A Courrier Internacional desta semana inclui um dossier muito bom sobre a deriva neoconservadora que grassa na Polónia visto por intelectuais polacos e pela imprensa internacional.
É muito interessante analisar os resultados das políticas neoconservadores de origem americana na Europa. A experiência neoconservadora polaca acaba por ser útil pelo menos por uma razão, para que os europeus tenham mais certezas sobre aquilo que não querem importar dos EUA.
Caixa de comentários:
"A Polónia constitiu um estudo de caso interessantíssimo. Não só pelo seu alinhamento canino em relação a qualquer coisa que venha do Atlântico, mas também pelas bem significativas propostas de reintrodução da pena de morte, de proibição da homossexualidade a funcionários públicos e à tentativa falhada (felizmente) de proibição geral do aborto. Coisinha mais reaça não há. Poderão argumentar que se trata de uma compensação pelos tempos da rolha soviética. Cada um acredita no que entende. O que sei é que a Polónia, como qualquer outro Estado, para aderir à UE compromete-se com o acquis e, supostamente, com um certo espírito. Tem sido o que se sabe." Sérgio
"a condição da mulher com companheiro na Polónia é servi-lo enquanto ele se senta a beber cerveja. Se houve país europeu da CE que a mentalidade das mulheres me provocou pena e revolta foi a Polónia." Henedina
sexta-feira, abril 27, 2007
quinta-feira, abril 26, 2007
O efeito Bayrou
Quando estudei em Estrasburgo tive a oportunidade de assistir a dois debates sobre a Europa com a participação de François Bayrou - um deles muito bom, com Cohn-Bendit. Bayrou é um político de centro-direita, com o qual discordo da sua visão sobre o papel da família na sociedade, sobre o trabalho, sobre a economia, mas algo que merece a minha total simpatia é o seu europeísmo. Bayrou é um dos poucos políticos europeus que olha para lá do seu quintal e que já percebeu quase tudo sobre o papel importantíssimo que a Europa deve desempenhar na política mundial das próximas décadas. O desastre iraquiano, a nova guerra fria que os EUA querem impor à Europa, o aquecimento global e a reformulação da OMC, são desafios da política europeia aos quais Bayrou é sensível e que são objecto do seu discurso corrente.
Bayrou foi o político mais incisivo no ataque a Nicolas Sarkozy, identificando bem a perigosidade da sua candidatura. Sarkozy é um político que aproveita habilmente os ódios inter-comunitários para fazer política, muito ao jeito de Aznar. Com Sarkozy todos os ódios vão ter salvo-conduto, assanhando cidadãos contra cidadãos, comunidades religiosas contra comunidades religiosas, maiorias contra minorias, tal como Aznar se empenhou em assanhar bascos contra bascos-castelhanos, castelhanos contra bascos e castelhanos contra todas as comunidades de Espanha.
Os 18% da primeira volta deram honras quase de chefe de estado à sua declaração de ontem. Apesar de não ter dado indicação de voto para a segunda volta, Bayrou voltou a deixar clara a perigosidade do projecto de sociedade do seu parceiro de coligação governamental, Nicolas Sarkozy. As críticas de Bayrou a Ségolène foram muito mais brandas e uma aproximação entre os dois tem estado a ser concebida através de uma fórmula de debates sobre aspectos políticos específicos entre Bayrou e Ségolène. Pode estar aqui a chave para a recuperação de Ségolène.
Bayrou foi o político mais incisivo no ataque a Nicolas Sarkozy, identificando bem a perigosidade da sua candidatura. Sarkozy é um político que aproveita habilmente os ódios inter-comunitários para fazer política, muito ao jeito de Aznar. Com Sarkozy todos os ódios vão ter salvo-conduto, assanhando cidadãos contra cidadãos, comunidades religiosas contra comunidades religiosas, maiorias contra minorias, tal como Aznar se empenhou em assanhar bascos contra bascos-castelhanos, castelhanos contra bascos e castelhanos contra todas as comunidades de Espanha.
