O reverso da moeda das fricções autonómicas em Espanha é a situação dos cerca de 2 milhões de índios norte-americanos, muitos a viverem em auto-caravanas e rulotes.
Bernard-Henri Lévy (BHL) recolheu algumas anotações curiosas sobre os índios americanos na américa de hoje. BHL entrevista uma trabalhadora índia de Lower Brule:
"...on fait un Mémorial pour signifier que la guerre est finie; or, cette guerre n'est pas finie; regardez les expropriations qui continuent, les traités rompus, le génocide qui se poursuit; la guerre n'est pas finie, et le Mémorial n'a pas lieu d'être."
pag. 105. BHL acrescenta mais à frente:
"Comment ne pas songer à Wounded Knee et à la fin de Sitting Bull? Comment ne pas avoir à l'esprit ces milliers d'Indiens massacrés parce qu'ils s'adonnaient à ces danses que singe aujourd'hui Tom Daschle [sénateur indien] et sa famille? Quand je dis mascarade je pense aussi aux Indiens qui se consentent à cette singerie; je pense au Chef qui, ensuite, deboux aux côtés du sénateur, pérora que le peuple lakota a pris le drapeau des mains de Custer et que maintenant, le drapeau est à lui; je pense à la distribution de soupe, par les majorettes du sénateur, en t-shirt et casquette orange, à la fin de la cérémonie."
pag. 107
"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, Grasset, 2006.
sexta-feira, junho 30, 2006
quinta-feira, junho 29, 2006
Benedito e o relativismo
Fotografia White Night
Esticando a conversa para a paranóia do terrorismo:
A próxima vez que passarem a mala de mão no detector de raios X do aeroporto lembrem-se que, mesmo se os detectores não existissem, a probabilidade do vosso avião sofrer um atentado é largamente inferior à probabilidade de contrair SIDA em Portugal durante uma relação sexual.
quarta-feira, junho 28, 2006
Portugal corrido à pedrada
Quando me referi na entrada anterior que Portugal estava a ser escavacado, também estava a pensar em todos esses autarcas reféns dos construtores civis. A Fernando Ruas fugiu-lhe a boca para a verdade. Há de facto lugares do nosso país, alguns históricos, que dá a sensação que foram destruidos à pedrada... pelos próprios autarcas!
terça-feira, junho 27, 2006
Espanha/Portugal: o contrário do Abrupto
Façam uma experiência. Num destes fins-de-semana façam um dos seguintes trajectos:
Léon->Bragança
Salamanca->Guarda
Sevilha->Beja
Cádiz->Faro
E parem nas aldeias e nas cidades dos dois países que ficam pelo meio. Mas aconselho vivamente a fazerem a viagem no sentido indicado, que é para o choque ser maior. Reparem também na quantidade de lixo e no caos que abunda do lado de cá. A diferença entre as regiões mais pobres de Espanhas e as mais pobres de Portugal é evidente, mas o que é mais interessante é que o bom exemplo de desenvolvimento, nomeadamente o ordenamento do território, que se verifica do outro lado da fronteira tem influenciado o muito pouco de positivo que se faz do lado de cá no interior do país, mais em certos casos do que as "ajudas" (ler portagens) vindas de Lisboa. Ou seja, as autonomias espanholas acabam por ter um efeito que é exactamente o contrário do que se refere no Abrupto. O que se escreve no Abrupto ainda faz menos sentido pois os portugueses não têm a mínima noção do que é viver num país constituído por povos diferentes e onde se falam diferentes línguas. O problema é que os Portugueses apesar de falarem a mesma língua e de partilharem a mesma base religiosa são muitos mais nocivos ao próprio país do que qualquer separatismo ibérico no caso espanhol. Os efeitos negativos duma qualquer progressiva fragmentação de Espanha não se compara com o que o nosso centralismo destrói e escavaca. E o que está escavacado em Portugal vai desde o ambiente ao património e vai desde a cultura à dinâmica económica. Quantos emigrantes portugueses trabalham no País Basco ou na Catalunha? O melhor era olharmos mais para o nosso cancro em estado avançado (centralismo) do que para os arranhões dos outros...
