quinta-feira, novembro 30, 2006

Karel Čapek, o pai da palavra robô

A minha crónica de hoje no Portal do Astrónomo é sobre Karel Čapek, escritor de ficção científica e pai da palavra robô.

O véu visto por dentro

Já aqui referi várias vezes que por princípio sou contra a interdição do lenço nas escolas ou contra a interdição do véu no espaço público. Mas reduzir o problema do véu à sua interdição ou não é ver apenas uma parte do problema. Aqui vão referências de obras escritas por mulheres que conhecem bem o problema do véu e que o enquadram devidamente no alastramento do integrismo entre as comunidades muçulmanas:

- "Les mensonges des intégristes" e "Frères musulmans, frères féroces" de Latifa Ben Mansour

- "Deux femmes en colère" de Kenza Braiga e Olivia Cattan

segunda-feira, novembro 27, 2006

Quem é que continua a negar o aquecimento global?

Desde 2002 que o campo dos negacionistas do aquecimento global sofreu um duro revés quando a Shell, Texaco, BP, Ford, GM e Daimler-Chrysler abandonaram a Global Climate Coalition - organização que negava o aquecimento global e lutava contra a ratificação do Protocolo de Quioto - na sequência de um relatório publicado por um grupo intergovernamental peritos sobre as evoluções climáticas que previa o aumento da temperatura do planeta entre 1,4º e 5ºC até ao ano 2100. Pouco tempo depois a Global Climate Coalition encerrou e o seu sítio internet está agora inactivo como se pode verificar.

O que restou deste movimento?
Restaram os fanáticos e a Exxon/Mobil. Nos últmos 6 anos a Exxon financiou em 55 milhões de dólares fundações e grupos de pressão com graus de fanatismo variável (uns tentam utilizar argumentos científicos, outros dedicam-se a denegrir a ciência e os cientistas) com o objectivo de continuar o negacionismo das alterações climáticas. Um dos mais mediáticos negacionistas a soldo da Exxon é Steven Milloy, cronista da Fox News, que alimenta um sítio internet apelidado Junk Science, que é em si junk do pior que há. Através de dois institutos que dirige, o Free Enterprise Action Institute e o Advancement os Sound Science Center, Steven Milloy já recebeu cerca de 90 mil dólares de donativos da Exxon/Mobil. Sobre Quioto Milloy referiu-se como sendo uma "infâmia científica e económica". Tchriiiim! $90 000$ -> caixa registadora

sábado, novembro 25, 2006

1,5 kg de Expresso para o lixo

Após separar a parte informativa do jornal Expresso do lixo publicitário de golfes, de telemóveis, de imobiliárias e de electrodomésticos, deparei com uma montanha absolutamente obscena de papel que ia direitinho para o lixo. Não resisti a pesá-la. 1,5 kg! Leram bem, 1,5 kg de lixo que acompanha o jornal! 1,5 kg multiplicado pela tiragem média do jornal (225 000 exemplares) dá 337,5 toneladas de lixo publicitário semanal que acompanham o Expresso!!!
Se até hoje os jornais não tomaram iniciativas sérias para evitar este desperdício, acho que está na hora de serem impostas medidas draconianas. O planeta não é infinito e o somatório de todos os lixos inúteis deste género começam a fazer estragos.

PS- Não compro o Sol, aquela coisa kitsch onde o texto e a prosa atrapalham as corzinhas e as fotografias javardas de variedades da vida real. Arriscava-me a mandar para o lixo o jornal inteiro e acabar por ler os folhetos publicitários...

sexta-feira, novembro 24, 2006

150 mortos? Não são brancos nem ocidentais!

Julgo que os mais de 150 mortos resultantes dos atentados de ontem no Iraque mereciam pelo menos duas ou três linhas da parte dos políticos e dos cronistas que defenderam a implementação sistema que hoje vigora no país através da ocupação americana. De certa forma choca-me verificar este silêncio de quem defendeu tão acerrimamente a solução actual para o Iraque. Se os 150 mortos ocorressem num atentado em Londres provavelmente hoje estaríamos inundados de crónicas épicas sobre a cidade de Londres, os londrinos, as ruas onde compraram os pacotinhos de chá ou sobre tal amigo que trabalhava ali mesmo ao pé do sítio onde explodiram as bombas.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Uma garrafa de plástico em África

Ler esta entrada da Isabel (Aba de Heisenberg) citando o Gonçalo Cadilhe.
Um dia, não muito distante, o mundo vai ter que reequacionar seriamente o que produz e o que consome.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Djindji Rindji


(foto sítio UEFA)

Sa romalen pucela
Bubamara sosi acela
Devla, Devla vacar le
Bubamaru koka pocinel

Ej romalen asunen
Ej cavoren gugle zuralen
Bubamara cajori
Baro Grga vojsi odjili
Djindji rindji Bubamaro
cknije sužije
ajde mori goj romesa
Sa Romalen pucela
ede ori fusujesa cudela
Devla, Devla sacerle
Bubamaru vojte aresle
Ej Romalen asunen
ej cavoren gugle sukaren
životo si ringispil
trade aj ro, aj romni
Djindji rindji Bubamaro....

