Desta vez as farmácias não vão distribuir nem vender óculos para o eclipse. Uma das oportunidades para adquirir óculos para o eclipse é comprar a Visão desta semana. Uma alternativa válida aos óculos são os vidros para óculos de soldador nº 14 que se vendem na maior parte das lojas de ferragens. Os negativos, as radiografias, o vidro fumado, etc. são perigosos.
Durante o eclipse total de 11 de Agosto de 1999, Place Kléber, Estrasburgo, França
sexta-feira, setembro 30, 2005
quinta-feira, setembro 29, 2005
Modelos Climáticos e Quioto (comentários)
"Os modelos climaticos tem como base equacoes fisicas e de dinamica de fluidos que tem um grau de certeza elevado. Assim, como o da maca a desprender-se da arvore cair na tola do Newton. Ha empirismos, porque ha problemas de escala: ha fenomenos com uma escala inferior a menor escala de resolucao do modelo. Mas isto e testado ate a exaustao (...) No IPCC as maiores incertezas nao sao os resultados dos modelos climaticos, mas as variaveis dependentes do homem: qual sera o aumento populacional? A que nivel de vida aspirarao? Que novos recursos energeticos serao utilizados? Que novos metodos de mitigacao (conseguiremos encapsular CO2 no subsolo? p. ex.) Que tipo de presidente estara a governar os paises mais poluidores?"
Gabriela
"O que eu acho muito engracado nesta discussao toda e quando se avanca com o argumento de que assinar Quioto e irrelevante porque o acordo e insuficiente para resolver o problema se esquecem dos motivos pelos quais o protocolo e tao timido.
Os EUA na altura liderados pelo Clinton tambem estavam nas negociacoes, bem como nacoes em desenvolvimento como China e India. A China e India exigiram defender o seu direito a poluir porque eram pobres e os Eua exigiram dilatar prazos de cumprimento E (muito importante) deixar de fora do tratado as emissoes resultantes do transporte aereo (12.5% do total mundial de emissoes humanas se nao estou em erro), isto foram exigencias para que os respectivos negociadores considerassem a assinatura do dito protocolo!"
Lowlander
Gabriela
"O que eu acho muito engracado nesta discussao toda e quando se avanca com o argumento de que assinar Quioto e irrelevante porque o acordo e insuficiente para resolver o problema se esquecem dos motivos pelos quais o protocolo e tao timido.
Os EUA na altura liderados pelo Clinton tambem estavam nas negociacoes, bem como nacoes em desenvolvimento como China e India. A China e India exigiram defender o seu direito a poluir porque eram pobres e os Eua exigiram dilatar prazos de cumprimento E (muito importante) deixar de fora do tratado as emissoes resultantes do transporte aereo (12.5% do total mundial de emissoes humanas se nao estou em erro), isto foram exigencias para que os respectivos negociadores considerassem a assinatura do dito protocolo!"
Lowlander
quarta-feira, setembro 28, 2005
Comunas ou fachos, eles andem aí!
A primeira vez que vi "Invasion of the Body Snatchers" devia ter uns 12 anos. Lembro-me que era uma noite de chuva e estava sozinho na sala, enroscado numa manta no sofá. Adorei aquele estilo de ficção científica com doses bem ponderadas de suspense (vulgo terror), que intimidam o espectador, sem os clichés dos entediantes filmes de "terror", na altura já não tinha pachorra para as moto-serras, os personagens góticos a escorrer sangue ou os dráculas de voz rouca a falar inglês. Fruto talvez desse clima excepcional em que assisti ao filme, "Invasion of the Body Snatchers" bateu que nem dose cavalar e é até hoje um dos meus filmes fetiche. Outro coisa que adoro no filme são aqueles efeitos especiais rudimentares dos anos 70, uma delícia.
Curiosamente este "Invasion of the Body Snatchers" de 1978 é uma versão mais recente de um outro "Invasion of the Body Snatchers" de 1956. Mas o que é ainda mais curioso é que apesar de ambos os filmes possuírem um enredo semelhante, a conotação política de cada um deles é perfeitamente antagónica. Se na película de 1956 os invasores são conotados com um invasor vermelho (portanto comunas) e a acção decorre à volta de Los Angeles, já na versão de 1978 a opressão dos invasores é associada ao fim das liberdades, a um estado para-militar e ao pensamento único, desenrolando-se a trama numa cidade bem simbólica: São Francisco.
É quase inacreditável como a mesma história sirva campos políticos tão opostos, mas os dois filmes são uma prova de como essa proeza é possível.
terça-feira, setembro 27, 2005
Aquecimento Global: seguimos para Bingo!
Em entrada anterior, em Agosto, já tinha referido que as temperaturas médias mensais do planeta deste 2005 indicam que provavelmente este ano entrará directamente para o top dos 4 anos mais quentes de sempre. Saiu agora o valor para o mês de Agosto de 2005: foi "só" o 3º Agosto mais quente desde que se mede a temperatura da superfície do planeta, desde 1880. Vamos bem...
