observateur desta semana é da responsabilidade de Daniel Cohn-Bendit e é completamente dedicada ao debate sobre as políticas de combate ao aquecimento global a discutir na cimeira de Copenhaga na próxima semana.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Pastilhas Pirata





Concordo com a totalidade deste texto do David Marçal. Já não há pachorra para as teorias da conspiração que negam o aquecimento global. O episódio dos piratas dos computadores da Universidade de East Anglia só mostra o desconhecimento profundo de como funciona a ciência de quem andou ali a rapar para ver se continuava a alimentar as teorias da conspiração. Acreditar que umas informalidades trocadas por email numa única instituição colocam em causa o manancial de observações, experiências e trabalhos teóricos publicados por milhares investigadores dos vários cantos do mundo em revistas científicas de referência de vários domínios científicos (química, física molecular, física da atmosfera, geologia, astrofísica, clima, oceanos, etc.), é não ter a mínima noção do que é a ciência.

Do site Real Climate a passagem abaixo é bem ilustrativa da tretas que andaram a ser vendidas pelos "piratas" (diz que foram hackers...):

"No doubt, instances of cherry-picked and poorly-worded “gotcha” phrases will be pulled out of context. One example is worth mentioning quickly. Phil Jones in discussing the presentation of temperature reconstructions stated that “I’ve just completed Mike’s Nature trick of adding in the real temps to each series for the last 20 years (ie from 1981 onwards) and from 1961 for Keith’s to hide the decline.” The paper in question is the Mann, Bradley and Hughes (1998) Nature paper on the original multiproxy temperature reconstruction, and the ‘trick’ is just to plot the instrumental records along with reconstruction so that the context of the recent warming is clear. Scientists often use the term “trick” to refer to a “a good way to deal with a problem”, rather than something that is “secret”, and so there is nothing problematic in this at all. As for the ‘decline’, it is well known that Keith Briffa’s maximum latewood tree ring density proxy diverges from the temperature records after 1960 (this is more commonly known as the “divergence problem”–see e.g. the recent discussion in this paper) and has been discussed in the literature since Briffa et al in Nature in 1998 (Nature, 391, 678-682). Those authors have always recommend not using the post 1960 part of their reconstruction, and so while ‘hiding’ is probably a poor choice of words (since it is ‘hidden’ in plain sight), not using the data in the plot is completely appropriate, as is further research to understand why this happens."

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Quando o Dubai foi modelo do ultraliberalismo

Neste texto de Pacheco Pereira em que se nega a crise mundial insinuando que a crise atinge apenas os EUA e a Europa e não a Ásia, onde a mesma Ásia surge como um exemplo de maior purismo ideológico ultraliberal (embora não perfeito), aparece ali no cabeçalho com grande pompa a torre Burj do Dubai. Este tipo de ideias foram reproduzidas por outros blogues que seguem a ideologia expressa no Abrupto mas com muito menos brilhantismo. Uns viajaram ao Médio Oriente e ficaram maravilhados, outros limitaram-se a pendurar nos seus blogues belas imagens do esplendor do Dubai. No entanto, já nessa altura os mercados financeiros do Dubai estavam em grandes dificuldades, mas a distracção é tal... E foram os mesmos mercados financeiros, o cerne da filosofia ultraliberal, os principais responsáveis pela crise e pela implosão do Dubai. Com mais ou menos impacto a crise alastrou-se fortemente a todos os principais mercados financeiros da Ásia e hoje mesmo mercados como o de Singapura estão em sérias dificuldades.

Tentar ver no Dubai um exemplo foi a fuga para a frente possível na altura. Hoje a realidade é mais complicada. Começa a ser cada vez mais difícil sustentar a orientação das economias em função dos caprichos dos mercados financeiros.

segunda-feira, novembro 30, 2009

Mapa mundo de emissão de CO2

Aqui a ligação para um interessante mapa mundo que representa os valores de emissão de dióxido de carbono por país. São dadas também as taxas de mortalidade e de natalidade ilustradas por uma animação resultante de simulações baseadas em dados estatísticos. (Obrigado T.)

domingo, novembro 29, 2009

Revisitar a escola do machismo ibérico



Este anúncio do brandy Soberano ilustra bem os anos de má educação, de mau exemplo e de machismo oficial que marcaram várias gerações de portugueses e de espanhóis durante os respectivos regimes fascistas. Num fim-de-semana marcado por mais um assassinato de uma mulher convém relembrar a origem do mal. E este é um mal que não vai desaparecer de um dia para outro, vamos ter que esperar mais uma ou duas gerações para que o respeito entre conjugues e ex-conjugues atinja níveis aceitáveis.

sexta-feira, novembro 27, 2009

O estoiro do Dubai


(foto BBC)

A crise já tinha batido forte no Dubai, a principal praça financeira do Médio Oriente, mas desta vez os sinais são fortes de que o rei vai nu. Depois de ter praticamente esgotado as suas reservas de petróleo, o principal consórcio do Dubai do sector financeiro solicitou um adiamento de pagamento de dívidas. A situação é de tal modo grave que foi suspensa a construção em curso da maior torre do mundo, aquele que seria o símbolo da pujança económica do Dubai.
É mais um rude golpe para os nossos fundamentalistas da fé no mercado que viam nas praças do Médio Oriente um purismo ideológico que os americanos já teriam desvirtuado. Adivinham-se explicações complicadas para justificar os absurdos do ultra-liberalismo.

Os novos comissários europeus

Durão Barroso já escolheu os novos comissários para a próxima legislatura. Aqui fica a lista com os nomes dos comissários de cada país e a pasta que lhe foi atribuída.

quinta-feira, novembro 26, 2009

As Metas da China e dos EUA para Copenhaga


Foto de Scarlett Hooft Graafland, série Igloolik

Enquanto a China se compromete a reduzir as emissões de dióxido de carbono entre 40 a 45 % até 2020, relativamente aos níveis de 2005, os EUA anunciaram um corte de emissões poluentes em 17% até 2020 e 30% até 2025, metas estas bem modestas quando comparadas com os compromissos dos restantes países industrializados, cerca de metade dos valores de redução de emissões propostos pela UE.
É por estas e por outras que os países que vão adoptar medidas mais sérias deveriam implementar mecanismos para combater o dumping ambiental que já se adivinha.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Um país mais perigoso dentro do que fora de portas

Portugal apresenta uma especificidade tenebrosa em termos de violência. Se no espaço público Portugal é um dos países mais calmos do mundo - recentemente Portugal foi considerado o 15° país menos violento entre cerca de 140 países do mundo e quem viaja muito verifica que isso é verdade - dentro de portas entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre familiares e amigos somos uns ases a malhar no próximo. O machismo, o marialvismo, a incapacidade de comunicação, a ameaça como moeda de troca do respeito e o alcoolismo socialmente tolerado são marcas que ainda não desapareceram da má educação dos tempos do Estado Novo, como nos mostra aquela terrível estatística que nos coloca de longe em último lugar da Europa na classificação do nível educacional.

Apesar da honrosa declaração saída hoje da Assembleia da República, não tenho grandes ilusões, este é um problema que se paga em gerações. Amanhã mesmo milhares de crianças e de mulheres vão temer o momento de rodar a chave ao regressar a casa, é mais perigoso abrir a porta de casa do que andar na estrada...

Eu Marco Polo

Respondendo à cadeia vinda do Jorge Lemos.

Completar as seguintes cinco frases:

Eu já…
Eu nunca…
Eu sei…
Eu quero…
Eu sonho…

Eu já segui os passos de Marco Polo;
Eu nunca fui ao Hemisfério Sul;
Eu sei que a Terra gira à volta do Sol;
Eu quero um tapete voador;
Eu sonho contemplar a Terra pela escotilha da Soyuz.