É o mínimo

A decisão de dar prioridade política à livre circulação de pessoas dos 10 novos países membros da UE - cuja circulação é ainda restrita - durante a Presidência Portuguesa do próximo ano é mínimo que se exige de um país que tem 5 milhões de emigrantes espalhados pelo mundo.

terça-feira, novembro 21, 2006

Um mau rascunho sobre o nuclear em Portugal

Em Agosto o DN publicava na primeira página os resultados de um estudo económico sobre qual seria o custo da factura da electricidade se se produzisse energia nuclear em Portugal. Detectei meia dúzia de erros, gafes e trapalhadas. Apesar de estar de férias, tentei sem sucesso contactar a jornalista para a alertar das incongruências do tal estudo.

Hoje às 15.00 participo num debate sobre o nuclear na FCUP. Para o preparar descarreguei da página da FEP o tal estudo, da autoria de Pedro Cosme Vieira da FEP, intitulado "Energia nuclear: Uma solução para Portugal?".
Trata-se de um estudo sobre uma questão importantíssima com 37 páginas... Descontando a capa, a contracapa e a bibliografia ficamos com 31 páginas de estudo. A análise económica, a polpa deste estudo começa na página 26 e acaba na página 32. Até à página 26 é só palha cheia de erros e alguns bem graves, como os 600 anos para que a radioactividade dos lixos tóxicos atinjam o nível da radioactividade natural. De facto são 600 mil anos! O autor não se esqueceu de acrescentar três zeros, visto que reforça qualitativamente a ideia dos 600 anos noutras passagens do estudo. A polpa do estudo está polvilhada de tabelas e gráficos de pouca utilidade. As contas que realmente interessam resumem-se a meia página (pag. 27), cabem num guardanapo de papel, e estão ao alcance de um bom aluno da quarta classe. As contas partem de um pressuposto errado. É que Portugal não são os EUA. Portugal não gastou cerca de 5821027000000 dólares num programa nuclear, como é o caso do programa americano. Portugal não tem nem as instalações, nem os laboratórios, nem as empresas especializadas, nem o pessoal qualificado que permitam construir uma central ao custo de 1500€/kW como o podem fazer os EUA. Por isso, o custo estimado pelo autor de 0,05€/kWh para electricidade de origem nuclear não tem grande significado, até porque nos EUA os consumidores domésticos pagam-na ao custo médio de 0,059€/kWh e os serviços a 0,076€/kWh. Em França - país que possui mais de 70 reactores - a electricidade custa 0,11€/kWh (sem iva).

Por todas estas razões considero que estamos perante um rascunho e não um estudo, e sublinhe-se que se trata de um mau rascunho. Convido os meus pares de física a espreitar os termos utilizados no texto, basta passar os olhos pelas primeiras páginas...

domingo, novembro 19, 2006

Último Tango em Paris - ninguém saiu ileso

Em 1972 o realizador italiano Bernardo Bertolucci estreia "Último Tango em Paris", com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Léaud. Nos vários países onde foi permitida a sua estreia, a carga erótica do filme não deixou os espectadores indiferentes, suscitando polémica, protestos, manifestações de apoio, etc. Mas o mais interessante e menos conhecido é que a rodagem do "Último Tango em Paris" foi muito mais nefasta para Bertolucci, Brando, Schneider e Léaud do que a sua estreia. Apesar de Bertolucci ter sido objecto de uma condenação jurídica em Itália, o conflito com Brando e Schneider resultante da rodagem do filme seria mais marcante para o realizador. Na célebre cena em que Paul (Marlon Brando) se entrega a Jeanne (Maria Schneider) suplicando-lhe para que o penetre, Brando improvisa integralmente a cena a pedido de Bertolucci, após uma conversa entre os dois em que Bertolucci decifra um sonho de Brando cujo significado o deixa extremamente perturbado. A partir daí Brando nunca mais foi o mesmo até ao fim das filmagens. Maria Schneider teve a sua dose na célebre cena do pacote de manteiga. Bertolucci não preveniu Schneider sobre a conclusão da cena. Desde o instante em que Brando imobiliza Schneider com alguma violência e se apodera do pacote de manteiga, Schneider tentou impedir o desenrolar da acção e tudo o resto que se seguiu foi contra os protestos genuínos da actriz, que acabou por se sentir de certa forma violada. Durante longos anos, quando Maria Schneider pedia um pacote de manteiga numa mercearia provocava galhofa garantida entre comerciantes e clientes. O trauma dessa célebre cena nunca mais abandonou a vida de Schneider.
Após a estreia do filme, Brando recusou-se a falar com Bertolucci durante cerca de 15 anos. Schneider cortou relações com o realizador. Ainda como curiosidade refira-se que durante a rodagem do filme, Léaud - um dos actores fetiche de Truffaut - evitou sempre cruzar-se com Marlon Brando. Léaud tinha um pavor incontrolável de Marlon Brando. Se reparem não existe nenhuma cena onde os dois contracenam.

