sexta-feira, novembro 30, 2007

Sputnik e o programa espacial soviético

Excelente este número especial da Ciel&Espace elaborado em parceria com o CNES sobre o Sputnik e o programa espacial soviético. São divulgados detalhes históricos inéditos, em particular a batalha política de Korolev para lançar uma missão científica, o Sputnik, a meio da sua principal tarefa que era a de construir o maior míssil balístico do mundo para fins militares.
Nesta edição são publicadas excelentes fotografias de época desde o tempo de TsiolKovski. São divulgadas uma série de curiosidades e detalhes técnicos sobre os pioneiros dos primeiros foguetes, sobre as primeiras missões e sobre o impacto político de cada avanço na conquista do espaço.
A revista analisa também o que resta e o que funciona do programa espacial soviético e faz uma projecção do que poderá ser a conquista do espaço daqui a 50 anos, 100 anos depois do Sputnik.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Quero um carro pequeno!

"Quero um carro pequeno!" exclamei ao empregado de uma empresa de aluguer de automóveis de Honolulu. Deram-me um Buick LaCrosse, uma bestinha com um motor de 3600 cm3 V6 ao preço diário de um VW Polo na Europa. Eu gosto de carros e se encontrasse no Havai uma estrada abandonada o meu reflexo era ir sacar uns piões com travão de mão - o Buick é um tracção à frente - para experimentar o V6 a fundo. Mas este é um luxo e um exagero que mais de metade da população mundial nunca irá ter.

O Buick LaCrosse consome cerca de 12 l/100km em circuito urbano e cerca de 9 litros em auto-estrada.

O automóvel mais vendido nos EUA é o Ford F, uma pickup cujo motor pode variar entre um 4200 cm3 V6 e um 5400 cm3 V8! O seu consumo é de 16 l/100km em circuito urbano e 10,8 litros em auto-estrada.

Na Europa os modelos mais vendidos são o VW Golf e o Ford Focus com motorizações entre os 1400 e os 2000 cm3 com consumos a oscilar entre os 7 litros e os 11 l/100km

Tirem as vossas próprias conclusões...

quarta-feira, novembro 28, 2007

Justiça a Fernando Gomes

Finalmente compensa ir de Coimbra ao Porto apanhar o avião. No Alfa, numa hora está-se em Campanhã. Em 40 minutos está-se no aeroporto, em frente ao check-in, graças ao metro de superfície. Graças a Fernando Gomes! (pensei eu enquanto admirava uns putos de bicicleta que entravam no metro ali para os lados da Fonte do Cuco). No Porto a mala recolhe-se em apenas alguns minutos.

Em relação à Portela poupam-se 40 minutos no comboio mais um intervalo de tempo aleatório que pode ir de 10 a 45 minutos se escolhermos o autocarro (linha urbana 44) para ir até à Portela. Ou de 10 a 20 minutos se escolhermos o táxi. Poupa-se também no mau humor habitual dos taxistas quando se diz que a corrida é só do Oriente para o aeroporto ou vice-versa. Poupa-se no tempo de recolha das malas, num aeroporto desorganizado, pouco asseado e a rebentar pelas costuras.

Fernando Gomes é um autarca tipo do PS e do PSD com quem por princípio não me identifico. São autarcas incapazes de alterar substancialmente os comportamentos de modo a preparar a cidade para os futuros desafios sociais e ambientais. No entanto, dentro deste tipo de autarcas há que reconhecer que Fernando Gomes foi dos melhores. O metro de superfície do Porto é um transporte público de qualidade que catalisa visivelmente o desenvolvimento da cidade, da periferia (muito pobre) e do aeroporto. Ajuda a misturar de uma forma salutar a população das zonas pobres com um baixíssimo nível educacional com as zonas urbanas mais privilegiadas. Mas, a Fernando Gomes não se deve apenas a ideia do metro de superfície - que importou de Estrasburgo certamente quando foi eurodeputado - a grande requalificação urbana da zona histórica da cidade também foi obra sua. Resta o pecado da candidatura a despropósito que perdeu depois de ter saído do governo, deu a sensação que não conseguia passar sem um cargo político.

