segunda-feira, outubro 30, 2006

Impacto económico do Aquecimento Global

O governo britânico elaborou um extenso e rigoroso relatório sobre o impacto do aquecimento global na economia mundial. As principais conclusões vêm ao encontro dos diversos alertas que já vinham sendo lançados por instituições como a NASA, o IPPC e a AEA:

"What are the costs of doing nothing?
We have to try to model the dangerous risks we have been discussing. We have to look out over 100-200 years when the big effects of our actions over the next 50 years will come through. When we do this in a way that averages across risks, time, and countries, we calculate that the damages from business-as-usual would be equivalent to at least 5 and up to 20% of consumption a year, depending on the types of risks and effects included. The first effects of climate change are already evident, but it is still some time before impacts and risks on this scale will appear. But given the lags, action to head off these risks is urgent.
"

"What are the costs and benefits of taking action?
The costs of removing most of that risk, getting to 550 or below, are around 1% of GDP per year. The cost could be above or below 1% depending on policies, technological progress and ambitions but would be in this region. This is equivalent to paying on average 1% more for what we buy - the price rise for carbon intensive goods would be higher and for low carbon intensive goods would be lower – it is like a one-off increase by 1% in the price level. That is manageable; we can grow and be green.
"

"The conclusion of the Review is essentially optimistic. There is still time to avoid the worst impacts of climate change, if we act now and act internationally. Governments, businesses and individuals all need to work together to respond to the challenge. Strong, deliberate policy choices by governments are essential to motivate change.
But the task is urgent. Delaying action, even by a decade or two, will take us into dangerous territory. We must not let this window of opportunity close.
"

ACLEFEU, um ano depois dos tumultos em França

Um ano depois dos tumultos em França, o colectivo ACLEFEU, composto por residentes das cités, realizou um levantamento sobre o que foi feito em todo país para resolver os problemas das mesmas cités: a exclusão, o desemprego, o estado das habitações e dos equipamentos, etc. A conclusão desse levantamento é que muito pouco ou nada mudou.

Devo referir que esta conclusão não me espanta absolutamente nada. O que me incomoda mais nisto tudo é incrível passividade da esquerda perante a gravidade da situação das cités. A "luta" contra o CPE simboliza melhor do que qualquer outro exemplo essa passividade e um certo egoísmo político que caracterizam uma boa parte da esquerda francesa.

Durante anos a resposta da direita aos problemas das cités foi essencialmente a política da bastonada, com os resultados que se viram. Villepin foi o primeiro político de direita a propor medidas alternativas ao bastão. Villepin propôs o CPE com o objectivo de oferecer mais oportunidades de trabalho nas cités. A esquerda não concordou. Sendo assim, o que eu esperava da esquerda era que centrasse a sua luta contra o CPE no quadro da resolução dos problemas das cités, apresentando alternativas por exemplo, mas não foi isso que aconteceu. Em poucos dias as "vítimas" do CPE deixaram de ser os jovens das cités para passarem a ser os estudantes universitários, que muito dificilmente seriam abrangidos pela lei, visto que esta só poderia ser aplicada a trabalho não qualificado e a jovens até aos 24 anos. Mais uns dias volvidos e entre as "vítimas" que se manifestavam já se encontravam trabalhadores quase na reforma. As cités tinham sido já completamente esquecidas. A esquerda mergulhou num egoísmo eleitoralista fácil e perdeu uma grande oportunidade para debater as cités a sério. Um ano volvido, ainda estamos no ponto de partida...

sábado, outubro 28, 2006

Sábado em Coimbra XXXI: anti-Tübingen

Coimbra e o Mondego são um anti-retrato de Tübingen e do seu rio Steinlach e de Würzburg e do seu Main.

Em Tübingen o rio faz parte da cidade, não é um obstáculo, barcaças propulsionadas através de longas varas, baratas e acessíveis, proporcionam momentos de romantismo e de fantátistico contacto com a natureza ao comum cidadão.

Em Würzburg os atletas do clube de remo local podem ir a pé dos balneários através de um ambiente 100 % natural (nada de relvas tratadas) até ao rio.

Tanto as margens do Steinlach como as do Main estão acessíveis aos cidadãos no seu estado natural em quase todos os pontos das cidades. Em ambas as cidades a Universidade vai até ao rio, molha os pés e avança até ter água pela cintura...

