sexta-feira, setembro 29, 2006

American Vertigo: Fukuyama contra guerra do Iraque

Em American Vertigo, Bernard-Henri Lévy (BHL) interpela Francis Fukuyama sobre a intervenção americana no Iraque - questão sobre a qual o Fukuyama se pronunciou negativamente - obtendo o seguinte comentário:

"Ces gens sont curieux, m'explique-t-il en substance. Ils ont passé leur existence à plaider contre le fait de donner des pouvoirs exorbitants à'Etat. Ils nous ont mis en garde contre la naïveté des spécialistes du social engineering prétendant éradiquer, d'un coup de baguette politique, la misère américaine. Et voilà qu'ils perdent toute mesure dès lors qu'il est question d'aller extirper cette misère, ainsi que les racines du despotisme, à six mille kilomètres de chez eux.
(...) Le problème des néoconservateurs ce n'est pas comment croient les Européens, leur immoralisme et leur cynisme. C'est l'excès, au contraire, de la morale. C'est la victoire de la mystique sur la politique.
"

"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, Grasset, 2006, pag. 323-325.


Da leitura de "American Vertigo", da opinião de diversos intelectuais da direita americana e da comparação com a realidade nacional, fica-se com a certeza que Portugal existem algumas das opiniões mais radicais e mais fanáticas na defesa da Administração Bush. Pelo prisma nacional até um direitista duro com Fukuyama passaria por perigoso anti-americano. Perante o espectro da direita abordada por BHL, as opiniões da direita portuguesa andam muito mais próximas de radicais como Huntington. A entrevista de BHL a Huntington será aqui abordada proximamente.

Selecção? Desliguei

Já não há pachorra para isto. A minha opinião é que um macaco a treinar a selecção portuguesa teria uma grande probabilidade de ter o mesmo sucesso que Scolari. A partir de agora desliguei.
Conselho para Quaresma: naturaliza-te espanhol, romeno ou qualquer coisa, eu apoio-te!

ESA para professores

Para professores de áreas científicas a ESA oferece uma série de serviços úteis para o início do ano lectivo: software, materiais, formação, viagens aois centros ESA, etc. Clicar aqui.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Porque gosto de Colombo

Moja laska, já te tinha tentado explicar (sem sucesso) porque gosto da série Colombo. Para além da gabardina encardida e do Peugeot, uma das razões é explicada por um elemento da tua tribo:

"Le succès de Colombo témoigne ainsi du fait que le véritable motif d'intérêt d'une oeuvre policière tient au processus de déchiffrement lui-même et non à sa résolution (la révélation finale triomphante: "Et l'assassin est..." est complètement absente ici puisque nous le savons dès le début)."

Slavoj Žižek
, "La subjectivité à venir", Flammarion, 2006, pag. 24


Resulta do prazer da exploração e da descoberta que nos acompanha desde dos tempos em que éramos macacos (mas macacos com charme, claro) e saltámos da floresta para a savana. Nesses tempos éramos mais ou menos da mesma tribo.

segunda-feira, setembro 25, 2006

"Bubble" ou retratos do trabalho nos EUA



Bastam 73 minutos de filme para dar um retrato exacto do mundo laboral dos EUA no seu nível médio e médio baixo. É esse o grande mérito de "Bubble" do americano Steven Soderbergh. Está lá tudo: o mundo do duplo emprego; a ausência de vida familiar; a precariedade social; a organização da vida íntima e afectiva em função do trabalho e não o contrário; a obsessão de produtividade de produtos banais, rascas e foleiros, bem mais supérfluos que champanhe ou uma pulseira de tornozelo; as roulottes como dormitório de conveniência; a fast-food e a TV como recompensas maiores após uma jornada de trabalho; a ausência de cultura e de horizontes intelectuais; o exercício intelectual reduzido ao cálculo das economias para comprar o próximo electrodoméstico ou o próximo carro em segunda mão.

"Bubble" apresenta tudo isto e muito mais, economizando em diálogos. "Bubble" é filme em que o silêncio tem a língua solta. A narrativa, simples mas complexa nos detalhes chave, funciona como elegante espinha dorsal deste filmo-erectus da Dogme 95, sem dúvida num estado evolutivo superior ao do típico Hollywoodopitecus.


