sexta-feira, agosto 29, 2003

Pancada no "mexilhão"

Já aqui tinha escrito sobre a forma como Carlos Fino foi atacado na blogosfera. Na Salmoura há mais uma análise que coincide com a minha sobre a falta de fundamentação destes ataques. Para além disso o texto "Carlos Fino assassinado" acrescenta mais algumas reflexões sobre o assunto.

Eu temo que aconteça ao Carlos Fino o que aconteceu ao "Acontece". Por este andar em breve a RTP resume-se aos astrólogos (segundo consta na imprensa estes senhores recebem cachets superiores a 20 mil €/mês).

quinta-feira, agosto 28, 2003

margens

Esta coisa dos blogs, sendo ou não um fenómeno efémero, tem pelo menos uma grande virtude: levar a gente das Letras a participar activa e interactivamente na Web.
Quando foi aberta ao "grande público", a Internet era frequentada essencialmente por informáticos e afins. Mesmo não sendo dos pioneiros, nem informático ou afim, lembro-me perfeitamente do domínio natural das pessoas de Ciências sobre este meio que, sendo essencialmente tecnológico, era bastante hostil a quem não se sentisse confortável em frente a um monitor. Reflexo disso eram também os poucos conteúdos e os fóruns de discussão que então existiam. Este facto mostrou bem o muro que muitas vezes existe entre as pessoas de Ciências e as de Letras. Ambos adoptam discursos próprios e de difícil acesso à outra parte que também não se esforça muito por lá chegar. Perdem ambos os lados... Eu por mim estou deliciado com muitas perspectivas históricas, políticas, filosóficas, sociológicas, etc. que por aí circulam e se interlaçam de blog em blog...
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As pernas de Kratochvílová

Infelizmente, o desporto que não seja futebol tem vindo a ser marginalizado pelos meios de comunicação que passam imenso tempo a mostrar coisas tão "interessantes" como: os treinos do Sporting, as jantaradas do Reinaldo Teles ou as eleições da Miss Benfica de Massamá. O Campeonato do Mundo de Atletismo quase passa despercebido. Como as prestações dos nossos atletas.

A propósito do Campeonato do Mundo de Atletismo relembrei o dia em que fixei as pernas de Jarmila Kratochvílová, a Checoslovaca recordista dos 800 metros. Era uma atleta daquelas com uma compleição física quase masculina. Era um colosso! Nesse dia estava eu no café Nau na Figueira da Foz (muito antes desta cidade se ter endividado até à ponta das orelhas para promover uma carreira política) com o galãozito e a tosta mista da ordem, pagos com os 50 paus que os meus pais me davam aos Sábados, à espera da final feminina dos 400x400. Na altura a minha atleta preferida era a Marita Koch da RDA. A Marita era especialista dos 100 e dos 200 metros. Kratochvílová era especialista dos 800 e dos 400. A última estafeta caberia às duas atletas. Por isso antevia-se um final interessante. A final foi espectacular, a RDA chegou à última transmissão claramente à frente, seguida da URSS e da Checoslováquia em terceiro. Assim que Kratochvílová recebeu o testemunho e passou como um tiro pela atleta soviética a televisão fez um grande plano das pernas musculadas de Kratochvílová, nesse momento eu temi que estava tudo acabado para a Marita Koch. Ao ritmo a que Kratochvílová lhe ganhava terreno, os menos de 400 metros restantes seriam suficientes para a vitória Checa.

Já não me lembro quem ganhou! O que me lembro muito bem foi dessa arrancada brutal de Kratochvílová empunhando energicamente o testemunho. Foi dos momentos mais bonitos de desporto que vi até hoje! Desde então passei a seguir todas as corridas de Kratochvílová.