Sábado em Coimbra XXX

sexta-feira, outubro 27, 2006

O racismo de Huntington em American Vertigo

Vale a pena relembrar o racismo de Huntington, o autor de "Choque de Civilizações", no dia em que foi decretada a construção do muro (na verdade o resto do muro, que ele já existe) entre o México e os EUA. Em "American Vertigo", Bernard-Henri Lévy descreve o seguinte episódio passado durante a entrevista a Samuel Huntington num restaurante caro de Beacon Hill:

"dans cet élégant restaurant où la chère était trop bonne et le vin trop capiteux, le voilà qui à ma grande surprise, renonce à toute prudence et lâche, en quelques phrases, ce que ses adversaires le soupçonnent de penser tout bas sans oser, d'habitude, l'avouer trop haut. Ah! l'affreuse violence qui sourd de son oeil bleu quand il me lance que «le grand problème avec les Hispaniques c'est qu'ils n'ont pas envie d'éducation»! La haine de petit Blanc qui défigure le visage savant de Monsieur le Professeur" (pag. 377).

Os hispânicos também somos nós. E não vale a pena dizer que o termo hispânicos é mais dirigido aos mexicanos e aos porto-riquenhos. Vi com os meus próprios olhos os nossos emigrantes nos EUA, baixinhos, cabeludos, de bigode, risco ao lado e barriguinha, para o americano médio é tudo farinha da mesma massa. A guerra de civilizações também é em certa medida contra nós, só um ingénuo pode pensar que Huntington nos tem como parceiros no choque de civilizações.

quinta-feira, outubro 26, 2006

França, Inglaterra e véu islâmico

É curioso, em 2006, verificarmos os resultados de duas políticas europeias distintas sobre a ostentação de símbolos religiosos nas escolas públicas.

Em França desde que entrou em vigor a circular Bayrou de 1994 que proibia a ostentação de símbolos religiosos nas escolas, o número de casos de litígio sobre a aplicação da lei baixou de 9000 em 1994 para 300 em 2006. Devo esclarecer que por princípio não concordo com este tipo de procedimento, mas devo confessar que os resultados são sem dúvida muito positivos.

No Reino Unido, a política seguida nas escolas públicas foi a de não restrição de ostentação de símbolos religiosos, embora nalguns casos tivesse existido um acordo em adaptar a farda escolar obrigatória à cultura de origem dos alunos, permitindo os turbantes no caso de estudantes indianos. Os resultados no Reino Unido são catastróficos a todos os níveis na comunidade muçulmana, sobretudo no abandono da escola pública pela escola corânica, cuja dimensão escapa aos responsáveis políticos. É neste particular que se comete o erro mais grave. A inexistência de documentos de identificação oficiais permite aos movimentos islâmicos mais radicais colocarem fora de circulação milhares de crianças - o estado britânico não sabe da sua existência - que vão encher as escolas corânicas controladas pelos mesmos movimentos.
A recente polémica da professora muçulmana que se apresentou numa escola pública para ensinar de véu, através do qual apenas se vislumbravam os olhos, mostra o estado de degradação a que se chegou no Reino Unido.

Preferia que não existissem interdições, parafraseando Cohn Bendit, preferia que as raparigas entrassem para o liceu de lenço na cabeça e saíssem de cabelo pintado e piercing no umbigo. Mas os franceses que foram tão criticados de jacobinismo por alguns anglófilos da nossa praça acabam por sair claramente vencedores deste combate, muito graças ao seu pragmatismo e àquele espírito de "raleurs" que é bem conhecido.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Partículas Elementares


(Partículas Elementares de Oskar Roehler baseado no livro do mesmo nome de Michel Houellebecq)

Bruno e Michael são meios-irmãos, filhos de uma hippie convicta até ao fim dos seus dias. Partilham a dificuldade de integração numa sociedade onde proliferam vidas clássicas. Bruno, escravo dos seus fantasmas sexuais, vive perdido no seu extremismo e no alcoolismo e Michael, introvertido e bloqueado emocionalmente, vive mergulhado na ciência e isolado do contacto com o sexo oposto. Ambos vão sair do circulo vicioso em que se encontram, mas é Bruno quem vai ter a experiência mais traumática. Bruno vai viver um dos seus fantasmas, e como é duro quando os fantasmas se materializam...
"Partículas Elementares" é baseado no romance do mesmo nome de Michel Houellebecq que conta com uma excelente interpretação de Moritz Bleibtreu (Bruno), com Franka Pontente (a Lola de "Corre Lola Corre" onde contracena com Moritz) e ainda com a deliciosa Martina Gedeck. A escolha de Martina Gedeck para a personagem Christiane - que vai materializar dos fantasmas de Bruno - é excelente, por tudo, até porque fiquei a partilhar parcialmente do sofrimento de Bruno...