E passo a batata ao Filipe Moura, à Isabel, ao José Sousa, ao David Luz e à Eva Lima

terça-feira, novembro 24, 2009

Conversa radiofónica sobre astronomia

Os caros leitores podem ouvir aqui (em mp3) a minha agradável conversa radiofónica com o jornalista Edgar Canelas da Antena 1 e com a Prof. Carlota Simões no programa Dias do Futuro sobre o céu dos nossos avós e sobre o passado, o presente e o futuro dos telescópios que nos permitem estudar o Universo.

domingo, novembro 22, 2009

Riscos climáticos na Conferência de Copenhaga


Foto de Scarlett Hooft Graafland, série Igloolik


(Publicado no portal Esquerda.net)

A duas semanas da Conferência para as Alterações do Clima em Copenhaga não se espera que venha a ser elaborado um protocolo à semelhança do que aconteceu em Quioto em 1997, no entanto espera-se uma declaração política forte apelando à urgência de reduzir as emissões de gases de efeito de estufa de forma limitar o aquecimento global abaixo dos 2°C em 2050. Apesar das intenções, 2°C de aquecimento médio do planeta comporta vários riscos que não são de menosprezar como a morte dos corais, extinção de espécies vegetais e animais até 30% e a baixa da produtividade agrícola nas regiões mais secas e tropicais, gerando fome entre as populações. Nesta ligação consultar um mapa onde são apontadas as consequências esperadas para as várias regiões do mundo se a temperatura média do planeta aumentar 4°C, elaborado através de trabalhos científicos publicados nas melhores revistas da especialidade.

Se o principal benefício do Protocolo de Quioto foi ter causado uma importante evolução das mentalidades, quer ao nível político, quer ao nível do cidadão comum, a verdade é que a parte mais importante do trabalho está por fazer. No entanto foi já notório que alguns governos foram mais eficazes que outros nos primeiros anos de luta contra o aquecimento global. A Alemanha conseguiu manter o seu nível de vida e uma das economias mais saudáveis da Europa diminuindo em 21% a sua taxa de emissão de gases de efeito de estufa. A França, a Suécia e o Reino Unido conseguiram reduções da ordem dos 10%. No entanto entre os países mais ricos o pior aluno foi a Espanha com um aumento de 53%, a Austrália e o Canadá com mais de 20% de aumento e os EUA com mais de 15% de aumento das emissões. Em 2005, o país que maior volume de gases de efeito estufa emitiu per capita foi o Qatar seguido dos Emiratos Árabes Unidos e do Kuwait, o que diz bem da mudança de modo de vida destas sociedades. Entre os países mais desenvolvidos, a Austrália, os EUA e o Canadá lideram nas emissões per capita. Em termos absolutos quem mais emite é a China (19% do total) seguido dos EUA (18%) e da Rússia (5%). Em valores acumulados desde 1950, os EUA são responsáveis por cerca de 26% das emissões de gases de efeito de estufa, a seguir é a China com 11% e a Rússia com 9%.

Numa classificação elaborada pela Maplecroft, entre os países mais vulneráveis às alterações do clima aparecem oito países africanos do equador e dos trópicos, com a Somália a ser considerado o país mais sujeito a variações da temperatura média global. Em segundo lugar dessa classificação figura o primeiro país não africano, o Haiti, país conhecido pelo abate da quase totalidade da sua floresta, tendo o território perdido a capacidade de auto-regulação climática.

Os dados científicos são bem mais sólidos do que há 5 e há 10 anos atrás, as ideologias niilistas felizmente foram afastadas dos principais governos do mundo, espera-se agora que os principais poluidores e potenciais grandes poluidores de amanhã cheguem a um entendimento realista, agora já não há desculpas.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Ciência & Vinho

Para aficionados que querem saber muito mais para além das lendas urbanas que se vão espalhando sobre os vinhos (e elas são muitas), a não perder esta edição especial da Science&Vie.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Barcelona-Bruxelas

Do melhor ao pior da Europa.
De Gaudi a Van Rompuy.
Da ousadia criativa ao deserto de ideias.
A arquitectura Europa deveria ser mais orgânica, como a Casa Batlló

quarta-feira, novembro 18, 2009

Vicky Cristina, Nova Iorque

Barcelona, finalmente Barcelona, após 5 mudanças de avião e de comboio sem nunca ter podido visitar a cidade.

Sobre "Vicky Cristina Barcelona" queixa-se Woody Allen que nos EUA, em Nova Iorque, já não há glamour, sente-se obrigado a vir filmar para a Europa para captar cenários românticos, sensualidade e conversas inteligentes. A Nova Iorque de "Manhattan" já não existe, já não existem esses casais que saem à noite para frequentar salas de cinema e de teatro acessíveis, partilhando experiências, amores contraditórios e garrafas de vinho. Tenho a pretensão de concordar com o Woody Allen. A minha única semana em Nova Iorque revelou-me uma cidade pejada de lojas dos 300, de negócios manhosos num décor sumptuoso de arranha-céus dos anos 20. Arranha-céus onde se mistura a arte nova, o neo-gótico e o esplendor das novidades dos anos 70, do esplendor da guerra fria.

Sobre Barcelona, esperam-me efémeras horas de exploração onde o meu radar vai funcionar a fundo. Até já.

terça-feira, novembro 17, 2009

Havel sobre o anti-comunismo tardio

No dia dos 20 anos revolução de veludo, eis uma brilhante passagem do livro de Havel, "To the Castle and Back", pag. 115, numa clara alusão ao anti-comunismo doentio e de circunstância do actual presidente Vaclav Klaus.

"Shortly after the revolution and the arrival of freedom, a very special kind of anticommunist obsession established itself in public life. It was as though some people - people who had been silent for years, who had voted obediently in communist elections, who had thought only about themselves and had been careful not to get into trouble - now felt the sudden need to compensate in some aggressive way for their humiliation. And so they took aim at the people who least held it against them, that is, the dissidents. (...) at a time when dissidents appeared to be a tiny group of crazy Don Quixotes, the aversion to them was not as intense as it was later, when history had proven them right. Ultimately, many new anticommunists vented more anger against the dissidents than against the representatives of the old regime.

(..) this ideology revealed a lot about itself in a recent article claiming that the dissidents played no special role in the fall of communism because communism was brought down by "normal" citizens behaving conventionally, that is, by putting their own private interests first, which means that they may have stolen the occasional brick from a building state."

sexta-feira, novembro 13, 2009

Astronomia no programa Dias do Futuro

Amanhã, entre as 14h e as 15h estarei a falar sobre astronomia na Antena 1 com o Edgar Canelas, durante o programa Os Dias do Futuro.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Novas Eco-Tecnologias no Salão de Tóquio

(publicado no portal Esquerda.net)

As atenções do Salão Automóvel de Tóquio que findou esta semana estavam concentradas nas soluções tecnológicas e nos veículos amigos do ambiente, decorrendo este certame sob o lema "Fun driving for us, Eco driving for Earth". Pela primeira vez num salão deste tipo, os veículos mais ecológicos foram a verdadeira atracção, merecendo apresentações realizadas pelos próprios administradores das marcas, honrarias antes dispensadas aos grandes bólides, caros e equipados de motores de grande cilindrada.