Os 18% da primeira volta deram honras quase de chefe de estado à sua declaração de ontem. Apesar de não ter dado indicação de voto para a segunda volta, Bayrou voltou a deixar clara a perigosidade do projecto de sociedade do seu parceiro de coligação governamental, Nicolas Sarkozy. As críticas de Bayrou a Ségolène foram muito mais brandas e uma aproximação entre os dois tem estado a ser concebida através de uma fórmula de debates sobre aspectos políticos específicos entre Bayrou e Ségolène. Pode estar aqui a chave para a recuperação de Ségolène.
quarta-feira, abril 25, 2007
terça-feira, abril 24, 2007
Um instrumento português no VLT
Uma câmara de infra-vermelhos de alta resolução, a CAMCAO (Camera for Multiconjugated Adaptive Optics), integra um sistema que serve para validar as técnicas de óptica adaptativa para futuros telescópios do ESO (Observatório Europeu do Sul). Esta câmara acaba de ter "first light" no VLT (Very Large Telescope). A câmara CAMCAO foi concebida, construída e validada por uma equipa portuguesa, o consórcio CAMCAO. Este é coordenado pela FCUL e integra o laboratório LAER do INETI e o LIP-Coimbra.
Os meus parabéns para toda a equipa do CAMCAO.
Os meus parabéns para toda a equipa do CAMCAO.
Sistema de defesa anti-míssil dos EUA na Europa
A intervenção de 13 de Março da Ana Gomes no Parlamento Europeu, resume muito bem a questão política sobre o sistema de defesa anti-míssil que alguns continuam a querer impingir à Europa:
"...é escandalosamente atentatória dos compromissos europeus a consideração unilateral pela Polónia, República Checa e Reino Unido da participação no sistema de defesa anti-míssil dos EUA: para quê a UE, ou mesmo a NATO, senão para discutir o futuro estratégico da Europa?"
É de facto escandaloso e é também uma fonte provável de revolta dos cidadãos europeus contra os EUA e a NATO. Brevemente escreverei sobre o sistema anti-míssil, em particular o que tem sido publicado sobre o assunto por especialistas da área.
"...é escandalosamente atentatória dos compromissos europeus a consideração unilateral pela Polónia, República Checa e Reino Unido da participação no sistema de defesa anti-míssil dos EUA: para quê a UE, ou mesmo a NATO, senão para discutir o futuro estratégico da Europa?"
É de facto escandaloso e é também uma fonte provável de revolta dos cidadãos europeus contra os EUA e a NATO. Brevemente escreverei sobre o sistema anti-míssil, em particular o que tem sido publicado sobre o assunto por especialistas da área.
domingo, abril 22, 2007
84,5% de participação
A taxa de participação desta primeira volta das eleições presidenciais francesas é invejável no mundo democrático. Sublinhe-se que esta taxa de participação não é fruto de histeria provocada por guerras ou por atentados terroristas, trata-se de uma iniciativa massivamente cidadã perante as importantes encruzilhadas em que se encontra a França e a Europa.
O discurso de Ségolène Royal foi estranhamente rígido, deixou no ar a ideia que Ségolène não se encontra em perfeitas condições físicas. O que é preocupante dado que as sondagens não lhe são favoráveis. Infelizmente, e por culpa do fraco programa da própria Ségolène, é muito forte a probabilidade da Europa voltar a ter um Aznar, um governante que assanha os seus cidadãos uns contra os outros e que se comporta como um cãozinho de companhia dos EUA.
O discurso de Ségolène Royal foi estranhamente rígido, deixou no ar a ideia que Ségolène não se encontra em perfeitas condições físicas. O que é preocupante dado que as sondagens não lhe são favoráveis. Infelizmente, e por culpa do fraco programa da própria Ségolène, é muito forte a probabilidade da Europa voltar a ter um Aznar, um governante que assanha os seus cidadãos uns contra os outros e que se comporta como um cãozinho de companhia dos EUA.
Figuera dé Foss
"Figuera dé Foss! (...) Do you know Figuera dé Foss?", perguntou-me. (...) Eu sou da Figueira da Foz", respondi-lhe. (...) Roy foi contando a sua história. Que o lugar que tinha gostado mais na sua viagem pela Europa era a Figueira: tinha lá ficado dois meses. (...) "a real nice little town", com as casinhas ordenadas à volta da baía.
