sexta-feira, junho 29, 2007

A Portela e o forcado que há em nós

Sempre que faço a aproximação à Portela pelo corredor aéreo que passa sobre a Ponte 25 de Abril, sobre o centro de Lisboa, a rasar prédios, estádios de futebol e a Segunda Circular cheia de carros, lembro-me do Rally de Portugal de 1986. Vem-me à memória aquela imagem de centenas de portugueses que se comportavam como autênticos forcados à passagem de carros com mais de 400 cavalos (passem os olhos pelo filme abaixo).



Ao sobrevoar o centro de Lisboa, leio nas expressões faciais dos meus companheiros de viagem oriundos de outras paragens, tal como a Isabel do Aba de Heisenberg, qualquer coisa como "a que país do terceiro mundo vim eu parar?". Eu respondo-lhes com o pensamento: "bem-vindos ao país dos forcados e da inconsciência ao volante".

Sabemos que a probabilidade de um acidente aéreo é muito baixa, mas a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas - as vítimas do avião mais as vítimas atingidas no solo - é muito maior na Portela do que na generalidade dos aeroportos do mundo. Aliás, o aeroporto de Lisboa já tem um acidente grave na conta, o de Sá Carneiro (foto RTP), que só não fez vítimas no solo porque se tratava de um pequeno avião particular. Fosse o caso de se ter despenhado no mesmo local um normal avião de linha e a tragédia seria bem mais grave entre os habitantes de Camarate.
Por esta razão, o estudo "Portela + 1" encomendado pela Associação Comercial do Porto vai ter que ser muito claro sobre quais os riscos desta opção, vai ter que comparar a probabilidade de ocorrer um acidente com muitas vítimas no solo na zona da Portela com a probabilidade de um acidente semelhante ocorrer nos outros aeroportos europeus. Para além disso, o estudo deve indicar quem é que será o responsável político e financeiro se acontecer um acidente da gravidade descrita, ou outros tipos de acidente bem mais frequentes, como uma peça ou uma roda que se solta de um avião em zonas de grande densidade populacional. É que não pode voltar a acontecer um caso de irresponsabilidade pública em que se demite um ministro para "a culpa não morrer solteira". Obviamente, que a segurança é quase irrelevante para os que defendem o estado mínimo, desde que o "contribuinte" (pelos visto só contribuímos, não usufruímos...) possa economizar uns cobres. Já o sabemos dos célebres exemplos mórbidos da indústria automóvel de Detroit, onde valia a pena poupar nos custos de substituir peças defeituosas dos automóveis em detrimento da segurança dos condutores.

Desconfio que se acontecer um susto ali para os lados da Portela, no dia seguinte a ideia da "Portela + 1" é completamente riscada do mapa e os que a defendem ficarão caladinhos que nem ratos. Até lá a irresponsabilidade fala com voz grossa.


PS- O comentador inglês no filme do Rally de 1986: "é o temperamento dos portugueses, eles são um povo latino, claro está", "isto faz lembrar uma tourada mecanizada". Aos 2:30 min o célebre acidente do Joaquim Santos.

quarta-feira, junho 27, 2007

Lusíadas em checo - Lusovci

A Eva Lima apresenta-nos no seu blogue uma edição checa dos Lusíadas, comprada em Praga. A qualidade da tradução, de 1958, vê-se logo na primeira estrofe, onde a rima em checo respeita a ordem da rima da estrofe original salvaguardando o sentido do texto. Tal qual as nossas traduções de 1958... Estou-me a lembrar particularmente de umas edições antigas da Odisseia (Europa América) e de Fausto (Relógio de água) cujas traduções são de fugir.

terça-feira, junho 26, 2007

A fúria dos estudos

"A questão dos estudos é uma falsa questão porque, como bem dizes, o objectivo é fazer deles arma de arremesso político. O verdadeiro problema é que a qualidade dos estudos nunca é aferida. Mais do que multiplicar os estudos, o importante seria garantir a qualidade e a isenção deles. A primeira tarefa seria encontrar um grupo de peritos, não participantes dos referidos estudos, capazes de agirem como avaliadores. Isto é, aliás, prática comum em certos projectos na Europa."
David Luz, Linha dos Nodos (na caixa de comentários de TGV e aeroporto).