segunda-feira, setembro 26, 2005
Dica de acção inteligente para Cavaco e Soares
Uma coisa inteligente que tanto Cavaco como Soares poderiam fazer pelo país - em vez da entediante campanha presidencial centrada no passado que se antevê (espero estar enganado) - seria uma ida a Felgueiras, a Gondomar, a Oeiras e a Amarante, para lançar apelos à lucidez política. É absolutamente chocante e desprestigiante para o nosso país a onda de populismo rasca que assola estas quatro concelhias. O pior é que perante o calibre de caciques bastante violentos como Fátima Felgueiras ou como Valentim Loureiro, os nossos políticos temem a confrontação política. Temem o atoleiro. É verdade, sabemos que há esse risco, mas se os combatermos só de cima, apenas confiando na nossa superioridade moral, corremos um risco ainda maior, o risco de lhes oferecer a vitória de mão beijada. Recordo que recentemente dois grandes populistas foram derrotados nas urnas: Santana Lopes e Vale e Azevedo (este num terreno muito mais propício ao populismo, o do futebol). E foram derrotados porque houve quem se expôs, quem não temeu o lamaçal do populismo. Santana Lopes foi duramente criticado pelos seus pares Pacheco Pereira e Leonor Beleza, e foram estes que tiveram o mérito de desencadear uma onda de descredibilização de Santana que a par do desastre governativo, apagaram para sempre a aura messiânica de Santana perante os eleitores. Vilarinho fez o mesmo perante um adversário muito mais feroz, como era Vale e Azevedo, e só a sua persistência trouxe Eusébio para o seu campo o que conduziu ao afastamento definitivo do mais populista dos presidentes do Benfica.
Soares e Cavaco poderiam prestar o mesmo serviço ao país, eles têm o poder de serem vozes de peso, sempre ouvidas pelos mais simples e pelos mais susceptíveis ao populismo. Esse seria um excelente serviço à nação que até poderia ser acompanhado pelos restantes partidos, criando um abrangente movimento democrático contra o populismo rasca.
Ler: "Santos da casa fazem milagres" da Joana Amaral Dias no DN
Soares e Cavaco poderiam prestar o mesmo serviço ao país, eles têm o poder de serem vozes de peso, sempre ouvidas pelos mais simples e pelos mais susceptíveis ao populismo. Esse seria um excelente serviço à nação que até poderia ser acompanhado pelos restantes partidos, criando um abrangente movimento democrático contra o populismo rasca.
Ler: "Santos da casa fazem milagres" da Joana Amaral Dias no DN
sexta-feira, setembro 23, 2005
O Vaticano...
O Vaticano continua em forma, as velhas artimanhas nunca se esquecem.
Ler: "Um papão que virou papinha" na Linha dos Nodos
Ler: "Um papão que virou papinha" na Linha dos Nodos
Campeã!
Perante a indiferença quase generalizada dos nossos meios de comunicação, a Ticha (à esquerda da taça, sítio Monarchs) conquistou o título máximo a que pode aspirar uma basquetebolista portuguesa: campeã da WNBA. A sua equipa, os Monarchs, bateu na final os Sun por 62-59.
Fica um belo exemplo de trabalho sério e árduo da Ticha, do seu pai João Penicheiro (referido em entrada anterior) e de alguns anónimos treinadores portugueses que recolhem os frutos de sacrifícios de anos. Tenho a certeza que há muita gente na Figueira da Foz muito orgulhosa, principalmente o pessoal que jogava nas traseiras das Abadias, mas também gente do Ginásio Figueirense e da Naval.
Fica um belo exemplo de trabalho sério e árduo da Ticha, do seu pai João Penicheiro (referido em entrada anterior) e de alguns anónimos treinadores portugueses que recolhem os frutos de sacrifícios de anos. Tenho a certeza que há muita gente na Figueira da Foz muito orgulhosa, principalmente o pessoal que jogava nas traseiras das Abadias, mas também gente do Ginásio Figueirense e da Naval.
Equações da minha vida: Bethe-Bloch (act.)
A equação de Bethe-Bloch é uma das equações da minha vida, pois foi graças a ela que me iniciei verdadeiramente na instrumentação nuclear. A minha primeira experiência a sério de física nuclear foi determinar o alcance das partículas alfa no ar. É uma experiência bastante simples. Basta colocar uma fonte radioactiva que emita partículas alfa à frente um detector (no meu caso foi um detector de silício) e ir registando a intensidade das partículas alfa que chegam ao detector à medida que o vamos afastando da fonte radioactiva, até o detector deixar de dar sinais e só dar ruído. A fórmula de Bethe-Bloch dá a taxa de energia perdida (E) pela partículas carregadas (alfa) em função da distância (x) que percorrem num determinado meio (neste caso o ar). Ao contrário da prática científica não vou aqui explicar todos os outros símbolos, mas deixo uma ligação para os interessados e corajosos.
Os autores da equação são o alsaciano Hans Bethe, Prémio Nobel da Física em 1967, e o suíço Felix Bloch, Prémio Nobel da Física em 1952.
quinta-feira, setembro 22, 2005
Eleições alemãs: uma equação para Einstein
É deliciosa esta capa do Die Tageszeitung (22 de Setembro de 2005). Face à crise alemã para formar governo, o jornal propõe o génio de Einstein para resolver a difícil equação que resultou das últimas eleições.
terça-feira, setembro 20, 2005
Prémio Nobel para o João Miranda!
Num documento assinado pelas principais academias das ciências do mundo (EUA, Rússia, Japão, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Brasil, Índia, China) aquando do último G8 podemos ler:
"There will always be uncertainty in understanding a system as complex as the world’s climate. However there is now strong evidence that significant global warming is occurring. (...) The scientific understanding of climate change is now sufficiently clear to justify nations taking prompt action."
No entanto, João Miranda do Blasfémias afirma:
"O que há neste momento são hipóteses e teorias, baseadas quer em relações estatísticas pouco significativas."
A distância que vai da "strong evidence" às relações "estatísticas pouco significativas por falta de eventos, quer em modelos computacionais pouco fiáveis por falta de validação" corresponde quase a um prémio Nobel.
Mas João Miranda insiste nesta entrada:
"a qualidade dos modelos [que descrevem o clima terrestre] não está garantida porque eles não se baseiam em princípios básicos da física consensuais mas em teorias simplificadas baseadas em dados empíricos"
Daqui podemos extrair duas conclusões: 1) As 11 academias erram quando declaram que "understanding of climate change is now sufficiently clear"; 2) As maçãs não caem das árvores porque não existe consenso sobre as ondas gravitacionais e algumas "teorias" sobre a gravitação são simplificadas e baseadas em dados empíricos.