Ler o Paulo Querido sobre o mesmo assunto
Léon->Bragança
Salamanca->Guarda
Sevilha->Beja
Cádiz->Faro
E parem nas aldeias e nas cidades dos dois países que ficam pelo meio. Mas aconselho vivamente a fazerem a viagem no sentido indicado, que é para o choque ser maior. Reparem também na quantidade de lixo e no caos que abunda do lado de cá. A diferença entre as regiões mais pobres de Espanhas e as mais pobres de Portugal é evidente, mas o que é mais interessante é que o bom exemplo de desenvolvimento, nomeadamente o ordenamento do território, que se verifica do outro lado da fronteira tem influenciado o muito pouco de positivo que se faz do lado de cá no interior do país, mais em certos casos do que as "ajudas" (ler portagens) vindas de Lisboa. Ou seja, as autonomias espanholas acabam por ter um efeito que é exactamente o contrário do que se refere no Abrupto. O que se escreve no Abrupto ainda faz menos sentido pois os portugueses não têm a mínima noção do que é viver num país constituído por povos diferentes e onde se falam diferentes línguas. O problema é que os Portugueses apesar de falarem a mesma língua e de partilharem a mesma base religiosa são muitos mais nocivos ao próprio país do que qualquer separatismo ibérico no caso espanhol. Os efeitos negativos duma qualquer progressiva fragmentação de Espanha não se compara com o que o nosso centralismo destrói e escavaca. E o que está escavacado em Portugal vai desde o ambiente ao património e vai desde a cultura à dinâmica económica. Quantos emigrantes portugueses trabalham no País Basco ou na Catalunha? O melhor era olharmos mais para o nosso cancro em estado avançado (centralismo) do que para os arranhões dos outros...
Ler o Paulo Querido sobre o mesmo assunto
segunda-feira, junho 26, 2006
sábado, junho 24, 2006
Orçamentos militares em 2004
( × mil milhões de dólares)
1- EUA - 455
2- Reino Unido - 47
3- França - 46
4- Japão - 42
5- China - 35
6- Alemanha - 34
7- Itália - 28
8- Rússia - 19,4
9- Arábia Saudita - 19,3
10- Coreia do Sul - 15,5
Pergunta: Quem é que anda a vender tanta arma à Arábia Saudita?
Resposta: O grande amante da liberdade da entrada anterior.
Espero estar muito enganado, mas tenho impressão que aqueles 19,3 mil milhões de dólares anuais de material militar não vão ficar eternamente em exposição no meio do deserto saudita. Um dia, um príncipe suficientemente maluco vai dar uso àquele arsenal todo. E até adivinhamos quem será o alvo. Depois não venham novamente com lágrimas de crocodilo...
1- EUA - 455
2- Reino Unido - 47
3- França - 46
4- Japão - 42
5- China - 35
6- Alemanha - 34
7- Itália - 28
8- Rússia - 19,4
9- Arábia Saudita - 19,3
10- Coreia do Sul - 15,5
Pergunta: Quem é que anda a vender tanta arma à Arábia Saudita?
Resposta: O grande amante da liberdade da entrada anterior.
Espero estar muito enganado, mas tenho impressão que aqueles 19,3 mil milhões de dólares anuais de material militar não vão ficar eternamente em exposição no meio do deserto saudita. Um dia, um príncipe suficientemente maluco vai dar uso àquele arsenal todo. E até adivinhamos quem será o alvo. Depois não venham novamente com lágrimas de crocodilo...
sexta-feira, junho 23, 2006
Lágrimas de crocodilo na Hungria
A administração Bush, fervorosa adepta da real politik, não deixa escapar a ocasião para um belo momento de sentimentalismo agudo e montam o teatro adequado à situação. Desta vez foi na Hungria. A visita do presidente Bush ao monumento dedicado aos cerca de 2500 húngaros que morreram há 50 anos atrás na revolta contra a ocupação soviética (aproveito a ocasião para lembrar que o PCP nunca condenou este acontecimento) é uma infeliz homenagem à memória dos revoltosos. E é uma homenagem infeliz pois estes revoltosos lutaram com coragem contra uma ditadura asfixiante, coragem essa referida no discurso de Bush, mas é também a mesma coragem que falta a Bush para deixar de vender armas (em troca do petróleo) ao país com a pior e a mais asfixiante ditadura do mundo: a Arábia Saudita. A Arábia Saudita possui neste momento um dos 10 maiores arsenais militares do mundo! Não se pode andar a depositar coroas de flores e a chorar os mortos de um lado do mundo e do outro lado da Terra a beber chá com alguns dos maiores ditadores e criminosos do planeta.