Filme Klepsýdra ***** (5 estrelas)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Para quando ARTE Portugal?

O canal franco-alemão ARTE estendeu o seu conceito à Bélgica. A ARTE Bélgique deu os primeiros passos recentemente e já se fala na ARTE Espanha.

Uma ARTE Portugal seria uma bênção. Num país onde os projectos de televisão privada em canal aberto vieram exclusivamente da direita, onde a qualidade bateu no fundo e por aí tem permanecido alimentada por telenovelas, futebol e variedades da vida real, faz muita falta um verdadeiro canal de serviço público. Faz falta um canal que não seja um insulto à inteligência constante, um canal que não seja kitsch, que não dê às pessoas "o que elas querem", mas que ofereça a possibilidade às pessoas de poderem escolher programas, filmes, reportagens, debates com qualidade, feitos pelos melhores e com meios inovadores. É essa a fasquia e o pequeno segredo do sucesso do canal ARTE.

Por exemplo, em Portugal é perfeitamente impossível pensar em ter um grande programa de debate de literatura, confrontando escritores, políticos, intervenientes sociais, leitores, críticos etc., como é corrente em França ou na Alemanha. Mas o canal ARTE vai mais longe, exemplo disso é série de programas "A Saute Mouton" em que alguns dos maiores pensadores da actualidade se propuseram debater o tema Europa, participando entre outros: Joschka Fischer, Jürgen Habermas, Fernando Savater, Umberto Eco, Günter Grass, Susan Sontag, Adam Michnik, Slavoj Zizek e Jeremy Rifkin.

domingo, outubro 22, 2006

99 cervejas + 1

O "99 cervejas+1" do Francisco José Viegas apesar de ser uma publicação sem grandes pretensões sistemáticas é um delicioso guia para se ir experimentando novas cervejas e serve também de pretexto para longas cavaqueiras sobre cerveja com os amigos.
Muito antes de sermos um país de vinho, nós lusitanos, éramos um povo de cerveja onde entrava a bolota e a castanha (corrijam-me se estiver errado) segundo o testemunho de Estrabão, como o Francisco o refere. No entanto, considero que actualmente em Portugal não se sabe fazer cerveja. A maior parte da nossa produção de cerveja é imitação, sem nada de novo no panorama internacional, tirando uma ou duas excepções. Uma das piores experiências que tive na minha vida foi quando bebi uma Super Bock Abadia, depois de voltar da Bélgica onde tinha bebido uma Leffe no aeroporto. Para um apreciador de cervejas de abadia foi um choque equivalente àquela experiência que já todos tivemos quando bebemos uma golada de leite estragado! Finos é coisa que não bebo nem que me paguem. Alguns amigos oferecem-me finos e eu à socapa chego ao ponto de os despejar noutros copos ou de os deixar propositadamente esquecidos num canto do bar.
Ao percorrer as páginas do 99 cervejas achei que o Francisco foi demasiado benevolente com as cervejas nacionais. Quanto ao resto a minha avaliação não difere muito do Francisco.

Aqui ficam as minhas estrelinhas e as do Francisco entre parêntesis:

Budweiser Budvar (Budejovice) - **** (***)
Bush - *** (*****)
Chimay - ***** (****)
Gordon Scotch Ale - *** (**)
Erdinger - *** (****)
Girardin Geuze - *** (****)
Grimbergen - ***** (****)
Grolsch - *** (***)
Guinness - **** (***)
Leffe - ***** (****)
Murphy's (red) - **** (***)
Negra Modelo - *** (***)
Orval - *** (*****)
Pilsener Urquell - **** (*****)
Sagres - * (***)
Sagres Bohemia - ** (****)
Spaten - *** (****)
Staropramen - **** (****)
Stella Artois - **** (***)
Super Bock - *** (***)
Super Bock Abadia - . (***) -> Imitação péssima das abadias belgas
Super Bock Stout - ** (****) -> garrafa muito lindinha, mas o conteúdo...
Tagus - ** (****)
Warsteiner - **** (****)
Westmalle - **** (***)

Outras cervejas que não constam no 99 cervejas:

Onix preta (P) - ****
Krusovice (CZ) - *****
Zlaty Bazant (SK) - ****
Kelt (SK) - ****
Löwenbrau (D) - ***
Franziskaner (D) - ****
Gambrinus (CZ) - ****
Corona (MEX) - **** -> Só no Verão
Carlsberg (DK) - ****
Deus (B) - ****

sexta-feira, outubro 20, 2006

La Subjectivité à Venir de Slavoj Žižek

"La subjectivité à venir" de Slavoj Žižek (Flammarion, 2006) é uma interessantíssima recolha de reflexões sobre a cultura popular e o seu impacto social, sob o prisma da psicanálise. Dada a raridade de análises sociais com este cariz e dada a grande importância da psicanálise para compreensão das sociedades em que vivemos, esta obra de Žižek constitui uma riquíssima fonte de descoberta sobre o que se esconde atrás do papel de parede que reveste o nosso quotidiano. Filmes populares como Matrix ou Fight Club, filmes e séries de culto como a Pianista ou Colombo, algumas óperas de Wagner e Rossini e a obra fotográfica de Leni Riefenstahl são alguns dos interessantes objectos de análise de Žižek. Žižek dedica também uma excelente reflexão da sua obra à dificuldade de popularização da ciência dada a complexidade do seu conteúdo e ao fantasma fascista sempre presente que visa limitar o alcance dessa mesma ciência.

No melhor pano cai a nódoa marxista
Apesar de todo o brilhantismo da obra e do seu indubitável interesse, Žižek intercala a leitura deliciosa das suas análises com marteladas marxistas por vezes completamente a despropósito. O leitor é confrontado com tentativas de atribuir a máximas marxistas bastante simples (para não dizer primárias) o mesmo nível de sofisticação das reflexões de Žižek baseadas na psicanálise. Curiosamente, a análise de Žižek sobre os maus da fita do popularucho filme Matrix encaixa muito mais facilmente no esquema sombrio da ex-URSS do que propriamente na teia do Grande Capital, como Žižek se esforça em demonstrar. Depois, o livro contém partes realmente fracas, como o ataque ao físico de Joschka Fisher. Encontramos também algumas contradições, como um certo radicalismo a condenar a religião seguida de alguma complacência acompanhada de uma errada análise à religião muçulmana. E digo errada, pois Žižek refere que a violência e a intolerância são traços sempre presentes na religião muçulmana (pag. 160). Ora, há 30 ou há 40 anos por exemplo, as mulheres muçulmanas das grandes cidades do Magrebe ou das comunidades emigrantes europeias praticamente não usavam véu ou lenço, o fundamentalismo como o conhecemos hoje é um fenómeno novo e excepcional. Žižek não se poupa em atacar a esquerda multicultural e de criticar uma época em que tudo é permitido. Embora o tom irónico da época em que tudo é permitido comporte uma crítica acertada, visto que muitas vezes essa permissividade é apenas ilusória (como já sabíamos), a verdade é que também transmite um certo conservadorismo. Leio-lhe um marxismo próprio de quem não está para grandes brincadeiras. Se ele tivesse votado em Janeiro passado aposto que tinha votado Jerónimo.

Se Žižek não fosse marxista seria muito mais interessante, mas nestas idades mais de 90% das pessoas não mudam, só pioram. No entanto, tirando as passagens marxistas, o resto do livro é muito estimulante e recomendo-o vivamente. Encarem as passagens marxistas como uns copos de vinho a martelo que intercalam com um grande champanhe ou um vindimas tardias.

quinta-feira, outubro 19, 2006

A evidente influência do CO2 no aquecimento global


(Sítio UNEP)

Estive a ler os comentários nos vários blogues ao gráfico aqui apresentado que mostra a evolução da temperatura global e da concentração de CO2 ao longo dos últimos 400 mil anos e noto que há alguma confusão na interpretação dos dados, que são bem simples, principalmente da parte do autor da confusão: o João Miranda.

Após dezenas de entradas sobre o aquecimento global dou-me conta que o João Miranda não percebeu o que é um gás a efeito de estufa, como o CO2. Um gás como o CO2 não "aquece", o CO2 não é radiação, mas é um gás que uma vez fortemente concentrado na atmosfera impede uma quantidade importante de radiação de se escapar da Terra para o espaço. Por isso, o CO2 - usando as palavras do João quando acertou enquanto se enganava - funciona como amplificador do aquecimento global. Pois é, tal como uma estufa. Uma estufa não precisa de aquecedor, basta que não deixe sair uma determinada quantidade de radiação para que a sua temperatura interior aumente. Se não existissem gases de efeito de estufa e a atmosfera fosse completamente transparente à radiação infravermelha emitida pela Terra, a temperatura à superfície seria de -18°C. À semelhança do que acontece nos planetas desprovidos ou de ténue de atmosfera. Por isso e ao contrário do que refere o João Miranda, é importantíssimo conhecer a relação entre a concentração de CO2 e o aquecimento global, pois são os gases a efeito de estufa (e não a radiação) a causa determinante para que a temperatura média na Terra seja cerca de 15°C em vez de -18°C.