Os retratos do trabalho no Abrupto



Os retratos do trabalho exibidos até hoje no Abrupto, e que com certeza JPP continuará a publicar no seu blogue, são de certa forma o lado cor-de-rosa dos retratos de Soderbergh. Chamo-lhes retratos cor-de-rosa porque apelam ao imaginário do trabalhador-modelo visto pelo prisma liberal dos neo-conservadores. Através desses retratos, desses instantes, que apesar de representarem gestos repetitivos, não deixam de ser instantes, podemos contemplar um trabalhador em poses simples mas dignas, em poses humildes mas dignas, um trabalhador sujo mas digno, um trabalhador suado mas digno, ali não há lugar para palhaçadas sindicalistas ou artistas plásticos (que não são considerados trabalhadores nesse imaginário), nada de cow parades que um verdadeiro trabalhador é um homem sério e só se diverte em dia de casamento dos filhos ou dos netos. É curiosa a semelhança com o trabalhador-modelo soviético. Todos estes retratos do Abrupto servem para projectar a imagem de uma sociedade que só vive bem quando tolera a exploração e a precariedade. É esta mesma entrada do Abrupto que o denuncia, sobre aqueles coreanos do Starbucks que pelo menos ganham dinheiro "certamente pouco, mas algum", tal como os personagens de "Bubble", certamente pouco, mas algum. ..
No meio neo-conservador o fantasma do trabalhador-modelo explorado, mas digno e obviamente feliz, serve de consolo moral para que se possa beber tranquilamente um whisky de manhã e outro pela tarde no aconchego de um gabinete onde não cheira a suor e onde não entram botas cagadas de lama. Nalguns desses gabinetes até existem umas miniaturas de vacas das cow parades que um amigo trouxe de Londres ou de Varsóvia, mas ali não se corre perigo algum, ali está-se ao abrigo da ira do desempregado de Pevidém.

sábado, setembro 23, 2006

Autorização para matar

"Hoje já fiquei siderada numa escola dos filhotes: alguns pais estão a passar autorizações para os filhos sairem nos intervalos, para poderem ir comprar ao café da esquina aquilo que deixou de haver no bar da escola [fritos, refrigerantes açucarados e doces]"

Eva Lima
(na caixa de comentários de "Aplauso para o Ministério da Educação")

quinta-feira, setembro 21, 2006

American Vertigo e a negação do darwinismo

Sobre sinais que revelam a desregulação dos mecanismos de memória:

"Comment le même pays peut-il être à la fois le lieu d'un Mémorial de la Shoah aussi exceptionnel et celui, sur le bord d'une autoroute du Sud Dakota, d'une exposition permanente de fossiles censée révoquer en doute les hypothèses du darwinisme?"

"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, Grasset, 2006, pag. 387.

Aplauso para o Ministério da Educação

Pela medida que visa a proibição de venda de refrigerantes sem fruta, fritos e doces nas máquinas e nos bares das escolas.

Num país que ficou histérico por uma baliza de andebol ter caído numa ocasião sobre uma criança, parece-me no mínimo doentio a calma e a tranquilidade com que se tem encarado o crescimento assustador do número de crianças obesas ou com excesso de peso (actualmente cerca de 1/3). Estas crianças correm sérios riscos de contrair diabetes desde muito cedo e de morrer precocemente.

Para a medida ser perfeita faltaria apenas complementá-la com mais exercício físico nas escolas e uma cultura de informação para pais e educadores sobre nutricionismo e consumo.

quarta-feira, setembro 20, 2006

O mapa de Buracos Negros do Universo



Graças ao telescópio espacial de raios gama da ESA, o telescópio INTEGRAL, foi elaborado o primeiro mapa de buracos negros do Universo. A representação da Terra no mapa, serve para ilustrar o papel do nosso planeta na ocultação de fontes de radiação mais intensas capazes de ofuscar a observação da radiação emitida pelos buracos negros.

terça-feira, setembro 19, 2006

American Vertigo - o retrato de uma América doente

Bernard-Henri Lévy foi convidado pela revista cultural e literária Atlantic Monthly para percorrer e estudar a América seguindo os mesmos passos de Alexis de Tocqueville aquando da sua viagem pela jovem democracia americana em 1831. O propósito do périplo de Tocqueville pelos EUA foi o de estudar o sistema prisional americano, tendo publicado as conclusões da sua viagem na obra "Democracy in America".