Se o João Miranda tiver razão na sua Teoria Liberal do Aquecimento Global (quase tão brilhante como a Teoria Sociológica dos Electrões do Prof. Boaventura) merece o Prémio Nobel de caretas!
Já agora
Para ajudar o João Miranda a actualizar a sua biblioteca de gráficos, aqui vai o gráfico que serve de referência à NASA e ao IPPC que sugere uma variação da temperatura do planeta que vai de 1,4 a 5,8°C em 2100. O que mostra o "rigor" da curva do business-as-usual e da curva de Kyoto.
Respondendo ao João: quando Blair refere o seu "disagreement over Kyoto" com os EUA será que é porque considera que o Protocolo não serve para nada? Está-se mesmo a ver... Aliás muitos dos "proponentes" acham que se deveria ir mais longe do que Quioto, tanto que se fala já em Quioto II. O problema é que Bush prefere ficar pelo Quioto Zero.
"There will always be uncertainty in understanding a system as complex as the world’s climate. However there is now strong evidence that significant global warming is occurring. (...) The scientific understanding of climate change is now sufficiently clear to justify nations taking prompt action."
No entanto, João Miranda do Blasfémias afirma:
"O que há neste momento são hipóteses e teorias, baseadas quer em relações estatísticas pouco significativas."
A distância que vai da "strong evidence" às relações "estatísticas pouco significativas por falta de eventos, quer em modelos computacionais pouco fiáveis por falta de validação" corresponde quase a um prémio Nobel.
Mas João Miranda insiste nesta entrada:
"a qualidade dos modelos [que descrevem o clima terrestre] não está garantida porque eles não se baseiam em princípios básicos da física consensuais mas em teorias simplificadas baseadas em dados empíricos"
Daqui podemos extrair duas conclusões: 1) As 11 academias erram quando declaram que "understanding of climate change is now sufficiently clear"; 2) As maçãs não caem das árvores porque não existe consenso sobre as ondas gravitacionais e algumas "teorias" sobre a gravitação são simplificadas e baseadas em dados empíricos.
Se o João Miranda tiver razão na sua Teoria Liberal do Aquecimento Global (quase tão brilhante como a Teoria Sociológica dos Electrões do Prof. Boaventura) merece o Prémio Nobel de caretas!
Já agora
Para ajudar o João Miranda a actualizar a sua biblioteca de gráficos, aqui vai o gráfico que serve de referência à NASA e ao IPPC que sugere uma variação da temperatura do planeta que vai de 1,4 a 5,8°C em 2100. O que mostra o "rigor" da curva do business-as-usual e da curva de Kyoto.
Respondendo ao João: quando Blair refere o seu "disagreement over Kyoto" com os EUA será que é porque considera que o Protocolo não serve para nada? Está-se mesmo a ver... Aliás muitos dos "proponentes" acham que se deveria ir mais longe do que Quioto, tanto que se fala já em Quioto II. O problema é que Bush prefere ficar pelo Quioto Zero.
segunda-feira, setembro 19, 2005
Continua a asneirada anti-Quioto
Os últimos tempos têm sido duros para os defensores das formas mais radicais de liberalismo económico (mas é liberalismo só na economia, na vida privada é mais o "liberalismo" da Opus Dei). Pois é, os podres que o Katrina deixou à vista são difíceis de justificar. Por exemplo, só alguma angústia explica a invocação do tetra-desmentido Bjørn Lomborg, mais conhecido por Ecologista Céptico, para justificar as asneiras da ideologia neo-liberal que andam a tornar o mundo mais perigoso. Lomborg que foi desacreditado e desmentido pela Danish Ecological Association, pela Scientific American e pelos maiores especialistas mundiais de climatologia numa série de artigos publicados nas revistas Nature e Science, continua a ser recomendado pelo João Miranda como se fosse alguém com alguma credibilidade para se pronunciar sobre o Protocolo de Quioto. A asneirada no Blasfémias (que é um bom blogue) continuou numa série de entradas onde se pode ler esta pérola de João Miranda:
"até os proponentes do Protocolo de Quioto reconhecem que ele tem um efeito mínimo no clima e de qualquer das formas, muitos dos países que o assinaram, não o estão a cumprir. Este comentário do ministro alemão, para além de demonstrar o habitual anti-americanismo de muitos europeus, demonstra também a falta de seriedade dos proponentes do protocolo de Quioto"
O Protocolo de Quioto é um documento que vincula Estados, e não "proponentes", a uma série de acções. Os Estados de países democráticos mudam regularmente de governo e por isso mudam os "proponentes", mas o Protocolo é sempre válido para os Estados. Quer se considere Estados ou "proponentes" é falso que os seus signatários considerem que o Protocolo de Quioto tem um efeito mínimo no clima. Basta ler os documentos que foram publicados durante o último G8 na Escócia, nomeadamente esta crítica bem ilustrativa de Blair (deve ser anti-americano...) aos EUA:
"We were never going to be able at this G8 to resolve the disagreement over Kyoto, nor to renegotiate a set of targets for countries in place of the Kyoto Protocol, that was never going to happen and I have to be very blunt with you about that. But I tell you my fear on climate change, which is why I put this on the G8 agenda. If it is impossible to bring America into the consensus on tackling the issue of climate change, we will never ensure that the huge emerging economies, particularly those of China and India, who are going to consume more energy than any other part of the world, we will never ensure that they are part of a dialogue, and if we cannot have America as part of the dialogue on climate change, and we can't have India and China as part of the dialogue, there is no possibility of us succeeding in resolving this issue."
