Quando Marques Mendes lançou o ataque à OTA e ao TGV, estava com a corda ao pescoço, as críticas internas ao seu trabalho na oposição eram implacáveis. No entanto, apesar do risco de mais críticas internas, dada a contradição que esse ataque representava em relação à anterior política Durão-Santana, Marques Mendes sabia que o ataque à OTA e ao TGV comportava dois pontos fortes:
1- A questão da territorialidade: o local do novo aeroporto e o trajecto do TGV comportam um potencial de conflito regional impressionante (que é bem evidente). Um bom demagogo sabe que lançando duas ou três larachas bem dirigidas é suficiente para pôr as regiões e as cidades em conflito entre elas.
2- A causa do estado mínimo: os defensores de um estado que não deve investir em transportes públicos, os que não se ralam minimamente que o transporte individual poluente e caro seja em muitos casos a única opção para o transporte em massa de bens e de pessoas, os que negam o papel do aquecimento global na mudança dos nossos hábitos, os que estão sempre prontos a defender o gigantesco lobby do petróleo, esses Marques Mendes sabia que os ia ter consigo. Foram os primeiros a morder o isco!
Apesar do debate ter começado bem com a exigência de estudos - algo que deveria ser feito SEMPRE - os dois aspectos enunciados tornaram-se dominantes, empobrecendo o debate sobre o novo aeroporto e o comboio de alta velocidade. Nas últimas semanas, a infantilidade que reina nalgumas cabeças dos defensores do estado mínimo e dos que exigem o aeroporto no seu quintal tem vindo a apodrecer e a ridicularizar o debate. A fúria de exigência e elaboração de estudos que se desencadeou recentemente tem muito pouco de sério. Em primeiro lugar, porque um estudo sério não se faz em cima dos joelhos e em segundo lugar porque se percebe muito bem que não é o conteúdo dos estudos que é valorizado, mas sim o seu potencial como arma de arremesso político. Por exemplo, na blogosfera alguns escribas do Blasfémias e do Insurgente são o reflexo dessa histeria à volta dos estudos, o que não deixa de ser curioso visto que são os mesmos escribas que sempre negaram os mais importantes e completos estudos elaborados nos últimos anos: os estudos sobre as alterações climáticas. Os referidos escribas não se coibiram a escrever todos os disparates possíveis e imaginários para descredibilizar esses estudos, para além disso o João Miranda (o recordista dos disparates do Blasfémias) chegou a fazer a apologia cerrada de estudos pseudocientíficos sobre o desenho inteligente, uma infantilidade intelectual carregada de charlatanice barata. Obviamente, depois pouca credibilidade merece o que os mesmos opinam sobre os estudos do aeroporto e do TGV, é uma opinião em sintonia com o quadro descrito, quase sempre no registo do disparate.
É pena
É uma pena, porque esta poderia ser uma oportunidade de pela primeira vez na nossa história projectar uma futura rede de transportes que tivesse em conta o desenvolvimento sustentável do país, debatendo prioritariamente: a maximização do transporte de bens e pessoas através de soluções amigas do ambiente, a optimização do ponto de vista da rapidez, dos custos económicos e ambientais e da descentralização no acesso das cidades do interior e do litoral à rede ferroviária e aeroportuária, a articulação da nossa rede ferroviária com a rede transeuropeia de alta velocidade, a revisão da fiscalidade afecta a cada meio de transporte em função da poluição e da capacidade de transporte e o potencial de desenvolvimento académico, científico e tecnológico que tal projecto representa.
Infelizmente, o que domina o debate é o "quero o aeroporto no meu quintal".
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