terça-feira, novembro 27, 2007

Consequências das declarações de Barroso II

A Ana Gomes comenta as declarações de Barroso sobre as ADM no Iraque como uma "tentativa de limpar o seu nome". Sugiro à Ana Gomes que acredite (tal como eu) nas declarações de Durão Barroso, pelo menos num primeiro tempo. É que as declarações de Barroso são gravíssimas. Portugal foi enganado ao mais alto nível por outros países, com a agravante de serem países aliados. Isto é muito mais grave do que as declarações do Procurador Geral da República sobre as escutas telefónicas. Trata-se da segurança do Estado ameaçada ao mais alto nível. Porque é que a Ana Gomes juntamente com a esquerda parlamentar não exige uma audição ao ex-primeiro ministro? Tira-se tudo a limpo. Ou ficaremos a saber definitivamente quem enganou Durão Barroso e poderemos tomar medidas à altura da gravidade do caso com os respectivos países, ou chegaremos à conclusão que o ex-primeiro ministro está a tentar limpar o seu nome, se de facto ninguém o enganou ou se se deixou enganar voluntariamente.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Sobre a Melhor Universidade

Fico satisfeito por a minha universidade ser considerada a melhor do país por um ranking de prestígio como o do The Times Higher Education Supplement, mas este resultado à luz do panorama europeu e internacional não é brilhante. Nem é tanto pela posição a nível global 319ª (266ª em 2006 até foi muito bom), é sobretudo por alguma inércia na sua dinâmica como instituição académica e científica e pela a sua pobre ligação à sociedade, quando comparada com o panorama internacional.

Hoje em dia, os investigadores das melhores universidades europeias e mundiais estão habituadíssimos a publicar os seus trabalhos em revistas internacionais da especialidade onde são avaliados pelos seus pares. Apesar de na Universidade de Coimbra esta prática salutar se ter finalmente instalado - que lhe tem valido o 1° lugar no ranking - pouco tem sido feito para cultivar a sua valorização e a criação de condições para a produção científica e tecnológica. Poderia encher este blogue até lá baixo de histórias absurdas sobre a burocracia e a tacanhês de meia dúzia de personagens de departamentos, de faculdades e de serviços administrativos que só empatam o dinamismo da instituição. São o resquício da Coimbra dos Shôtores que não investigavam, que não interagiam nem com empresas, nem com a sociedade, nem achavam que essa era a sua obrigação. Isso, felizmente, está a acabar e muito o devemos à ruptura que se deu na contestação de Abril de 1969 e a alguns pontapés bem dados no traseiro após o 25 de Abril.

Apesar de o forte da UC ser a sua presença constante no meio científico internacional em quase todos os domínios, o seu contacto com a sociedade (empresas, instituições públicas), a divulgação do seu trabalho ao grande público e a sua internacionalização quer através da participação em redes internacionais ou na atracção de alunos e docentes estrangeiros, ainda fica muito aquém da realidade das universidades por onde passei e com as quais colaboro: Pádua, Louis Pasteur (Estrasburgo), Bolonha e Louvain-la-Neuve - todas no top 200 da Times. Todas multiculturais e perfeitamente internacionalizadas.