"American Vertigo" de Bernard-Henri Lévy (BHL) é muito mais do que um estudo sobre o sistema prisional americano (aconselho-o vivamente ao caríssimo Zé Amaral), é um diagnóstico de um país que não é um país qualquer, quer o amemos quer o detestemos, trata-se do país mais influente do mundo.

O diagnóstico de BHL é claro, BHL encontra um país visivelmente doente, nas palavras do autor "une nation plus incertaine de ce qu'elle est, mal assurée de ce qu'elle devient, indéterminée quant à la valeur des valeurs, c'est-à-dire des mythes, qui l'ont fondée; c'est un trouble; c'est un malaise; c'est un vacillement des repères et des certitudes, un vertige" (pag.385). BHL justifica a sua tese de uma América doente recorrendo a quatro séries de sinais:

1) A desregulação dos mecanismos de memória. Exemplos de BHL: a negação do evolucionismo, a história fictícia do baseball contada no Hall of Fame de Cooperstown, os múltiplos museus onde o imaginário disney se substitui à história, a deturpação da nacionalidade dos piratas do ar do 11 de Setembro identificados como iraquianos nas sondagens, etc;

2) A obesidade económica, financeira e política: os giga-centros comerciais, as mega-igrejas, os ultra-parques de estacionamento (cliquem a apreciem o contraste), etc. Curiosamente BHL não dá importância à obesidade física dos Americanos;

3) As fracturas no espaço político e social. Basicamente, BHL anuncia o fim do melting pot e faz uma leitura de uma tribalização, de uma balcanização e de uma desintegração da sociedade;

4) A pobreza, a exclusão e as prisões. Para caracterizar estes sinais BHL chega a citar Pierre Bourdieu, embora não concordando totalmente com o autor: "[l'Amérique] a choisi d'opposer l'Etat pénal à l'Etat social, le modèle l'Etat-pénitence à celui de l'Etat providence, le filet des contrôles policiers puis carcéraux à celui du revenu minimal et des soins médicaux garantis" (pag. 396).

Sou suspeito para avaliar BHL, mas na minha opinião este é o livro do ano (não acredito em milagres até 31 de Dezembro de 2006) por razões que vão desde a forma ao conteúdo. "American Vertigo" é também o livro mais bem escrito entre todos os que li do autor. Continuarei a comentar "American Vertigo" em próximas entradas.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Blasfémias: o nosso Loose Change

Entradas como esta fazem com que a credibilidade do blogue Blasfémias seja a mesma de uma coluna de astrologia ou do filme Loose Change. Ignorância pimba e fuga para frente justificam tudo; tudo pode ser ciência, desde o Loose Change ao niilismo do Holocausto.

Colin Powell, esse anti-americano primário...

"The world is beginning to doubt the moral basis of our fight against terrorism" - frase de Collin Powell contida numa carta enviada ao senador John McCain.

Esta frase revela não apenas até que ponto já se percebeu nos EUA o descalabro a que chegou a política externa americana, como revela ainda, a nível nacional, o radicalismo - nalguns casos fanatismo - daqueles que continuam a defender todas as barbaridades cometidas a nível internacional pela Administração Bush.
Portugal já contava com alguns dos comunistas mais ortodoxos da Europa, mas agora conta também com alguns dos apoiantes de Bush mais fanáticos e mais radicais à face da Terra.