Para cúmulo todo este teatro tem como pano de fundo a questão dos vistos obrigatórios de entrada nos EUA para os novos países da UE. A Administração Bush tem discutido o critério alucinante de facilitar mais os vistos aos países que enviaram mais de um certo número de tropas para o Iraque. Claro que os húngaros não são parvos, tirando meia dúzia que vivem à custa de fundações e fundaçõezinhas americanas de lavagem ao cérebro profissional instaladas na Hungria, o resto da população já não vê os EUA como salvadores e uma parte parece cultivar um anti-americanismo mais agudo.
Para cúmulo todo este teatro tem como pano de fundo a questão dos vistos obrigatórios de entrada nos EUA para os novos países da UE. A Administração Bush tem discutido o critério alucinante de facilitar mais os vistos aos países que enviaram mais de um certo número de tropas para o Iraque. Claro que os húngaros não são parvos, tirando meia dúzia que vivem à custa de fundações e fundaçõezinhas americanas de lavagem ao cérebro profissional instaladas na Hungria, o resto da população já não vê os EUA como salvadores e uma parte parece cultivar um anti-americanismo mais agudo.
quinta-feira, junho 22, 2006
Cenas de uma prisão de Queens
À atenção do Zé Amaral do Memórias do Cárcere transcrevo aqui duas cenas passadas no New York City Correction Department, em Queens, faço notar que se trata de uma prisão com o estatuto de jail, ou seja uma prisão para penas curtas e presos preventivos:
"...il a fallu inventer un système de passe-plats sécurisé car ils profitaient du moment où on leur glissait leur pitance pour mordre au sang la main du gardien."
"...dans l'unes des trois cellules douches, ouvertes sur la coursive, le spectacle de ce colosse barbu et nu en train de se branler en face d'une autre matonne, impassible, à qui il hurle d'une voix de dément: viens me chercher, salope! viens!"
"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, pag. 43-44, Grasset, 2006.
"...il a fallu inventer un système de passe-plats sécurisé car ils profitaient du moment où on leur glissait leur pitance pour mordre au sang la main du gardien."
"...dans l'unes des trois cellules douches, ouvertes sur la coursive, le spectacle de ce colosse barbu et nu en train de se branler en face d'une autre matonne, impassible, à qui il hurle d'une voix de dément: viens me chercher, salope! viens!"
"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, pag. 43-44, Grasset, 2006.
quarta-feira, junho 21, 2006
Mais rápido que a luz
"Mais rápido que a luz" de João Magueijo é um grande livro! Afirmo-o confessando que não dava nada por ele quando me veio parar às mãos. A designação do livro como "biografia de uma especulação científica" é absolutamente correcta, e ilustra de certo modo o que é o trabalho de um cientista, tentar verificar aquilo que começa por ser em certo sentido uma especulação. O João explica de uma forma bastante clara o significado do seu trabalho de investigação, atribuindo-lhe a importância que de facto esse trabalho comporta, sem exageros e sem falsas modéstias. Tal como o João afirma ao longo do livro, se a sua teoria se verificar completamente errada, pelo menos já sabemos que aquela via não leva a lado nenhum, e isso é também fazer ciência e por vezes é fazer ciência bem mais áspera do que a ciência em que se obtém o resultado desejado.
Apesar de achar que o João Magueijo exagera nalgumas das suas críticas ao mundo académico e científico (ao editor da Nature ou aos professores da sua namorada por exemplo), devo dizer que prefiro 50 Magueijos à carneirada que existe neste momento em Portugal, que aceita tudo e que acha tudo normal no meio científico nacional. Uma das críticas mais viperinas de Magueijo em que mais me revejo é a do conceito de prostitutas e proxenetas no meio Universitário. Na verdade existe toda uma panóplia de proxenetas científicos improdutivos, burocráticos, cansados de dar aulas, que já não investiga e que se arroga ainda o poder de mandar para a "esquina" trabalhar os bolseiros e os investigadores mais jovens, muitas vezes ameaçando do alto dos seus poderes burocráticos. Na Universidade manda quem tem o carimbo.
João Magueijo descreve com piada alguns dos abusos de poder mais bacocos do sistema britânico, nomeadamente aquele caso da sala que tem um estrado mais alto que é interdito aos alunos, para que os docentes possam estar sempre acima do nível dos mesmos alunos.
Outra faceta que me apraz no livro é a descrição dos momentos em que o João Magueijo realiza a sempre saudável limpeza cerebral após um período intenso de trabalho. Identifico-me com o prazer das raves, embora seja mais adepto das parties, mais softs, com menos drogas e muito menos homens que as raves. Aquela equação de Klein-Nishina para radiação polarizada que tratei por tu durante os 4 anos passados em Estrasburgo, saía cristalina depois de uma noitada a sério num velho antro da cidade chamado "Sous-sol" ou depois de uma noite em branco passada nos grandes festivais Got Milk ao som de Carl Cox ou de Plastic Man.