O comentário que acompanha o gráfico do UNEP é claríssimo:
"The information presented on this graph indicates a strong correlation between carbon dioxide content in the atmosphere and temperature". Os comentários de Caillon para os quais João Miranda remete ainda o reforçam mais: "Some (currently unknown) process causes Antarctica and the surrounding ocean to warm. This process also causes CO2 to start rising, about 800 years later. Then CO2 further warms the whole planet, because of its heat-trapping properties. This leads to even further CO2 release. So CO2 during ice ages should be thought of as a "feedback", much like the feedback that results from putting a microphone too near to a loudspeaker."
O João Miranda confundiu o papel do CO2 com o da radiação, esqueceu-se que o CO2 é a estufa e não a radiação que fica aprisionada na estufa aquecendo o seu interior... Acontece!

Por todas as razões apontadas acima é que o gráfico dos gelos de Vostok é uma espécie de xeque-mate às teorias negacionistas do aquecimento global, sobretudo quando cruzado com os gráficos abaixo apresentados que mostram a subida vertiginosa da concentração do dióxido de carbono nos últimos anos provocada pela actividade humana, acompanhada do respectivo aumento de temperatura. Comentário do UNEP: "A possible scenario: anthropogenic emissions of GHGs could bring the climate to a state where it reverts to the highly unstable climate of the pre-ice age period. Rather than a linear evolution, the climate follows a non-linear path with sudden and dramatic surprises when GHG levels reach an as-yet unknown trigger point."


928 artigos a zero

Oportunamente, o Bruno refere um estudo que andava há algum tempo para aqui citar sobre as publicações cientíticas referindo o aquecimento global. Percebe-se que as fontes de informação dos negacionistas do aquecimento global vêm de todos os lados, menos daquela de onde deveriam de vir: da ciência. Sobre estas "fontes" acrescentarei algo proximamente.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Ainda Manhattan

O Nuno Mota Pinto inseriu no Mar Salgado a deliciosa cena de abertura de Manhattan.

Rapidinhas para o João Miranda

1- O João Miranda finalmente descobriu a pólvora: "CO2 pode funcionar como amplificador do aquecimento causado pelos ciclos de Milankovitch", responsável por cerca de 5/6 da duração de um ciclo, como refere o artigo para o qual ele remete. No entanto, numa tentativa de salvar a face refere: "o que está em causa no debate (...) não é saber se existe uma relação entre a concentração de CO2 e aquecimento global.". Convido-o a dar mais atenção ao segundo gráfico que apresentei na minha entrada anterior que mostra a evolução da concentração de dióxido de carbono dos últimos 130 anos. O resto é matemática do secundário.

2- Este estudo publicado recentemente na revista Nature mostra que o Sol não tem influência no aquecimento global. O que não espanta nada. O ciclos solares mais importantes são os ciclos de 11 anos, período que pouco tem a ver com as alterações principais que se têm verificado no clima. Mas como esta é uma matéria ainda um bocado "verde", nada impede que possam surgir outros estudos diferentes, mas este é o melhor até agora realizado.

3- A radiação cósmica é um dos elementos que entra nos meus estudos, conheço-lhe bem os fluxos, os tipos de partículas, as energias, etc. Com fluxos de radiação daquela ordem não se fazem milagres. Além do mais são fluxos de radiação a longo termo estatisticamente bastante constantes, portanto não vale a pena imaginar cenários de grandes flutuações, a não ser que nos expluda uma supernova no "quintal". Mas nesse caso, as consequências podem ser bem piores que o aquecimento global. Para além disso existem muitos modelos climáticos que já incluem a radiação cósmica, não é uma grande novidade, como os estudos realizados na Universidade de Louvain, por exemplo.