PS- Tal como referi em entrada anterior defendo que todas as obras públicas de grande dimensão deveriam ser SEMPRE objecto de estudos rigorosos.

De Rerum Natura

De Rerum Natura é um blogue que vale a pena ler na integralidade. É escrito por pessoas da ciência, mas que gostam muito de divulgar essa ciência. É com gosto que volto a ler o Prof. Carlos Fiolhais, meu professor de Física Nuclear em Coimbra, e a Sofia Araújo, colega de andanças académicas.

O Prof. Carlos Fiolhais é um daqueles professores que ficam na galeria dos nossos professores inesquecíveis. Lembro-me das suas aulas em que de uma forma humorada fazíamos contas de decaimentos radioactivos com muitas casas decimais, tudo de cabeça, sem usar a caneta e a máquina de calcular. Raramente nos enganávamos na ordem de grandeza do resultado, mas todos tínhamos muitas dúvidas (não éramos tão bons como o primeiro-ministro da altura e actual Presidente da República). Foi um bom treino que ficou para muitos de nós que seguimos uma carreira na área da física nuclear. As aulas do Prof. Fiolhais eram a antítese do método de ensino seminarista que é o dominante em Portugal, do ensino na base da força bruta, da repetição ad infinitum do mesmo raciocínio, do respeitinho é muito lindo e do "dantes é que era bom". A destreza e descontracção que empregava no ensino das matérias combinada com o humor era uma fórmula infalível para conquistar o respeito absoluto da parte dos alunos. O que o ensino seminarista conquista com trombas, reguadas e ameaças, Fiolhais conquistava com conhecimento, confiança e boa disposição.

domingo, junho 24, 2007

Fabius chuta contra o Tratado eee... auto-golo!

A táctica de Laurent Fabius no seio do PSF ancorada às suas ambições presidenciais foi a estratégia política que mais contribuiu - mais do que qualquer estratégia racional - para o Não de esquerda no referendo francês ao Tratado Constitucional. No primeiro jornal televisivo em que participou após a vitória do Não, a primeira pergunta feita pelo jornalista a Fabius foi qualquer coisa como "Qual o significado desta vitória?", a que este respondeu: "François Hollande deve deixar a presidência do PS"... Se alguém tinha dúvidas, neste momento ficou claro que Fabius se estava a borrifar para a Europa! Simultaneamente, os maiores neo-liberais da Europa - que sempre foram fervorosamente contra o Tratado - agradeciam o auto-golo de um Fabius que tinha apelado ao Não em nome do combate ao neo-liberalismo! Bem visto, da parte de Fabius...

O resultado deste "tiro no pé" da esquerda francesa é que o Tratado recém alinhavado em Bruxelas que substituirá o Tratado de Nice, será um tratado mais à direita do que o Tratado Constitucional, será mais conformista, mais conservador e que agradará mais a todos aqueles que preferem uma Europa bem comportadinha, muito obediente aos EUA e a todos os caprichos do mercado mundial. Basta ler algum regozijo dos que entre nós defendem esse modelo. Os mais radicais anti-europeístas, como Pacheco Pereira, vão continuar a boicotar todas as versões reduzidas do Tratado que venham a ser apresentadas, interessa-lhes mais uma Europa tecnicamente impotente.

À atenção do MIC e do BE
A Esquerda Europeia perdeu e só pode perder ainda mais se continuar com um programa político de carácter pavloviano, resumindo a sua participação europeia a uma reacção permanente a estímulos políticos pontuais, sobretudo quando estes são mal avaliados como foi o caso do Tratado Constitucional. E são frequentemente mal avaliados porque infelizmente uma parte da Esquerda Europeia não tem um verdadeiro programa político europeu. É o caso da facção do PSF de Fabius e é também o caso da Esquerda Unitária Europeia. Ora, o dever da Esquerda Europeia é um dever de iniciativa. A Europa é actualmente líder nalguns dos principais desafios do planeta: combate às alterações climáticas, moderação de conflitos regionais (no Líbano foi evidente), respeito pelos direitos humanos, da sexualidade, da laicidade e da paridade. Estes são desafios muito caros à esquerda, mas se os erros da esquerda retirarem à Europa a sua capacidade de iniciativa esta caberá aos EUA e à China e todos sabemos muito bem a leviandade com que cada um destes países trata estes assuntos. A responsabilidade da Esquerda Europeia estende-se à aproximação da UE aos cidadãos. Neste particular, o actual formato de realização de 27 referendos dispersos no tempo não faz qualquer sentido do ponto de vista democrático e matemático (explicarei porquê). Deste modo, um NÃO tem um peso excessivo, que favorece claramente a generalidade das posições anti-europeístas. Um referendo a nível europeu, realizado no mesmo dia, de uma forma clara e simples para todo o cidadão europeu, não só reforçaria o sentimento que vivemos numa casa comum, com um destino comum, como evitaria o falseamento democrático dos resultados e das reais escolhas dos europeus. Somados os votos de todos os referendos ao Tratado Constitucional, qual foi a percentagem de voto NÃO? 20%? 30%? E entre os votos NÃO havia mais esquerda ou mais direita? Havia certamente muito mais direita, e havia direita da piorzinha...