A beleza de Marte às 11 da manhã

Hoje é dia 28, a importância deste número foi me revelada às 11 horas quando olhava para Marte com a minha visão raios gama - são mais penetrantes que os raios X do Super Homem - através do globo Terrestre. Marte nesta altura está do lado do globo em que é noite. Vi um dos textos mais belos da blogosfera.

quarta-feira, agosto 27, 2003

O Homem de Marte de Robert Heinlein

Escreveram-se muitos romances sobre Marte. Sobretudo desde que Percival Lowell descobriu que o planeta vermelho possuía canais de uma dimensão comparável ao Grande Canyon. Desde a «Guerra dos Mundos» de George Orwell até às Amazing Tales, Marte fez parte do imaginário da ficção científica. Mas há um romance que se destaca pela profundidade da reflexão que proporciona e pelo colorido das suas personagens e das propostas futuristas do autor. Essa obra é o «Estranho numa terra estranha», a história do homem que veio de Marte.

O Homem de Marte é Valentin Michaël Smith, Mike, o filho de um casal de investigadores que participa numa missão tripulada a Marte que resulta num falhanço. Todos os tripulantes morrem em Marte excepto Mike cujo nascimento ocorreu no planeta vermelho. Mike é educado pelos marcianos. Anos mais tarde uma nova missão vinda da Terra chega a Marte e entra em contacto com os marcianos. Mike é levado para a Terra. Apesar de fisicamente Mike ser um humano, Mike vive como um marciano. Mike é envolvido numa trama rocambolesca de interesses. Alguns tentam aplicar direito Terrestre abusivamente ao planeta Marte. Todos os falcões do liberalismo cercam Mike desde as cadeias de «estereovisão» até aos movimentos espirituais que dão tudo ao devotos que os devotos querem (onde é que já ouvimos isto?). Até que Mike cai na armadilha…

O que me agrada neste livro é que foge a muitos dos vícios típicos dos romances anglo-saxónicos como a bocejante luta entre o «bem» e o «mal». Há ali muitos personagens com comportamentos dúbios e subversivos, ninguém parece inocente nem o próprio Mike. Estamos sempre a duvidar se ele é mesmo aquele «bom selvagem» que aparenta. Temas como a sociedade, a política, o sexo, a religião e até o direito à propriedade são constantemente postos em causa!

Aqui vos deixo este aperitivo para a noite da oposição de Marte. Boas observações.

terça-feira, agosto 26, 2003

Memória curta: Carlos Fino, RTP, Moscovo

Inúmeras vezes durante a década de 80 Carlos Fino finalizou as suas intervenções no telejornal deste modo: "Carlos Fino, RTP, Moscovo". Na altura os acólitos incondicionais do regime Soviético vociferavam contra as intervenções de Carlos Fino, que apelidavam de propaganda anti-comunista paga pelo Império Americano. Por outro lado os acólitos do regime americano deliravam com Carlos Fino, compravam resmas de Selecções do Readers Digest e as edições da National Geographic com as primeiras fotos dos desastres ecológicos nos regimes de leste. Nessa altura nenhuma destas pessoas pôs em causa o profissionalismo de Carlos Fino, pelo contrário Carlos Fino não podia ser mais profissional.

Mas os tempos mudam. Hoje aqueles que vêem na nação Americana quase o mesmo que os comunistas viam no regime Soviético (um país onde tudo é perfeito, todos vivem bem, justíssimo, etc.) mudaram de opinião sobre Carlos Fino. Afinal ele não diz o que eles queriam ouvir, tal como no passado não dizia o que os comunistas queriam ouvir. Este texto do Abrupto é um exemplo perfeito deste paradoxo. No texto “Carlos Fino, Bagdad” podemos ler:

Mas Fino não é um jornalista objectivo, nem nada que se pareça. Já me reduzo a considerar objectividade, apenas a procura de objectividade, que isso qualquer pessoa sabe o que é , sente se existe. Fino é um jornalista programático, que desenvolve o seu trabalho em função da sua opinião e só vê e só comenta o que com ela coincide. Se analisarmos os seus relatos da guerra, na estadia anterior, eles revelam um enorme desequilíbrio, insisto, enorme. O que Fino relatou, dia após dia, não só não se verificou como foi contrariado pelos factos de forma gritante. Fino continuou na mesma, imperturbável, mesmo quando a queda de Bagdad de Saddam, foi um desmentido flagrante do que ele dizia na véspera.

