O teor do texto "Os Mísseis Russos e a Europa" de José Pacheco Pereira (JPP) constitui, para aqueles que como eu defendem a saída de Portugal da NATO (desconfio que a maioria dos portugueses pensa da mesma maneira), mais um forte motivo para não pertencermos a essa falsa aliança, essencialmente pela exposição de dois tipos de argumentação:
1- Inversão da realidade - Transformar o agressor em agredido e o agredido em agressor. É um argumento típico dos irredutíveis da NATO e de todas as asneiras de G. W. Bush. Já aqui denunciei um texto em que Vasco Graça Moura atribui à esquerda o apoio à Al-Qaeda (não se percebe como), num total branqueamento da iniciativa de Richard Perle, o verdadeiro mentor dos planos de expansão e de reforço da Al-Qaeda. No seu texto, JPP não vê qualquer problema no sistema anti-míssil americano, o problema no seu entender é que os russos estão a reapontar os mísseis para a Europa, mais precisamente, nas palavras de JPP, a admitir que nunca deixaram de apontar. Obviamente, para JPP o sistema anti-míssil americano não está a ameaçar nem a provocar ninguém, nem a desrespeitar tratados internacionais (também incluem estes sistemas), até porque o sistema anti-míssil americano funciona com pombas. As pombas voam até junto dos mísseis russos e transformam-nos em pétalas de rosa (e não em destroços de plutónio e urânio) que caem suavemente sobre os telhados da Europa de Leste...
2- Fantasia geradora de medos - JPP atribui erradamente o perigo atómico a um cenário de uma fantasia geradora de pequenos medos. O grande perigo da proliferação nuclear não é o cenário de fantasia insinuado por JPP, no qual o perigo viria de um Putin que vai apontando e disparando sadicamente, um a um, vários mísseis contra cidades europeias, "um para os Açores, outro para o comando da OTAN de Cascais", "um lote especial para Bruxelas", etc. O grande problema da proliferação nuclear é outro e está muito bem identificado e analisado num grande livro: "De Tchernobyl en tchernobyls" (Odile Jacob, 2005) da autoria do Nobel da Física Georges Charpak e Richard Garwin, físico que trabalhou no programa nuclear americano. O problema da construção de sistemas de defesa foi alvo de vários trabalhos académicos que demonstram que para uma grande potência é mais eficiente e barato construir mais mísseis ofensivos do que construir sistemas de defesa balísticos. A resposta natural dos russos ao sistema de defesa anti-míssil americano é simples: mais mísseis e ainda ficam a ganhar. O verdadeiro problema do sistema anti-míssil é que este contribui para a proliferação nuclear, com todos os grandes perigos que lhe estão associados: a potencial disseminação de materiais utilizados nas bombas por grupos terroristas e o perigo de um lançamento acidental entre as mais de 8000 armas nucleares actualmente espalhadas pelo mundo, das quais cerca de 480 estão na Europa e 90 na Turquia (ler o artigo "Apocalypse Soon" de Robert S. McNamara).
Já agora, para onde estão apontadas as chaminés de CO2 da indústria dos EUA?
Este texto de JPP é radicalmente mais anti-russo do que as palavras do próprio Bush durante o G8: "They're [Russians] not a military threat. They're not what we should be hyperventilating about. What we ought to be doing is figuring out ways to work together". Ora, quando os acérrimos defensores da NATO em Portugal (que não são muitos) são mais papistas que o papa, justificando a aliança atlântica através da manipulação da realidade e do nosso imaginário, todos temos motivos para temer que a aliança em causa seja mais geradora de perigos do que de segurança. Será que não está na altura de um referendo à NATO? Ou será que a NATO está acima do poder democrático?
1- Inversão da realidade - Transformar o agressor em agredido e o agredido em agressor. É um argumento típico dos irredutíveis da NATO e de todas as asneiras de G. W. Bush. Já aqui denunciei um texto em que Vasco Graça Moura atribui à esquerda o apoio à Al-Qaeda (não se percebe como), num total branqueamento da iniciativa de Richard Perle, o verdadeiro mentor dos planos de expansão e de reforço da Al-Qaeda. No seu texto, JPP não vê qualquer problema no sistema anti-míssil americano, o problema no seu entender é que os russos estão a reapontar os mísseis para a Europa, mais precisamente, nas palavras de JPP, a admitir que nunca deixaram de apontar. Obviamente, para JPP o sistema anti-míssil americano não está a ameaçar nem a provocar ninguém, nem a desrespeitar tratados internacionais (também incluem estes sistemas), até porque o sistema anti-míssil americano funciona com pombas. As pombas voam até junto dos mísseis russos e transformam-nos em pétalas de rosa (e não em destroços de plutónio e urânio) que caem suavemente sobre os telhados da Europa de Leste...
2- Fantasia geradora de medos - JPP atribui erradamente o perigo atómico a um cenário de uma fantasia geradora de pequenos medos. O grande perigo da proliferação nuclear não é o cenário de fantasia insinuado por JPP, no qual o perigo viria de um Putin que vai apontando e disparando sadicamente, um a um, vários mísseis contra cidades europeias, "um para os Açores, outro para o comando da OTAN de Cascais", "um lote especial para Bruxelas", etc. O grande problema da proliferação nuclear é outro e está muito bem identificado e analisado num grande livro: "De Tchernobyl en tchernobyls" (Odile Jacob, 2005) da autoria do Nobel da Física Georges Charpak e Richard Garwin, físico que trabalhou no programa nuclear americano. O problema da construção de sistemas de defesa foi alvo de vários trabalhos académicos que demonstram que para uma grande potência é mais eficiente e barato construir mais mísseis ofensivos do que construir sistemas de defesa balísticos. A resposta natural dos russos ao sistema de defesa anti-míssil americano é simples: mais mísseis e ainda ficam a ganhar. O verdadeiro problema do sistema anti-míssil é que este contribui para a proliferação nuclear, com todos os grandes perigos que lhe estão associados: a potencial disseminação de materiais utilizados nas bombas por grupos terroristas e o perigo de um lançamento acidental entre as mais de 8000 armas nucleares actualmente espalhadas pelo mundo, das quais cerca de 480 estão na Europa e 90 na Turquia (ler o artigo "Apocalypse Soon" de Robert S. McNamara).
Já agora, para onde estão apontadas as chaminés de CO2 da indústria dos EUA?
Este texto de JPP é radicalmente mais anti-russo do que as palavras do próprio Bush durante o G8: "They're [Russians] not a military threat. They're not what we should be hyperventilating about. What we ought to be doing is figuring out ways to work together". Ora, quando os acérrimos defensores da NATO em Portugal (que não são muitos) são mais papistas que o papa, justificando a aliança atlântica através da manipulação da realidade e do nosso imaginário, todos temos motivos para temer que a aliança em causa seja mais geradora de perigos do que de segurança. Será que não está na altura de um referendo à NATO? Ou será que a NATO está acima do poder democrático?
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