Sempre que faço a aproximação à Portela pelo corredor aéreo que passa sobre a Ponte 25 de Abril, sobre o centro de Lisboa, a rasar prédios, estádios de futebol e a Segunda Circular cheia de carros, lembro-me do Rally de Portugal de 1986. Vem-me à memória aquela imagem de centenas de portugueses que se comportavam como autênticos forcados à passagem de carros com mais de 400 cavalos (passem os olhos pelo filme abaixo).
Ao sobrevoar o centro de Lisboa, leio nas expressões faciais dos meus companheiros de viagem oriundos de outras paragens, tal como a Isabel do Aba de Heisenberg, qualquer coisa como "a que país do terceiro mundo vim eu parar?". Eu respondo-lhes com o pensamento: "bem-vindos ao país dos forcados e da inconsciência ao volante".
Sabemos que a probabilidade de um acidente aéreo é muito baixa, mas a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas - as vítimas do avião mais as vítimas atingidas no solo - é muito maior na Portela do que na generalidade dos aeroportos do mundo. Aliás, o aeroporto de Lisboa já tem um acidente grave na conta, o de Sá Carneiro (foto RTP), que só não fez vítimas no solo porque se tratava de um pequeno avião particular. Fosse o caso de se ter despenhado no mesmo local um normal avião de linha e a tragédia seria bem mais grave entre os habitantes de Camarate.
Por esta razão, o estudo "Portela + 1" encomendado pela Associação Comercial do Porto vai ter que ser muito claro sobre quais os riscos desta opção, vai ter que comparar a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas no solo na zona da Portela com a probabilidade de um acidente semelhante ocorrer nos outros aeroportos europeus. Para além disso, o estudo deve indicar quem é que será o responsável político e financeiro se acontecer um acidente da gravidade descrita, ou outros tipos de acidente bem mais frequentes, como uma peça ou uma roda que se solta de um avião em zonas de grande densidade populacional. É que não pode voltar a acontecer um caso de irresponsabilidade pública em que se demite um ministro para "a culpa não morrer solteira". Obviamente, que a segurança é quase irrelevante para os que defendem o estado mínimo, desde que o "contribuinte" (pelos visto só contribuímos, não usufruímos...) possa economizar uns cobres. Já o sabemos dos célebres exemplos mórbidos da indústria automóvel de Detroit, onde valia a pena poupar nos custos de substituir peças defeituosas dos automóveis em detrimento da segurança dos condutores.
Desconfio que se acontecer um susto ali para os lados da Portela, no dia seguinte a ideia da "Portela + 1" é completamente riscada do mapa e os que a defendem ficarão caladinhos que nem ratos. Até lá a irresponsabilidade fala com voz grossa.
PS- O comentador inglês no filme do Rally de 1986: "é o temperamento dos portugueses, eles são um povo latino, claro está", "isto faz lembrar uma tourada mecanizada". Aos 2:30 min o célebre acidente do Joaquim Santos.
Ao sobrevoar o centro de Lisboa, leio nas expressões faciais dos meus companheiros de viagem oriundos de outras paragens, tal como a Isabel do Aba de Heisenberg, qualquer coisa como "a que país do terceiro mundo vim eu parar?". Eu respondo-lhes com o pensamento: "bem-vindos ao país dos forcados e da inconsciência ao volante".
Sabemos que a probabilidade de um acidente aéreo é muito baixa, mas a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas - as vítimas do avião mais as vítimas atingidas no solo - é muito maior na Portela do que na generalidade dos aeroportos do mundo. Aliás, o aeroporto de Lisboa já tem um acidente grave na conta, o de Sá Carneiro (foto RTP), que só não fez vítimas no solo porque se tratava de um pequeno avião particular. Fosse o caso de se ter despenhado no mesmo local um normal avião de linha e a tragédia seria bem mais grave entre os habitantes de Camarate.
Por esta razão, o estudo "Portela + 1" encomendado pela Associação Comercial do Porto vai ter que ser muito claro sobre quais os riscos desta opção, vai ter que comparar a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas no solo na zona da Portela com a probabilidade de um acidente semelhante ocorrer nos outros aeroportos europeus. Para além disso, o estudo deve indicar quem é que será o responsável político e financeiro se acontecer um acidente da gravidade descrita, ou outros tipos de acidente bem mais frequentes, como uma peça ou uma roda que se solta de um avião em zonas de grande densidade populacional. É que não pode voltar a acontecer um caso de irresponsabilidade pública em que se demite um ministro para "a culpa não morrer solteira". Obviamente, que a segurança é quase irrelevante para os que defendem o estado mínimo, desde que o "contribuinte" (pelos visto só contribuímos, não usufruímos...) possa economizar uns cobres. Já o sabemos dos célebres exemplos mórbidos da indústria automóvel de Detroit, onde valia a pena poupar nos custos de substituir peças defeituosas dos automóveis em detrimento da segurança dos condutores.
Desconfio que se acontecer um susto ali para os lados da Portela, no dia seguinte a ideia da "Portela + 1" é completamente riscada do mapa e os que a defendem ficarão caladinhos que nem ratos. Até lá a irresponsabilidade fala com voz grossa.
PS- O comentador inglês no filme do Rally de 1986: "é o temperamento dos portugueses, eles são um povo latino, claro está", "isto faz lembrar uma tourada mecanizada". Aos 2:30 min o célebre acidente do Joaquim Santos.