Portugal, de facto, é um dos países que não cumpre o Protocolo. As entradas do João Miranda são bem ilustrativas das razões que levam ao não cumprimento do Protocolo: em Portugal a ciência não é levada a sério. Isso percebe-se logo na mesma entrada onde lemos:
"Sempre existiram furacões como o Katrina, não está demonstrada nenhuma relação entre furacões e aquecimento global"
Não há rigor quando se afirma "nenhuma". Esta entrada do David Luz na Linha dos Nodos cita três artigos (um na Nature e dois no Journal of Climate) relativos a trabalhos científicos de peso que relacionam os furacões com o aquecimento global.
Ler também: "Blasfémias: Primeira e última" no Quinta do Sargaçal
"até os proponentes do Protocolo de Quioto reconhecem que ele tem um efeito mínimo no clima e de qualquer das formas, muitos dos países que o assinaram, não o estão a cumprir. Este comentário do ministro alemão, para além de demonstrar o habitual anti-americanismo de muitos europeus, demonstra também a falta de seriedade dos proponentes do protocolo de Quioto"
O Protocolo de Quioto é um documento que vincula Estados, e não "proponentes", a uma série de acções. Os Estados de países democráticos mudam regularmente de governo e por isso mudam os "proponentes", mas o Protocolo é sempre válido para os Estados. Quer se considere Estados ou "proponentes" é falso que os seus signatários considerem que o Protocolo de Quioto tem um efeito mínimo no clima. Basta ler os documentos que foram publicados durante o último G8 na Escócia, nomeadamente esta crítica bem ilustrativa de Blair (deve ser anti-americano...) aos EUA:
"We were never going to be able at this G8 to resolve the disagreement over Kyoto, nor to renegotiate a set of targets for countries in place of the Kyoto Protocol, that was never going to happen and I have to be very blunt with you about that. But I tell you my fear on climate change, which is why I put this on the G8 agenda. If it is impossible to bring America into the consensus on tackling the issue of climate change, we will never ensure that the huge emerging economies, particularly those of China and India, who are going to consume more energy than any other part of the world, we will never ensure that they are part of a dialogue, and if we cannot have America as part of the dialogue on climate change, and we can't have India and China as part of the dialogue, there is no possibility of us succeeding in resolving this issue."
Portugal, de facto, é um dos países que não cumpre o Protocolo. As entradas do João Miranda são bem ilustrativas das razões que levam ao não cumprimento do Protocolo: em Portugal a ciência não é levada a sério. Isso percebe-se logo na mesma entrada onde lemos:
"Sempre existiram furacões como o Katrina, não está demonstrada nenhuma relação entre furacões e aquecimento global"
Não há rigor quando se afirma "nenhuma". Esta entrada do David Luz na Linha dos Nodos cita três artigos (um na Nature e dois no Journal of Climate) relativos a trabalhos científicos de peso que relacionam os furacões com o aquecimento global.
Ler também: "Blasfémias: Primeira e última" no Quinta do Sargaçal
domingo, setembro 18, 2005
Land of Plenty
O fascínio do realizador alemão Wim Wenders pela América é tal que este escolheu os EUA para viver e para trabalhar. Porém esse seu amor pela América não o impede de criticar o país onde escolheu viver. Wim Wenders tinha afirmado sobre as recentes obras de Michael Moore que este estava a realizar um bom trabalho ao denunciar a deriva do país para uma ideologia conservadora associada a um liberalismo económico radical. Mas Wenders não se ficou pelas palavras e à sua maneira juntou-se a Michael Moore na luta contra o apodrecimento social dos EUA, realizando "Land of Plenty".
"Land of Plenty" mostra de uma forma chocante como uma parte da América vive mergulhada numa paranóia securitária para protecção ilusória de uns quantos, esquecendo os mais de 40 milhões de americanos que não possuem qualquer protecção social ou acesso a saúde preventiva vivendo mais de metade destes numa completa exclusão social. Wenders conta-nos uma parábola sobre a América actual. A América dividida entre uma América multicultural, a América da aventureira Lana, que cultiva o prazer da descoberta da geografia terrestre, mas também da geografia interior, e uma outra América, a América esquizofrénica de Paul que deixa o medo dominar o quotidiano, essa América que olha para a cor da pele e para a origem do nome de família, utilizando a tecnologia, ironicamente uma das suas melhores contribuições para a humanidade.
O resultado do confronto entre estas duas américas será determinante para o futuro do planeta, daí a importância do filme. A importância de perceber até que ponto a América está doente e a capacidade que uma América mais fresca e mais aberta terá de impedir a deriva do país.
"Land of Plenty" mostra de uma forma chocante como uma parte da América vive mergulhada numa paranóia securitária para protecção ilusória de uns quantos, esquecendo os mais de 40 milhões de americanos que não possuem qualquer protecção social ou acesso a saúde preventiva vivendo mais de metade destes numa completa exclusão social. Wenders conta-nos uma parábola sobre a América actual. A América dividida entre uma América multicultural, a América da aventureira Lana, que cultiva o prazer da descoberta da geografia terrestre, mas também da geografia interior, e uma outra América, a América esquizofrénica de Paul que deixa o medo dominar o quotidiano, essa América que olha para a cor da pele e para a origem do nome de família, utilizando a tecnologia, ironicamente uma das suas melhores contribuições para a humanidade.
