Entre as minhas últimas leituras estão duas edições estrangeiras que mereciam uma edição portuguesa: "A Economia do Hidrogénio", de Jeremy Rifkin, M Books, 2003 e "Robert Schuman", François Roth, Fayard, 2009.A obra de Rifkin, uma edição brasileira de 2003, faz projecções sobre o futuro energético do planeta, sobre as reservas e os custos do petróleo, do gás natural e do carvão. Curiosamente em 2003 Rifkin disserta sobre um possível sobressalto dos preços dos combustíveis fósseis no final desta década, e o curioso é que essa instabilidade de preços veio mesmo a ocorrer. Rifkin alerta ainda para a incerteza e as expectativas optimistas baseadas em poços de petróleo por descobrir e em explorações de petróleo pouco viáveis do ponto de vista técnico e económico: as areias betuminosas e os poços de petróleo oceânicos a grandes profundidades. Quanto à utilização do hidrogénio como suporte energético, já Rifkin acertou muito menos e as soluções que propõe parecem ser ainda pouco viáveis e práticas num futuro próximo.
A biografia histórica de Schuman, um dos "pais" da actual União Europeia, retrata um homem muito simples e dedicado à causa pública, um homem encalhado entre o mundo germânico e latino, que viveu entre a Lorena, a Alsácia e o Luxemburgo, que passou pela ocupação alemã, enfim um desses cidadãos que frequentou a escola da tolerância. O mais impressionante desta obra é a tremenda incerteza que reinava entre os homens que decidiram instituir a Comunidade do Carvão e do Aço e de seguida a Comunidade Europeia. Não tinham bem a certeza que "monstro" estavam a criar, mas tinham a certeza de algo bem concreto: a Europa não se podia ao luxo de voltar a entrar em guerra. Nisso eles acertaram, e os povos dos países signatários estão em paz entre si há mais de 50 anos, um record desde a queda do Império Romano.
O delírio permanente que se instalou na política italiana teve mais um episódio nas regionais de hoje. À boleia do eleitorado de Berlusconi, os candidatos separatistas da Liga de Bossi obtiveram vitórias históricas. Para Berlusconi está tudo bem, no pior dos casos o norte poderá enriquecer vendendo puzzles em lojas de souvenires, a sul descalça-se a bota e lança-se ao mar...

Do binómio Moura Guedes e Eduardo Moniz já lhes conhecemos um cinismo sem limites e assumido com orgulho, que os leva a tomar partido pela mediocridade com toda a arrogância possível e de sorriso dos lábios. Ambos assumiram plenamente uma programação miserável e facilitista onde impera a estupidificação à base de telenovelas e de futebol a toda a hora, um telejornal sensacionalista onde se debita o programa político do CDS disfarçado de informação e programas de variedades da vida real onde se contribuiu para branquear a honra de árbitros e de autarcas corruptos (na Quinta das Celebridades por exemplo). Não há um único documentário, um programa histórico, um programa sobre língua portuguesa, ciência ou cidadania. Criaram com todo o orgulho uma televisão que baixa a fasquia do conhecimento e da capacidade crítica dos portugueses.
