sábado, setembro 03, 2005

Michael Moore tinha paletes de razão

Sobre os estragos causados pelo Katrina e a rapidez dos socorros não tenho reparos especiais a fazer, não sei se era possível fazer mais ou mais rápido. Catástrofes naturais destas dimensões não são propriamente previsíveis, nem ensaiáveis pela protecção civil. No entanto, há algo de tenebroso que ficou bem patente depois desta catástrofe. É a América das armas e dos grupos de civis armados, a América de "Bowling for Columbine" de Michael Moore. Muitas vezes acusado de ser maniqueísta e panfletário, Michael Moore tem o grande mérito de ter sido o primeiro a chamar a atenção de uma forma bem visível para o problema da posse de armas de fogo nos EUA. É por isso que o Oscar atribuído a Moore foi bem merecido.
Os grupos armados que aterrorizam Nova Orleães são uma aberração social difícil de encontrar em cenários de catástrofe semelhantes no resto do mundo. É um fenómeno só explicável pela mistura explosiva que Moore denuncia no seu filme: fácil acesso a armas, exclusão social fomentada por políticas económicas liberais radicais e moralismo ideológico inspirado no cowboy armado que estendia a fronteira para Oeste (quando a Oeste já só há o Oceano Pacífico).
Há três anos atrás, depois da vaga de inundações na Europa Central, alguém se lembra de haver acontecimentos violentos semelhantes? Ou mesmo depois do tsunami na Ásia, lembram-se de haver violência armada da parte de milícias civis? Neste caso até existiu uma onda de solidariedade entre guerrilhas militares e governos que resultaram num processo de paz na região de Aceh na Indonésia e num cessar-fogo no Sri Lanka.

A culpa é da RTP
Já se sabe, no Abrupto a culpa é da RTP. Ali podemos ler que o noticiário das 13.00 tudo fez "para transformar o que aconteceu em Nova Orleães num panfleto contra a guerra do Iraque". Eu vi o Jornal das 13. O trabalho dos jornalistas não me pareceu muito diferente do realizado aquando de outras catástrofes, muito adjectivo e falta de objectividade. Vi a CNN. Embora mais profissional, os adjectivos eram mais fortes. Além do mais passam em contínuo as declarações inflamadas do Mayor de Nova Orleães. Comentam e corroboram as suas declarações com adjectivos. Compara-se em contínuo com a eficiência da intervenção no Iraque...
Quando o Reino Unido inviabilizou a Orçamento da União Europeia, o Abrupto acusou os jornais portugueses. Quando algo corria mal na invasão do Iraque a culpa era de Carlos Fino. Já percebemos a lógica: quando algo não corre bem ao campo dos EUA e respectivos aliados, a notícia é sempre sectária.

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