O resultado do confronto entre estas duas américas será determinante para o futuro do planeta, daí a importância do filme. A importância de perceber até que ponto a América está doente e a capacidade que uma América mais fresca e mais aberta terá de impedir a deriva do país.
sábado, setembro 17, 2005
Iraque: a utilização propagandística da Ilíada II
"(...) Todavia não concordo nada quando afirmas que a "Ilíada, apesar do seu interesse é claramente uma obra menor comparada com a Odisseia." É que quase todos os críticos literários (por ex. o Frederico Lourenço) consideram que a Íliada tem um papel mais importante na formação das epistemologias ocidentais que a Odisseia"
Francisco Curate (Daedalus)
Iraque: a utilização propagandística da Ilíada I
Francisco Curate (Daedalus)
Iraque: a utilização propagandística da Ilíada I
sexta-feira, setembro 16, 2005
Klepsýdra por um canudo
domingo, setembro 11, 2005
História de Massoud com amor
Passaram 4 anos desde o cobarde atentado que vitimou a 9 de Setembro de 2001 o Comandante Massoud da Aliança do Norte, a única força que se batia na altura contra o obscurantismo dos talibãs no Afeganistão. Em homenagem a este marcante combatente que admirava De Gaulle e que sonhava com um Afeganistão democrático - numa parte do mundo em que os radicalismos religiosos e ideológicos eram muito mais populares - foi lançado um livro que recolhe o testemunho da esposa de Massoud, Sediqa Massoud. O livro intitula-se "Pour l'amour de Massoud" e poderá fornecer mais pedacinhos de história interessantes sobre a Era Talibã no Afeganistão.
sexta-feira, setembro 09, 2005
Anti-americanismo: a desculpa do liberalismo radical
A ideologia do "Estado Mínimo" radical tem sempre uma desculpa na manga. Pelos vistos, todos os que têm criticado a administração Bush como Jeremy Rifkin, Richard Clarke, Bernard-Henri Levy, Wim Wenders, Hans Blix e até o born in the USA Bruce Springsteen são todos anti-americanos. O que dizer então dos "maniqueístas" e "panfletários" Michael Moore ou Morgan Spurlock?
Aqui fica então este interessante texto do "anti-americano" Jeremy Rifkin sobre o Katrina.
Aqui fica então este interessante texto do "anti-americano" Jeremy Rifkin sobre o Katrina.
Tempo de astronomia: eclipse e Venus Express
Até ao final do mês de Outubro a astronomia e a exploração espacial vão viver tempos de grandes acontecimentos. Dia 3 de Outubro ocorrerá um eclipse anelar cuja linha central do seu percurso passa no norte Portugal. Dia 26 de Outubro será lançada a sonda Europeia Venus Express (na imagem, sítio ESA) que terá como objectivo o estudo do planeta Vénus.
Em cima do acontecimento o NUCLIO organiza uma série de actividades e palestras. Eu darei também o meu contributo, dia 23 estarei no Instítuto Geográfico do Exército em Lisboa, a falar sobre os telescópios espaciais que nos ajudam a ver o Universo que é invisível aos nossos olhos. O NUCLIO organiza também uma viagem a Bragança para a observação do eclipse acompanhada de especialistas.
Em cima do acontecimento o NUCLIO organiza uma série de actividades e palestras. Eu darei também o meu contributo, dia 23 estarei no Instítuto Geográfico do Exército em Lisboa, a falar sobre os telescópios espaciais que nos ajudam a ver o Universo que é invisível aos nossos olhos. O NUCLIO organiza também uma viagem a Bragança para a observação do eclipse acompanhada de especialistas.
quinta-feira, setembro 08, 2005
Iraque: a utilização propagandística da Ilíada
A Ilíada tem sido indirectamente utilizada (felizmente sem sucesso) como elemento justificativo da intervenção no Iraque. A carga histórica de um épico milenar que descreve a guerra entre Gregos e Troianos serve como aparente exemplo de sabedoria igualmente milenar que justifica o presente. E se na Ilíada se fazia a guerra por caprichos dos nobres, então hoje pode justificar-se a guerra pelo petróleo à pala da democracia. Para além do mais o autor tem a virtude de ser absolutamente imparcial relativamente aos tempos que correm. No entanto, os fracos hábitos de leitura e o desinteresse dos portugueses por este tipo de obras inviabilizaram o sucesso desta estratégia. Nem a recente edição de uma nova tradução, nem a estreia do filme Tróia (que muitos ignoram a relação com a Ilíada) mudaram o desinteresse pela obra. Consciente ou não do facto, apenas esta entrada do Blasfémias do José Pedro Lopes Nunes aborda em parte a Ilíada pelo mesmo ângulo. Podemos ler:
"A guerra, no tempo de Homero, parece ter sido algo de particularmente importante, na perspectiva do autor, que lhe consagrou, em larga medida, a obra em análise. Passados bastantes anos, o que podemos concluir é que a guerra se mantém tema actual, pela sua continuada importância."
O meu domínio são as ciências, por isso abstenho-me da interpretação literária. No entanto, lembro que a importância de Homero se deve sobretudo à Odisseia, basta lembrar as obras importantes inspiradas no carácter desta obra: Eneida, Divina Comédia, Lusíadas, etc. A Ilíada, apesar do seu interesse é claramente uma obra menor comparada com a Odisseia.
Os meus reparos a esta visão neo-bélica da Ilíada são sobretudo de carácter científico, fazendo uso da excelente obra de Desmond Morris, "O Macaco Nu":
- A guerra, no sentido da eliminação física do adversário, é uma situação excepcional dentro da espécie humana, não é normal. O que não é sinónimo de afirmar que o ser humano é pacifista. Os humanos, como quase todas as outras espécies que tiveram sucesso, não têm por hábito matar membros da mesma espécie. Nas palavras do zoólogo Desmond Morris em caso de conflito: "Qualquer animal quer a derrota, não o assassínio" (pag. 184, Europa-América, ed. 1997). Ora, a Ilíada é a descrição de uma guerra em que a derrota não basta e onde o assassínio é enaltecido como forma última da honra individual. A importância da guerra deve-se apenas ao seu carácter excepcional. A derrota é muito mais importante e para se obter uma derrota a guerra não é condição necessária, nem suficiente.