Mas os problemas da UC são também os problemas das restantes universidades do país, onde é apenas um pouco mais grave o problema da pouca publicação dos trabalhos de investigação em revistas internacionais com arbitragem - no caso das privadas é praticamente inexistente, apesar do acesso em igualdade de oportunidades aos fundos de investigação nacionais e europeus. A ligação à indústria, à sociedade e às instituições públicas é fraca e a criação de redes sólidas com empresas e as referidas instituições ainda está por fazer. No caso de alguma ligação à indústria ainda se encontra muito xico-espertismo de parte-a-parte e a transferência de tecnologia para as empresas ainda é em muitos casos uma simples camuflagem para algumas negociatas em proveito individual. O paroquialismo reina na universidade portuguesa, a dificuldade em entrar em redes internacionais é enorme e a falta de credibilidade e de pontualidade não escapam ao olhar crítico dos nossos parceiros europeus e mundiais.

domingo, novembro 25, 2007

Futebol e Fátima

A entrevista do bispo Januário Torgal Ferreira sobre o catolicismo à portuguesa é muito boa. Sem papas na língua, o bispo denuncia os desvios da nossa igreja desde a cumplicidade com Salazar ao desprezo pelos direitos humanos.

O artigo de Rui Reininho deste sábado no JN, "Ó = Ó", é uma delícia. Parece-me dedicado a um certo e determinado admirador de Pinochet.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Consequências das declarações de Barroso

Durão Barroso, ao revelar que lhe transmitiram informações "que não corresponderam à verdade" sobre a existência de armas de destruição em massa, deveria ser objecto, pelo menos, de uma audição parlamentar para se saber com rigor como e quem enganou o nosso primeiro-ministro da altura. Relembro que estamos a falar de um assunto de estado da maior gravidade: a guerra. Na guerra morre gente, não se trata propriamente de um banal assunto de Estado como uma subida de taxas de juro ou mesmo da realização de um referendo popular. Relembro ainda que já houve audições parlamentares a jornalistas, por causa de uma vírgula.
Se foi a Administração Bush que enganou o nosso primeiro-ministro deveriam ser tiradas consequências à altura da gravidade dos factos, visto que fazemos parte de uma aliança militar com os EUA: a NATO. A aliança militar entre dois países é incompatível com este tipo de práticas, bastante comuns, isso sim, entre países rivais.
Se as informações enganosas vieram de outra fonte qualquer, o caso é ainda mais grave porque revelaria que estamos permanentemente expostos a ser ludibriados ao mais alto nível do Estado sobre assuntos da maior relevância política.

Fosse Portugal um país sério e esta questão seria tirada a limpo até às últimas consequências, o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e o Parlamento não deveriam admitir com passividade que o nosso país tenha sido enganado ao mais alto nível sem que sejam extraídas quaiquer conclusões e as consequências devidas.

O aconselhamento científico do Primeiro Ministro
O episódio Barroso revela igualmente como é perigoso um primeiro-ministro não ter conselheiros científicos à altura das suas funções. Na altura da cimeira havia cientistas e militares em Portugal que saberiam certamente reconhecer os camiões de hidrogénio ou pelo menos formar uma opinião crítica sobre a ideia de o Iraque transportar agentes biológicos em camiões pelo meio do deserto a altas temperaturas (ver 5. da entrada anterior). Além do mais, os comentários dos peritos americanos do Departamento de Energia e dos russos às "provas" apresentadas por Powell eram já conhecidos na altura. A quem recorreu Barroso para confirmar as provas que lhe foram apresentadas, visto que ele não tinha obviamente competência para as analisar? É uma questão que não deveria ficar sem resposta, porque é a "brecha" por onde entrou a informação enganosa.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Relembrar as mentiras sobre ADM no Iraque

Há mais de dois anos comentei aqui o livro "Disarming Iraq" da autoria de Hans Blix, o coordenador das inspecções de armas de destruição em massa (ADM) no Iraque. Dois anos depois o livro não perdeu a actualidade. Transcrevo a minha entrada de então:

Durante o processo de inspecções do Iraque lideradas por Hans Blix existiu uma constante pressão da administração Bush para montar um cenário de uma suposta ameaça apocalíptica da parte do Iraque sobre o mundo ocidental, os EUA e Israel em particular. Esse cenário em que supostamente armas de destruição em massa (ADM) estariam prontas a ser disparadas em 45 minutos nunca foi verificado por qualquer observação dos inspectores no Iraque liderados por Hans Blix, nem pelos melhores especialistas mundiais de ADM (Departamento de Energia dos EUA, DE; Institute for Science and International Security, ISIS; e Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA). Por outro lado a tentativa de montar um cenário apocalíptico por parte dos EUA e do Reino Unido não é uma simples opinião política, essa tentativa foi bem real, está documentada e registada e ironicamente acabou por obter resultados em países em que existe um défice de consciência crítica e de falta de rigor dos políticos em assuntos de carácter científico, como em Portugal.
Hans Blix no seu livro "Disarming Iraq" descreve com detalhe e de uma forma muito fundamentada as ilusões que a propaganda americana e britânica impingiram ao mundo com algum sucesso. Depois do anúncio da comissão americana de inspecções de armamento no Iraque de que não existiam ADM, todos os argumentos apresentados pela administração Bush parecem hoje particularmente ridículos e falsos. No entanto convém recordar os argumentos que sustentaram a existência de ADM no Iraque, para que não caiam no esquecimento:

1- Uma ogiva para explosivos de fragmentação para mísseis de curto alcance encontrada numa sucata de uma fábrica encerrada e decadente. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Não foi encontrado qualquer vestígio de agentes químicos ou biológico na ferrugem dos restos da ogiva.

2- Um drone com um raio de acção de controlo a partir do solo de 8 km, cuja capacidade de carga útil era inferior a 20 kg. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Com uma carga útil de 20 kg e um raio de controlo de 8 km deveria ser para matar pássaros na periferia de Bagdad...

3- Tubos de alumínio para enriquecimento de urânio por centrifugação - Foram comprados ilegalmente, mas serviam para a construção de foguetes. O DE e AIEA declararam vezes sem conta que aqueles tubos não serviam para as centrifugadoras. Um dos inspectores americanos depois intervenção no Iraque sugeriu que fossem utilizados em canalizações...

4- "Yellow stone" ou urânio natural supostamente importados pelo Iraque ao Niger é um material cuja utilização em armas nucleares requer um tratamento industrial complexo que a caduca indústria Iraquiana nunca poderia executar. O mais engraçado, é que a suposta importação de "yellow stone" por parte do Iraque é baseada num recibo apresentado pela administração americana e que se provou ser uma falsificação. A administração Bush declarou mais tarde que "alguém" falsificou esse recibo, eles só o tinham apresentado. Nunca se soube quem era esse "alguém". É outra forma de dizer "não sei quem FUI"...

5- Os famosos camiões de armas biológicas apresentados por Powell na ONU, como se veio a confirmar no fim da guerra, eram camiões de transporte de hidrogénio utilizados em balões meteorológicos de alta altitude. Já assisti a um lançamento de um balão a hidrogénio desse tipo e posso garantir que é algo de muito corrente o facto do enchimento ser feito por camiões. Mas o pior de toda esta história é que a ISIS, os especialistas em armas biológicas dos EUA, da Rússia e do Iraque disseram que aquela acusação só revelava uma ignorância tremenda dos serviços secretos britânicos. É que todos os especialistas em armas biológicas, inclusive os Iraquianos, consideravam a opção de utilização de camiões como uma opção perigosíssima, pois basta um pequeno acidente de trânsito para provocar uma catástrofe. O calor que se faz sentir no Iraque torna impraticável a utilização de laboratórios móveis que pudessem funcionar a uma temperatura aceitável sem adulterar os agentes biológicos.