Embora sabendo que muitas marcas estão mais interessadas em apresentar protótipos ecológicos para passar uma boa imagem da empresa do que propriamente uma genuína preocupação com o ambiente, a Toyota, a Nissan, a Honda e a Mitsubishi apresentaram uma nova geração de veículos a ser comercializada já a curto prazo. A Nissan anunciou pretender colocar no mercado ainda em 2010, o Nissan Leaf, um veículo 100% eléctrico, a baixo custo, constituído por materiais recicláveis e com uma autonomia média de 160 km. Também a Mitsubishi espera colocar à venda em 2010 o Mitsubishi Innovative Electric Vehicle, um carro com um motor eléctrico com características semelhantes ao do Nissan. A Honda tem apostado mais no desenvolvimento de veículos movidos a células de hidrogénio. Baseada nesse conceito, tem estado a comercializar o FCX Clarity desde 2008, no entanto até hoje apenas foram produzidos cerca de 200 modelos. A Toyota pretende comercializar o seu primeiro veículo eléctrico em 2012, o FT-EV II, com uma autonomia de cerca de 90 quilómetros. No entanto a Toyota continua a liderar no sector dos veículos híbridos, tendo o seu presidente declarado que estes veículos serão a melhor opção nos próximos anos.

Apesar de a organização um salão automóvel ter assumido pela primeira vez uma filosofia vincadamente ecológica ficou também patente que durante esta década o desenvolvimento de novos motores eléctricos foi muito lento e parco em novas soluções, visto que alguns destes projectos são antigos e só a crise económica e ecológica forçaram agora a sua materialização. No entanto, continuam questões muito importantes por resolver e que este salão não deu resposta, como: a dependência dos veículos eléctricos da produção de electricidade através de combustíveis fósseis e a harmonização do desenvolvimento de sistemas recarregamento compatíveis entre diferentes construtores, que permita a existência de um verdadeiro mercado de usados de veículos eléctricos.

terça-feira, novembro 10, 2009

Il Divo



"Il Divo" é a história de um político sem qualidades que se perpetuou no poder. Giulio Andreotti foi sete vezes presidente do Conselho entre 1972 e 1992. Negociava com todo o espectro político desde que isso significasse a sua continuidade. Negociou com a igreja e com a máfia. No início dos anos 90 foi eleito senador vitalício. Pouco tempo depois o seu partido, a Democracia Cristã, desintegrou-se nas malhas da operação "mãos limpas". Andreotti foi condenado a uma pena de 24 anos que nunca cumpriu, fazendo uso da sua imunidade política, pena essa que viria a ser anulada mais tarde.
Nesta obra Paolo Sorrentino apresenta o percurso político de Andreotti de uma forma intencional e deliciosamente teatralizada, bem adequada à personagem política. Giulio Andreotti era um verdadeiro artista.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Vozes do lado de lá do muro

O que tem de interessante a edição da Courrier International desta semana são os 12 artigos escritos por cronistas que estavam do lado de lá do muro quando tudo aconteceu. Escrevem sobre o que correu bem, o que correu menos bem, da política de então e da política dos nossos dias, das suas experiências pessoais, etc. A não perder.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Apoiar Juncker à presidência da UE

Britânicos e alguns órfãos de Bush preparam-se para impingir uma marioneta à UE, o primeiro ministro belga: Herman Van Rompuy. Van Rompuy é um político com um passado fraquinho, sem provas dadas, uma pessoa sem grandes opiniões nem actos que justifiquem a sua candidatura. Como já tive oportunidade de aqui escrever, a candidatura de Jean-Claude Juncker é a candidatura de um verdadeiro europeísta, de alguém que se interessa genuinamente pelo futuro da União Europeia e que defende o modelo social europeu. No entanto, como foi um desalinhado da política de Bush tem todos os carneirinhos do mandato de George W. contra si.
Clicar no link do facebook "Jean-Claude Juncker for president of the European Council" para apoiar a candidatura do primeiro-ministro Luxemburguês.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Mapa de alterações climáticas para 4º C

Aqui um mapa mundo onde são descriminadas os principais efeitos sobre o planeta se a temperatura média global se elevar cerca de 4ºC. Este mapa foi elaborado a partir dos dados registados nas principais publicações científicas da especialidade com arbitragem pelos pares (via José Sousa).

quarta-feira, novembro 04, 2009

A religião fora da escola

Este relato da Isabel Moreira no Jugular sobre a sua passagem pela escola que ficou este ano no topo do ranking de escolas, revela um assédio doentio que o clero exerce sobre as adolescentes que é inaceitável. As instituições religiosas são livres de criar estabelecimentos de ensino, mas o conteúdo religioso deveria ser opcional e dado fora do horário escolar.

Além disso fica bem patente que as escolas privadas que ficam no topo dos rankings só recebem filhos de famílias endinheiradas, são na prática guetos de miúdos ricos, e por isso têm pouco trabalho para conseguir bons resultados. Gostava de ver instituições de ensino privado a ter bons resultados em zonas menos favorecidas, onde o trabalho dos professores é muito mais do que ser professor, é ser pai, mãe, amigo, irmão, polícia, assistente social, nutricionista, etc.

terça-feira, novembro 03, 2009

Havel sobre os delírios de Vaclav Klaus

No dia em que Vaclav Klaus assinou o Tratado de Lisboa e a República Checa abandonou o regime presidencial forçado em que viveu nas últimas semanas, vale a pena ler como ex-presidente Vaclav Havel descreve o actual presidente da República Checa:

"In the news Vacláv Klaus was offended on behalf of the whole country by the response of some members of the European Parliament to his comments on the European constitution than he was offended once again, this time because foreigners are mucking about in our Czech pigsty. (...) For those not in the know, some background: during the World War II a concentration camp for the Roma [ciganos] was built in the South Bohemia. (...) The Roma, rightly, see this place as a memorial site, and they find it intolerable that a mega pig farm is standing on the spot today. For years there has been a discussion in our country about the subject. (...) The European Parliament passed a resolution on the Roma and the solving of their problems that makes reference to the Czech pig farm and recommends that it be relocated.
And that is what offended Václav Klaus: such gross interference into our purely Czech affairs! We'll look after our own little Czech pigsty ourselves, and we're not remotely interested in any assistance from outsiders! And in any case - that Czech concentration camp wasn't really much of a concentration camp; it was only a place to put those who didn't want to work!
When one hears this, one is overcome with a secret longing that democratic, educated, and cultured Europe will meddle as much as possible in our Czech affairs. It is demonstrably in our own interests."
"To the Castle and Back", Vaclav Havel, pag. 133.

Convém relembrar que Vasco Pulido Valente classificou recentemente Klaus como um liberal. Percebe-se bem a concepção de liberal que há neste país...

Tratado de Lisboa aprovado na Rep. Checa

A fuga para a frente do presidente anti-europeísta Vaclav Klaus não deu em nada como se esperava, o Tribunal Constitucional Checo considerou o Tratado de Lisboa conforme com a lei checa. Fica o registo do abuso de poder e do populismo praticado por Klaus durante este processo denunciado por Vaclav Havel, entre outros.