PS- Aqui a resposta de Bush a Powell. Aquele engasgar é revelador...

domingo, setembro 17, 2006

Começou a Rentrée Literária Francesa

A Rentrée Literária Francesa já mexe, em Portugal é possível assistir aos interessantes debates e entrevistas na TV5 ou na France 2 (depende do pacote de canais do serviço de TV cabo ou satélite). Aqui ficam as sugestões desta semana: o programa "Esprits libres" de Guillaume Durand e "On n'est pas couché" de Laurent Ruquier. Em "Esprits libres" a seguir a apresentação dos livros de Maurice G. Dantec e de Jean-François Kahn, o primeiro define-se como autor de direita cyber-punk e o segundo como autor de esquerda-centrista revolucionária... O programa de Laurent Ruquier começa em grande com a apresentação do novo livro de Christine Angot, "Rendez-vous".

sábado, setembro 16, 2006

Desmentir Loose Change 2

O segundo grande argumento (ver antepenúltima entrada) da teoria da conspiração lançada pelo filme "Loose Change" retoma as teorias de Meyssan sobre a derrocada das Torres Gémeas. Entre os múltiplos delírios de Meyssan sobre o 11 de Setembro de Nova Iorque (ex: Meyssan afirma que os aviões eram telecomandados...), no seu livro "L'Effroyable Imposture" é explicada a derrocada das torres gémeas pela colocação de bombas no interior do edifício, justificando Meyssan que duas torres modernas e bem equipadas não deveriam cair após um impacto com um avião. E exemplifica invocando um acidente em que um pequeno avião chocou contra o Empire State Building, sem que o edifício tivesse corrido risco de derrocada. Isto até parece lógico, mas o problema é que Meyssan ignorava que a estrutura que suporta as Torres Gémeas é completamente diferente da estrutura do Empire State Building (existem 300 mil reportagens de TV que explicam detalhadamente estas diferenças).

O que suporta o peso das Torres Gémeas é a estrutura externa em aço, visível na foto. No caso do Empire State Building (ESB) a mesma função é desempenhada por uma "gaiola" de colunas internas e externas de betão armado. A grande vantagem da estrutura externa das Torres é a de permitir maximizar a superfície dedicada aos gabinetes das empresas, dada a ausência de colunas interiores. Deste modo, cada andar das Torres Gémeas consistia de amplos espaços de gabinetes separados por placas de gesso com uma cavidade central para os elevadores, suportada por uma estrutura metálica mais ligeira. Apesar das Torres terem sido concebidas para aguentar um choque de um avião de linha a uma velocidade normal, a ausência de colunas internas (como as do ESB) e a velocidade bastante elevada a que os aviões (de tanques cheios) se projectaram contra as Torres, resultaram na destruição irreversível da estrutura interna - que não suportava o peso do edifício - e na fusão dos pisos directamente tocados. Progressivamente alguns dos pisos superiores começaram a cair fazendo cair por sua vez o piso logo abaixo até formar uma avalanche impossível de ser contida pela estrutura externa do edifício, provocando a derrocada das Torres. Obviamente que isto nunca poderia acontecer no ESB. No caso da Torre 2, o facto de o avião ter entrado junto a uma das arestas do edifício, fez com que esta Torre, apesar de ter sido atingida mais tarde, se tivesse desmoronado mais rapidamente, dada a distribuição assimétrica do peso dos pisos superiores sobre os pisos inferiores.

Analisando o atentado às Torres à distância de 5 anos percebe-se que acidentalmente a coisa correu demasiado bem para a malta da Al-Qaeda. Certamente ninguém deve ter analisado estas particularidades arquitectónicas que contribuiram para o sucesso da operação.

A teoria ucraniana sobre a ideia do 11 de Setembro
Uma teoria que eu considero mais provável sobre a ideia de lançar aviões de linha sobre as Torres Gémeas é lançada por Nima Zamar, ex-agente da Mossad, no seu livro "Je devais aussi tuer". Segundo a autora, tanto a URSS como os EUA durante a Guerra Fria possuíam planos para se atacar mutuamente caso as forças militares convencionais ficassem inoperacionais. Por exemplo, se os EUA lançassem um ataque de mísseis que destruísse por completo o arsenal militar da URSS, os agentes soviéticos infiltrados nos EUA estavam encarregues de organizar ataques com o que houvesse à "mão". Uma maneira de o fazerem, seria utilizando aviões de linha como cocktails molotov contra o Pentágono, a Casa Branca, o Capitólio, etc. Segundo Nima Zamar depois do fim da Guerra Fria alguns destes planos teriam sido vendidos por um ucraniano à Al-Qaeda. Nima reforça esta hipótese relembrando o avião de linha abatido por um míssil da marinha ucraniana pouco tempo depois do 11 de Setembro. Segundo Nima o lançamento do míssil não se tratou de um acidente, mas de um ajusto de contas com o ucraniano que vendeu os planos à Al-Qaeda. O acidente foi investigado pela Mossad, dado que se encontravam a bordo israelitas. O referido avião tinha partido de Israel com destino à Siberia.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Desmentir Loose Change 1