4- Tudo o que é aqui discutido, tal como nos artigos referidos pelo João Miranda trata-se de trabalho que obedece ao rigor do método científico. No método científico não cabem tretas como o criacionismo. O João Miranda não pode andar as segundas, quartas e sextas a falar de ciência, e com a mesma propriedade, às terças, quintas e sábados a falar de tretas como o criacionismo que não passam o crivo de qualquer método científico. Perde-se a credibilidade.

terça-feira, outubro 17, 2006

Insurgente: ignorância científica e aquecimento global



Como a questão ideológica de usar o aquecimento global como arma de arremesso política foi definitivamente perdida no plano científico - o gráfico acima publicado na Nature foi o xeque-mate à fraude científico-política que visava negar a relação entre aquecimento global e a concentração de gases de efeito de estufa - resta a fuga para a frente a retalho, para tentar pequenas vitórias que salvem a face da argolada política. Este texto do Insurgente é um exemplo dessas pequenas fugas para a frente que revelam bastante ignorância e uma teimosia no erro confrangedora. O texto revela bastante ignorância porque insinua que os "consensos científicos flutuam" baseado num artigo da revista Times de 1974 em que se alertava para uma nova idade do gelo relativamente ao facto do aquecimento global ser hoje um dado adquirido entre os climatologistas. Ora, não só a revista Times não é uma revista científica, como em 1974 não existia consenso científico sobre o clima no futuro. E não existia consenso porque era impossível haver consenso dado o número reduzido de trabalhos científicos efectuados até à altura. A produção científica na área da climatologia desde 1974 até aos dias de hoje foi multiplicada por mil, os orçamentos dedicados à investigação idem. Mesmo que tivesse existido um consenso científico em 1974, não se poderia falar em consenso flutuantes, porque a disparidade da significância estatística dos resultados é abismal, não se podem colocar ao mesmo nível de discussão resultados sobre a mesma coisa um com uma barra de erro de 100 e outro com uma barra de erro de 0,01. É aqui que o texto do Insurgente revela ignorância, é o mesmo que eu dizer que existe uma flutuação de consensos sobre a forma da Terra. Há três milénios atrás havia um consenso de que a Terra era plana (apesar dos cépticos apologistas da Terra em forma de carapaça da tartaruga) e hoje sabemos que é aproximadamente esférica. No século XV havia um consenso de que a Terra estava no centro do sistema solar e hoje o consenso é de que somos apenas o terceiro planeta a contar do Sol. O facto de em certas épocas em que o conhecimento era muito mais limitado do que hoje se tivessem optado por teorias erradas isso não quer dizer que existirão eternamente flutuações de consenso sobre os mesmos assuntos. Não voltarão a existir consensos que darão a Terra como plana, nem consensos que colocarão a Terra no centro do sistema solar, tal como não existirão consensos de um cenário de pequena idade do gelo numa época de alta concentração de dióxido de carbono.

Depois o texto insiste no erro, continua a referir o trabalho de Bjørn Lomborg (o ecologista céptico), que apesar de ser um trabalho sério incorreu em vários erros de palmatória prontamente denunciados nas revistas científicas internacionais mais relevantes. Lomborg não é climatologista, nunca publicou numa revista científica da especialidade, o que contribuiu para que nunca tenha admitido alguns dos erros do seu trabalho. O estudo de Lomborg de 2004 foi baseado nalguns dos seus erros, por isso não espanta que o resultado do seu trabalho estivesse também errado. Aos economistas citados cabia apenas fazer um estudo baseado nos dados de Lomborg, independentemente de estarem certos ou errados. Se se baseassem em dados sugeridos pela generalidade dos cientistas que ganharam prémios Nobel (os Nobel da NASA ou o europeu Georges Charpak por exemplo) o estudo seria completamente diferente e os resultados mais de acordo com a realidade. E a realidade científica o que diz é que cada dia que passa sem se tomarem iniciativas para travar o aquecimento global, implica um aumento de custos que não é proporcional no tempo, mas sim exponencial. Ou seja, cada dia sem fazer nada é uma derrota nessa batalha. Outra coisa básica que nos diz a ciência é que apesar de os custos associados a catástrofes ecológicas (inundações, fogos, períodos de seca, etc.) serem extremamente difíceis de prever quer em termos de perdas humanas quer em perdas económicas, sabemos que estes serão bem mais elevados comparativamente a qualquer custo actual de medidas de combate ao aquecimento global.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Manhattan

O início de "Manhattan" de Woody Allen, é o meu início de filme preferido. As deliciosas divagações de Isaac Davis (Woody Allen) casam perfeitamente com a música de George Gershwin e com o conjunto de imagens que vão desfilando de uma Manhattan romântica do final dos anos 70. Um dos grandes trunfos do filme é ter conseguido transmitir esse ambiente romântico que um dia a cidade viveu, onde não eram apenas os arranha-céus que eram sublimes e grandiosos, as pessoas, a cultura nova-iorquina era também ela sublime, marcada por um fervilhar de descobertas e de inovações.