Apesar de achar que o João Magueijo exagera nalgumas das suas críticas ao mundo académico e científico (ao editor da Nature ou aos professores da sua namorada por exemplo), devo dizer que prefiro 50 Magueijos à carneirada que existe neste momento em Portugal, que aceita tudo e que acha tudo normal no meio científico nacional. Uma das críticas mais viperinas de Magueijo em que mais me revejo é a do conceito de prostitutas e proxenetas no meio Universitário. Na verdade existe toda uma panóplia de proxenetas científicos improdutivos, burocráticos, cansados de dar aulas, que já não investiga e que se arroga ainda o poder de mandar para a "esquina" trabalhar os bolseiros e os investigadores mais jovens, muitas vezes ameaçando do alto dos seus poderes burocráticos. Na Universidade manda quem tem o carimbo.
João Magueijo descreve com piada alguns dos abusos de poder mais bacocos do sistema britânico, nomeadamente aquele caso da sala que tem um estrado mais alto que é interdito aos alunos, para que os docentes possam estar sempre acima do nível dos mesmos alunos.
Outra faceta que me apraz no livro é a descrição dos momentos em que o João Magueijo realiza a sempre saudável limpeza cerebral após um período intenso de trabalho. Identifico-me com o prazer das raves, embora seja mais adepto das parties, mais softs, com menos drogas e muito menos homens que as raves. Aquela equação de Klein-Nishina para radiação polarizada que tratei por tu durante os 4 anos passados em Estrasburgo, saía cristalina depois de uma noitada a sério num velho antro da cidade chamado "Sous-sol" ou depois de uma noite em branco passada nos grandes festivais Got Milk ao som de Carl Cox ou de Plastic Man.
terça-feira, junho 20, 2006
Volver
A ler a crítica do David Luz (Linha dos Nodos) ao filme "Volver" de Almodovar. É uma outra perspectiva apesar de não concordar muito (essa do complexo de Édipo não resolvido é forte ;) ).
domingo, junho 18, 2006
Sobre a bandeirite aguda, um exemplo americano
Acho espantoso os rios de tinta que se gastam a escrever sobre o assunto das bandeiras à janela, cuja importância me parece quase irrelevante, dada a banalidade do mesmo fenómeno nos restantes países da Europa e do Mundo. Mas enfim, os jornais portugueses gostam de pagar a colunistas que repetem o que 30 mil outros colunistas já escreveram. Não tarda muito, assim que acabar o campeonato do mundo, começará nos jornais a praga dos artigos intitulados "silly season".
Sobre o assunto das bandeiras deixo-vos uma passagem curiosa do último livro de Bernard-Henry Lévy que foi escrito ao longo de um interessante périplo pelos EUA:
" [le drapeau] l'objet qui est là chaque fois que paraît le Président américain. C'est le drapeau chéri, presque un être vivant, dont je lis, dans la documentation fournie par l'Atlantic, que l'usage est soumi à des règles, que dis-je? une étiquette d'une précision extrême - ne pas salir, ne pas singer, ne pas tatouer sur le corps, ne jamais laisser tomber à terre ni suspendre à l'envers, ne pas insulter, ne pas brûler ou, s'il est trop vieux, hors usage, et n'est plus en état de flotter, le brûler au contraire, ne pas jeter, ne pas chiffoner, mieux vaut encore le brûler, oui, que l'abandonner dans une décharge."
"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, pag. 39, Grasset, 2006.
Sobre o assunto das bandeiras deixo-vos uma passagem curiosa do último livro de Bernard-Henry Lévy que foi escrito ao longo de um interessante périplo pelos EUA:
" [le drapeau] l'objet qui est là chaque fois que paraît le Président américain. C'est le drapeau chéri, presque un être vivant, dont je lis, dans la documentation fournie par l'Atlantic, que l'usage est soumi à des règles, que dis-je? une étiquette d'une précision extrême - ne pas salir, ne pas singer, ne pas tatouer sur le corps, ne jamais laisser tomber à terre ni suspendre à l'envers, ne pas insulter, ne pas brûler ou, s'il est trop vieux, hors usage, et n'est plus en état de flotter, le brûler au contraire, ne pas jeter, ne pas chiffoner, mieux vaut encore le brûler, oui, que l'abandonner dans une décharge."