Confirma-se o que havia escrito aqui àqueles amigos de esquerda que estavam contra o Tratado Constitucional. A não aprovação deste teve como consequência um deslocamento do texto do novo tratado para uma versão ligeiramente mais à direita do que a original. Apesar de tudo, este tratado teve uma expressiva aprovação de quase toda a esquerda europeia e vai permitir melhor participação dos cidadãos, reforçar os poderes do Parlamento Europeu e conter mais os caprichos soberanistas e populistas de alguns chefes de estado.

segunda-feira, novembro 02, 2009

I'm lovin' it

Este fim-de-semana a cadeia McDonalds encerrou todos os seus tascos na Islândia. A desvalorização da coroa islandesa aliada ao facto de todos os ingredientes serem importados, acabaram por reduzir dramaticamente os lucros da multinacional. Que chatice, a crise financeira acaba por fazer vítimas entre um dos baluartes do capitalismo sem regras. Os mesmos estabelecimentos reabriram sob a marca Metro, em que os ingredientes são apenas de origem local (foto).

domingo, novembro 01, 2009

O PS das rulotes

A eleição de Vítor Pais como Presidente da Assembleia Municipal da Figueira da Foz poderia ter uma leitura lírica, onde se invocaria uma certa liberdade política acima das amarras dos partidos. Mas não, é apenas mais uma marotice do pior que há no PS Figueira, esse PS das rulotes fretadas para pagamento de quotas antes de eleições internas, só para contar espingardas. Não há política neste resultado, há interesses, pequenas vinganças e invejas. O presidente Ataíde que se cuide.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Traders afirmam que nada mudou na bolsa

Neste excelente debate organizado pelo canal ARTE dois traders, Marc Fiorentino e Dirk Müller, falam sobre a crise, as suas origens, as medidas implementadas e o futuro da economia. O mais impressionante é ouvir estes homens que estavam na primeira linha da crise afirmarem categoricamente que o dinheiro que foi emprestado pelos estados para salvar os bancos foi utilizado para voltar a praticar o mesmo tipo de especulação que já existia antes, mas agora no processo de reembolso dos estados pela banca (parte 1, depois do minuto 6). Vão mais longe e dizem que hoje é ainda mais fácil praticar actividades especulativas e ainda mais selvagens do que antes. Os discursos de controlo das actividades bancárias são classificados de hipócritas, dado que na prática os estados não têm acesso à informação das operações especulativas mais agressivas.
Fiorentino afirma que é errado os governos transmitirem a mensagem que tudo se resolverá em seis meses, dado que o lastro do somatório de erros cometidos no mundo financeiro demorará pelo menos uns três ou quatros a ser sanado (parte 2, minuto 6).

Parte 1



Parte 2


quarta-feira, outubro 28, 2009

Juncker a Presidente

Jean-Claude Juncker manifestou corajosamente a sua disponibilidade para a presidência da União Europeia. Apesar de Juncker ser de direita e apesar de naturalmente não partilhar de boa parte das suas ideias políticas, como a União Europeia votou num Parlamento Europeu à direita e como não existem eleições directas para a presidência da União Europeia temos que admitir que o Presidente da UE seja também de direita. No entanto, Juncker tem uma qualidade fundamental que Blair - o outro candidato que na prática também é de direita - não tem. Juncker é um genuíno europeísta, interessa-se pela Europa, fala da Europa, pensa na Europa e sobretudo pensa numa Europa que não pode estar de mal com o mundo, uma Europa que tem que ser parceira da África, da Ásia, da América Latina e não polícia ou capataz a mandato dos EUA.

terça-feira, outubro 27, 2009

A Má Educação: Viriato

Na obra "Os Lusitanos no tempo de Viriato" de João Inês Vaz (Ed. Ésquilo 2009) podemos encontrar mais um exemplo da miséria do ensino no tempo do Estado Novo e do espírito doentio desses tempos:

"Nos inícios do século XX, Mendes Correia foi uma das figuras mais acérrimas defensoras da ligação directa entre Portugueses e Lusitanos (...) na afirmação de uma raça portuguesa distinta das outras conhecidas, chegando mesmo a considerar um tipo de hominídeo próprio do território português, o selvagem homo taganus que teria vivido nas margens da Ribeira de Muge. Ora, o que hoje se sabe desta população dos finais do Neolítico/Mesolítico é que (...) as análises antropológicas nada revelam de diferente em relação a outros homens do mesmo período neo/mesolítico.

O Estado Novo fez da questão da raça uma ideia fundamental do orgulho nacional e por isso era importante manter e propagandear o mais possível esta ideia da relação umbilical com os Lusitanos. A História ensinada nas escolas primárias, Liceus e Escolas Industriais transmitia a ideia da formação da pátria a partir da Lusitânia, enaltecia-se a bravura dos Lusitanos e apresentava-se a dedicação de Viriato à Pátria como exemplo a seguir" (pag. 200 e 201)

segunda-feira, outubro 26, 2009

Vaticano presta homenagem a Galileu

(publicado no portal Esquerda.net)

No âmbito do Ano Internacional da Astronomia, o Vaticano em colaboração com o Instituto Nacional de Astrofísica italiano inaugurou nos Museus do Vaticano uma exposição intitulada "Astronomia e Instrumentos, a herança histórica italiana 400 anos depois de Galileu". A exposição celebra os 400 anos de observações astronómicas desde as primeiras observações realizadas por Galileu Galilei em 1609. Na exposição foi reservado um espaço dedicado apenas aos instrumentos utilizados por Galileu, entre os quais se encontra o telescópio rudimentar através do qual Galileu realizou as suas primeiras observações do céu. Nesse espaço é exposto também o manuscrito original de "Sidereus Nuncius", o documento onde Galileu registou as suas primeiras descobertas astronómicas.

Esta iniciativa do Vaticano tem um significado muito espacial, dado que a Igreja rejeitou a verificação do modelo heliocêntrico realizada por Galileu, julgando-o num processo conduzido pela Inquisição. Como resultado desse processo Galileu foi forçado a renunciar às suas extraordinárias descobertas no dia 22 de Junho de 1633. Nesse dia, de joelhos, Galileu proferiu as seguintes palavras perante o tribunal:

"Eu, Galileu, filho do falecido Vincenzio Galilei, (...) depois de me ter sido legalmente feita por este Santo Ofício uma injunção no sentido de que deveria abandonar por completo a falsa opinião de que o Sol é o centro do Mundo e imóvel, e de que a Terra não é o centro do Mundo e se move (...) juro que de futuro nunca mais voltarei a dizer ou a afirmar verbalmente ou por escrito alguma coisa capaz de causar similar suspeita contra mim."

Só em 1992 o Vaticano viria a retratar-se sobre o seu erro, quando o Papa João Paulo II qualificou o processo de Galileu como um erro resultante de uma "trágica incompreensão mútua". Sobre esta exposição, o arcebispo Gianfranco Ravasi, responsável máximo do Vaticano pela cultura, declarou que esta é uma ocasião para mostrar a capacidade da Igreja em reconhecer os seus erros.

domingo, outubro 25, 2009

50 anos de Astérix e Obélix



Um dia perguntaram a René Goscinny qual tinha sido a melhor recompensa pela sua carreira na banda desenhada. Goscinny respondeu que um dia viajava de metro e entrou na sua carruagem um velho senhor com um álbum do Astérix debaixo do braço que se sentou à sua frente. De seguida, abriu o álbum e começou a lê-lo. A um dado momento o senhor desatou às gargalhadas dentro do metro e o descontrolo era tal que o senhor não conseguia parar de rir, ao ponto de ir às lágrimas. Numa dada paragem, o senhor abandona a carruagem de semblante radiante. Goscinny confessa ter vivido naqueles breves minutos o melhor momento da sua carreira.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Odisseia no Espaço

Eis a capa definitiva da revista Cais dedicada inteiramente à astronomia editada por mim e pela Paula Stella Teixeira do ESO. A compra da revista para além de ajudar a causa do combate à toxicodependência, é composta por uma série de artigos sobre temas pouco comuns sobre astronomia feita em Portugal e sobre o impacto desta disciplina na sociedade. A ler e divulgar.