sexta-feira, novembro 17, 2006

No Princípio Estava o Mar

No Princípio Estava o Mar” do meu conterrâneo figueirense Gonçalo Cadilhe é uma recolha de sublimes e deliciosas crónicas enviadas pelo autor à revista Surf Portugal, durante uma série de viagens à volta do mundo. As crónicas valem tanto pelo seu carácter poético como pelos apontamentos mais críticos. Gostei do entusiasmo com que o Gonçalo descreve as noites em que vai para a cama com o sal no corpo, gostei da forma como descreve as pessoas dos países por onde passa, sem rancores, sem ingenuidade, sem ilusões, gosto da sua determinação em percorrer milhares de quilómetros para curtir meia dúzia de ondas e gosto do seu desprezo pelo materialismo, uma raridade nos dias de hoje. De facto, não precisamos de muitas coisas (leia-se possessões) para desfrutarmos do que há de bom neste planeta.

Entre as passagens mais críticas do livro destaco a passagem em que o Gonçalo descreve El Salvador: “El Salvador sofreu durante os anos 80 uma das piores guerras civis do século XX. Os acordos de paz de 1992 não resolveram o problema da violência. As armas ficaram nas mãos da população enquanto a falta de horizontes económicos, o desemprego e a epidemia de crack fizeram o resto: a violência política transmutou-se em violência aleatória, delinquência e “gangsterismo”. Hoje, El Salvador é um dos países mais inseguros do continente.”

Um povo que não merece o mar que tem
As críticas do Gonçalo ao nosso país são muito certeiras, sobretudo as que se referem à nossa difícil relação com o mar, quando enumera os variadíssimos atentados à nossa orla costeira, quando lamenta uma gastronomia muito desconfiada do peixe, quando refere a nossa indiferença sobre variadíssimos produtos do mar, como a flor de sal e quando relembra a nossa azelhice e as nossas fobias do mar.
Enquanto lia estas críticas dei por mim a pensar: quantos portugueses sabem nadar? Certamente menos do que os cidadãos de países europeus que não têm mar, como a Rep. Checa, ou países cuja orla costeira é reduzida, como a Bélgica. Quando joguei basquete em equipas figueirenses, um dos insultos que ouvíamos da bancada assim que jogávamos nalguma localidade a mais de 20 km do mar, era: peixeiros! O mais triste, nem era ser insultado, era sim o facto daquelas pessoas serem de tal modo avessas ao mar, que nem percebiam que para nós ser peixeiro era motivo de orgulho.
As crónicas dirigidas ao nosso materialismo kitsch também valem bem a pena a sua leitura. A fúria dos todo-terreno em plena cidade, a fúria dos empréstimos para comprar bugiganga electrodoméstica, a fúria das roupas de marca, etc., está lá tudo.

terça-feira, novembro 14, 2006

Iraque: segregação das mulheres (comentários)

"Nos fins dos anos 80 conheci vários iraquianos exilados (fugidos de Sadam). Pelo que me contaram a sociedade iraquiana da época era bastante tolerante. As mulheres exerciam profissões idênticas aos homens (na minha universidade havia uma iraquiana a tirar engenharia civil), vestiam-se sem véu, havia tolerância religiosa para com outros credos."
Eva Lima

"É um facto que o Hamas é uma organização político-religiosa com bases na intolerância e no pior lado do Corão.
Mas as democracias ocidentais preferiram essa gente macabra do que apoiar e ajudar a solidificar a OLP de Arafat, que como se sabe era muito mais moderada em vários aspectos...
"
Manuel

"e pensar que o Iraque de Saddam até era uma das sociedades mais laicas e onde as mulheres mais direitos tinham... havia muita perseguição política e os massacres eram coisa corrente, mas neste domínio houve um claro e intenso retrocesso."
Rui Martins

segunda-feira, novembro 13, 2006

Raios Cósmicos e aquecimento global

No CERN tem vindo ser preparada uma experiência apelidada CLOUD (Cosmics Leaving OUtdoor Droplets) que visa o estudo da contribuição dos raios cósmicos para o aquecimento global. Os raios cósmicos ao atravessarem a atmosfera terrestre aceleram a produção de aerosóis e de agregados de moléculas que posteriormente poderão formar nuvens de baixa altitude cujas gotículas podem reflectir parte significativa da luz solar.

