A táctica de Laurent Fabius no seio do PSF ancorada às suas ambições presidenciais foi a estratégia política que mais contribuiu - mais do que qualquer estratégia racional - para o Não de esquerda no referendo francês ao Tratado Constitucional. No primeiro jornal televisivo em que participou após a vitória do Não, a primeira pergunta feita pelo jornalista a Fabius foi qualquer coisa como "Qual o significado desta vitória?", a que este respondeu: "François Hollande deve deixar a presidência do PS"... Se alguém tinha dúvidas, neste momento ficou claro que Fabius se estava a borrifar para a Europa! Simultaneamente, os maiores neo-liberais da Europa - que sempre foram fervorosamente contra o Tratado - agradeciam o auto-golo de um Fabius que tinha apelado ao Não em nome do combate ao neo-liberalismo! Bem visto, da parte de Fabius...
O resultado deste "tiro no pé" da esquerda francesa é que o Tratado recém alinhavado em Bruxelas que substituirá o Tratado de Nice, será um tratado mais à direita do que o Tratado Constitucional, será mais conformista, mais conservador e que agradará mais a todos aqueles que preferem uma Europa bem comportadinha, muito obediente aos EUA e a todos os caprichos do mercado mundial. Basta ler algum regozijo dos que entre nós defendem esse modelo. Os mais radicais anti-europeístas, como Pacheco Pereira, vão continuar a boicotar todas as versões reduzidas do Tratado que venham a ser apresentadas, interessa-lhes mais uma Europa tecnicamente impotente.
À atenção do MIC e do BE
A Esquerda Europeia perdeu e só pode perder ainda mais se continuar com um programa político de carácter pavloviano, resumindo a sua participação europeia a uma reacção permanente a estímulos políticos pontuais, sobretudo quando estes são mal avaliados como foi o caso do Tratado Constitucional. E são frequentemente mal avaliados porque infelizmente uma parte da Esquerda Europeia não tem um verdadeiro programa político europeu. É o caso da facção do PSF de Fabius e é também o caso da Esquerda Unitária Europeia. Ora, o dever da Esquerda Europeia é um dever de iniciativa. A Europa é actualmente líder nalguns dos principais desafios do planeta: combate às alterações climáticas, moderação de conflitos regionais (no Líbano foi evidente), respeito pelos direitos humanos, da sexualidade, da laicidade e da paridade. Estes são desafios muito caros à esquerda, mas se os erros da esquerda retirarem à Europa a sua capacidade de iniciativa esta caberá aos EUA e à China e todos sabemos muito bem a leviandade com que cada um destes países trata estes assuntos. A responsabilidade da Esquerda Europeia estende-se à aproximação da UE aos cidadãos. Neste particular, o actual formato de realização de 27 referendos dispersos no tempo não faz qualquer sentido do ponto de vista democrático e matemático (explicarei porquê). Deste modo, um NÃO tem um peso excessivo, que favorece claramente a generalidade das posições anti-europeístas. Um referendo a nível europeu, realizado no mesmo dia, de uma forma clara e simples para todo o cidadão europeu, não só reforçaria o sentimento que vivemos numa casa comum, com um destino comum, como evitaria o falseamento democrático dos resultados e das reais escolhas dos europeus. Somados os votos de todos os referendos ao Tratado Constitucional, qual foi a percentagem de voto NÃO? 20%? 30%? E entre os votos NÃO havia mais esquerda ou mais direita? Havia certamente muito mais direita, e havia direita da piorzinha...
O resultado deste "tiro no pé" da esquerda francesa é que o Tratado recém alinhavado em Bruxelas que substituirá o Tratado de Nice, será um tratado mais à direita do que o Tratado Constitucional, será mais conformista, mais conservador e que agradará mais a todos aqueles que preferem uma Europa bem comportadinha, muito obediente aos EUA e a todos os caprichos do mercado mundial. Basta ler algum regozijo dos que entre nós defendem esse modelo. Os mais radicais anti-europeístas, como Pacheco Pereira, vão continuar a boicotar todas as versões reduzidas do Tratado que venham a ser apresentadas, interessa-lhes mais uma Europa tecnicamente impotente.
À atenção do MIC e do BE
A Esquerda Europeia perdeu e só pode perder ainda mais se continuar com um programa político de carácter pavloviano, resumindo a sua participação europeia a uma reacção permanente a estímulos políticos pontuais, sobretudo quando estes são mal avaliados como foi o caso do Tratado Constitucional. E são frequentemente mal avaliados porque infelizmente uma parte da Esquerda Europeia não tem um verdadeiro programa político europeu. É o caso da facção do PSF de Fabius e é também o caso da Esquerda Unitária Europeia. Ora, o dever da Esquerda Europeia é um dever de iniciativa. A Europa é actualmente líder nalguns dos principais desafios do planeta: combate às alterações climáticas, moderação de conflitos regionais (no Líbano foi evidente), respeito pelos direitos humanos, da sexualidade, da laicidade e da paridade. Estes são desafios muito caros à esquerda, mas se os erros da esquerda retirarem à Europa a sua capacidade de iniciativa esta caberá aos EUA e à China e todos sabemos muito bem a leviandade com que cada um destes países trata estes assuntos. A responsabilidade da Esquerda Europeia estende-se à aproximação da UE aos cidadãos. Neste particular, o actual formato de realização de 27 referendos dispersos no tempo não faz qualquer sentido do ponto de vista democrático e matemático (explicarei porquê). Deste modo, um NÃO tem um peso excessivo, que favorece claramente a generalidade das posições anti-europeístas. Um referendo a nível europeu, realizado no mesmo dia, de uma forma clara e simples para todo o cidadão europeu, não só reforçaria o sentimento que vivemos numa casa comum, com um destino comum, como evitaria o falseamento democrático dos resultados e das reais escolhas dos europeus. Somados os votos de todos os referendos ao Tratado Constitucional, qual foi a percentagem de voto NÃO? 20%? 30%? E entre os votos NÃO havia mais esquerda ou mais direita? Havia certamente muito mais direita, e havia direita da piorzinha...
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