Se Carlos Fino for este jornalista acima descrito então o melhor é irmos todos a Berlim tocar nas pedras do muro para acreditar no que aconteceu em 1989. Mas já agora que factos tão importantes foram esses que contrariaram de forma gritante o que Carlos Fino descreveu? Terá sido o número de mortos de um bombardeamento que duplicou de um dia para o outro? Pode acontecer. Ou terá sido o anúncio do ex-Ministro da Informação Iraquiano de que 300 helicópteros americanos tinham sido abatidos por um velho pastor Iraquiano? Fino confirmou factos deste tipo? Parece-me que não. Aliás não vi absolutamente nada de especial na objectividade das intervenções de Carlos Fino. Segui como muitos portugueses os vários órgãos de comunicação internacionais e parece-me que a objectividade de Fino esteve ao mesmo nível da objectividade dos jornalistas da CNN, BBC, TF1, RAI, TVE, etc. Só senti uma diferença de objectividade em relação à ARTE, que é um canal de televisão à parte e de um profissionalismo fora de série, e ainda em relação à Euro News, que é um canal neutro, tão neutro, que às vezes até chateia.

É fácil atacar Carlos Fino como é sempre fácil atacar o “mexilhão”. Mas não será mais grave quando um governo não é objectivo numa questão destas? Será que Blair foi objectivo sobre as provas que anunciou possuir sobre as armas de destruição em massa? Não foi ele contrariado pelos factos de uma forma gritante? E Durão Barroso foi objectivo? Ele afirmou preto no branco que tinha visto as provas de que o Iraque possuía armas de destuição em massa, não terá sido ele contrariado por factos de uma forma gritante? Já agora, morreu algum cientista por causa da falta de objectividade das declarações de Fino? E por causa das declarações de Blair?

Não tenho nenhuma admiração especial por Carlos Fino, mas quando no período de uma década este é criticado pelos acólitos da União Soviética e depois pelos incondicionais dos EUA isto pode ser um indicador de uma postura minimamente equilibrada em relação aos factos que ele descreve. Pelo menos não deve estar a ser submisso a nenhuma das partes. Será que podemos dizer o mesmo de Blair ou de Barroso?

domingo, agosto 24, 2003

Marte em Portugal, Portugal em Marte

Dia 27 de Agosto o Observatório de Lisboa promove uma sessão de observação pública da oposição de Marte. Vale a pena! A última vez que Marte esteve tão próximo da Terra foi há 60 mil anos!

Aproveitando esta proximidade invulgar do planeta Marte, a ESA e a NASA enviaram missões ao planeta vermelho. A missão Mars Express da ESA é muito especial para nós Portugueses já que conta com a participação de quatro instituições portuguesas : a Universidade de Coimbra, a Universidade Nova, o Instituto Superior Técnico e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O nome do projecto português chama-se MAGIC (Mars Atmospherical Geophysical and ExobIological Characterisation) e é dirigido pelo simpático investigador holandês Maarten Roos Serote. Fundamentalmente é um projecto de análise de uma parte dos dados que serão transmitidos pela Mars Express. O projecto está divido em três áreas : geologia, atmosfera e exo-biologia de Marte. Se tudo correr a Mars Express chegará a Marte em Dezembro.


Representação artística da Mars Express na órbita de Marte
(imagem do sítio da Agência Espacial Europeia).


Trajectória da Mars Express em relação às órbitas da Terra e de Marte
(imagem do sítio da Agência Espacial Europeia).