Quase todas estas informações eram conhecidas antes da intervenção, mesmo assim avançou-se para o Iraque sob o pretexto das ADM. O cúmulo do propagandismo americano foi quando Condoleza Rice algumas semanas antes da intervenção no Iraque declarou: "as pessoas só vão dar razão aos EUA quando virem um cogumelo nuclear [produzido pelo Iraque]". Isto depois da AIEA, do DE dos EUA e da ISIS terem dado como finalizadas as inspecções de armas nucleares e como encerrado o programa nuclear Iraquiano...

terça-feira, novembro 20, 2007

Concordo

"...é fácil as pessoas saírem do marxismo mas é mesmo muito difícil a retórica marxista sair das pessoas. Ela continua a reciclar os seus velhos vícios — as amálgamas, a rigidez, o maniqueísmo, a culpa por associação e até a pura fabricação — para o debate público."
"Os Autoritários", Rui Tavares

segunda-feira, novembro 19, 2007

O Modelo Sicko Americano

Na downtown de Honolulu, por volta das nove e meia da noite, os pobres começavam a ocupar os bancos, os cantinhos, os pedaços de relva para dormir. Eram muitos, muitos mesmo, como já perdemos a memória na Europa. A maior parte eram pessoas de idade, e brancas, que deveriam estar na reforma, mas que aqui chegaram ao fim dos seus dias sem sequer um tecto para dormir.

À minha frente uma senhora vai empurrando um carrinho das compras cheio de tralha, aquela tralha é tudo o que lhe resta após uma vida de trabalho.

Ao meu lado um senhor idoso, obeso, bebe fanta. Nos EUA, a fanta é mais barata do que uma garrafa água, mas tem o ligeiro problema de fazer engordar. Ele fez a opção possível, tecnicamente a única possível.

Junto às praias paradisíacas de Waimea, Mokuleia, Kahana e Kailua, amontoam-se caravanas e tendas que são a residência de famílias inteiras que aproveitam os balneários das praias como casa de banho.

Na costa Oeste de Oahu, ao longo da faixa costeira, longe dos roteiros turísticos, existe um gigantesco "bairro da tenda", uma espécie de bairro da lata composto por tendas de campismo.

Na Europa também temos muitos pobres. Em média, os nossos pobres vivem talvez com menos 100$ por mês do que os pobres americanos, mas não vivem assim, não estão excluídos do sistema desta maneira, não sofrem do mal de falta de tecto de uma forma tão generalizada. E o que vi em Honolulu é tão mau como o que vi em Los Angeles, embora consideravelmente pior do que Washington ou Nova Iorque. Mas a pobreza aliada à exclusão é uma constante das downtowns americanas que visitei, a um nível que começa a ser raro ver-se deste lado do atlântico, mesmo nos sítios piores, como na baixa do Porto, por exemplo.

domingo, novembro 18, 2007

Jesus Camp



"Jesus Camp" de Heidi Ewing and Rachel Grady é um documentário que questiona as práticas religiosas de uma seita protestante norte americana representativa da corrente espiritual com mais influência junto da actual Administração Bush. Toda a cartilha moralista da Casa Branca é expressa em "Jesus Camp" na sua forma mais radical, pelos mais puros entre os puros.

Na cena inicial, uma criancinha aprende por um livro escolar que o darwinismo não existe, foi tudo criado por Deus (obviamente), e que o aquecimento global se trata de uma conspiração inventada pelos cientistas (onde é que nós já ouvimos isto?). Aliás, são as crianças os actores principais deste filme, que nos mostra o dia-a-dia de um campo de férias organizado pela referida seita evangelista. A directora do campo de férias informa-nos que no Médio Oriente, "eles" ensinam as crianças desde tenra idade a manipular armas para combater o cristianismo e que "nós" deveríamos fazer melhor do que "eles". De Jesus, o verdadeiro, o da Bayer, o campo de férias não tem quase nada, o campo na verdade é um vulgar negócio onde as crianças são simultaneamente o trabalhador e o produto. Esse é verdadeiro segredo das escolas de lavagem ao cérebro que se vão tentando implantar um pouco por todo lado nos EUA. A não obrigatoriedade de sujeitar os alunos a exames nacionais com a mesma matéria e com um nível de dificuldade que exprima o rigor próprio do ano escolar que frequentam, abre portas a que surjam escolas de fanatismo religioso, onde os alunos pouco ou nada aprendem sobre ciência, cultura e literatura. A lavagem ao cérebro a que estão sujeitos serve unicamente para perpetuar um negócio perigoso que explora as fraquezas sentimentais dos cidadãos, em particular os das próprias crianças.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Os salários dos investigadores europeus

