Ontem, sexta-feira (desta vez faço batota ao Sábado em Coimbra) cerca das 18.30, o suburbano com destino à Figueira da Foz estava, como é habitual, apinhado de mulheres. São mulheres que trabalham no pequeno comércio da cidade, nalguns serviços mal remunerados e nalgumas pequenas empresas que se situam ali no centro de Coimbra. Estas mulheres moram em pequenas vilas e aldeias dos arredores, não têm carro, ou se têm carro esse está com o marido, mas a maior parte nem sequer carta de condução tem. À minha frente uma senhora lê um jornal russo, é a única que está a ler no comboio. Uma placa informa que a carruagem tem 80 lugares. A carruagem está cheia e a cena é cavalheiresca. Somos 5 homens a viajar de pé e apenas dois viajam sentados. No total somos 85 passageiros, entre os quais apenas 7 homens, menos de 10% portanto.
No dia anterior ao entrar atrasado no avião que me trouxe de volta para Portugal, atravesso a zona da business class que contava uns 15 passageiros, era só homens!
Provavelmente nenhuma daquelas 78 mulheres teve os recursos, a oportunidade ou o ambiente familiar para estudar nas mesmas escolas e nas mesmas universidades onde estudaram aqueles 15 homens da business class. Numa sociedade conservadora é assim, a engenharia social pratica-se intramuros no seio familiar, quando se vai ao domingo à igreja ou quando se procura um emprego. Numa sociedade conservadora as leis que ditam uma paridade ao contrário não se publicam, não são palpáveis, mas estão lá, apesar de ser mais fácil fingirmos que somos cegos.
Sábado em Coimbra XXVIII
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