Casinhas ordenadas? "Há quanto tempo foi isso, Roy?", perguntei, já meio desconfiado. "Acho que foi em 74 ou 75". (...) [Nessa altura] de facto, a Figueira era uma cidade de casinhas ordenadas à volta da baía. Se ele visse a marginal agora, até chorava. A especulação imobiliária, o vandalismo do cimento começou no início da década de 80, alguns anos depois de Roy ter passado dois meses na "nice little" Figueira. (...) Quando começou o processo de destruição de uma das marginais mais elegantes de Portugal eu já tinha olhos para ver: e lembro com nitidez uma sucessão de mansões fantasiosas em frente ao mar, e habitações simples mas coerentes atrás dessa primeira linha de riqueza e bo-tom. Não ficou uma casa em pé.
(...) "Não voltes", disse-lhe, com um sorriso triste, "é o meu conselho". Roy ficou a pensar que era por ser uma cidade da Europa, uma cidade muito cara.
"No princípio estava o mar", Gonçalo Cadilhe, pag.198-201.
Casinhas ordenadas? "Há quanto tempo foi isso, Roy?", perguntei, já meio desconfiado. "Acho que foi em 74 ou 75". (...) [Nessa altura] de facto, a Figueira era uma cidade de casinhas ordenadas à volta da baía. Se ele visse a marginal agora, até chorava. A especulação imobiliária, o vandalismo do cimento começou no início da década de 80, alguns anos depois de Roy ter passado dois meses na "nice little" Figueira. (...) Quando começou o processo de destruição de uma das marginais mais elegantes de Portugal eu já tinha olhos para ver: e lembro com nitidez uma sucessão de mansões fantasiosas em frente ao mar, e habitações simples mas coerentes atrás dessa primeira linha de riqueza e bo-tom. Não ficou uma casa em pé.
(...) "Não voltes", disse-lhe, com um sorriso triste, "é o meu conselho". Roy ficou a pensar que era por ser uma cidade da Europa, uma cidade muito cara.
"No princípio estava o mar", Gonçalo Cadilhe, pag.198-201.
quinta-feira, abril 19, 2007
Túnel Marquês: obra faraónica, errada e centralista
Os custos do novo Túnel do Marquês já vão em cerca de 19 milhões de euros e "ainda não estão fechados" como afirmou o próprio Carmona Rodrigues. O Túnel é uma obra estrategicamente errada que vai contra todas as regras actuais de organização das grandes cidades. A subida do preço do petróleo, a escassez prevista deste recurso e o aquecimento global irão obrigar inevitavelmente a que as grandes cidades organizem prioritariamente a sua mobilidade em função dos transportes públicos e não em função do transporte individual e poluente, como é o caso do automóvel. Ao contrário do que se pretende através da abertura do Túnel do Marquês, o acesso do automóvel ao centro das grandes cidades deve ser progressivamente limitado e não aumentado ou facilitado. Ao contrário da filosofia subjacente à obra do Marquês, é ao transporte público que deve ser facilitado o acesso e a mobilidade dentro do espaço urbano. Não se pense que este erro não comportará custos adicionais ao custo efectivo da obra (ainda não fechado). A obra incitará a mais investimento errado em mais transporte individual, carburante e a tudo o que lhe está associado, a que se somam os custos inerentes à emissão de mais gases de feito de estufa e retira desnecessariamente potenciais clientes aos transportes colectivos de Lisboa que são pagos pelos contribuintes de todo o país. Estranho que no recente frenesim de exigência de estudos de obras públicas (que acho muito bem) não se tenha discutido publicamente o custo/benefício desta obra.
No próximo dia 25 de Abril, no momento da sua inauguração, o Túnel do Marquês será já uma obra obsoleta, desnecessária e com custos futuros que se acumularão à factura que continua a subir.
Esta obra é também um símbolo do centralismo deste país. Um país que está a cometer um interioricídio arrepiante, enterra mais de 19 milhões de euros numa obra desnecessária mesmo no umbigo da capital, quando no resto do país existem carências de toda a ordem nos transportes urbanos, nos transportes ferroviários e rodoviários entre cidades e projectos essenciais que não saem do papel há décadas (ex: metro de superfície de Coimbra).