- No conflito mais básico e mais primário entre membros da mesma espécie existem mecanismos "diplomáticos" gestuais e vocais de reconhecimento rápido do vencedor e do vencido, sem que o vencedor tenha necessidade de matar o vencido (cap. V - "A agressão", idem). A guerra "aconteceu por causa da associação viciosa do ataque à distância (...) os indivíduos deixaram de ver o objectivo inicial. Actualmente, quase não há possibilidade de reagir perante o [mecanismo diplomático de] apaziguamento directo" (pag. 185, idem). A guerra que descreve a Ilíada nada tem a ver com a guerra dos tempos modernos, em que o contacto entre agressor e agredido em grande parte dos casos é nulo. O agressor não assiste ao sofrimento, nem ao sangue, nem à morte do adversário.
Por estas razões, é um exercício fraco e perigoso invocar a Ilíada para justificar parcialmente as guerras actuais, como temos lido em recentes artigos de conhecidos cronistas. Desmond Morris vai mais longe em relação à perigosidade da guerra: "Esta infeliz evolução pode acabar por ser a nossa ruína e conduzir à rápida extinção da nossa espécie" (pag. 185, idem).
Numa visão mais actual sobre os temas da perigosidade da guerra e da "extinção da espécie" chamo a atenção dos meus caros leitores para o artigo "Apocalypse Soon" pelo perito de armas nucleares Robert McNamara na revista Foreign Policy de Maio e Junho de 2005. McNamara explica preto no branco porque é que estamos actualmente a brincar com o fogo ao guardar um arsenal nuclear projectado para a Guerra Fria num tempo em que o mundo é mais complexo e em que houve uma redistribuição aliados e inimigos.
"A guerra, no tempo de Homero, parece ter sido algo de particularmente importante, na perspectiva do autor, que lhe consagrou, em larga medida, a obra em análise. Passados bastantes anos, o que podemos concluir é que a guerra se mantém tema actual, pela sua continuada importância."
O meu domínio são as ciências, por isso abstenho-me da interpretação literária. No entanto, lembro que a importância de Homero se deve sobretudo à Odisseia, basta lembrar as obras importantes inspiradas no carácter desta obra: Eneida, Divina Comédia, Lusíadas, etc. A Ilíada, apesar do seu interesse é claramente uma obra menor comparada com a Odisseia.
Os meus reparos a esta visão neo-bélica da Ilíada são sobretudo de carácter científico, fazendo uso da excelente obra de Desmond Morris, "O Macaco Nu":
- A guerra, no sentido da eliminação física do adversário, é uma situação excepcional dentro da espécie humana, não é normal. O que não é sinónimo de afirmar que o ser humano é pacifista. Os humanos, como quase todas as outras espécies que tiveram sucesso, não têm por hábito matar membros da mesma espécie. Nas palavras do zoólogo Desmond Morris em caso de conflito: "Qualquer animal quer a derrota, não o assassínio" (pag. 184, Europa-América, ed. 1997). Ora, a Ilíada é a descrição de uma guerra em que a derrota não basta e onde o assassínio é enaltecido como forma última da honra individual. A importância da guerra deve-se apenas ao seu carácter excepcional. A derrota é muito mais importante e para se obter uma derrota a guerra não é condição necessária, nem suficiente.
- No conflito mais básico e mais primário entre membros da mesma espécie existem mecanismos "diplomáticos" gestuais e vocais de reconhecimento rápido do vencedor e do vencido, sem que o vencedor tenha necessidade de matar o vencido (cap. V - "A agressão", idem). A guerra "aconteceu por causa da associação viciosa do ataque à distância (...) os indivíduos deixaram de ver o objectivo inicial. Actualmente, quase não há possibilidade de reagir perante o [mecanismo diplomático de] apaziguamento directo" (pag. 185, idem). A guerra que descreve a Ilíada nada tem a ver com a guerra dos tempos modernos, em que o contacto entre agressor e agredido em grande parte dos casos é nulo. O agressor não assiste ao sofrimento, nem ao sangue, nem à morte do adversário.
Por estas razões, é um exercício fraco e perigoso invocar a Ilíada para justificar parcialmente as guerras actuais, como temos lido em recentes artigos de conhecidos cronistas. Desmond Morris vai mais longe em relação à perigosidade da guerra: "Esta infeliz evolução pode acabar por ser a nossa ruína e conduzir à rápida extinção da nossa espécie" (pag. 185, idem).
Numa visão mais actual sobre os temas da perigosidade da guerra e da "extinção da espécie" chamo a atenção dos meus caros leitores para o artigo "Apocalypse Soon" pelo perito de armas nucleares Robert McNamara na revista Foreign Policy de Maio e Junho de 2005. McNamara explica preto no branco porque é que estamos actualmente a brincar com o fogo ao guardar um arsenal nuclear projectado para a Guerra Fria num tempo em que o mundo é mais complexo e em que houve uma redistribuição aliados e inimigos.
terça-feira, setembro 06, 2005
Katrina: cerca de 20% sem segurança social
Cito o americano Jeremy Rifkin:
"Sadly, the U.S. and South Africa are the only two developed countries in the world that do not provide health care for all their citizens. More than 46 million people in America are currently uninsured and unable to pay for their own health care (...) because so many millions of Americans are uninsured, they cannot afford preventive care..."
"The European Dream", Jeremy Rifkin, Polity, 2004, pag. 80.
46 Milhões de americanos sem qualquer tipo de segurança social e assistência médica corresponde a mais de 20% da população. Imaginem agora cerca de 20% da população de Nova Orleães sem qualquer cobertura social depois do que se passou. Para além da ajuda de emergência que já começaram a receber grande parte dessas pessoas necessitará de cuidados médicos durante um longo período, isto para além de um tecto, comida, etc. Estão a ver o filme não estão? Em Nova Iorque, desde o 11 de Setembro muitas vítimas e corporações de bombeiros nunca chegaram a receber qualquer ajuda posterior à catástrofe.