Para desmentir o ponto 1) (ver entrada anterior) bastariam as mais de duas mil testemunhas que observaram o avião a colidir contra o Pentágono (algumas dezenas passaram nos canais de TV franceses). Quem conhece Washington sabe que existe uma auto-estrada multi-vias que passa mesmo ao lado do Pentágono e que permite observar em perfeitas condições (do camarote) ao longo de cerca de 3 km o choque de um avião contra o referido edifício. Meyssan deve ter julgado certamente que o Pentágono ficava situado entre ruelas do tipo arrondissement de Paris... Como se isso não bastasse foi divulgado recentemente o vídeo do parque de estacionamento do Pentágono em que se pode observar a colisão do avião com o edifício.
No entanto, resta a questão dos destroços do avião. Fazia uma certa confusão a Meyssan o facto de não serem visíveis destroços de dimensões consideráveis nas imagens divulgadas e de o Pentágono apresentar apenas um "pequeno" buraco. Meyssan não é físico, mas se ele lançasse um cocktail molotov contra um muro de tijolo, Meyssan iria compreender tudo. Depois da gasolina da garrafa arder completamente, Meyssan não iria conseguir distinguir os destroços da garrafa que sobrassem, da mesma maneira o muro de tijolo provavelmente iria apresentar apenas um pequeno buraco. Os aviões foram projectados para transportar seres humanos, mas se lhes derem aquele tipo de utilização são autênticos cocktails molotov voadores, objectivamente: um frágil recipiente cheio de gasolina.

(falta escrever sobre o ponto 2)

Loose Change: um big mac de vaca louca

Na mesma linha da astrologia, do niilismo do aquecimento global, do "atentado" a Sá Carneiro, das aparições de Fátima e da negação do Darwinismo, o filme "Loose Change" parte de alguns factos reais e científicos para forjar uma charlatanice atractiva e popular, contribuindo para a estupidificação global.

Em 2002, estava em França, e assisti em directo à apresentação do livro de "Effroyable Imposture" de Thierry Meyssan no programa "Tout le Monde en Parle" que narra uma mirabolante teoria da conspiração segundo a qual teria sido a própria administração Bush a autora dos ataques do 11 de Setembro. Toda a sua teoria é apoiada em informações retiradas da internet, praticamente Meyssan não levantou o traseiro da sua cadeirinha de computador, para chegar àquelas impressionantes conclusões. No início do programa pensei para comigo: "bem, mais um cromo profissional em teorias da conspiração, ninguém vai ligar a isto". Mas logo a reacção dos convidados do programa deu a entender que aquela teoria era demasiado popular para a coisa ficar por ali. Um dia depois a TF1 e vários jornais franceses desmontavam os pontos basilares da teoria de Meyssan. No entanto, passadas duas semanas, o livro de Meyssan era o primeiro lugar do top de vendas em França. Passado muito pouco tempo Jean Guisnel e Guillaume Dasquié - duas das pessoas mais bem informadas deste planeta sobre serviços secretos e afins - desmontaram o delírio de Meyssan através do livro "L'imposture démontée". Desde então Thierry Meyssan passou à categoria de cromo público, com uma quota de credibilidade abaixo de zero, levando infelizmente por tabela o interessante Reseau Voltaire, ao qual ainda preside.

O que se faz em Loose Change é uma espécie de enlatado das teorias de Thierry Meyssan, um big mac feito a partir de um filet mignon de vaca louca, feito a pensar no americano médio. Os dois grandes argumentos de Loose Change retomam duas teorias de Thierry Meyssan sobre o 11 de Setembro:

1) Não foi um avião que chocou contra o Pentágono;
2) O colapso das Torres Gémeas não se deveu ao choque e explosão dos aviões.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O que é o capitalismo selvagem?