No próximo dia 25 de Abril, no momento da sua inauguração, o Túnel do Marquês será já uma obra obsoleta, desnecessária e com custos futuros que se acumularão à factura que continua a subir.
Esta obra é também um símbolo do centralismo deste país. Um país que está a cometer um interioricídio arrepiante, enterra mais de 19 milhões de euros numa obra desnecessária mesmo no umbigo da capital, quando no resto do país existem carências de toda a ordem nos transportes urbanos, nos transportes ferroviários e rodoviários entre cidades e projectos essenciais que não saem do papel há décadas (ex: metro de superfície de Coimbra).
quarta-feira, abril 18, 2007
Bowling for Columbine
Sempre actual a obra de Michael Moore, tal como as lágrimas de crocodilo do Presidente Bush.
Ler o Filipe Moura que já estudou por aquelas paragens.
Ler o Filipe Moura que já estudou por aquelas paragens.
terça-feira, abril 17, 2007
Angel
"Angel" de François Ozon é baseado no romance do mesmo nome da escritora inglesa Elizabeth Taylor publicado em 1957. "Angel" narra a ascensão meteórica de uma escritora de romances populares de origens modestas à nata do meio literário londrino. Angel é uma mulher muito ambiciosa que não se inibe de usar todo o poder que o sucesso lhe conferiu para atingir os seus objectivos, renegando as suas origens, manipulando os que lhe são próximos e alimentando um romance amoroso de fachada. Vi neste "Angel" uma espécie de Citizen Kane no feminino, uma parábola onde outros tipos de ambição e de poder são capazes de cegar e de corromper o espírito de uma mulher. Apesar de correr o risco de encalhar em estereótipos, o próprio nome da mansão de Angel, Paradise, simboliza o fantasma absoluto em que Angel se revê, de mulher imaculada readmitida no jardim de Deus, da mesma maneira que o nome da mansão de Kane, Xanadu (a capital do Império Mongol), simboliza o fantasma do supremo poder masculino, o desejo de ser o imperador.
Concordo em absoluto com o David Luz, Romola Garai (Angel) é um nome a fixar, sem ela "Angel" seria outro filme, certamente mais pobre.
segunda-feira, abril 16, 2007
Se fosse francês votaria Dominique Voynet
Votaria Dominique Voynet sobretudo pelo seu europeísmo empenhado e entusiasta e pelo seu programa económico e social que é o que responde de uma forma mais abrangente a todos os principais desafios dos tempos que se aproximam. É um programa verdadeiramente de esquerda, mas de uma esquerda que não faz broches ao marxismo. No entanto, a campanha de Voynet fica fragilizada pelas divisões dentro dos Verdes, pela candidatura de José Bové, pelo efeito mediático do Pacto Ecológico de Nicolas Hulot e pela ausência de Cohn-Bendit. As sondagens apontam resultados modestos, a que a repetição da sua candidatura não é alheia. É pena.
Ségolène Royal
Um programa confuso, fraco e que tenta pescar de uma forma atabalhoada em várias frentes, até na frente anti-europeísta do PS representada por Fabius, fazem de Ségolène a maior decepção da esquerda francesa. Como há 5 anos atrás, teme-se o pior nas hostes do PS.
Ségolène Royal
Um programa confuso, fraco e que tenta pescar de uma forma atabalhoada em várias frentes, até na frente anti-europeísta do PS representada por Fabius, fazem de Ségolène a maior decepção da esquerda francesa. Como há 5 anos atrás, teme-se o pior nas hostes do PS.
sábado, abril 14, 2007
A universidade privada (caixa de comentários)
"Sou licenciado numa universidade privada mas muitas vezes ao longo do curso me perguntei se ela não precisava de ser fechada. Muitas vezes de qualidade de ensino não tinha nada, e grande parte dos meus colegas pensavam o mesmo. Várias vezes sem professores mas as propinas tinham de ser pagas, quer houvesse professores ou não. Quer houvesse aulas ou não, quer os professores tivessem qualidade ou não."