"American Vertigo", Bernard-Henry Lévy, pag. 39, Grasset, 2006.
sexta-feira, junho 16, 2006
Portugal a rimar com lixo
Este texto do Miguel Vale de Almeida traduz muito daquilo que me passa pela cabeça em cada regresso a Portugal. Destaco em particular as seguintes passagens:
"...ao andar hoje por Lisboa, não encontrei nada que me agradasse ou fizesse sentir em casa. Desde logo, a sujidade. Depois, o caos urbanístico. Por fim, a desorganização completa."
"A sujidade sente-se nas ruas e passeios, no próprio ar, com um vago cheiro a lixo, acompanhado por muito barulho. O caos urbanístico sente-se com os olhos e a caminhar, dos monturos de terras aos matagais que crescem por toda a parte, à feiura da arquitectura."
"A desorganização completa vive-se assim que se regressa ao local de trabalho e se começa a entrar numa aterrador limbo burocrático, na dificuldade em encontrar com quem falar numa semana de três feriados"
"...ao andar hoje por Lisboa, não encontrei nada que me agradasse ou fizesse sentir em casa. Desde logo, a sujidade. Depois, o caos urbanístico. Por fim, a desorganização completa."
"A sujidade sente-se nas ruas e passeios, no próprio ar, com um vago cheiro a lixo, acompanhado por muito barulho. O caos urbanístico sente-se com os olhos e a caminhar, dos monturos de terras aos matagais que crescem por toda a parte, à feiura da arquitectura."
"A desorganização completa vive-se assim que se regressa ao local de trabalho e se começa a entrar numa aterrador limbo burocrático, na dificuldade em encontrar com quem falar numa semana de três feriados"
quinta-feira, junho 15, 2006
O nuclear, o PCP e os Verdes
A duvidosa coligação entre Verdes e PCP tem na questão do nuclear uma das suas facetas mais cómicas. Eu ainda me lembro do tempo em que o PCP distribuía auto-colantes do "Nuclear Não" com o solzinho a sorrir. Mas durante um dos debates para as últimas presidenciais o camarada Jerónimo surpreendido com a pergunta do moderador sobre qual a posição do PCP sobre o nuclear, lá se deve ter lembrado que a União Soviética possuía muitas centrais nucleares e respondeu que o Partido iria estudar essa hipótese. Foi a partir deste momento que o PCP aderiu ao nuclear (corrijam-se se estiver errado, se houver documentos anteriores ao debate) e foi também a partir desta altura que começaram as divergências com os Verdes. A simultaneidade destes dois acontecimentos não me parece ser pura coincidência.
A questão do nuclear para os Verdes não pode ser uma questão de simples divergência com o PCP, quanto a mim é no mínimo uma questão de ruptura com o PCP e poucas soluções restam aos Verdes para que não percam mais a pouca credibilidade ainda têm.
1) Podem sair da coligação do PCP e
a) concorrer sozinhos às eleições com o apoio dos Verdes Europeus;
b) aliar-se ao BE com o apoio dos Verdes Europeus (opção mais lógica);
2) ou simplesmente dissolver o partido e acabar com a farsa, deixando espaço para que surja um verdadeiro partido ecologista dentro da filosofia dos Verdes Europeus;
3) ou continuar a empatar na aliança com PCP e assim continuar prejudicar a defesa das causas ecológicas em Portugal.
A questão do nuclear para os Verdes não pode ser uma questão de simples divergência com o PCP, quanto a mim é no mínimo uma questão de ruptura com o PCP e poucas soluções restam aos Verdes para que não percam mais a pouca credibilidade ainda têm.
1) Podem sair da coligação do PCP e
a) concorrer sozinhos às eleições com o apoio dos Verdes Europeus;
b) aliar-se ao BE com o apoio dos Verdes Europeus (opção mais lógica);
2) ou simplesmente dissolver o partido e acabar com a farsa, deixando espaço para que surja um verdadeiro partido ecologista dentro da filosofia dos Verdes Europeus;
3) ou continuar a empatar na aliança com PCP e assim continuar prejudicar a defesa das causas ecológicas em Portugal.