Este relatório elaborado pela comissão europeia, em que se comparam os salários dos investigadores europeus aos do resto do mundo é muito elucidativo. Os conselhos europeus em que se estacionou a Estratégia de Lisboa para se desbundar na esquizofrenia da luta contra o terrorismo ajudaram a produzir este tipo de resultados. Aqui fica aqui o resumo:

"A study on researchers' salaries carried out for the European Commission shows that the average salary for EU researchers is almost €23000 less than the average in the US, and also below average salaries in Australia, India and Japan. The study also notes the huge variations within the European Research Area (from €9800 in Bulgaria to €46500 in Switzerland) and significant differences between male and female researchers, as much as 35% in some countries. The value given to experience and the different levels of starting salaries also show up great differences across the EU: a UK researcher can expect a significant increase in salary as his or her career progresses - maybe as much as 335% - while a Danish researcher will maybe see a 90% increase."
"Remuneration of Researchers in the Public and Private sectors", Divisão de Investigação da Comissão Europeia

quarta-feira, novembro 14, 2007

Do seminário vazio ao vazio do seminário

A não perder o texto "A igreja portuguesa e as ovelhas que fogem do redil" de João Miguel Tavares.
Pois é, o nosso clero foi a correr para o Vaticano para se queixar que a fé está em crise, que os seminários estão vazios, mas vieram de lá com o raspanete do vazio da prática religiosa à moda lusitana. Conclui muito bem o João: "por isso Fátima enche, enquanto as igrejas se esvaziam".

Não percebem o quê? (comentários)

"Embora o mecanismo referendário de tratados (que não são só internacionais, porque têm implicações políticas sérias para Portugal) seja discutível, parece-me que invocar a ignorância do povo está ao nível dos argumentos liberais-conservadores do século XIX para travar outras exigências democráticas.
Vendo bem as coisas, embora pense que franceses e holandeses decidiram mal, só aos mais distraídos ou cínicos é que estes resultados oferecem surpresa: é que parece que para aqueles lados a narrativa neoliberal de políticos nacionais e europeus não cai tão impunemente como por estes lados. Reflicta a dita esquerda moderna no assunto e reconheça, pelo menos, que não se pode invocar uma Europa cidadã ao mesmo tempo que se trata os cidadãos como uns simples de espírito, tudo decidindo nas suas costas, numa lógica de merceeiro ou de feirante de poderes.
Tal como o Rui, sinto-me mais aliviado do que satisfeito com este tratado. Espero, sinceramente, que seja ratificado, e que termine com mais de 10 anos de reformas falhadas ou capciosas. Embora o Tratado Constitucional fosse incomparavelmente melhor, se o concerto intergovernamental não consegue mais do que uma emenda substancial, há que reconhecer que este tratado é preferível a Nice."
Sérgio

"O problema de ambos os lados da barricada (Euro-entusiastas e Euro-cépticos) e que nenhum deles esta, de facto, interessado em saber aquilo que as populações europeias querem da UE. Por isso instrumentalizam as ferramentas democráticas ao seu dispor e ignoram que essas ferramentas não são adequadas para esta construção politica que e a UE. Repare que o SIM quer aprovações parlamentares porque só assim garante o SIM. Já os do NAO querem o referendo porque só assim garantem o NAO.
Vital Moreira usa argumentos imbecis como "eles não percebem logo não devemos cansar as suas cabecinhas" o Miguel Portas usa argumentos imbecis como "matematicamente prova-se que os referendos nacionais são perversos mas politicamente são bons".
Obviamente o que necessitamos aqui e de uma terceira via, um outro método qualquer que deveria ser desenhado com base em ciência sólida para consultar as populações sem distorções. Mas este tipo de proposta, curiosamente, é sempre contraposto com um ensurdecedor silencio
"
Lowlander