sexta-feira, junho 22, 2007

TGV e aeroporto: um debate que apodrece

Quando Marques Mendes lançou o ataque à OTA e ao TGV, estava com a corda ao pescoço, as críticas internas ao seu trabalho na oposição eram implacáveis. No entanto, apesar do risco de mais críticas internas, dada a contradição que esse ataque representava em relação à anterior política Durão-Santana, Marques Mendes sabia que o ataque à OTA e ao TGV comportava dois pontos fortes:

1- A questão da territorialidade: o local do novo aeroporto e o trajecto do TGV comportam um potencial de conflito regional impressionante (que é bem evidente). Um bom demagogo sabe que lançando duas ou três larachas bem dirigidas é suficiente para pôr as regiões e as cidades em conflito entre elas.

2- A causa do estado mínimo: os defensores de um estado que não deve investir em transportes públicos, os que não se ralam minimamente que o transporte individual poluente e caro seja em muitos casos a única opção para o transporte em massa de bens e de pessoas, os que negam o papel do aquecimento global na mudança dos nossos hábitos, os que estão sempre prontos a defender o gigantesco lobby do petróleo, esses Marques Mendes sabia que os ia ter consigo. Foram os primeiros a morder o isco!

Apesar do debate ter começado bem com a exigência de estudos - algo que deveria ser feito SEMPRE - os dois aspectos enunciados tornaram-se dominantes, empobrecendo o debate sobre o novo aeroporto e o comboio de alta velocidade. Nas últimas semanas, a infantilidade que reina nalgumas cabeças dos defensores do estado mínimo e dos que exigem o aeroporto no seu quintal tem vindo a apodrecer e a ridicularizar o debate. A fúria de exigência e elaboração de estudos que se desencadeou recentemente tem muito pouco de sério. Em primeiro lugar, porque um estudo sério não se faz em cima dos joelhos e em segundo lugar porque se percebe muito bem que não é o conteúdo dos estudos que é valorizado, mas sim o seu potencial como arma de arremesso político. Por exemplo, na blogosfera alguns escribas do Blasfémias e do Insurgente são o reflexo dessa histeria à volta dos estudos, o que não deixa de ser curioso visto que são os mesmos escribas que sempre negaram os mais importantes e completos estudos elaborados nos últimos anos: os estudos sobre as alterações climáticas. Os referidos escribas não se coibiram a escrever todos os disparates possíveis e imaginários para descredibilizar esses estudos, para além disso o João Miranda (o recordista dos disparates do Blasfémias) chegou a fazer a apologia cerrada de estudos pseudocientíficos sobre o desenho inteligente, uma infantilidade intelectual carregada de charlatanice barata. Obviamente, depois pouca credibilidade merece o que os mesmos opinam sobre os estudos do aeroporto e do TGV, é uma opinião em sintonia com o quadro descrito, quase sempre no registo do disparate.

É pena
É uma pena, porque esta poderia ser uma oportunidade de pela primeira vez na nossa história projectar uma futura rede de transportes que tivesse em conta o desenvolvimento sustentável do país, debatendo prioritariamente: a maximização do transporte de bens e pessoas através de soluções amigas do ambiente, a optimização do ponto de vista da rapidez, dos custos económicos e ambientais e da descentralização no acesso das cidades do interior e do litoral à rede ferroviária e aeroportuária, a articulação da nossa rede ferroviária com a rede transeuropeia de alta velocidade, a revisão da fiscalidade afecta a cada meio de transporte em função da poluição e da capacidade de transporte e o potencial de desenvolvimento académico, científico e tecnológico que tal projecto representa.
Infelizmente, o que domina o debate é o "quero o aeroporto no meu quintal".

quinta-feira, junho 21, 2007

Deus foi um malandreco com G. W. Bush

"Georg W. Bush says that God told him to invade Iraq (a pity God didn't vouchsafe him a revelation that there were no weapons of mass destruction)."