quarta-feira, junho 14, 2006
O Tawny e as cervejas "portuguesas"
Os protestos e o choradinho que se gerou entre alguns produtores portugueses por causa da generalização das designações "Tawny", "Ruby" e "Vintage" a outros vinhos é pouco credível quando Portugal faz exactamente o mesmo em relação a produtos de outros países. O facto de terem sido escoceses a inventar o vinho Porto e a designá-lo assim (e não vinho do Douro como alguns raivosos anti-Porto gostam de afirmar) é apenas um detalhe desta história. Já nem vou às salsichas "tipo Frankfurt" (tal e qual!), fico-me apenas pelas cervejas portuguesas que usam e abusam do copianço. Por exemplo ao ler esta entrada do FJV na Origem das Espécies sobre cervejas portuguesas detecto logo ali quatro copianços descarados, nem vou aos mais subtis, porque também os há. 1) A Chopp é uma designação óbvia da cerveja que produzem os nossos irmãos do Brasil. 2) Bohemia é uma das regiões da Rep. Checa, uma das pátrias da boa cerveja, da pilsner (originária da cidade de Plzen). 3) A Super Bock Abadia é uma péssima imitação das cervejas belgas de Abadia, como a Leffe. 4) A Sagres 1835 é uma imitação cómica da Kronenbourg 1664.
O que mais resulta na venda deste tipo de produtos não é saber se o tawny ou a abadia são designações utilizadas na Tailândia ou em Portugal, o que interessa é que se possa escolher entre um tawny português ou tailandês ou entre uma Abadia belga ou portuguesa. O apreciador não compra nem o tawny tailandês nem a abadia portuguesa, prefere beber água.
O que mais resulta na venda deste tipo de produtos não é saber se o tawny ou a abadia são designações utilizadas na Tailândia ou em Portugal, o que interessa é que se possa escolher entre um tawny português ou tailandês ou entre uma Abadia belga ou portuguesa. O apreciador não compra nem o tawny tailandês nem a abadia portuguesa, prefere beber água.
terça-feira, junho 13, 2006
Retalhos (deliciosos) da vida de um cientista
Há momentos, como o de ontem, em que um tipo se sente realmente um cientista, muito mais do que quando ando pelo laboratório a desapertar os parafusos dos detectores. Ao entrar no edifício da RAS (Royal Astronomical Society) fiz uma vénia imaginária a todos aqueles monstros sagrados que passaram por aquela instituição. A cadeira onde se sentou em 1820 William Herschel, o primeiro presidente da RAS, estava ali mesmo à minha frente. Quando nos reunimos numa sala ao lado, ficámos com a sensação que de certa forma fazíamos parte do clube, até pelo olhar sério e austero com que nos miravam os centenários retratos.
Checos entre o champanhe e o Red Bull
O futebol Checo é verdadeiramente fantástico, é uma espécie de futebol champanhe movido a Red Bull, que tem em Rosicky (pronuncia-se rositsqui) o maior criativo, o champanhe, e em Pavel Nedved um exemplo de pujança física, o Red Bull. A Rep. Checa é uma daquelas equipas mais do que apta a desafiar os grandes, como poderia ser o caso de Portugal, se não houvesse certos aspectos importantes que nos distinguem. A Rep. Checa tem um treinador (Karel Bruckner) lúcido e pragmático e Portugal tem um treinador caprichoso e troca-tintas. Karel Bruckner convocou os melhores jogadores e Scolari convocou os amigos. O primeiro aposta na estratégia e na forma física o segundo aposta na sorte e na virgem Maria.
Podem continuar a assinar a Petição Basta de Scolari.
domingo, junho 11, 2006
Volver
"Volver" de Pedro Alomodóvar é belo um filme sobre mulheres simples que se desenrascam e enfrentam com determinação as dificuldades de uma vida cujos trilhos agrestes foram forjados pelos maridos. Curiosamente, "Volver" tem muito a ver com o que escrevi na minha última entrada "Sábado em Coimbra: a paridade explicada aos cegos". Esta película é mais um exemplo de que em sociedades conservadoras existe uma engenharia social muito particular onde a fava calha sempre às mulheres.
Outro aspecto interessante deste filme é o confronto muito actual que Alomodóvar nos propõe entre a Espanha urbana, moderna e mediática com a Espanha tradicionalista, rural e contemplativa. Muito daquilo faz lembrar Portugal, principalmente as velhinhas, com a pequena diferença que o nível educacional das velhinhas espanholas é bem superior ao das nossas (as espanholas que concluíram o 12° ano são o dobro).