É isto:

"It is ridiculous to call this an industry. This is not. This is rat eat rat, dog eat dog. I'll kill'em, and I'm going to kill'em before they kill me. You're talking about the American way - of survival of the fittest."

Ray Kroc proprietário e verdadeiro impulsionador da cadeia McDonalds entre 1961 e 1984.

quarta-feira, setembro 13, 2006

A coca é o ópio das FARC

Ivan Rios, um graduado das FARC, em entrevista a Bernard-Henri Lévy (em "Réflexions sur la Guerre, le Mal et la Fin de l´Histoire"):

"est-ce que c'est normal de voir des petits propiétaires qui, non contents de travailler comme des mules, se font racheter leurs lopins pour une bouchée de pain par les latifundiaires? Réponse: non; on ne va pas accepter, sans réagir, la progression, à la faveur de la coca, du grand capital dans la campagne colombienne. (...) On taxe. On prélève un impôt sur les latifundiaires. Et, accesoirement, on empêche que les énormes flux de richesse générés par le commerce de la pâte à coca aillent finir dans les paradis fiscaux."

Taxas... Está-se mesmo a ver...
As FARC embriagadas pelos milhões da coca que servem para financiar o seu apetite insaciável por armas, com toda a lata do mundo, introduzem-se na cadeia da negociata da coca que vai desde o pequeno produtor até ao paraíso fiscal. As FARC são uma espécie de proxeneta do pequeno produtor e de dealer do grande capital, utilizando os métodos típicos de banais traficantes, queimando, violando e torturando, como o fizeram no campo de Los Pozos, ou recrutando crianças-soldado, ou ainda recorrendo aos raptos em massa.
Em linguagem marxista poderíamos de dizer que a coca é o ópio das FARC.

terça-feira, setembro 12, 2006

O impacto da SMART 1

Ao lado um mini-filme do impacto da SMART 1 com a superfície lunar (sítio ESA), a partir das observações realizadas pelo Canada-France-Hawaii Telescope.

Aqui a simulação do impacto da SMART 1 com a Lua realizada em laboratório na Universdade de Kent no Reino Unido.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Mais um atentado no Iraque...

Já se tornaram tão banais os atentados no Iraque, que foram raros os telejornais ocidentais que noticiaram hoje a morte de mais 13 iraquianos num atentado à bomba. Hoje, as vítimas foram novos recrutas do exército iraquiano que supostamente é aliado da coligação que ocupa o Iraque. Será que os aliados da coligação renderam também a estes 13 soldados a homenagem devida?

Estou fora do país e o Prós e Contras de hoje só é transmitido às quartas na RTPi. No entanto, duvido muito que o ilustre convidado do programa que vai tomar o partido da Administração Bush faça alguma referência à morte no dia de hoje destes 13 "aliados".

Esquerda conservadora? Não obrigado!

Caro Miguel Madeira,

A minha crítica à Ruptura pouco tem a ver com radicalismo. O radicalismo não tem cor política. Radical pode ser a extrema-direita, os No Name Boys ou os Super-Dragões, uma associação pró-vida, uma mensagem papal contra o preservativo ou os artigos do João César das Neves e do José Manuel Fernandes.

O que critico na Ruptura é sobretudo seu conservadorismo e, em parte, a pobreza e a simplicidade dos seus textos e das suas reflexões políticas. Este segundo ponto pode ser verificado através de uma rápida visita ao sítio internet da Ruptura.

O conservadorismo da Ruptura baseia-se numa visão hermética da esquerda e numa leitura dogmática do marxismo que culmina na cristalização ideológica do movimento. É um conservadorismo que recupera muito do imaginário e dos tiques autoritários que caracterizavam grande parte da esquerda do final do século XIX e do início do século XX. Nesses tempos em que o mundo era dominado pela direita e em que a democracia, os sindicatos e a cidadania eram uma miragem, o crescimento da esquerda usou das mesmas formas de violência que a direita (era normal naqueles tempos).