Nota: quem quiser utilizar imagens da ESA pode fazê-lo livremente desde que refira a sua origem.

sexta-feira, agosto 22, 2003

Cristovão de Moura y la ciudad dorada

A cidade dourada é Salamanca. Cristovão de Moura é o blogue de Paulo Varela Gomes.
Há algumas semanas durante um debate organizado em Coimbra sobre a Capital Nacional da Cultura ouvi Paulo Varela Gomes proferir aproximadamente as seguintes palavras sobre a cultura e o urbanismo: « …Porto, Lisboa e Coimbra não chegam aos calcanhares de Salamanca ». Na altura achei estas palavras algo exageradas, apesar de achar que Lisboa é de facto uma cidade caótica, o Porto menos e Coimbra caótica mas mesmo assim onde é possível ter alguma qualidade de vida. Por outro lado, Salamanca é uma daquelas cidades que me cativam e sempre que posso arranjo uma desculpa para passar por lá ou permanecer uns dias. Mas desde 98, só tinha passado por lá de « raspão » durante a minha viagem de retorno definitivo de Estrasburgo em Novembro passado. Vi que a cidade estava muito melhor do que em 98 mas não tive tempo para compreender o alcance dessas melhorias. Por isso achei que Varela Gomes tinha exagerado.

Sucede que recentemente organizei uma nova romaria até à Ciudad Dorada e desta vez com tempo para ver Salamanca como já não a via há muito. Agora, o mínimo que posso dizer é que Paulo Varela Gomes tinha razão. A cidade agora abraça calorosamente os visitantes através das suas ruas tentaculares sem deixar os carros entrar, a cidade relaciona-se harmoniosamente com o rio Tormes e toda a envolvente ambiental, o centro histórico encaixa na perfeição nos edifícios novos que foram recobertos com uma pedra idêntica (de côr dourada ao pôr do Sol) à dos edifícios antigos e para além de tudo isto é uma cidade universitária que vive fora do período lectivo: oito mil alunos frequentam cursos de Verão de castelhano e diversos cursos de vocação internacional. Onde é que nós encontramos isto em Portugal ? O pior é que isto não fica por aqui. Castilla y Léon é uma região que deu o « salto ». Se visitarmos Zamora, Toro, Tordesillas, Avila, Segovia, Ciudad Rodrigo ou as aldeias da Peña de Francia observamos a mesma tendência de Salamanca.
Infelizmente Paulo Varela Gomes tinha razão.

Comparando com o resto da Europa, a organização territorial de Portugal dá-me vómitos. Esta região das Beiras onde vivo, exceptuando alguns lugares como a Praia da Tocha ou a Floresta do Buçaco, é uma região feia, porca e manhosa. Aliás como quase todas as outras regiões portuguesas. Felizmente visitei Évora e Beja recentemente, o que me fez pensar que afinal há uma esperança para quem tem um gozo bestial de pertencer ao povo que deu a primeira volta ao mundo e inventou o Nónio e a Passarola.

terça-feira, agosto 19, 2003

Apagões

O apagão da água potável
O apagão do petróleo
O apagão do nível de água do mar
O apagão da corrente quente do Golfo do México
O apagão do clima como o conhecemos hoje

Em breve na Klepsýdra

terça-feira, agosto 12, 2003

batendo às portas do céu

Segundo pessoas amigas, o controlo da entrada nos EUA está mais apertado. De tal forma que as pessoas são sujeitas a um interrogatório sistemático que roça a humilhação: os passageiros do avião foram todos colocados numa sala onde foram sujeitos às perguntas infantis da praxe, tendo de se sentar e levantar à voz de comando dos inquisidores. Houve quem se risse de tal situação, tendo irritado os senhores a ponto de a ameaçarem com prisão. Será que a tragédia de 11 de Setembro é desculpa para tudo? Será que estes procedimentos aumentam o nível de segurança interno dos EUA? Será que os cidadãos americanos são sistematicamente tratados desta forma quando se deslocam à "Velha Europa"?

Como se investe mal em ciência em Portugal (actualização)

Gosto de olhar para a Klepsýdra como um emaranhado de tubos onde a àgua (a prosa) se perde e o tempo fica a passar. Dito isto, daqui vos teletransportamos através de um tubo minhoca (o equivalente do buraco minhoca da Klepsýdra) até à actualização do texto: "Como se investe mal em ciência em Portugal". Apertem os cintos! Tri, dva, odin, natchinai!