Outro aspecto interessante deste filme é o confronto muito actual que Alomodóvar nos propõe entre a Espanha urbana, moderna e mediática com a Espanha tradicionalista, rural e contemplativa. Muito daquilo faz lembrar Portugal, principalmente as velhinhas, com a pequena diferença que o nível educacional das velhinhas espanholas é bem superior ao das nossas (as espanholas que concluíram o 12° ano são o dobro).
Petição: Basta de Scolari
Podem continuar a assinar aqui.
A exibição contra Angola foi um festival de miséria e de erros estratégicos e tácticos. A falta forma física e a indisciplina continuam presentes. Os assobios (a Scolari) não foram estranhos a isso.
Angola estava bem preparada e sobretudo bem fisicamente. Oliveira Gonçalves fez um bom trabalho com apenas uma dezena de jogadores profissionais, percebeu-se a intenção de explorar a auto-estrada Nuno Valente, a exibição foi muito honesta apesar da derrota.
PS- Uma dica para Madaíl: telefonar a Mourinho até sexta-feira o mais tardar.
A exibição contra Angola foi um festival de miséria e de erros estratégicos e tácticos. A falta forma física e a indisciplina continuam presentes. Os assobios (a Scolari) não foram estranhos a isso.
Angola estava bem preparada e sobretudo bem fisicamente. Oliveira Gonçalves fez um bom trabalho com apenas uma dezena de jogadores profissionais, percebeu-se a intenção de explorar a auto-estrada Nuno Valente, a exibição foi muito honesta apesar da derrota.
PS- Uma dica para Madaíl: telefonar a Mourinho até sexta-feira o mais tardar.
sexta-feira, junho 09, 2006
Ciclos climáticos e o CO2 (caixa de comentários)
"Limitando-me ao gráfico que se apresenta, os últimos estudos inferem que o que mais afectou os níveis de CO2 nos ciclos glacial/interglacial foi a estratificação a grande profundidade no Oceano do Sul, modificações nas taxas de sedimentação/dissolução do carbonato de cálcio e a fertilização de ferro. Para compreender como isto pode afectar o CO2 é preciso ter umas luzes de química e do Ciclo do Carbono na Terra."
Gabriela (Contemplamento)
Gabriela (Contemplamento)
quinta-feira, junho 08, 2006
Bolseiros de investigação no Senado da UC
A ideia começa a circular. Nalguns dos centros de investigação da Universidade de Coimbra os bolseiros são responsáveis por mais de 50% da produção científica. No senado da Universidade todos estão representados desde o funcionário que troca o papel higiénico das casas de banho passando pelos alunos até aos professores catedráticos, excepto os investigadores bolseiros, que em abono da verdade, são quem mais trabalha na Universidade.
Em breve serão revistos os estatutos do Senado, vamos lá ver se é desta.
Em breve serão revistos os estatutos do Senado, vamos lá ver se é desta.
terça-feira, junho 06, 2006
Gráficos que não deixam dúvidas (actualização)
Gráfico do sítio do UNEP
Julgo que depois da publicação destes resultados mais ninguém no seu perfeito juízo terá a coragem de afirmar que não existe qualquer relação entre a concentração de CO2 na atmosfera e a temperatura média do planeta. Os gráficos acima representados mostram a evolução até 1950. Até esse ano a concentração máxima de CO2 registada foi cerca de 300 ppmv tendo ocorrido há 320 mil anos, o que originou um dos maiores picos de temperatura. Em 2004 a concentração de CO2 é o valor record de 378 ppm e prevê-se que em 2050 a concentração se eleve até valores entre os 450 e os 500 ppm (ver gráfico em baixo). A temperatura vai acompanhar este aumento...
Um post que merecia o Nobel (no mínimo!)
Esta rapaziada que acha que as alterações climáticas são uma conspiração mundial contra os EUA continua de fuga para frente em fuga para frente. Leiam esta entrada de Rui Oliveira no Insurgente.
Merecia o Nobel, não merecia?
Se quiserem fazer lá em casa um post semelhante utilizem a mesma fórmula e troquem a história do paraíso subtropical por outro episódio semelhante da história da formação do planeta Terra. Por exemplo:
"Há mais de 5 mil milhões de anos a Terra era uma bola meio incandescente que fazia parte de um disco protoplanetário.
Agora, é o que é. Terá sido o efeito de estufa? O buraco de ozono? O aquecimento tropical? Procuram-se culpados.
PS- Post scriptum. É favor excluir qualquer factor antropogénico. O homem ainda não existia."
A seguir bebam um bagaço!
Merecia o Nobel, não merecia?