"The God Delusion", Richard Dawkins, Bantam Press, 2006, pag. 88

quarta-feira, junho 20, 2007

Manuel Tão sobre o novo aeroporto e o TGV

Vale a pena ler todos os textos sobre transportes publicados no blog do Manuel Tão (infelizmente em hibernação), doutorado em economia de transportes pela Universidade de Leeds. O Manuel Tão produziu um raro e valioso trabalho de investigação sobre o impacto de uma rede de comboio de alta velocidade no nosso país.

Destaco a seguinte passagem de um dos seus textos:

"Mas vamos uma vez mais tentar perceber o que move o sentimento destas criaturas, um pouco ao jeito de todos aqueles que há século e meio se declaravam frontalmente contra a introdução do caminho de ferro no “país pobre” e de “dimensão reduzida” que era Portugal. Há muitas razões para existir oposição ao TGV. As mais legítimas prendem-se, seguramente, com os interesses ligados ao transporte aéreo de curta e média distância, assim como, claro está, aos de todo o mundo ligado à venda de combustíveis, viaturas automóveis e exploração de rodovias. Da mesma maneira que o comboio destronou os almocreves, também o comboio de “alta velocidade” vai acabar com muitas linhas aéreas (Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid serão substituídas pelo novo transporte, isento de emissões poluentes), e ainda abstrair praticamente metade do tráfego das auto-estradas paralelas, como a A1."

segunda-feira, junho 18, 2007

Lucros da Monsanto e o crime do Agente Laranja



São sobejamente conhecidas uma série de histórias macabras sobre a empresa Monsanto, sobre a forma implacável como processam nos tribunais os agricultores americanos que involuntariamente vêem os seus campos infestados por plantas geneticamente modificadas patenteadas pela empresa. Porém, o processo desencadeado hoje por veteranos de guerra americanos e por vítimas vietnamitas contra a Monsanto revela uma história ainda mais macabra. Ler tudo aqui.
Sabemos de antemão que no fim deste processo o lucro do crime compensa largamente a penalização da multa. No fundo, no fundo, é apenas a mão invisível no seu esplendor, é o sacrosanto mercado a velar por nós...

sexta-feira, junho 15, 2007

Mais uma boa razão para ser contra a NATO

O teor do texto "Os Mísseis Russos e a Europa" de José Pacheco Pereira (JPP) constitui, para aqueles que como eu defendem a saída de Portugal da NATO (desconfio que a maioria dos portugueses pensa da mesma maneira), mais um forte motivo para não pertencermos a essa falsa aliança, essencialmente pela exposição de dois tipos de argumentação:

1- Inversão da realidade - Transformar o agressor em agredido e o agredido em agressor. É um argumento típico dos irredutíveis da NATO e de todas as asneiras de G. W. Bush. Já aqui denunciei um texto em que Vasco Graça Moura atribui à esquerda o apoio à Al-Qaeda (não se percebe como), num total branqueamento da iniciativa de Richard Perle, o verdadeiro mentor dos planos de expansão e de reforço da Al-Qaeda. No seu texto, JPP não vê qualquer problema no sistema anti-míssil americano, o problema no seu entender é que os russos estão a reapontar os mísseis para a Europa, mais precisamente, nas palavras de JPP, a admitir que nunca deixaram de apontar. Obviamente, para JPP o sistema anti-míssil americano não está a ameaçar nem a provocar ninguém, nem a desrespeitar tratados internacionais (também incluem estes sistemas), até porque o sistema anti-míssil americano funciona com pombas. As pombas voam até junto dos mísseis russos e transformam-nos em pétalas de rosa (e não em destroços de plutónio e urânio) que caem suavemente sobre os telhados da Europa de Leste...

