Decorrida mais ou menos uma hora de filme e depois de perceber que estava até àquele momento a assistir a um Spielberg quase sem mácula, comecei a suar das mãos à espera daquele momento em que Steven Spielberg arruína totalmente o filme através de uma infantilidade qualquer só para agradar ao espectador americano mais básico. Lembrei-me da cena infantil e de mau gosto da pistola encravada em "A Lista de Schindler" ou do final absolutamente pateta do "Soldado Ryan" depois de mais de duas horas de reprodução histórica notável da II Guerra Mundial. Em "Munich" esse momento não aconteceu e Spielberg realizou finalmente um grande filme. "Munich" é um filme à europeia, que aliás conta com a participação de bons actores europeus (Yvan Attal, Mathieu Kassovitz, Daniel Craig, etc.), onde não há espaço para as habituais lições de moral tão típicas das películas políticas de Hollywood. Em "Munich", Spielberg interpela intencionalmente o espectador sobre o mundo de hoje tendo como referência os acontecimentos dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 e o seu impacto na política entre Israel e a Palestina. Será que mesmo quando temos a certeza absoluta de defendermos uma causa justa isso nos dá direito a praticar os actos mais ignóbeis em nome dessa causa? Até que ponto podemos menosprezar as consequências desses actos? Não serão as soluções utilizadas hoje na luta contra o terrorismo uma repetição em mais larga escala de soluções tentadas e falhadas no passado? É o próprio Avner que nos formula esta pergunta quando interpela o seu superior da Mossad sobre o sucesso da operação "A Ira de Deus". Em dois segundos de filme Avner faz-nos viajar vertiginosamente no tempo, de 72 até hoje, até à eleição do Hamas...
Relacionado: "Histoire secrète du Mossad", um livro muito suspeito do jornalista Gordon Thomas que desmente algumas cenas de Munich, muito provavelmente escrito por encomenda.
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