Férias na Europa, Lua Cheia e uma adivinha

No Mar Salgado há uma breve referência a um assunto que já há muito ando para desenvolver aqui na Klepsýdra: a relação entre o tempo férias na Europa e na Liberalolândia (EUA, Tailândia, Taiwan, etc) e a productividade dos respectivos países. O artigo é do Economist. Mas há mais coisas interessantes sobre este tema e em breve pegarei de novo no assunto.

Hoje temos Lua Cheia, e "Lua de Mel Lua de Fel" na RTP. Um filme que não sai da cabeça. Uma excelente obra de Polanski que mostra como uma paixão avassaladora pode desaguar no tédio e na crueldade.

Em breve inaugurarei a secção "Portugal Único", mas antes convido os nossos leitores a adivinharem onde fica este belo atentado ao nosso património:



Quem adivinhar ganha um barracão à beira de uma estrada nacional daqueles que vendem telhas, fontanários e estátuas brancas de gesso de leões, de águias e de dragões!

sábado, agosto 09, 2003

Schwarzenegger candidato

O actor Arnold Schwarzenegger apresentou-se como candidato a governador do estado da Califórnia. Esta notícia tem simultaneamente algo de interessante e de preocupante.

O interessante é que Schwarzenegger é um Austríaco que encontrou o seu lugar nos EUA, país que o acolheu e que agora lhe oferece a oportunidade de poder ser candidato a governador de um dos seus estados. Isto é bonito e faz parte daquele rol de coisas interessantes que os EUA têm para oferecer ao mundo. Outra coisa que adoro é que Schwarzenegger não domina completamente a língua inglesa e nota-se o seu forte sotaque germânico. Representa assim uma grande parte do eleitorado que possui o mesmo problema. Relembro que a Califórnia é um estado onde a língua Castelhana é quase maioritária e onde existe uma forte presença de asiáticos com problemas linguísticos.
Se acontecesse uma destas em Portugal o nosso sector liberal-conservador ficava à beira de um ataque de nervos!

O aspecto mais preocupante prende-se com aquilo que Schwarzenegger representa.
Num estado onde a indústria cinematográfica tem um papel dominante parece-me natural que um candidato a governador possa vir desse sector. Até aqui tudo bem. Seria por isso normal existirem candidatos ligados a funções directivas (como produtores ou realizadores) na indústria cinematográfica. Mas porque não um actor? Apesar de não ser um fã da maior parte dos productos de Hollywood reconheço que existem muitos actores que poderiam dar candidatos capazes de trazer assuntos interessantes à política do estado da Califórnia (como o Sean Penn, o Robin Williams, o William Hurt, o Dustin Hoffman, etc). Mas não, saíu na “rifa” um actor que representa o que há de mais primário dentro da grande produção Hollywoodesca. Era difícil arranjar pior. O que é que pode oferecer um candidato que fez filmes obscenos como o “Comando” ou cuja imagem no cinema apareceu constantemente associada a armas de grande calibre e a cenas de grande violência física?
Parte da resposta já foi dada: apesar de Schwarzenergger aparecer como “polícia”, ironicamente, foram sobretudo as máfias e os gangs que absorveram os métodos que representou no cinema (algumas máfias possuem refúgios forradas de posters de Schwarzenegger).
A outra parte da resposta deu-a Schwarzenegger: combater o crime (pois claro!) para que as empresas deixem de fugir da Califórnia e este estado volte a ser atractivo para a captação de novas empresas que por sua vez criarão emprego e mais emprego poderá diminuir a criminalidade (tem lógica!).

