Gosto das pronúncias regionais (do Norte, do Alentejo, do Algarve, de Lisboa, da Madeira, etc.), gosto até desse lisboês com aspirações de ascensão ao jet-set local em que os pais tratam os putos por você. A sério, acho aquilo com muito mais piada que a pronúncia cerrada da Beira Alta e não tenho absolutamente nada contra. Acho que faz parte dos carreiros e das encruzilhadas da evolução da língua.
Vem isto a propósito de um passeio recente por terras alentejanas em que dei por mim enfiado em restaurantes apinhados de famílias lisboetas razoavelmente endinheiradas. O Afonso, o António, o Gonçalo, a Madalena e o Francisco eram putos talvez entre os 3 e os 12 anos de idade que infernizavam um desses restaurantes com berros e correrias, cujos pais tentavam desesperadamente conter, também aos berros, tratando os putos por você. Provavelmente muitos dos meus leitores já assistiram a cenas destas, mas eu confesso que foi a primeira vez. Aquilo é giro que se farta. Mas depois vem a parte mais provinciana da história. Cada vez que os empregados (alentejanos) entravam na sala só se ouvia shotor para aqui e shotora para ali: "O shotor quer mais um bocadinho de molho" ou "Shotora, gostou da baba de camelo?". Aquilo via-se logo que eram mesmo shotores dos autênticos... Olhei para aqueles putos reguilas, para o Afonso e para a Madalena com lula pendurada por cima da chupeta, e imaginei-os daqui a uns anos condenados a serem tratados por shotores e por shotoras assim que entrarem para o primeiro ano de um curso de uma universidade privada qualquer onde se compram exames ao quilo.
O respeitinho é muito lindo e de pequenino é que se torce o pepino.
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