Revista Cais Especial Astronomia

A próxima edição da revista Cais é completamente dedicada à astronomia, em honra ao Ano Internacional da Astronomia. A edição é da minha autoria e da Paula Stella Teixeira do ESO. Dividimos a revista em três secções passado, presente e futuro. Abaixo segue o texto do editorial:

Esta edição especial da Revista CAIS sobre a astronomia portuguesa surge no âmbito do Ano Internacional de Astronomia organizado pela Comissão Nacional do Ano Astrónomico, que é presidida pelo Professor Doutor João Fernandes da Universidade de Coimbra. O conteúdo da revista está organizado em três partes, nomeadamente, o passado, presente, e futuro da astronomia portuguesa.

A astronomia teve um papel importante no período áureo da história de Portugal, na epoca dos Descobrimentos, tendo-se enraizado nas principais instituições académicas portuguesas, através da construção dos Observatórios de Coimbra e de Lisboa, contribuindo para a modernização da universidade portuguesa.

Actualmente Portugal faz parte de duas organizações internacionais, a ESA e o ESO, que têm fomentado a investigação e desenvolvimento de instrumentação e tecnologia espacial. Seguindo a tradição da Revista CAIS, tentamos igualmente abordar a relação da astronomia com a sociedade, de como o saber está hoje ao alcance e ao serviço da cidadania: através da tecnologia usada no quotidiano por exemplo e através de actividades que envolvem o ensino e divulgação astronómica nas escolas e centros de Ciência Viva. Quanto ao futuro: a comunidade astronómica Portuguesa é relativamente jovem, em que a maior parte dos investigadores concluíram o doutoramento há menos de 15 anos. O potencial para crescimento é enorme, há que saber gerir bem os recursos e as oportunidades que temos actualmente para poder sustentar o bom desenvolvimento da comunidade.

Através deste número da revista Cais esperamos que o leitor tenha uma nova percepção de uma disciplina frequentemente considerada distante e cara para o contribuinte. Os exemplos do passado e do presente mostram que a astronomia tem contribuído fortemente para melhorar a qualidade de vida - os benefícios superam largamente os custos envolvidos na investigação - e mostram sobretudo que a astronomia contribuiu decisivamente para mudar a noção que o homem tinha de si próprio e do seu lugar no Universo. Mas a aventura não acaba aqui, os futuros telescópios, missões espaciais e o trabalho das futuras gerações de cientistas continuarão certamente a deslumbrar-nos e a alargar os horizontes do conhecimento da humanidade.

domingo, outubro 18, 2009

Reflectir como viver melhor

Neste novo número especial da Courrier International podemos ler uma recolha de artigos dedicados à reflexão sobre o nosso modo de vida: o que fazemos de errado e o que podemos mudar para melhorar a nossa qualidade de vida. No seu conjunto as propostas vão no sentido do "produzir e consumir menos para viver melhor", já abordado num dossier especial anterior da edição convencional da mesma publicação. Aqui a ligação para o sumário desta edição.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Havel sobre Klaus

Vale a pena ler as justas críticas de Vaclav Havel - o maior combatente contra o totalitarismo comunista da Checoslováquia - ao actual presidente Vaclav Klaus sobre os expedientes anti-democráticos de que este tem feito uso para impedir a ratificação do Tratado Simplificado. Klaus é aquilo que se pode designar como um órfão do Bushismo, um anti-europeísta primário, ultra-liberal, que respeita muito pouco a democracia e as instituições democráticas, muito na linha populista dos irmãos Kachinsky da Polónia.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Bendit em entrevista à L'Européen

A não perder a entrevista deste mês de Cohn-Bendit à L'Européen. Novas ideias para a Europa, novas ideias para o desenvolvimento e a qualidade de vida, novas ideias para sociedades modernas, são propostas por um homem que não perdeu a capacidade de deslumbramento e de apreciar genuinamente a intervenção política.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Arroz de Cabidela

O homem que lançou a mais insólita e efémera campanha publicitária de turismo, a campanha "Visite a Lusitânia", que fez sair do erário público largos milhares de euros directamente para uma empresa que prestou um serviço dúbio ao cidadão e que acabou por revelar ligações familiares a esse mesmo homem, Paulo Pereira Coelho, arguido do executivo camarário, parece que foi "malhar" no presidente Duarte Silva na última reunião de câmara. Não há limites para o desplante. Homens como este deveriam estar fora da política.

Partir



"Partir" de Catherine Corsini é a história de Suzanne (Kristin Scott Thomas) entre uma relação quase perfeita que se esgota e um novo amor onde quase tudo corre mal. Do casamento Suzanne guarda a almofada financeira que lhe permite viver sem preocupações, embora sem emoções e autonomia. A chegada de Ivan (Sergi Lopez), um tarefeiro espanhol, vem dar um novo fôlego à sua vida amorosa. No entanto, os deuses estão contra Suzanne e Ivan, e cada passo dado por Suzanne para se aproximar de Ivan é acompanhado por um rude golpe do seu marido e da sua rede de influencias. A cada dificuldade acrescida o sentimento entre Ivan e Suzanne são reforçados, mas o abismo económico acentua-se ao ponto de aceitarem a exploração laboral mais árdua para conseguirem sobreviver juntos. Até que o ponto de ruptura é atingido e ambos decidem tomar uma decisão...
Excelente interpretação de Scott Thomas, Sergi Lopez (um dos meus actores preferidos) e Yvan Attal.

terça-feira, outubro 13, 2009

Indignações sobre os candidatos figueirenses

Confesso que fiquei indignado com a preparação dos candidatos à Câmara da Figueira revelada durante os debates. Aqueles indivíduos estavam a candidatar-se ao governo de um município com cerca de 60 mil habitantes, não se estavam a candidatar à direcção de uma filarmónica ou de uma confraria da lampreia, estavam a candidatar-se a algo que envolve uma grande responsabilidade.

Como nunca participei em cargos municipais tratei de me preparar o melhor que pude, li consultei, fiz visitas, falei com especialistas, etc. Mas assim que começou aquele debate tive a sensação de voltar para a escola primária, lembrei-me de alguns colegas cábulas que iam para um exame sem estudar nadinha e que mesmo assim esperavam passar. Nos debates houve dois casos flagrantes de falta de preparação: a senhora do CDS e o Javier Vigo do MMS. O caso do Vigo é mais grave porque deu ar de cábula e de irresponsável, reforçando a péssima imagem que já todos temos da Universidade Internacional. Mas o candidato do PS e futuro presidente também não esteve brilhante quer nos conhecimentos sobre a Figueira quer na estruturação e na apresentação de ideias. Espero que tenha sido só nervosismo e que na calada do seu gabinete seja muito melhor do que aquilo que mostrou. Pode-se gostar mais ou menos destes políticos mas apenas Duarte Silva e Daniel Santos falaram com alguma escorreiteza sobre política camarária. Mas fiquei desiludido com o nivelamento por baixo da preparação dos candidatos. No segundo debate, sem estes dois intervenientes, ainda foi pior. Quem deu mais luta foram os jornalistas...
Suspeito que os figueirenses vão ter muito com o que se preocupar nos próximos quatro. Foi bom termos erradicado aquela forma de fazer política que representava Duarte Silva, mas temo que a política do próximo executivo possa reflectir aquela neblina discursiva que ouvimos no Casino.