O problema é que o estado da Califórnia não tem feito outra coisa na última década. A Califórnia tem uma altíssima taxa de criminalidade apesar de ter leis duríssimas. Por exemplo se alguém for condenado três vezes por delito comum, por menores que sejam os crimes, é condenado a prisão perpétua. A consequência é que a Califórnia gasta mais dinheiro do seu orçamento no sistema prisional do que na educação. Se calhar era melhor que fosse ao contrário…

Schwarzenegger é mais do mesmo, mas talvez a diferença resida apenas no calibre das armas e na massa muscular dos futuros polícias californianos. É pena, porque os EUA ainda hoje andam a pagar muito caro a excessiva dependência da sua economia dos combustíveis fósseis e da indústria de armamento resultante da administração de outro actor da “fina flôr” Hollywoodesca: Ronald Reagan.

A seu tempo escreverei aqui um pouco mais sobre o estado da Califórnia, que é lindíssimo, mas que infelizmente é vítima de problemas terríveis como o atentado ecológico de Palm Springs ou a muralha da vergonha construída entre os EUA e México. Não penso que estes problemas preocupem Schwarzenegger ou Larry Flynt que é o possível candidato dos democratas (sempre tem mais nível que o Arnaldo!).

Samsa não me batas! ;>

Como se investe mal em ciência em Portugal

Portugal paga cotas caríssimas para pertencer a organizações como o ESO, o CERN, a ESA ou o ERSF.

Só à ESA Portugal paga anualmente cerca de 9 milhões de euros. Mas para que os investigadores portugueses possam ter algum retorno da adesão de Portugal a essas organizações o estado português deveria investir pelo menos o mesmo do que paga em cotas. No âmbito da nossa presença na ESA o governo português disponibiliza às instituições nacionais cerca de 3,5 milhões de euros até 2006. Isto dá: 875 000 €/ano. Ou seja cerca de 1/10 do que Portugal paga de cotas à ESA. Para apresentar uma proposta válida à ESA é preciso fazer um "trabalho de casa", ou seja é preciso investigar em áreas dispendiosas durante anos e obter resultados. Para que isso aconteça é preciso que o estado invista nessa área. Além do mais os "Anúncios de Oportunidade" lançados pela ESA exigem frequentemente que o projecto a avaliar seja financiado em parte (pode ser superior a 50%) pelo país do laboratório proponente. Se investimos apenas 1/10 do que pagamos de cotas são os outros membros da ESA que vão aproveitar essas cotas que pagamos pois os investigadores portugueses não têm capacidade de apresentar projectos válidos devido ao insuficiente investimento do estado português nessas áreas de investigação. Isto mesmo foi dito por Marcello Coradini representante da ESA presente na Escola de Verão Interdisciplinar sobre o Sistema Solar que está a decorrer esta semana em Coimbra.
Por exemplo Portugal optou por não participar no programa da ESA de Observação da Terra que seria uma ferramenta muito valiosa para a ajuda no combate aos incêndios. Lá vamos nós dar aos fogos!

Não são opções inteligentes pois não? Infelizmente isto é o que se passa em relação à ESA, mas em relação às outras organizações passa-se mais ou menos a mesmo coisa...

sexta-feira, agosto 01, 2003

Vida fácil?

Parece que as notas de acesso ao ensino superior voltaram a mostrar as dificuldades que os alunos (e os professores) portugueses têm em lidar com a Física e com a Matemática. Muito se tem escrito sobre o assunto. No entanto, há um factor que é muitas vezes esquecido: é preciso trabalhar. Se se gostar à partida tanto melhor mas, muitas vezes, é preciso provar para gostar. Para provar é preciso fazer um esforço para conhecer e compreender os assuntos. A vida nem sempre é fácil.
A falta de vocações para as ciências exactas começa a ser preocupante. A fuga à Matemática atira muitos estudantes para cursos de humanidades, muito ricos em termos de conhecimentos, mas com poucas possibilidades de emprego e sem responder às necessidades reais do país.
Com os critérios que o ministério da tutela está a adoptar não falta muito para sermos um país com cada vez menos Físicos, Matemáticos, Geólogos, Cartógrafos, Geodetas e outros que tais. Estaremos dispostos a pagar a factura?...