2- Fantasia geradora de medos - JPP atribui erradamente o perigo atómico a um cenário de uma fantasia geradora de pequenos medos. O grande perigo da proliferação nuclear não é o cenário de fantasia insinuado por JPP, no qual o perigo viria de um Putin que vai apontando e disparando sadicamente, um a um, vários mísseis contra cidades europeias, "um para os Açores, outro para o comando da OTAN de Cascais", "um lote especial para Bruxelas", etc. O grande problema da proliferação nuclear é outro e está muito bem identificado e analisado num grande livro: "De Tchernobyl en tchernobyls" (Odile Jacob, 2005) da autoria do Nobel da Física Georges Charpak e Richard Garwin, físico que trabalhou no programa nuclear americano. O problema da construção de sistemas de defesa foi alvo de vários trabalhos académicos que demonstram que para uma grande potência é mais eficiente e barato construir mais mísseis ofensivos do que construir sistemas de defesa balísticos. A resposta natural dos russos ao sistema de defesa anti-míssil americano é simples: mais mísseis e ainda ficam a ganhar. O verdadeiro problema do sistema anti-míssil é que este contribui para a proliferação nuclear, com todos os grandes perigos que lhe estão associados: a potencial disseminação de materiais utilizados nas bombas por grupos terroristas e o perigo de um lançamento acidental entre as mais de 8000 armas nucleares actualmente espalhadas pelo mundo, das quais cerca de 480 estão na Europa e 90 na Turquia (ler o artigo "Apocalypse Soon" de Robert S. McNamara).

Já agora, para onde estão apontadas as chaminés de CO2 da indústria dos EUA?


Este texto de JPP é radicalmente mais anti-russo do que as palavras do próprio Bush durante o G8: "They're [Russians] not a military threat. They're not what we should be hyperventilating about. What we ought to be doing is figuring out ways to work together". Ora, quando os acérrimos defensores da NATO em Portugal (que não são muitos) são mais papistas que o papa, justificando a aliança atlântica através da manipulação da realidade e do nosso imaginário, todos temos motivos para temer que a aliança em causa seja mais geradora de perigos do que de segurança. Será que não está na altura de um referendo à NATO? Ou será que a NATO está acima do poder democrático?

quinta-feira, junho 14, 2007

terça-feira, junho 12, 2007

Vertigem Americana

Os neoconservadores não gostam, já se sabe que não se pode criticar nem a América nem o mercado, e os marxistas dogmáticos esperneiam e praguejam, sentem-se ultrapassados pela esquerda. Oh da guarda, lá vem mais um livro do BHL!

Finalmente, traduzida para português, chegou às nossas livrarias a última e excelente obra do filósofo francês Bernard-Henri Lévy: "Vertigem Americana". Clicar aqui para ler a apresentação e a análise feita em entrada anterior. Este é um livro altamente recomendado aos fiéis leitores da Klepsýdra.

Livro Klepsýdra ***** (5 estrelas)

sábado, junho 09, 2007

Sábado em Coimbra XXXVI: conversas com o Afonso

Sempre que vou ao café Santa Cruz tento ficar no canto da esplanada mais próximo da igreja, mais próximo do Afonso, o Afonso Henriques. Do seu túmulo, que fica a apenas alguns metros da minha mesa, o Afonso saúda-me erguendo ligeiramente a espada pousada sobre o peito. De seguida iniciamos grandes cavaqueiras sobre o estado da nação e do mundo. Ele quer saber tudo. Falamos do passado e falamos destas ruazinhas em frente a nós, quem vivia ali há 800 e tal anos, os episódios passados com os seus servidores, os seus soldados, os clérigos e as mulheres que serviam todos estes homens. Fixo o início da rua direita e começo a percorrê-la de sandálias, sobre a lama amassada pelas montadas, pelos comerciantes, viajantes e locais que vinham à praça de Coimbra recém conquistada para o campo do cristianismo. Toco alguns dos artefactos à venda, bem como as castanhas, as peras e as romãs de há 800 anos, respiro fundo e sinto o cheiro original desta cidade...