Ler: "O falhanço do Estado Mínimo" no Causa Nossa
"Sadly, the U.S. and South Africa are the only two developed countries in the world that do not provide health care for all their citizens. More than 46 million people in America are currently uninsured and unable to pay for their own health care (...) because so many millions of Americans are uninsured, they cannot afford preventive care..."
"The European Dream", Jeremy Rifkin, Polity, 2004, pag. 80.
46 Milhões de americanos sem qualquer tipo de segurança social e assistência médica corresponde a mais de 20% da população. Imaginem agora cerca de 20% da população de Nova Orleães sem qualquer cobertura social depois do que se passou. Para além da ajuda de emergência que já começaram a receber grande parte dessas pessoas necessitará de cuidados médicos durante um longo período, isto para além de um tecto, comida, etc. Estão a ver o filme não estão? Em Nova Iorque, desde o 11 de Setembro muitas vítimas e corporações de bombeiros nunca chegaram a receber qualquer ajuda posterior à catástrofe.
Ler: "O falhanço do Estado Mínimo" no Causa Nossa
segunda-feira, setembro 05, 2005
Svadba
"Svadba" (A Boda) de Pavel Lungin narra os preparativos e a boda de um jovem casal russo. A Boda decorre numa pequena cidade mineira nos arredores de Moscovo onde é visível alguma depressão social causada pelas dificuldes económicas e a falta de adaptação ao sistema emergente do fim da União Soviética. O filme mostra o que de melhor e de pior o russo médio é capaz para ultrapassar a depressão. Por um lado estão sempre prontos para farras de uma alegria contagiante - muitas vezes no limite da degeneração e por vezes bem regadas com vodka - que vão fazendo esquecer as mazelas da vida. Por outro lado a dureza da nova sociedade regida pelos rublos e pelas máfias misturada com os resquícios de autoritarismo do passado são os ingredientes do fel que invade a boda.
"Svadba" é um filme deliciosamente frenético, bem disposto e inteligente, a fazer lembrar o estilo Kusturica.
"Svadba" é um filme deliciosamente frenético, bem disposto e inteligente, a fazer lembrar o estilo Kusturica.
domingo, setembro 04, 2005
Notas do México: souvenires do Sub-Comandante
Umas das impressões positivas do meu périplo pelo México, é a forma saudável (dentro do possível) com que o governo mexicano gere a crise dos Zapatistas de Chiapas. É certo que comparados com os restantes grupos rebeldes da América Latina, os Zapatistas são um grupo altamente moderado, mas tanto quanto pude perceber a actuação pública do governo mexicano tem uma resposta igualmente moderada, o que é raro no continente americano. O governo mexicano limita-se a colocar check-points ligeiros em pontos estratégicos para evitar o trânsito de armas para o interior do Estado de Chiapas. Em Chiapas a presença militar é bastante reduzida e discreta para evitar fricções e reacções alérgicas. A fórmula parece resultar. Os Zapatistas continuam activos em Chiapas, mas sem criar grandes crispações e até agora não existiram derrames de sangue inúteis a lamentar. É a antítese da política Aznar.
Quando cheguei a Chiapas foi com agradável espanto que descobri o humor político mexicano e a boa capacidade de encaixe das autoridades. O boneco da fotografia é um dos inúmeros souvenires do Sub-comandante Marcos que se vendem com a maior liberdade por todo Chiapas e estados vizinhos. Há de tudo: porta-chaves, esferográficas, miniaturas, postais, t-shirts, etc.
Quando cheguei a Chiapas foi com agradável espanto que descobri o humor político mexicano e a boa capacidade de encaixe das autoridades. O boneco da fotografia é um dos inúmeros souvenires do Sub-comandante Marcos que se vendem com a maior liberdade por todo Chiapas e estados vizinhos. Há de tudo: porta-chaves, esferográficas, miniaturas, postais, t-shirts, etc.
sábado, setembro 03, 2005
Michael Moore tinha paletes de razão
Sobre os estragos causados pelo Katrina e a rapidez dos socorros não tenho reparos especiais a fazer, não sei se era possível fazer mais ou mais rápido. Catástrofes naturais destas dimensões não são propriamente previsíveis, nem ensaiáveis pela protecção civil. No entanto, há algo de tenebroso que ficou bem patente depois desta catástrofe. É a América das armas e dos grupos de civis armados, a América de "Bowling for Columbine" de Michael Moore. Muitas vezes acusado de ser maniqueísta e panfletário, Michael Moore tem o grande mérito de ter sido o primeiro a chamar a atenção de uma forma bem visível para o problema da posse de armas de fogo nos EUA. É por isso que o Oscar atribuído a Moore foi bem merecido.
Os grupos armados que aterrorizam Nova Orleães são uma aberração social difícil de encontrar em cenários de catástrofe semelhantes no resto do mundo. É um fenómeno só explicável pela mistura explosiva que Moore denuncia no seu filme: fácil acesso a armas, exclusão social fomentada por políticas económicas liberais radicais e moralismo ideológico inspirado no cowboy armado que estendia a fronteira para Oeste (quando a Oeste já só há o Oceano Pacífico).
Há três anos atrás, depois da vaga de inundações na Europa Central, alguém se lembra de haver acontecimentos violentos semelhantes? Ou mesmo depois do tsunami na Ásia, lembram-se de haver violência armada da parte de milícias civis? Neste caso até existiu uma onda de solidariedade entre guerrilhas militares e governos que resultaram num processo de paz na região de Aceh na Indonésia e num cessar-fogo no Sri Lanka.