Pequeno comentário ao Lowlander:
O Miguel percebeu o problema da quase impossibilidade de o SIM ganhar em 27 referendos nacionais, mas como a promessa de referendo já foi feita em vários países, ele considera que do ponto de vista democrático essa promessa deve ser cumprida.

terça-feira, novembro 13, 2007

Build Diplomacy, Not Bombs

Muito bom o artigo dos editores da Sientific American deste mês: "Build Diplomacy, Not Bombs".
É apresentado ainda um dossier muito crítico sobre a necessidade efectiva da renovação do armamento nuclear anunciado pela Administração Bush.

Numa altura em que um dos delírios belicistas do governo americano é a instalação de um sistema defensivo anti-míssil na Europa, aconselho vivamente a leitura deste número aos nossos euro-representantes.

Não percebem o quê?

Eu que ando por escolas secundárias a explicar astrofísica e física nuclear a crianças e jovens dos 12 aos 18 anos fiquei completamente banzado com a argumentação de que o cidadão comum não percebe o Tratado de Lisboa... Isto vindo do Ministro Luís Amado não me espanta muito, o seu europeísmo insípido, inodoro e incolor aceita com a mesma pacatez tanto um novo tratado qualquer como o fim da UE já amanhã. No entanto, chocou-me este tipo de argumentação vindo da parte de Vital Moreira, a quem reconheço empenho e interesse em que o projecto europeu dê os passos importantes de que muito necessita.

Como já aqui o referi, sou um apoiante tanto do ex-Tratado Constitucional, como da actual versão simplificada. Mas justificar a não realização do referendo com a complexidade do tratado é pior argumentação que um genuíno europeísta pode invocar. Primeiro, porque é obrigação dos políticos explicar aos cidadãos o conteúdo dos textos jurídicos que vota. Para o fazer não é necessário explicar ao detalhe parágrafos e termos técnicos jurídicos, o que é importante é que o cidadão perceba o sentido geral do texto e tenha uma ideia sobre os seus efeitos práticos. Qual é a dificuldade de explicar o fim do voto por unanimidade nalgumas matérias, a aplicação da carta dos direitos fundamentais ou a existência de um "Ministro dos negócios estrangeiros", por exemplo? Do mesmo modo, numa escola secundária não preciso de explicar às crianças mecânica quântica ou o efeito fotoeléctrico para que estas fiquem com uma ideia do ciclo de vida de uma estrela. Se um político não é capaz de descodificar a lei para entendimento dos cidadãos, o melhor é deixar a política. Em segundo lugar, a argumentação do "não percebem" é ofensiva para todos os que percebem os tratados (que não são poucos e alguns até os percebem melhor que os políticos) e sobretudo geradora da habitual vitimização anti-europeísta. Foi tiro-e-queda a reacção de vitimização Pacheco Pereira, por exemplo. Em terceiro lugar, argumentar com o "não percebem" para não realizar referendos anteriormente prometidos afasta os cidadãos da política europeia e aumenta a sensação de que a política é feita nas cúpulas à margem da cidadania. Além do mais, estamos perante o contrário da ilação que tinha sido tirada do NÃO holandês e francês, de que era necessário explicar o projecto europeu e aproximar mais a Europa aos cidadãos. Para o europeísmo o "não percebem" pode ter efeitos muito mais negativos a longo prazo do que o NÃO holandês e francês.

domingo, novembro 11, 2007

A anexação do Havai

A história da anexação do Havai pelos EUA é de um cinismo tal que nos questionamos se algum antepassado de Kissinger não andaria já pelo Pacífico naquela época. Um golpe de estado pseudo-republicano derrubou a monarquia havaiana em 1894, mas por detrás das boas intenções republicanas, a produtora de frutas Dole já tinha o golpe preparado e 4 anos mais tarde o governo do Havai aceita a integração do arquipélago nos EUA. Convido-os a ler nesta página a história oficial da anexação contada pelo governo americano e aqui a história da anexação segundo os independentistas havaianos.