Sábado em Coimbra XXXV

quinta-feira, junho 07, 2007

Estado da Ciência nas Universidades e na Sociedade

Em boa hora fui convidado (obrigado T.) a ler este sublime artigo sobre o declínio da ciência na sociedade da autoria de Harry Kroto. O artigo descreve o caso britânico, mas muito do que ali se analisa aplica-se na perfeição ao caso português, aliás entre Blair e Sócrates muita coisa há em comum, infelizmente. Harry Kroto analisa o encerramento de prestigiados cursos de ciência numa altura em que as empresas dependem mais do que nunca da ciência e da tecnologia, ao mesmo tempo que proliferam nas universidades cursos light de comunicação e publicidade. O problema é apresentado como deve ser, realçando a ausência de racionalidade de um sistema universitário unicamente economicista em que as pessoas são reduzidas a contribuintes, sendo dissociadas dos tremendos benefícios sociais produzidos pela ciência e pela tecnologia.
Kroto descreve ainda o flagelo da ignorância do método científico e as suas consequências na proliferação de todas as pseudo-ciências (desenho inteligente, o negacionismo do aquecimento global, etc.) e na implementação de políticas na agricultura, nos negócios e na justiça. Sobre este tema escreverei em breve umas linhas sobre o caso português. Há uma ou duas coisas que devem ser ditas, talvez à bruta...

terça-feira, junho 05, 2007

Sistema de defesa anti-míssil dos EUA na Europa II

Ler o texto da Ana Gomes sobre o sistema de defesa anti-míssil que os EUA estão a tentar impor à Europa.

Construa-se o aeroporto no quintal de V. Pulido Valente!

Este excelente e desgarrado texto da Isabel do Aba de Heisenberg é um verdadeiro murro na mesa contra o discurso centralista e macrocéfalo em torno do novo aeroporto. A vítima é Vasco Pulido Valente - um excelente representante do imobilismo luso - mas o barrete poderia servir a muita gente que só vê Lisboa à frente. Deliciemo-nos com alguns extratos do texto da Isabel:


"Na sua crónica, no Público de hoje, Vasco Pulido Valente (VPV) veste a pele de “O Lisboeta”. O Lisboeta chateado ante a perspectiva de o aeroporto já não lhe ficar ali ao pé da porta, de ter que se levantar cedo para apanhar o avião, que chatice, de ter que apanhar o táxi, que chatice, olhe VPV eu cá apanho os mal-cheirosos expressos da RN, que como a grande maioria dos portugueses não tenho orçamento para grandes viagens de táxi. VPV aborrece-se, mas VPV à boa maneira macrocéfala da capital, faz a figura de Mário Lino, considera que o resto do país é um deserto ou pior ainda, não existe."

"Não sei onde é que o VPV mora em Lisboa, mas certamente não é ali para os lados do Campo Grande, com os aviõezinhos a roçarem-lhe o telhado… Se calhar até é, mas já se habituou. Mas olhe que eu que até acho graça a aterrar em Lisboa, a sobrevoá-la muito baixinho, fico sempre a pensar que pela cabeça do meu vizinho do lado, que não é de cá, deve estar a passar qualquer coisa como, mas a que país do terceiro mundo vim eu parar?"

"E já agora se ainda tiver paciência e bondade para pensar nos 8 milhões de portugueses que vivem fora de Lisboa, veja por exemplo o meu caso, que vivo em Coimbra, que raramente faço viagens de avião que não sejam de trabalho e que por isso, são sempre curtas, não vou à Nova Zelândia, e que raramente saio por mais de 3 ou 4 dias. Para apanhar os primeiros aviões da manhã só me resta ir pernoitar a Lisboa, para um avião lá pelas nove horas, tenho um expresso da RN, desconfortável, perigoso e fedorento, pelo meio do dia já tenho os nossos modernos pendulares , mais táxi ou autocarro a partir do Oriente. Chegadas a partir das nove da noite dão de novo direito a autocarros da RN, que por acaso saem de Sete-Rios. E se chego, por exemplo às 22.30 tenho que esperar pelo autocarro da meia-noite e chegar a Coimbra às 3 da manha. Veja VPV, isto é Portugal."

segunda-feira, junho 04, 2007

Testemunho de Bernard-Henri Lévy sobre o Darfur

Recentemente, Bernard-Henri Lévy (BHL) entrou clandestinamente no Sudão, na região do Darfur. No programa "Ce soir ou Jamais" da France 3, BHL oferece-nos o seu testemunho sobre o genocídio em lume brando ali perpetrado pelo regime sudanês. Ver aqui a entrevista integral.