Uma coisa inteligente que tanto Cavaco como Soares poderiam fazer pelo país - em vez da entediante campanha presidencial centrada no passado que se antevê (espero estar enganado) - seria uma ida a Felgueiras, a Gondomar, a Oeiras e a Amarante, para lançar apelos à lucidez política. É absolutamente chocante e desprestigiante para o nosso país a onda de populismo rasca que assola estas quatro concelhias. O pior é que perante o calibre de caciques bastante violentos como Fátima Felgueiras ou como Valentim Loureiro, os nossos políticos temem a confrontação política. Temem o atoleiro. É verdade, sabemos que há esse risco, mas se os combatermos só de cima, apenas confiando na nossa superioridade moral, corremos um risco ainda maior, o risco de lhes oferecer a vitória de mão beijada. Recordo que recentemente dois grandes populistas foram derrotados nas urnas: Santana Lopes e Vale e Azevedo (este num terreno muito mais propício ao populismo, o do futebol). E foram derrotados porque houve quem se expôs, quem não temeu o lamaçal do populismo. Santana Lopes foi duramente criticado pelos seus pares Pacheco Pereira e Leonor Beleza, e foram estes que tiveram o mérito de desencadear uma onda de descredibilização de Santana que a par do desastre governativo, apagaram para sempre a aura messiânica de Santana perante os eleitores. Vilarinho fez o mesmo perante um adversário muito mais feroz, como era Vale e Azevedo, e só a sua persistência trouxe Eusébio para o seu campo o que conduziu ao afastamento definitivo do mais populista dos presidentes do Benfica.
Soares e Cavaco poderiam prestar o mesmo serviço ao país, eles têm o poder de serem vozes de peso, sempre ouvidas pelos mais simples e pelos mais susceptíveis ao populismo. Esse seria um excelente serviço à nação que até poderia ser acompanhado pelos restantes partidos, criando um abrangente movimento democrático contra o populismo rasca.
Ler: "Santos da casa fazem milagres" da Joana Amaral Dias no DN
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