A Ruptura não simpatiza com as "causas fracturantes" (inclusivamente o aborto), é contra a paridade e cada vez que se pronunciam sobre a sexualidade nota-se muito desconforto nas entre-linhas.

A Ruptura é contra instituições internacionais como a ONU e a UE, encontrando-se assim na prática mais próxima dos neo-conservadores quando estes defendem a primazia do belicismo internacional (guerrilha internacional na versão Ruptura), do que propriamente da esquerda que defende a primazia do direito internacional e que privilegia a razão ao som das botas a marchar.

A Ruptura não gosta do Maio de 68, não gosta da esquerda que questiona e que se questiona e não gosta do pós-modernismo.

Acontecimentos como o fim do regime soviético, a Primavera de Praga e a revolta húngara contra a invasão soviética são analisados telegraficamente nos textos da Ruptura.

A Ruptura enfeita o seu discurso com as palavras "revolução" e "trabalhador" como quem distribuiu bolinhas vermelhas numa árvore de Natal. As revoluções não se fazem com conteúdos conservadores, fazem-se com conteúdos inovadores e vanguardistas, algo inexistente no discurso da Ruptura. Os membros da Ruptura continuam a pronunciar as palavras "trabalhador", "operário", "camponês", etc., como se a composição actual das nossa sociedade fosse ainda dominada pelos sectores primário e secundário, tal como início do século XX.

Caro Miguel Madeira, quanto à questão das alas esquerda ou direita do BE, no que me toca a resposta está dada. Vejo o autoritarismo e o conservadorismo da Ruptura do lado do MRPP e do PCP, vejo-os a clonar a direita, como se fazia (erradamente) no início do século XX. Nesse cruzamento, eu guino à esquerda!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Česky Sen (Sonho Checo) no canal Arte

"O Sonho Checo", um filme fortemente recomendado pela Klepsýdra no canal ARTE, é transmitido amanhã às 22.50 (hora de Portugal). Ler comentário Klepcinema sobre "O Sonho Checo".

quarta-feira, setembro 06, 2006

Para a esquerda do Não ao Tratado Constitucional

Depois da crise do Líbano e depois deste abuso dos aviões da CIA que acumula com abuso do programa de espionagem ECHELON, pergunto aos meus amigos de esquerda que defendem o Não ao Tratado Constitucional, se sinceramente acham que estamos melhor assim? Será esta a nossa Europa? Uma Europa com uma política internacional confusa, fraca, sujeita aos caprichos da Polónia (por sua vez condicionada pelos dólares de Fundações George Soros e afins) ou do Reino Unido; uma Europa cuja política externa está sujeita ao calendário das eleições francesas, italianas, alemãs ou britânicas; uma Europa vergada ao poder dos Conselhos de Ministros em que o Parlamento Europeu tem um papel de figurante. É isto que realmente queremos?

Entretanto, a Administração Bush e os que defendem o liberalismo económico mais selvagem (basta ler os nosso blogues) agradecem tanto o Não francês como o Não holandês...

terça-feira, setembro 05, 2006

Gata Preta*, Gato Branco



"Gato Preto Gato Branco" é uma comédia maravilhosa, uma pérola cinematográfica de Emir Kusturica. Todos os detalhes que nos são revelados pelo enquadramento da câmara de filmar são deliciosos, fazendo lembrar aquelas bandas desenhadas em que personagens minúsculas desenvolvem múltiplas histórias paralelas à história principal, nos cantos de cada quadradinho. "Gato Preto Gato Branco" também pode ser isso, uma banda desenhada de carne e osso, e nesse caso seria na minha opinião a melhor banda desenhada transposta para o cinema. "Gato Preto Gato Branco" também pode ser visto como um conto de fadas balcânico, um atestado de incompetência aos milhões da Disney, um conto fadas como deve de ser, com ciganos, meninos virgens (gatos brancos), meninas desinibidas (gatas pretas) e famílias assanhadas de navalha em riste. É o mundo encantado dos balcãs!