PS- Antes do debate do Casino começar espreitei para as cábulas de alguns colegas de debate e retive dois ou três de sete tópicos. Curiosamente a primeira pergunta de sete do debate - eu era o primeiro a responder - correspondia ao tópico número 1 de uma dessas cábulas. Isto repetiu-se para outros tópicos. Supostamente ninguém deveria conhecer as perguntas, mas nem assim foram capazes de dar respostas de jeito. Garanto-vos que me senti em Vila Nova da Rabona.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Má estratégia autárquica

Há que reconhecer que a estratégia autárquica do Bloco não resultou. Confiou-se demasiado nos bons resultados das europeias e das legislativas - para as quais a estratégia foi muito boa - que só por si bastariam para fazer crescer por defeito o BE a nível autárquico. Assim não foi. Quem andou no terreno debateu-se contra candidaturas independentes e partidárias que iniciaram a campanha meses antes das eleições, fazendo uso de artilharia pesada, outdoors que apresentavam candidatos desde as câmaras às freguesias, proliferação de propaganda móvel, festins de porco no espeto e doses industriais de ranchos e de música pimba. O Bloco deveria imitá-los? Não. Mas deveria apresentar-se a tempo com os meios a que habituámos os nossos eleitores, visto que no terreno os nossos candidatos já se mobilizavam, mas sem meios, sem material de propaganda. Isso traduziu-se em dificuldade em atrair gente nova, em particular os nossos votantes das legislativas que se perguntavam se existíamos a nível autárquico. A estratégia de uma campanha reduzida a 15 dias, vaga e efémera, é a receita contraria do que nos faz subir.
É certo que estamos a subir muito rapidamente e os meios não acompanham o número de novos aderentes e simpatizantes, mas o Bloco precisa de reflectir seriamente sobre a sua estratégia autárquica.

segunda-feira, outubro 05, 2009

SIM

O SIM ao Tratado Simplificado na Irlanda foi um passo importante para desbloquear a UE. A esmagadora maioria dos europeus, e sobretudo a esquerda, votou SIM ao Tratado. Fez-se justiça. Já aqui antes expus a falsidade democrática e a quase impossibilidade matemática de os referendos país a país poderem exprimir a verdadeira vontade dos Europeus. Espero que tenham aprendido a lição e que no futuro as constituições nacionais sejam alteradas para permitir referendos pan-europeus, esses sim verdadeiramente democráticos.

Má política

Concordo com Melo Biscaia e com o António Agostinho sobre os cartazes da JS. Para além de reflectirem bem no que se transformou a JS local, estes cartazes fazem uso de uma violência inaceitável ao expor a fotografia de outrem sem o seu consentimento, independente de ser mais ou menos verdade o que denunciam os cartazes e do gosto mórbido pelos outdoors uni-pessoais que infestam a cidade.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Falta de hábitos de transparência política

As declarações de João Ataíde sobre o processo das listas do BE revelam a falta de hábito que há na política local em lidar com a transparência política. Em vez de se enredar em declarações que pouco o ajudam, o candidato do PS deveria desde o início deixar bem claro qual foi a sua relação com o Tribunal da Figueira. Não precisaria chegar ao detalhe dos nomes das pessoas que estagiaram com ele, mas deveria clarificar as suas funções e a sua relação com os juízes que hoje analisam os processos dos seus adversários políticos quando passou pelo tribunal da Figueira.

Para além de ter perdido uma oportunidade para clarificar, não resistiu a fazer o que não deveria ter feito, isto é, a tomar partido pelo tribunal no processo do BE. Para quem veio recentemente da magistratura para a política não está a ajudar nada a garantir a separação entre poder judicial e político, um dos pilares da democracia.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Um belíssimo exemplo de cidadania

O lançamento do livro "Figueira da Foz - Erros do passado, soluções para o Futuro" é uma belíssima iniciativa cidadã do meu caríssimo amigo João Vaz e do António Tavares. A par do recente movimento S.O.S. Cabedelo esta foi mais uma contribuição rara e muito positiva para o nosso concelho que nasce de participação cidadã. O João Vaz e o António Tavares tocam nas feridas do nosso concelho, escalpelizam as contas do município, a imensa dívida camarária, mas não se ficam por aí. Vão ao mais difícil e dão-nos sugestões muito válidas, com conhecimento de causa, do que poderia ser feito para melhorar a qualidade de vida, a transparência e as finanças do nosso concelho. Oe meus parabéns para os dois.

terça-feira, setembro 29, 2009

S.O.S. Cabedelo

(Publicado no portal Esquerda.net)

Unidos no protesto contra os efeitos do prolongamento do molhe norte à entrada do Porto Comercial da Figueira da Foz, reuniram-se no passado fim-de-semana na praia do Cabedelo algumas centenas de surfistas, jovens, membros de associações nacionais, associações internacionais e cidadãos anónimos. Numa cidade em que o carneirismo e o conformismo são regra este foi um acontecimento raro e excepcional de mobilização cidadã. O ponto alto desta manifestação foi o desenhar no mar do logótipo humano S.O.S. por cerca de 230 pessoas.

O objectivo do movimento SOS Cabedelo é preservar a Onda da referida praia, que outrora permitiu que ali se disputasse por quatro ocasiões uma etapa do World Championship Tour, e impedir a erosão da costa a sul do Mondego. Aos objectivos ambientais e ligados à prática do surf junta-se a manutenção de uma pequena mas florescente economia ligada à prática de desportos náuticos e ao lazer. Num país com uma extensa costa, é desejável a aposta em actividades económicas deste tipo que respeitam o meio ambiente e que surgem por uma iniciativa local, sem recurso a grandes obras envolvendo a betonização de extensas superfícies de solos. Além do mais estas actividades criam emprego que não é deslocalizável.

Apesar de o S.O.S. Cabedelo reconhecer o valor da obra em curso para o Porto Comercial da Figueira da Foz - melhora a segurança das grandes embarcações e permite a entrada de navios com sete metros de fundo em vez de 5 metros - pretende que sejam realizadas obras suplementares que impeçam a degradação da costa e o desaparecimento da Onda do Cabedelo. Uma das soluções já implementada noutras latitudes (África do Sul, Austrália e EUA) é o sistema de bypass que permite a areia transitar entre os dois lados de molhes. Esta solução tem dado bons resultados e os custos envolvidos na sua implementação são comparáveis aos custos de manutenção do molhe depois da sua extensão.

Uma nota curiosa sobre a política local. O actual Presidente de Câmara da Figueira da Foz que se gaba neste cartaz da construção do molhe, rejeitou em 1997 a ideia de que o prolongamento do novo molhe poderia aumentar a erosão costeira nas praias a sul da Figueira da Foz. Ao ser confrontado com recentes protestos não só acabou por admitir a efectiva erosão da costa como afirmou não ter qualquer poder sobre a realização da obra, aparecendo de t-shirt do S.O.S. Cabedelo na manifestação do passado fim-de-semana como se não fosse nada com ele...

segunda-feira, setembro 28, 2009

9,9

Ultrapassámos o beneficio da abstenção e do voto do descontentamento. Mais alguns tijolos bem assentes no nosso crescimento, sem as pressas das sondagens. Nos próximos quatro anos (ou serão dois?) vamos ter que discutir mais a Europa, a energia, a economia e o emprego, naquele espírito de diversidade que são o segredo do crescimento do Bloco.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Como se financia uma campanha "independente"

Pedro, como eu compreendo a tua indignação da campanha de 2005.
As campanhas independentes, aquelas dos outdoors gigantescos, financiam-se através de empréstimos bancários. Faz-se uma estimativa dos votos que se poderão obter e como a cada voto corresponde uma quantia de cerca de 12€ paga pelo Estado, é só multiplicar um valor pelo outro e obtém-se a quantia do empréstimo. Mas para obter um empréstimo é preciso um "padrinho" em quem a banca tem confiança. E é aqui que a candidatura passa de independente a "independente" porque um dia o "padrinho" vai querer uma contrapartida, sobretudo se os "independentes" ganharem. O resto da história tem um final previsível, o país é o mesmo e por detrás dos novos rótulos as pessoas são as mesmas.

quarta-feira, setembro 23, 2009

A ostentação das campanhas locais

Não são apenas os bonés, canetas, porta-chaves, t-shirts, são sobretudo os outdoors gigantescos para candidatos às juntas de freguesia, repito às juntas, são carrinhas com publicidade móvel a debitar música da boua e carros decorados com as cores e a cara do candidato. Sinceramente, gabo a paciência das pessoas que são massacradas durante horas por esta panóplia infernal de propaganda cujo o conteúdo político é quase nulo. No concelho da Figueira é pornográfico assistir à ostentação dessas campanhas (PSD, PS e 100%), cujo o orçamento é de largas dezenas de milhar, em feiras rurais onde um micro-crédito de 1/10 desse valor poderia fazer a diferença para retirar uma família inteira da pobreza.