Miguel (A Embaixada)
Miguel (A Embaixada)
sexta-feira, abril 13, 2007
Aldrabice de CV e os cargos políticos não-eleitos
Desde que se iniciou a prática (de louvar) de publicação de CV dos políticos na internet, reparei na trapalhada e na aldrabice pegada que se praticava com intuito de encher com linhas e linhas de palha as biografias e os CV dos titulares de cargos políticos. Uma artimanha muito utilizada é a de que político X frequentou o MBA ou a pós-graduação da Universidade Y ou Z (ex: CV de Morais Sarmento na anterior legislatura). Frequentou? Como é que prova que de facto frequentou? Qualquer um pode encher linhas de CV com frequentou... No entanto, reparei em algo bem mais grave: um intenso cheiro a esturro a diplomas comprados. A proliferação de universidades privadas que passam diplomas sem controlo do respectivo Estado é um esquema a que recorrem muitos políticos medíocres, casos de insucesso escolar, mas de sucesso estrondoso no carreirismo político.
O caso toma contornos de maior gravidade quando alguns destes políticos medíocres, recorrendo a diplomas forjados, acedem a cargos políticos técnicos (assessores, conselheiros, etc.) para os quais não precisam de ser eleitos, mas precisam de um diploma no CV que justifique a escolha do político responsável pelo gabinete que os acolhe. Pior ainda, são aqueles que no fim de uma legislatura recebem como presente um alto cargo bem remunerado numa empresa pública justificado por uma falsa competência que consta do seu CV. Desconfio que se investigassem quantos diplomas foram comprados em universidades estrangeiras (deixo aqui uma dica: Boston, EUA) por assessores de ministros e por titulares de altos cargos em empresas públicas que vieram da política poderiam descobrir todo um miserável mundo de falsificação de carreiras político-profissionais.
Uma palavra a José Sócrates
O CV de José Sócrates foi pelo menos antecipado por alguém, por esse alguém que escreveu que Sócrates era licenciado em Eng. Civil antes de o ser. A trapalhada mesmo não sendo intencional funde-se no oceano de aldrabice e de trapalhadas dos CV dos políticos.
Trapalhadas destas são desmotivadoras para quem trabalha no meio científico, por exemplo. Um CV de um investigador com uma gaffe desse calibre dá direito a exclusão da generalidade dos concursos individuais e a projectos...
O caso toma contornos de maior gravidade quando alguns destes políticos medíocres, recorrendo a diplomas forjados, acedem a cargos políticos técnicos (assessores, conselheiros, etc.) para os quais não precisam de ser eleitos, mas precisam de um diploma no CV que justifique a escolha do político responsável pelo gabinete que os acolhe. Pior ainda, são aqueles que no fim de uma legislatura recebem como presente um alto cargo bem remunerado numa empresa pública justificado por uma falsa competência que consta do seu CV. Desconfio que se investigassem quantos diplomas foram comprados em universidades estrangeiras (deixo aqui uma dica: Boston, EUA) por assessores de ministros e por titulares de altos cargos em empresas públicas que vieram da política poderiam descobrir todo um miserável mundo de falsificação de carreiras político-profissionais.
Uma palavra a José Sócrates
O CV de José Sócrates foi pelo menos antecipado por alguém, por esse alguém que escreveu que Sócrates era licenciado em Eng. Civil antes de o ser. A trapalhada mesmo não sendo intencional funde-se no oceano de aldrabice e de trapalhadas dos CV dos políticos.
Trapalhadas destas são desmotivadoras para quem trabalha no meio científico, por exemplo. Um CV de um investigador com uma gaffe desse calibre dá direito a exclusão da generalidade dos concursos individuais e a projectos...
quinta-feira, abril 12, 2007
Ciclo Stephen Frears no canal ARTE
A partir de hoje o canal ARTE vai passar um ciclo de cinema dedicado ao realizador Stephen Frears, o realizador de "A Raínha". É uma oportunidade para rever "The Snapper" e "Ligações Perigosas", entre outros.
terça-feira, abril 10, 2007
A universidade privada em Portugal
A história da universidade privada em Portugal é uma triste história. Salvo algumas honrosas excepções, como a Católica, a generalidade das universidades privadas nacionais vivem da ganância, da chulice à custa dos alunos e do xico-espertismo dos seus gestores. Por exemplo, a investigação - uma das tarefas fundamentais de uma universidade - é praticamente inexistente no ensino privado. Quer isto dizer que o contributo das universidades privadas para o conhecimento da sociedade portuguesa é quase nulo, as privadas funcionam como se fossem escolas secundárias para meninos com mais de 18 anos. Mais grave ainda é que estas instituições nem se podem queixar de falta de verbas para a investigação. Basta ver o número de projectos propostos por universidades privadas ao último concurso aberto a todas as áreas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia para percebermos o desinteresse brutal destas instituições pela investigação.