Descobri a cidade em 2002. Apreciei esses mesmos arranha-céus dos anos 20, os museus, a cultura, os transportes públicos e um modo de vida que de certa forma faz lembrar mais a Europa do que a generalidade das cidades americanas, balofas, onde os mega-parques de estacionamento e os giga-centros comerciais desertificam a paisagem urbana. No entanto, notei que havia uma certa las-veguização das animações culturais no centro da cidade, acompanhada de muito kitsch, muito franchising barato, muita loja dos trezentos, muito comércio manhoso que vive de uma caça ao dólar sem concessões. O ambiente romântico de "Manhattan" pareceu-me distante de tudo aquilo. Se calhar nunca existiu e nesse caso o filme seria uma visão edílica da cidade. No entanto, aqui ficam as deliciosas divagações de Isaac Davis, para ler em fundo de George Gershwin:

"Chapter One. He adored New York City. He idolized it all out of proportion - er, no, make that: he - he romanticized it all out of proportion. - Yes. - To him, no matter what the season was, this was still a town that existed in black and white and pulsated to the great tunes of George Gershwin. - Er, tsch, no, missed out something.

Chapter One. He was too romantic about Manhattan, as he was about everything else. He thrived on the hustle bustle of the crowds and the traffic. To him, New York meant beautiful women and street-smart guys who seemed to know all the ankles. - No, no, corny, too corny for a man of my taste. Can we ... can we try and make it more profound? -

Chapter One. He adored New York City. To him, it was a metaphor for the decay of contemporary culture. The same lack of individual integrity that caused so many people to take the easy way out was rapidly turning the town of his dreams in ... - no, that's a little bit too preachy. I mean, you know, let's face it, I want to sell some books here.

Chapter One. He adored New York City, although to him it was a metaphor for the decay of contemporary culture. How hard it was to exist in a society desensitized by drugs, loud music, television, crime, garbage ... - Too angry. I don't want to be angry.

Chapter One. He was as tough and romantic as the city he loved. Behind his black-rimmed glasses was the coiled sexual power of a jungle cat. - I love this. - New York was his town, and it always would be ...
"

sexta-feira, outubro 13, 2006

L'Univers a-t-il besoin de Dieu?

Já está à venda (em Portugal poderá demorar mais uns dias) este precioso número especial da Ciel et Espace que faz uma revisão de questões científicas que abalam uma série de crenças religiosas.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Orçamento finlandês ok, mas...

O anúncio de José Sócrates de cortes orçamentais em todos os ministérios, excepto no Ministério da Ciência cujo o orçamento aumenta mais de 60%, segue um modelo decalcado da estratégia seguida com sucesso pela Finlândia que fez emergir o país da maior recessão registada na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Há cerca de um ano, nesta entrada, sugeri que se analisasse e se apostasse em políticas semelhantes ao exemplo finlandês. No entanto, há algumas salvaguardas que é preciso ter em conta para que este tipo de orientação política tenha sucesso no caso particular que é Portugal:

1- Portugal é o país da Europa com o nível educacional mais baixo, e de longe mais baixo. Esta é uma grande diferença em relação à Finlândia. Temos os trabalhadores e os empresários com qualificações mais baixas, por isso é imperativo combater o abandono escolar e apostar na reciclagem e formação de trabalhadores e empresários. A Universidade (sem propinas) deveria ter um papel importante neste trabalho de reciclagem e de formação.

2- O modelo aplicado na Finlândia foi conduzido por uma instituição semelhante à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), mas com poderes mais amplos de coordenação e de monitorização que foram essenciais para o sucesso do modelo. A FCT está longe desse nível de versatilidade e de poder.

3- Se a investigação não interagir com a sociedade de pouco servirá aumentar o orçamento do ministério da ciência. As universidades e os centros de investigação deverão trabalhar em rede com empresas, instituições públicas (câmaras, hospitais, forças armadas, etc.) e empresas. Neste particular ainda temos muito trabalho a fazer.

4- A investigação fundamental deve ser protegida, visto ser uma área cujos frutos surgem em geral a longo prazo, muito para além do tempo de vida das empresas, incompatível com a generalidade dos objectivos empresariais, mais centrados sobre o curto e o médio prazo. Logo este é um domínio de investigação que deve ser financiado e regulado preferencialmente pelo estado.

5- É absolutamente necessário divulgar o trabalho de investigação. A divulgação científica serve não apenas para informar os cidadãos sobre o destino dos seus impostos, mas também para aumentar a sua qualidade de vida, informando os mesmos sobre o que consomem, sobre fraudes pseudo-científicas, sobre o alcance da tecnologia e sobre as portas que se vão abrindo à exploração de novas áreas do conhecimento.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Em nome do proletariado! Caaabuuuuum!!!!