Está mais que na hora de impor limites a este desperdício. Em países mais ricos (França, Itália, Bélgica, etc.) os partidos têm espaços restritos para cartazes e em alguns deles são proibidos os outdoors. Nós nas campanhas autárquicas estamos ao nível daqueles parolos que se endividam para comprar um BMW, para a ostentação de braço de fora e música a fundo (música da boua).

segunda-feira, setembro 21, 2009

Debate com Daniel Oliveira na Figueira da Foz

Amanhã, terça-feira pelas 21:30 no Hotel Ibis (rua da Liberdade, nº20) da Figueira da Foz, eu, o Daniel Oliveira e o José Manuel Pureza participaremos um debate ligado à temática da política autárquica, corrupção, grupos de interesse, construção civil, ordenamento do território, etc. Apareçam!

domingo, setembro 20, 2009

Outras cidades: BedZed um bairro ecológico



BedZED é um curioso bairro ecológico experimental construído em Wallington no sul de Londres cuja concepção permite atingir impressionantes taxas de economia nos consumos domésticos. No BedZED atingem-se taxas de redução de 88% no aquecimento, 57% na utilização de água quente e 25% no consumo de electricidade, em comparação com a habitação média britânica. A sua construção foi realizada utilizando materiais existentes num raio de 50 km, diminuindo substancialmente a emissão de gases de efeito de estufa durante essa fase. 15% dos materiais utilizados na construção são reutilizáveis ou recicláveis. O bairro é habitado desde 2002, seguindo uma filosofia de composição heterogénea dos seus residentes: cerca de 1/3 dos habitantes pertence às classes mais desfavorecidas, 1/3 pertence à classe média e o outro terço à classe alta, entre os quais se encontram alguns dos que projectaram e financiaram o BedZED. Os resultados têm sido excelentes, com as populações mais desfavorecidas a assimilarem em pleno a vida social e a filosofia ecológica do bairro.
Por cá ainda estamos a anos-luz destas boas experiências, continuamos na idade do betão.

sábado, setembro 19, 2009

A Fotocópia do BI sempre comigo!

As listas do BE Figueira foram aprovadas pelo TC (Tribunal Constitucional) durante um processo em que os juízes locais não consultaram lei e acórdãos do TC, não fundamentaram argumentação e não se preocuparam em tentar afastar um partido das eleições. Esquecendo estes detalhes sem grande importância, foi para mim uma revelação o pedido de fotocópias do BI (bilhete de identidade) para validação de listas da parte dos juízes do Tribunal Judicial da Figueira (seguindo fielmente o juiz Ataíde). Eu julgava que as fotocópias do BI não tinham um grande valor jurídico, mas depois do pedido das referidas fotocópias toda a minha teoria geral e restrita sobre a fotocópia do BI caiu por terra. Afinal a fotocópia do BI é um documento de uma fiabilidade inigualável. Se pensarmos bem o tribunal tem razão. Todos nós já ouvimos falar em falsificadores de passaportes, de notas, de diplomas, de BI's, mas em falsificadores de fotocópias do BI nunca. Isso diz bem do poder da fotocópia do BI. A partir de agora tenho sempre comigo uma fotocópia do BI na carteira. A próxima vez que for à China ou aos EUA e me exigirem passaporte, visto ou impressões digitais de todos os dedos da mão, responderei: "meus amigos, oh para a fotocopiazinha do BI!"

terça-feira, setembro 15, 2009

Outras ondas

Tal como é descrito no sítio do SOS Cabedelo existem soluções para preservar as ondas para o surf e a erosão da costa em caso de construção de molhes. Uma delas é o sistema de bypass que permite a areia transitar entre os dois lados de molhes. Aqui uma solução encontrada pelo do governo de Queensland e aqui a solução de Gippsland, ambas na Austrália. Aqui o exemplo de Delaware nos EUA. E aqui outro exemplo, a da Baía Mandela, na África do Sul.
Estes exemplos mostram a solução do bypass já não se pode classificar de ficção científica. Agora só falta é vontade política para a avaliar a exequibilidade do bypass na Figueira, dado que não é uma solução perfeita. É muito importante evitar perder a Onda do Cabedelo e toda a actividade económica, social e de recreio que lhe está associada. Aquilo não é um golfe, que se pode contruir em quase todo lado, ondas daquelas há poucas. Apesar terem mão humana, fazem parte das especifidades do nosso concelho, matá-la significa contribuir para que o concelho se assemelhe a outro qualquer em vez de se destacar pela diferença.


segunda-feira, setembro 14, 2009

Hoje o BE, amanhã a Figueira

(Artigo publicado no jornal O Figueirense)

Um dos princípios basilares da democracia é a separação entre poder judicial e poder político. A interferência da política na justiça foi prática corrente dos regimes totalitários fascistas e comunistas do século XX. Embora teoricamente a democracia garanta essa separação de poderes, é obrigação de políticos e magistrados velar por uma efectiva separação de poderes.
Em democracia são conhecidos casos de juízes que se envolveram na política, como o caso do Ministro Rui Pereira, ex-juiz do Tribunal Constitucional (TC), ou como a candidatura do juiz italiano Di Pietro a Presidente do Conselho. Estes casos são sempre polémicos, dado o receio de que os órgãos judiciais possam ser condicionados pelas suas antigas funções, colocando em causa os princípios mais básicos da democracia. Por este motivo a candidatura de um juiz a um cargo político não pode ser vista como uma candidatura qualquer num país democrático.
Este ano o candidato à Câmara Municipal da Figueira da Foz pelo PS é um juiz que passou pelo Tribunal da Figueira. Manda a prudência que o Tribunal da nossa cidade e o candidato do PS evitem criar qualquer suspeita de promiscuidade entre as partes. No entanto, a actuação do tribunal durante a análise das listas dos diferentes partidos esteve longe de se considerar prudente. Por exemplo, a candidatura do juiz João Ataíde entregou em tribunal as fotocópias do bilhete de identidade de todos os elementos, documento esse que não é exigido por lei para validação de listas. Dois dias depois, o mesmo tribunal pediu as referidas fotocópias às outras listas, deixando a sensação que não é a lei a servir de referência ao tribunal, mas sim a candidatura de um juiz que curiosamente foi orientador de estágio de alguns dos profissionais deste tribunal. Foi neste clima que as listas do BE da Figueira da Foz foram rejeitadas por não preenchimento das listas de suplentes aos respectivos órgãos. Esta é uma decisão muito grave, da qual recorremos ao TC que se tem pronunciado variadas vezes sobre o assunto e sempre da mesma forma.
O acórdão n.º 690/93 do TC diz "as listas que não disponham de candidatos suplentes no mínimo previsto pela lei não podem ser censuradas por esse simples facto". No mesmo texto lê-se: "Não se vê motivo para alterar esta jurisprudência que, aliás, tem vindo a ser uniforme e constantemente seguida por este tribunal". Do mesmo modo, e seguindo essa uniformidade do TC, em todo o país, (ex: Nazaré, Estremoz, Pombal, Condeixa, etc.) foram aceites listas sem o número de suplentes previsto na lei, algumas aceites de imediato, outras após reclamação ao tribunal local.
Tanto quanto é do nosso conhecimento, a Figueira é caso único onde se manteve a rejeição pelo referido motivo. E o único caso em que houve um telefonema maroto para a TVI a informar da rejeição das listas antes da decisão definitiva do tribunal.
Neste quadro, Vítor Batista, o presidente da Distrital do PS também não foi prudente ao ter apelado publicamente na Figueira para que se não vote no Bloco de Esquerda, durante uma intervenção recente.
Apesar de não termos dúvidas de que as nossas listas serão validadas pelo TC, tememos pelo futuro da Figueira. Tememos que uma vez o juiz Ataíde eleito como vereador ou presidente de câmara, e independentemente da sua isenção, o Tribunal da Figueira tome como referência os actos do juiz antes de se debruçar sobre os textos da lei, o que poderá ser muito grave para a democracia e para a já tão pobre transparência política no nosso concelho.