Como é que se resolve o assunto?
Definindo critérios claros sobre as funções e os objectivos de cada tipo de instituição de ensino superior (sobre formação, serviço à sociedade e investigação), elevando a fasquia dos critérios de avaliação e aumentando a frequência das inspecções ao trabalho das instituições. Depois é fechar o que se tiver de fechar, doa a quem doer, este é um assunto demasiado sério para se dar o benefício da dúvida a xico-espertos.
Como é que se resolve o assunto?
Definindo critérios claros sobre as funções e os objectivos de cada tipo de instituição de ensino superior (sobre formação, serviço à sociedade e investigação), elevando a fasquia dos critérios de avaliação e aumentando a frequência das inspecções ao trabalho das instituições. Depois é fechar o que se tiver de fechar, doa a quem doer, este é um assunto demasiado sério para se dar o benefício da dúvida a xico-espertos.
segunda-feira, abril 09, 2007
Já não há pachorra
-Para a pseudociência à portuguesa muito bem denunciada neste texto do Filipe Moura.
-Para as maçadas de Vasco Pulido Valente muito bem caracterizadas pela Fernanda Câncio.
-Para as maçadas de Vasco Pulido Valente muito bem caracterizadas pela Fernanda Câncio.
domingo, abril 08, 2007
Inland Empire - A woman in trouble
"Inland Empire" de David Lynch é de longe o filme mais experimental e mais original do autor. A particularidade desta obra de Lynch consiste na representação sistemática do imaginário dos personagens, dos seus fantasmas, das suas angústias, traumas, etc., em simultâneo com a própria realidade. Ao contrário de Mulholland Drive, nesta obra Lynch não faz cedências ao espectador introduzindo pistas triviais que permitam distinguir entre a representação do real e do imaginário. Ambos se fundem e confundem, tal como acontece nas reflexões que condicionam os nossos actos. É esta a a grande dificuldade mas também o grande interesse deste filme.
Quando Lynch iniciou as filmagens de "Inland Empire", o guião do filme estava em grande parte por definir e isso é perceptível ao longo do filme. A trama segue as angústias de Nikki Grace - a woman in trouble tal como a define o subtítulo - recuperando alguns dos temas centrais de Mulholland Drive como o fascínio destrutivo que exerce a indústria cinematográfica e os sacrifícios e as angústias que os aspirantes a actores estão dispostos a tolerar para conseguir um lugar ao sol. Inland Empire é a zona de Los Angeles onde residem os actores que ainda não são suficientemente ricos ou famosos para morar em Bevery Hills. Inland Empire é pois o limbo entre o anonimato e o estrelato em Hollywood. Grace (Laura Dern) tem como parceiro de primeiro filme Devon Derk. Após a rodagem de algumas cenas, Grace inicia um relacionamento amoroso extraconjugal com Derk. A partir desse momento o personagem Derk desaparece do filme e iniciamos uma viagem intensa através dos mini-universos interiores de uma Grace que entra num processo de culpabilização doloroso. Em cada mudança de cena Grace salta para uma nova caixa simbólica, um novo mini-universo, que se confunde com a realidade. De tal modo é baralhada a realidade com o imaginário de Grace que a relação com Derk parece uma sofisticada construção justificativa para o dilema de Grace: "ser puta ou não ser puta". A ideia é repetida várias vezes ao longo do filme através da representação de um grupo de mulheres de comportamento suspeito que interpelam Grace de uma forma sugestiva.
Mais do que tentar descodificar aqui o significado complexo de cada um dos elementos simbólicos que compõem a trama deste Inland Empire, convido vivamente o leitor a ver esta nova obra de David Lynch. O filme de Lynch vale mais pela originalidade e pela ousadia experimental do que pela estética e pelo tema abordado. Este Inland Empire é um filme que deve ser visto e revisto, no entanto as cerca de três horas de filme e uma estética por vezes pouco cuidada na transposição entre algumas cenas mais experimentais são pouco convidativas a revisionamentos integrais desta interessante obra cinematográfica.