Como é habitual nos filmes de Kusturica, o elenco de actores é excelente. Srdjan Todorovic está absolutamente intratável neste filme no papel do mafioso Dadan. O grande Miki Manojlovic assume um papel secundário desta vez, mas para mim é sempre um prazer vê-lo no écran. Fico cada vez mais convencido que alguns dos melhores actores do planeta andam ali pelos balcãs, só é pena não chegarem até nós mais filmes daquela zona da Europa.

Tenho a doce memória de rir às gargalhadas vendo este filme acompanhado da minha avó paterna que é analfabeta (eu bem tentei formar uma brigada de alfabetização da minha avó, mas não tive sucesso). Constatei como "Gato Preto Gato Branco" tem o raro dom de recorrer a uma linguagem universal, compreensível mesmo para quem nem lê legendas, nem percebe sérvio.



* A Eva Lima chamou-me a atenção, e com razão, para o facto da tradução directa do título original "Crna macka, beli macor" ser "Gata Preta, Gato Branco", o que está mais de acordo com os "gatos" e as "gatas" do filme. Desconfio que o título português do filme deva ter sido traduzido do título inglês (cat é gata e gato...) ou do francês. Em francês chatte pode significar muito mais do que uma simples gata...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Concordo II

Concordo em absoluto com o texto "Política imberbe" da Joana Amaral Dias sobre um certo tom de machismo de pacotilha que está a marcar os preparativos das presidenciais francesas. Aliás, recentemente escrevi aqui um texto (meio delirante, admito) que aborda o mesmo assunto pelo prisma dos temíveis segredos da casa de banho para cavalheiros.

Concordo I

Concordo inteiramente com o texto "Baby-boom, Papy-boom" do David Luz.

domingo, setembro 03, 2006

SMART 1: ciência kamikaze



Depois de uma missão marcada pelo sucesso da utilização de um motor iónico e pela análise detalhada da superfície lunar, a a sonda SMART-1 chegou ao fim da sua missão de uma forma espectacular, estatelando-se como previsto na superfície lunar! Os fragmentos do solo e do subsolo lunar projectados pela colisão foram prontamente analisados por instrumentos baseados na Terra e serviram para produzir ainda mais ciência.

As fotografias aqui apresentadas foram obtidas pelo Canada-France-Hawaii Telescope instalado no cimo do vulcão Mauna Kea, a 4200m de altitude.

sábado, setembro 02, 2006

Sábado em Coimbra XXX: cidades universitárias

Enquanto contemplava o Mondego, lá de cima da Couraça, dei por mim a pensar na minha cidade tipo. Gosto dessas cidadezinhas, nem muito grandes nem muito pequenas, que fervilham ao ritmo de uma universidade. Freiburg, Tübingen, Pádua, Ferrara, Bolonha, Olomouc, Salamanca, Leuven, Würsburg, Louvain-la-Neuve ou Leicester são tudo cidades que rimam com o meu modo de vida. Oxford, Santiago de Compostela e Heidelberg são cidades que já admiro antes mesmo de lá ter metido os pés (aceito convites). Também gosto de cidades grandes que parecem pequenas, como Bruxelas, ou cidades grandes que não parecem grandes, como Munique. Mas não gosto de cidades grandes como Lisboa, Londres, Hong Kong ou Los Angeles, não gosto do reino do tubo de escape, do alcatrão e do betão.
É a maldição de Coimbra... mas é uma boa maldição.

Sábado em Coimbra XXIX

Filhos de uma grande Helena!

Os filhos de Helena, esses mediterrânicos(as) peludos(as) a quem devemos a Odisseia, a filosofia, os primeiros rudimentos científicos (com Ptolomeu, Pitágoras e Arquimedes) e os jogos olímpicos, voltaram a fazer das deles. Já não bastava a estrondosa vitória contra a Troia de Heitor ou o surpreendente título no Euro 2004, desta vez foram só os EUA nas meias-finais do campeonato do mundo de basquete adecorrer no Japão. Sabemos que esta equipa dos EUA não é a verdadeira constelação, mesmo assim é obra.
Na final segue-se a Espanha. Estou com os filhos de Helena e tal qual um verdadeiro épico grego vou manipular Zeus e todo Olimpo, usar de todas as artimanhas próprias do Olimpo para dar a vitória à Grécia. ΣΛΛΑΔΑ!!