Nova eólica flutuante inaugurada na Noruega

(Publicado no Esquerda.net)



A nova eólica flutuante inaugurada esta semana perto do fiorde Åmøy é constituída por uma turbina de 2,3 MW, uma torre de 65 metros, rotores de 80 metros e pesa cerca de 5300 toneladas. Foi instalada pela empresa norueguesa StatoilHydro, que resultou da fusão entre a Norsk Hydro, uma empresa de energias renováveis, e a Statoil, uma empresa petrolífera. Curiosamente o desenho da plataforma flutuante deste projecto resulta da experiência no sector petrolífero da referida empresa, da tecnologia de plataformas marítimas de exploração de petróleo. A Hywind é apenas uma eólica piloto que será testada durante dois anos. O objectivo dos testes será optimizar este tipo de eólicas marítimas para que no futuro possam contribuir efectivamente para uma produção significativa de energia limpa. Em particular será estudada a forma como o vento e as ondas afectarão a estrutura. Actualmente, o investimento neste projecto já se cifra em cerca de 400 milhões de coroas norueguesas (~ 45 milhões de euros).

Naturalmente, este tipo de projectos interessam um país como Portugal, que possui cerca de 800 quilómetros de costa. No entanto, o Hywind ainda apresenta algumas limitações técnicas que poderão condicionar a sua hipotética utilização e a sua viabilidade económica no caso português. Por exemplo, o intervalo de profundidade do mar adequado a este tipo de eólica situa-se entre os 120 e os 700 metros. Além disso, a distância à costa deve ser a mais curta possível para evitar perdas no transporte de energia. A viabilidade de eólicas marítimas na costa portuguesa começou a ser estudada em meados deste ano através do projecto wind@sea, financiado pela Galp Energia, com o intuito de identificar, seleccionar e caracterizar locais para a instalação de parques eólicos no mar, atendendo às restrições de ordem técnica e ambiental. O consórcio responsável por este projecto envolve ainda o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, o Instituto Hidrográfico e o Instituto Nacional de Engenharia e Gestão Industrial. Em breve, poderemos estimar com maior certeza a viabilidade de eólicas marítimas ao largo da nossa costa. Em caso positivo, restará a vontade política...

domingo, setembro 13, 2009

A Origem dos Números

Uma excelente edição da casa Science&Vie este Cahiers dedicado à origem dos números. São passados em revista os sistema numéricos utilizados nas civilizações mais antigas: Mesopotâmia, Egipto, Grécia, Império Romano, China, Índia, etc. É dada especial atenção à invenção do zero e do sistema numérico "árabe" da autoria de sábios indianos, mas depois desenvolvido mais tarde pelos árabes. Uma das minhas secções preferidas é a descrição do sistema vigesimal dos Maias, muito sofisticado em relação à europa contemporânea que só no século XII começou a adoptar o sistema decimal que hoje conhecemos. A não perder.

sexta-feira, setembro 11, 2009

SOS Cabedelo

A questão dos efeitos provocados pela extensão dos molhes da Figueira na onda do Cabedelo não é simples, ali não há soluções milagre, mas as coisas poderiam e deveriam ter sido geridas de outra maneira. Pelo andar da carruagem vamos matar o surf na Figueira e mais uma vez aniquilar uma especificidade do concelho que poderia servir de motor para o desenvolvimento económico e social. Consultar página SOS Cabedelo.
Em breve, escreverei mais sobre o assunto.

Os Visitantes



"Os Visitantes" de Jean-Marie Poiré é uma das minhas comédias preferidas. Embora entre os actores não apresente grandes talentos da comédia (confesso que não aprecio muito a Valérie Lemercier no registo comédia e esse também não é o forte de Jean Reno), "Os Visitantes" apresenta um excelente argumento e um rigor histórico invulgar para um filme do género. Começando pelo objectivo dos "Visitantes", a descendência, passando pelos pormenores da idade média contados por Reno, "durante os banquetes queimávamos árvores inteiras para assar veados", até ao choque entre passado-futuro com cenas memoráveis como aquela onde a retrete serve de lavatório, ou quando Clavier come uma sandes embrulhada em papel celofane ou ainda o caríssimo banho à base de Chanel nº 5.
O nível de maturidade de "Os Visitantes" contrasta fortemente com a ingenuidade latente das comédias americanas que partem de viagens no tempo para construir a sua narrativa, como o "Regresso ao Futuro". "Os Visitantes" é uma comédia de luxo que teve sequelas, menos conseguidas, mas nem por isso menos desprovidas de um excelente conteúdo histórico.
É a minha proposta aos caríssimos leitores para este fim-de-semana, para aqueles momentos de ócio em que nos abstraímos da outra comédia: a humana.

quinta-feira, setembro 10, 2009

A recompensa da sapatada a Bush

Muntadar al-Zaidi, o jornalista que ficará para a história pela tentativa de aplicar uma sapatada a George W. Bush, será libertado na próxima segunda-feira. Muntadar ganhou estatuto de herói e está a ser inundado de ofertas: dinheiro, carros de luxo, gado, imóveis, ofertas de casamento, etc. A higiene política que os EUA de Bush tentaram implementar à força no Iraque dá nisto. À primeira oportunidade o povo mostra de que lado está com toda a clareza (e também não está do lado de Saddam).

terça-feira, setembro 08, 2009

O Campo de Golfe de Marvão


O que vêem nesta foto (clicar para ampliar) é um campo de golfe seco, castanho, como um cadáver que jaz junto as muralhas de Marvão. O golfe, tal como o conhecemos hoje, foi inventado na Escócia. Estão a ver a diferença de clima não estão? Assim sendo, o que faz com que proliferem campos de golfe na Península Ibérica, campos vazios, campos secos, campos ao abandono, onde o clima é hostil a este desporto? O documentário "Let's make money" esclarece bem para que servem a maior parte dos campos de golfe que se constroem nos nossos dias: servem para valorizar terrenos. Uma vez valorizados os terrenos em volta do golfe, estes são invadidos de apartamentos, apartotéis e hotéis, porque supostamente os clientes do golfe precisam de dormir nalgum lado. O mesmo documentário mostra que essa habitação, frequentemente luxuosa, é rapidamente vendida, mas não é habitada. Essa habitação serve apenas para criar um produto que pode ser transaccionado no mercado e é aí, no mercado, que se ganha dinheiro a sério. O preço original dos apartamentos são trocos comparado com os lucros que se obtêm nas operações de compra e venda nos mercados. Os campos de golfe podem secar, os apartamentos podem ficar vazios e os hotéis de luxo podem estar às moscas. O essencial dos lucros não passa pelo terreno passa pelo casino das bolsas mundiais.