Vive la France!
"Inland Empire" é o segundo filme francês (com algum financiamento americano e polaco) de David Lynch, depois de "Mulholland Drive", e a prova de que a excepção cultural francesa é actualmente o abono de família de algum do melhor cinema de autor que se vai fazendo nos EUA, em contraponto com o deserto criativo que a "mão invisível" de Hollywood inflinge ao cinema americano.
Quando Lynch iniciou as filmagens de "Inland Empire", o guião do filme estava em grande parte por definir e isso é perceptível ao longo do filme. A trama segue as angústias de Nikki Grace - a woman in trouble tal como a define o subtítulo - recuperando alguns dos temas centrais de Mulholland Drive como o fascínio destrutivo que exerce a indústria cinematográfica e os sacrifícios e as angústias que os aspirantes a actores estão dispostos a tolerar para conseguir um lugar ao sol. Inland Empire é a zona de Los Angeles onde residem os actores que ainda não são suficientemente ricos ou famosos para morar em Bevery Hills. Inland Empire é pois o limbo entre o anonimato e o estrelato em Hollywood. Grace (Laura Dern) tem como parceiro de primeiro filme Devon Derk. Após a rodagem de algumas cenas, Grace inicia um relacionamento amoroso extraconjugal com Derk. A partir desse momento o personagem Derk desaparece do filme e iniciamos uma viagem intensa através dos mini-universos interiores de uma Grace que entra num processo de culpabilização doloroso. Em cada mudança de cena Grace salta para uma nova caixa simbólica, um novo mini-universo, que se confunde com a realidade. De tal modo é baralhada a realidade com o imaginário de Grace que a relação com Derk parece uma sofisticada construção justificativa para o dilema de Grace: "ser puta ou não ser puta". A ideia é repetida várias vezes ao longo do filme através da representação de um grupo de mulheres de comportamento suspeito que interpelam Grace de uma forma sugestiva.
Mais do que tentar descodificar aqui o significado complexo de cada um dos elementos simbólicos que compõem a trama deste Inland Empire, convido vivamente o leitor a ver esta nova obra de David Lynch. O filme de Lynch vale mais pela originalidade e pela ousadia experimental do que pela estética e pelo tema abordado. Este Inland Empire é um filme que deve ser visto e revisto, no entanto as cerca de três horas de filme e uma estética por vezes pouco cuidada na transposição entre algumas cenas mais experimentais são pouco convidativas a revisionamentos integrais desta interessante obra cinematográfica.
Vive la France!
"Inland Empire" é o segundo filme francês (com algum financiamento americano e polaco) de David Lynch, depois de "Mulholland Drive", e a prova de que a excepção cultural francesa é actualmente o abono de família de algum do melhor cinema de autor que se vai fazendo nos EUA, em contraponto com o deserto criativo que a "mão invisível" de Hollywood inflinge ao cinema americano.
segunda-feira, abril 02, 2007
Bússola para Inland Empire: Žižek
Žižek recorre frequentemente à obra de David Lynch para ilustrar as suas reflexões sobre o real e o imaginário. Na filmografia de Lynch ambos os aspectos se fundem em filmes como "Lost Highway" ou "Mulholland Drive", tal como se fundem nos nossos cérebros. O problema é que não estamos habituados a ver a representação dessa fusão fora do nosso mundo interior, especialmente numa tela cinematográfica. A obra intitulada "The Art of the Ridiculous Sublime: On David Lynch's Lost Highway" de Žižek poderá ser uma boa bússola para orientar o espectador ao longo das quase três horas do novíssimo filme de David Lynch, "Inland Empire".
Parabéns Ticha
Mais um título para a Ticha Penicheiro (segunda a contar da direita), desta vez foi o Campeonato Europeu de Clubes, pelo Spartak de Moscovo. Continua a deslumbrar-me a carreira daquela menina que em tempos acompanhava o pai, meu treinador de iniciados, aos treinos e aos jogos e andava lá pelos cantos do pavilhão a driblar a bola e a resmungar sozinha.
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