Urs Neu do Swiss Forum for Climate and Global Change alerta para as confusões que este estudo pode originar, sobretudo entre aqueles que tentam desesperadamente negar o aquecimento global:

"The cosmic ray theory has been used by people who want to deny human influence on global warming. (...) If there really is an effect then it would simply be part of the climate change cocktail (...) What we want to understand is if, and by how much, this natural phenomenon contributes to the climate mix. We need to understand how clouds are affected to reduce the uncertainties from climate predictions."

sexta-feira, novembro 10, 2006

Iraque: regresso da segregação das mulheres

No capítulo Women's Rights da entrevista da Joana Amaral Dias à iraquiana Mahmud Houzan, directora da Women´s Freedom in Iraq, Houzan faz um resumo deprimente e esclarecedor do recuo que sofreram os direitos das mulheres, desde que os EUA ocupam o país. É um depoimento que confirma muito daquilo que foi escrito por Ali Ajjam na Courrier International (edição nº795 26/1 a 1/2/2006 extraído do jornal Al-Hayat), num artigo intitulado "L'imam a remplacé Saddam" sobre a deriva islamista que flagela o país. Ali denuncia as pressões a que estão sujeitas as mulheres dentro das empresas: "on leur a conseillé avec insistance d'adopter le voile". No mesmo artigo Ali cita um académico, Amer Fayad: "la soumission aux hommes de religion a pris la relève de la soumission aux militaires de Saddam". Na cidade de Kout, a 180 km de Bagdad, foram criados tribunais religiosos que primam sobre o direito do estado, cujas principais vítimas são as mulheres. Bassorah, a segunda cidade mais importante do Iraque, é controlada por grupos armados religiosos. Podemos ler no mesmo artigo: "ces forces contrôllent totalement la ville, disposent à leur guise du budget de l'Etat, imposent leur volonté à la societé grâce à leurs milices. Tout cela anéanti la vie culturelle, et les habitants n'ont plus rien d'autre à faire que se morfondre dans une longue et triste suite de regrets".

Foi também esta "democracia" que a Administração Bush ajudou a nascer no Iraque. Todos os irredutíveis apoiantes da Administração Bush que cantaram hinos a um Iraque no bom caminho deveriam fazer uma reflexão séria sobre o que escreveram.

Também à esquerda estes testemunhos deveriam desencadear uma reflexão séria entre todos aqueles que consideram revolucionária a luta dos fascistas do Hamas, do Hezbollah e da Irmandade Muçulmana cuja atitude em relação às mulheres não é muito diferente da descrita. Expliquem-me o que há de revolucionário em humilhar e segregar as mulheres? No fundo o Hamas e afins têm uma visão sobre as mulheres e a família muito parecida com a dos judeus ultra-ortodoxos, a luta para proibir o desfile gay marcado para hoje em Jerusalém é disso um exemplo.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Mais uma missa de V.G. Moura sobre o fim do mundo

Ler o octogésimo nono artigo de Vasco Graça Moura em que faz um paralelo entre a eclosão da II Guerra Mundial e a guerra ao terrorismo.

Estamos todos convencidos, antes de começar a II Guerra Mundial a Europa era só pacifistas! Os nacionalismos exacerbados tanto de esquerda como de direita não existiam. Nos anos 30 era só lenços brancos, pombas e ramos de oliveira! As brigadas internacionais que foram combater para Espanha um dos primeiros bastiões do fascismo, onde os alemães testaram as suas armas, nunca existiram. Malraux, brigadistas, socialistas, trabalhistas, etc., nunca estiveram em Espanha, devem ter ficado em casa a estudar a passagem da vida de Cristo onde este oferece a outra face.
Todos sabemos que a ocupação do território alemão, na região do Sarr, depois da I Guerra Mundial não contou nada para a ascensão de Hitler. A culpa é da diplomacia, obviamente.