A culpa é da RTP
Já se sabe, no Abrupto a culpa é da RTP. Ali podemos ler que o noticiário das 13.00 tudo fez "para transformar o que aconteceu em Nova Orleães num panfleto contra a guerra do Iraque". Eu vi o Jornal das 13. O trabalho dos jornalistas não me pareceu muito diferente do realizado aquando de outras catástrofes, muito adjectivo e falta de objectividade. Vi a CNN. Embora mais profissional, os adjectivos eram mais fortes. Além do mais passam em contínuo as declarações inflamadas do Mayor de Nova Orleães. Comentam e corroboram as suas declarações com adjectivos. Compara-se em contínuo com a eficiência da intervenção no Iraque...
Quando o Reino Unido inviabilizou a Orçamento da União Europeia, o Abrupto acusou os jornais portugueses. Quando algo corria mal na invasão do Iraque a culpa era de Carlos Fino. Já percebemos a lógica: quando algo não corre bem ao campo dos EUA e respectivos aliados, a notícia é sempre sectária.
Ler também: "Sectarismo" no Causa Nossa
Os grupos armados que aterrorizam Nova Orleães são uma aberração social difícil de encontrar em cenários de catástrofe semelhantes no resto do mundo. É um fenómeno só explicável pela mistura explosiva que Moore denuncia no seu filme: fácil acesso a armas, exclusão social fomentada por políticas económicas liberais radicais e moralismo ideológico inspirado no cowboy armado que estendia a fronteira para Oeste (quando a Oeste já só há o Oceano Pacífico).
Há três anos atrás, depois da vaga de inundações na Europa Central, alguém se lembra de haver acontecimentos violentos semelhantes? Ou mesmo depois do tsunami na Ásia, lembram-se de haver violência armada da parte de milícias civis? Neste caso até existiu uma onda de solidariedade entre guerrilhas militares e governos que resultaram num processo de paz na região de Aceh na Indonésia e num cessar-fogo no Sri Lanka.
A culpa é da RTP
Já se sabe, no Abrupto a culpa é da RTP. Ali podemos ler que o noticiário das 13.00 tudo fez "para transformar o que aconteceu em Nova Orleães num panfleto contra a guerra do Iraque". Eu vi o Jornal das 13. O trabalho dos jornalistas não me pareceu muito diferente do realizado aquando de outras catástrofes, muito adjectivo e falta de objectividade. Vi a CNN. Embora mais profissional, os adjectivos eram mais fortes. Além do mais passam em contínuo as declarações inflamadas do Mayor de Nova Orleães. Comentam e corroboram as suas declarações com adjectivos. Compara-se em contínuo com a eficiência da intervenção no Iraque...
Quando o Reino Unido inviabilizou a Orçamento da União Europeia, o Abrupto acusou os jornais portugueses. Quando algo corria mal na invasão do Iraque a culpa era de Carlos Fino. Já percebemos a lógica: quando algo não corre bem ao campo dos EUA e respectivos aliados, a notícia é sempre sectária.
Ler também: "Sectarismo" no Causa Nossa
Sapatos sobre a ponte
Milhares de sapatos sobre a ponte de Aimma em Bagdade.
Sapato vem do árabe familiar: sabbat.
Deram-nos os sapatos. Agora estão descalços.
Sapato vem do árabe familiar: sabbat.
Deram-nos os sapatos. Agora estão descalços.
sexta-feira, setembro 02, 2005
Matemática vista por um escritor
Descobri em "Pourquoi le Brésil?" de Christine Angot, o delicioso livro que me serviu de banda sonora nas praias e nas águas do Caribe, uma definição rara e bela da matemática feita por alguém do mundo literário. Trata-se do escritor Pierre Angot, o pai de Christine, que numa remota carta dirigida à sua filha lhe explicava o seguinte:
"Les maths sont beaucoup moins difficiles qu'elles n'en ont l'air. Voici pourquoi. En realité, les mathématiques ne sont qu'un langage parmi beaucoup d'autres. Il suffit donc d'apprendre le vocabulaire des mathématiques pour les comprendre. Si tu es bonne en allemand, tu dois aussi réussir en maths, parce que c'est aussi une façon d'exprimer la réalité. Simplement, les maths visent une seule chose: la rapidité d'expression, alors que le français ou l'allemand recherchent aussi l'élégance, le pittoresque, etc. Il suffit donc de bien connaître le sens des signes pour découvrir une realité qu'on aurait aussi pu découvrir par tâtonnements, mais beaucoup plus lentement."
A definição é elegante e sobretudo demonstra um total respeito por uma disciplina que frequentemente é mal amada ou desprezada no mundo literário. Em particular no nosso país há muito desprezo pela matemática. Desvaloriza-se muito a importância das estatísticas, do rigor das contas, das classificações (rankings), etc.
Ler reflexão sobre assunto relacionado no Conta Natura.
"Les maths sont beaucoup moins difficiles qu'elles n'en ont l'air. Voici pourquoi. En realité, les mathématiques ne sont qu'un langage parmi beaucoup d'autres. Il suffit donc d'apprendre le vocabulaire des mathématiques pour les comprendre. Si tu es bonne en allemand, tu dois aussi réussir en maths, parce que c'est aussi une façon d'exprimer la réalité. Simplement, les maths visent une seule chose: la rapidité d'expression, alors que le français ou l'allemand recherchent aussi l'élégance, le pittoresque, etc. Il suffit donc de bien connaître le sens des signes pour découvrir une realité qu'on aurait aussi pu découvrir par tâtonnements, mais beaucoup plus lentement."
A definição é elegante e sobretudo demonstra um total respeito por uma disciplina que frequentemente é mal amada ou desprezada no mundo literário. Em particular no nosso país há muito desprezo pela matemática. Desvaloriza-se muito a importância das estatísticas, do rigor das contas, das classificações (rankings), etc.
Ler reflexão sobre assunto relacionado no Conta Natura.
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