Se quiserem fazer lá em casa um post semelhante utilizem a mesma fórmula e troquem a história do paraíso subtropical por outro episódio semelhante da história da formação do planeta Terra. Por exemplo:
"Há mais de 5 mil milhões de anos a Terra era uma bola meio incandescente que fazia parte de um disco protoplanetário.
Agora, é o que é. Terá sido o efeito de estufa? O buraco de ozono? O aquecimento tropical? Procuram-se culpados.
PS- Post scriptum. É favor excluir qualquer factor antropogénico. O homem ainda não existia."
A seguir bebam um bagaço!
sábado, junho 03, 2006
Sábado em Coimbra XXIX: a paridade explicada aos cegos
Ontem, sexta-feira (desta vez faço batota ao Sábado em Coimbra) cerca das 18.30, o suburbano com destino à Figueira da Foz estava, como é habitual, apinhado de mulheres. São mulheres que trabalham no pequeno comércio da cidade, nalguns serviços mal remunerados e nalgumas pequenas empresas que se situam ali no centro de Coimbra. Estas mulheres moram em pequenas vilas e aldeias dos arredores, não têm carro, ou se têm carro esse está com o marido, mas a maior parte nem sequer carta de condução tem. À minha frente uma senhora lê um jornal russo, é a única que está a ler no comboio. Uma placa informa que a carruagem tem 80 lugares. A carruagem está cheia e a cena é cavalheiresca. Somos 5 homens a viajar de pé e apenas dois viajam sentados. No total somos 85 passageiros, entre os quais apenas 7 homens, menos de 10% portanto.
No dia anterior ao entrar atrasado no avião que me trouxe de volta para Portugal, atravesso a zona da business class que contava uns 15 passageiros, era só homens!
Provavelmente nenhuma daquelas 78 mulheres teve os recursos, a oportunidade ou o ambiente familiar para estudar nas mesmas escolas e nas mesmas universidades onde estudaram aqueles 15 homens da business class. Numa sociedade conservadora é assim, a engenharia social pratica-se intramuros no seio familiar, quando se vai ao domingo à igreja ou quando se procura um emprego. Numa sociedade conservadora as leis que ditam uma paridade ao contrário não se publicam, não são palpáveis, mas estão lá, apesar de ser mais fácil fingirmos que somos cegos.
Sábado em Coimbra XXVIII
No dia anterior ao entrar atrasado no avião que me trouxe de volta para Portugal, atravesso a zona da business class que contava uns 15 passageiros, era só homens!
Provavelmente nenhuma daquelas 78 mulheres teve os recursos, a oportunidade ou o ambiente familiar para estudar nas mesmas escolas e nas mesmas universidades onde estudaram aqueles 15 homens da business class. Numa sociedade conservadora é assim, a engenharia social pratica-se intramuros no seio familiar, quando se vai ao domingo à igreja ou quando se procura um emprego. Numa sociedade conservadora as leis que ditam uma paridade ao contrário não se publicam, não são palpáveis, mas estão lá, apesar de ser mais fácil fingirmos que somos cegos.
Sábado em Coimbra XXVIII
sexta-feira, junho 02, 2006
12 caças F16 que nunca voaram... uma ninharia!
Ontem, fiquei absolutamente siderado com a notícia do Público que dava conta que o governo se prepara para vender 12 caças F16 comprados durante o governo de António Guterres e que nunca chegaram a voar!
Para quem trabalha em ciência e se esforça constantemente para não comprar equipamentos caros, que tenta fazer omeletas sem ovos, ler uma notícia destas dá-nos cabo da figadeira. Só o dinheiro gasto na compra de um F16 dá para comprar uma série de equipamentos caros e necessários e dá para pagar durante vários anos a uma série de investigadores altamente qualificados. Este país é um desespero!
Para quem trabalha em ciência e se esforça constantemente para não comprar equipamentos caros, que tenta fazer omeletas sem ovos, ler uma notícia destas dá-nos cabo da figadeira. Só o dinheiro gasto na compra de um F16 dá para comprar uma série de equipamentos caros e necessários e dá para pagar durante vários anos a uma série de investigadores altamente qualificados. Este país é um desespero!
quinta-feira, junho 01, 2006
Conversa sobre o nuclear e os 20 anos de Chernobyl
Para os conimbricenses (e não só) interessados, estarei hoje às 21:30 na Galeria Santa Clara com a Maria de Lurdes Cravo da Quercus e a Rita Calvário para conversar sobre energia nuclear e os 20 anos do acidente de Chernobyl.
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