Depois, já se sabe, "os países membros da União Europeia querem construí-la a despeito de não conseguirem dotá-la de qualquer capacidade militar", denuncia V.G. Moura. Número de armas nucleares europeias: Reino Unido cerca de 350; França cerca de 200 (números de 2002). Portanto, 550 armas nucleares é zero de capacidade nuclear... Os Scud de Saddam, aquilo é que era material perigosíssimo! Armas nucleares é para frouxos europeus, aliás as armas nucleares são tão fraquinhas que o valente V.G. Moura até as usa para acender a lareira lá em casa!

V.G. Moura continua para bingo: "Falar nisso assusta os cidadãos e, sobretudo, uma juventude que cresceu embrulhada em algodão-em-rama e vota a partir dos 18 anos".
Esta é para mim.
Não me recordo se os cobertores da casa da minha avó eram de algodão-em-rama. O que me recordo é que nem o meu pai, nem a minha família, nem os amigos do meu pai eram ricos, também não tínhamos amigos médicos que lhe passassem um atestado a dizer que tinham bicos de papagaio nos pés. O meu pai decidiu não fugir para o Luxemburgo, ao contrário do que fizeram grande parte dos seus amigos. Deram-lhe uma G3 e um bilhete para Angola. Este foi o "algodão-em-rama" que esperava muitos milhares da minha geração assim que viemos ao mundo...

Rumsfeld: três anos ao serviço da Al Qaeda

Foram três anos de eficaz propaganda à Al Qaeda, em nome da causa neo-conservadora. Sem Rumsfeld o nível de donativos à Al Qaeda e de recrutamento de jovens nunca chegaria onde chegou. Ben Laden ou Mollah Omar deveriam condecorá-lo como o seu mais poderoso recrutador, quase ao nível de um Goebbels.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Perfume - A história de um assassino

"Perfume" é um excelente filme do alemão Tom Tykwer - o realizador de "Corre Lola Corre" - baseado no romance do mesmo nome de Patrick Süskind. "Perfume" conta a história de Jean-Baptiste Grenouille, um indivíduo ingénuo e de comportamento obsessivo, que nasceu com um extraordinário dom de detecção e de reconhecimento de todos os odores do mundo. Trata-se de uma narrativa invulgar e surpreendente que percorre deliciosos cenários da França do século XVIII, entre Paris e Grasse, a capital mundial do perfume na Provença. Apesar de ser um filme dirigido ao grande público, acessível tanto à avozinha, como ao adolescente crivado de acne, este é um filme de uma perversão e de uma rebeldia raras, em que alguns dos inabaláveis pilares sociais sofrem uma atrevida rasteira.
Não vou adiantar mais, vou deixar aos caríssimos leitores o prazer de descobrir este invulgar e excelente filme.

Nota negativa
Este filme só não leva as 5 Estrelas Klepsýdra porque é falado em inglês. Tom Tykwer não resistiu à ambição de uma generosa receita de bilheteira rodando o filme em inglês, mas felizmente recorreu a bons actores ingleses, como Ben Whishaw ou Alan Rickman, ou ao americano Dustin Hoffman, o que contribuiu para a riqueza dos diálogos e minimizou os estragos linguísticos provocados por um idioma relativamente limitado. Se este filme fosse falado em francês o Perfume teria sido sem dúvida outro, ou em italiano, ou em alemão.

terça-feira, novembro 07, 2006

Congresso de feministas muçulmanas

Este fim de semana decorreu em Barcelona o Congresso Internacional de Feministas Muçulmanas. Embora o congresso fosse destinado a movimentos feministas religiosos - com posições diferentes dos movimentos laicos - a tão esperada modernização das sociedades muçulmanas pode também passar por aqui. As declarações de Shaheen Sardar Ali são disso uma ilustração:

«On assimile la loi divine à un corpus de lois et de préceptes machistes énoncés dans un contexte de sociétés dominées par l'homme. C'est de tout ce poids répressif qu'il faut aujourd'hui nous débarrasser»

domingo, novembro 05, 2006

Diário de bordo de um cosmonauta

"Carnet de bord d'un Cosmonaute" é um livro fundamental para os viciados em tudo o que se relacione com a exploração espacial. Jean-Pierre Haigneré participou em duas missões espaciais a bordo da Mir, após as quais passou a chefiar a preparação dos astronautas da ESA. Este livro é uma recolha do diário de bordo de Haigneré durante a sua última missão a bordo da Mir cuja duração foi cerca de 6 meses. É um livro cheio de curiosidades sobre a vida dos cosmonautas, abarcando assuntos que vão desde a preparação dos passeios no espaço até à descrição do menu de conservas e de comida desidratada.