O Havai tornou-se o 50° estado americano em 1959 após um referendo em que o grupo étnico maioritário da ilha, os japoneses, teve um papel decisivo no resultado. O sentimento de culpa da população nipónica do Havai pelas atrocidades cometidas no Pacífico pelo Império Japonês durante a II Guerra Mundial, em particular pelo bombardeamento de Pearl Harbor, pesou decisivamente na sua tendência de voto.

No Havai são notórios sentimentos de anti-americanismo da parte da população indígena, sobretudo o sentimento de o Havai representar uma certa forma de colonialismo moderno. Paralelamente, ostenta-se o orgulho pela cultura polinésia, da qual descendem os primeiros habitantes do arquipélago.

sábado, novembro 10, 2007

As formigas não têm alma

"As formigas não têm alma, afirmou Descartes; aos autómatos não se exigem quaisquer obrigações morais."

"Sombras de Antepassados Esquecidos", Carl Sagan e Ann Druyan, pag. 161, linha 5, Gradiva (1997).

Ora aqui está a resposta à corrente a que me ligou o Filipe Moura (eu também gosto de correntes). A frase é boa, não é Filipe? ;) É o meu presente livro de cabeceira. Como sou um tipo chato vou passar a corrente a mais uns amigos, se eles estiverem com paciência para estas coisas. As regras do jogo são: pegar no livro que está mais próximo, abrir na página 161 e transcrever a quinta frase completa dessa página.

À atenção da Isabel do Aba de Heisenberg, da Carla do Welcome to Elsinore, da Eva do Filhos & Cadilhos, do Luís da Natureza do Mal e do David da Linha dos Nodos.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Portugal no Havai II

O Cavaquinho (Ukulele) tocado por um natural de Samoa a trabalhar no centro cultural polinésio de Oahu, no Havai.

No final do século XIX foram cerca de 18 mil os portugueses que emigraram dos Açores e da Madeira para ir trabalhar nas plantações havaianas. Actualmente, os luso-descendentes estimam-se em cerca de 50 mil.

Pokiki foi o nome que os havaianos deram ao primeiro grupo numeroso de portugueses chegados em 1853.

Encontra-se a rua de Lisboa, a rua lusitana, vendem-se iguarias da nossa culinária remotamente parecidas com as originais: linguiça, pão doce e malassadas (filhós).

Entre a lista dos mortos do USS Arizona durante o ataque a Pearl Harbor detecto um De Castro, um Santos e um Valente.

Vida

As últimas imagens que retenho do Havai são as da vida fervilhante que encerra esse imenso reservatório que é o Oceano Pacífico: peixes azuis-claros e azuis-escuros, peixes brancos em forma de flauta, caranguejos pretos às pintas vermelhas, focas, polvos, etc., tudo ali à beira da costa. Percebe-se que a ilha de Oahu já levou em tempos uma grande limpeza de tudo o que pudesse morder ou picar. Felizmente a imensidão do Pacífico é, por enquanto, razoavelmente imune às grandes limpezas do mais perigoso dos predadores: o homem.

terça-feira, novembro 06, 2007

sexta-feira, novembro 02, 2007

Há sempre uma perseguição que vale a pena

Concordância total com o Francisco José Viegas.
A semana passada eram os pretos, esta semana são os judeus, quiça na próxima semana seja a vez do "lobby gay". Para quem ainda empunha a cruz em riste há sempre uma perseguição que vale a pena.

Portugal no Havai

A descoberta do Havai é atribuída a um navegador português ao serviço da coroa espanhola a quem é dado o nome de Juan Gaetano (não sei até que ponto há rigor histórico na atribuição desta descoberta).

Introduzido por uma forte vaga de emigração portuguesa, o cavaquinho é hoje um dos instrumentos tradicionais do Havai, é curioso vê-lo entre palmeiras e flores exóticas.