Eis o registo do "singelo" sismo de 4,2 na escala de Richter após o ensaio nuclear realizado esta manhã pelo regime da Coreia do Norte. Porque é que se realiza uma experiência burguesa num país onde se morre à fome? Será em nome do proletariado, dos camponeses, dos operários ou da revolução? Ou será para excitar Kim Jong-Il nos seus momentos mais íntimos? Fica a dúvida. O que é certo é que as réplicas deste sismo artificial estenderam-se até às Filipinas!
Este foi o primeiro teste de armas nucleares realizado no mundo desde 1996, depois da série de testes efectuados pela França no Pacífico, após a eleição de Chirac.


34 dados na próxima viagem aos EUA

O diário El Pais publicou a nova lista de 34 dados que todos os cidadãos da UE deverão transmitir aos EUA sempre que se desloquem àquele país de avião:

- Código de identificación de la Relación de Nombres de Pasajeros (PNR)
- Fecha de reserva
- Fecha(s) prevista(s) del viaje
- Nombre del pasajero
- Otros nombres que figuran en la PNR
- Dirección
- Modalidades de pago*
- Dirección de facturación
- Teléfonos de contacto
- Itinerario completo del viaje
- Información sobre viajeros frecuentes (número de millas recorridas y dirección o direcciones)
- Agencia de viajes
- Agente de viajes
- Información sobre los códigos utilizados
- Información sobre la PNR escindida o dividida
- Dirección electrónica
- Información sobre la emisión de billetes
- Observaciones generales
- Número de billete
- Número de asiento
- Fecha de emisión del billete- Pasajero del que no se dispone de información
- Números de etiquetado de las maletas
- Pasajero de último momento sin reserva
- Información sobre la fuente
- Historial de los cambios aportados a la PNR
- Número de viajeros en la PNR
- Información sobre el asiento
- Billete de ida y vuelta o de ida sólo


*Se possuirem um cartão de crédito VISA poderão facilitar ainda mais a vida às autoridades americanas. O cartão American Express é o mais eficiente, é uma espécie de ligação directa a "Deus".

sábado, outubro 07, 2006

Courrier International especial aquecimento global

A não perder esta edição especial da Courrier International sobre o aquecimento global, provavelmente apenas disponível em francês.

Esta edição está bem estruturada em secções que cobrem todas as vertentes do problema:

- Alertas: degelos do Árctico, Antárctico, Gronelândia, Islândia, etc.
- Cenários: decomposição da tundra, refugiados climáticos, deserto Sara verde, etc.
- Controvérsias: corrente do Golfo, mentiras da Exxon, furacões tropicais, etc.
- Antes e Depois: fotografias impressionantes que mostram a degradação dos glaciares
- Soluções: energia eólica, nuclear, combustíveis alternativos, teoria dos triângulos, etc.
- Políticas
- Personalidades
- Bibliografia

sexta-feira, outubro 06, 2006

Chulice no registo automóvel

Fui alterar a morada do livrete - que agora passa ao mais prático Documento Único Automóvel - ao Gabinete de Registo Automóvel, quando sou informado que devo pagar a módica quantia de 38 €!!! Para cúmulo estes 38 € pagam um serviço que comporta um mês de espera para receber o documento!
Obviamente que vou reclamar desta verdadeira chulice, mesmo que não dê em nada, só para chatear os burocratas responsáveis por estes delírios. É assim que se premeia a mobilidade e o dinamismo? Estes 38 €, somados a outras tantas burocracias imbecis que pesam sobre as pessoas mais dinâmicas deste país, só servem para premiar o imobilismo social e a carreira linear de alguns burocratas autistas.

Obrigado Senador Jorge Costa!



Mais conhecido por Bicho ou Capitão, para mim ele é e será sempre o Senador do FC Porto. Apesar de a palavra senador ter sido utilizada depreciativamente em relação a Jorge Costa por Del Neri, é na minha opinião a mais adequada para definir a grandeza do Jorge. Arrumou as botas. Um grande obrigado pelos momentos mágicos que proporcionaste a este fiel adepto.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Rentrée literária francesa na TV5


Hoje às 22.22 na TV5, a não perder o programa "Esprits Libres" onde continuará a apresentação das principais obras da rentré literária francesa.

Animação da aterragem da sonda Huygens

O filme da descida da sonda Huygens até à superfície de Titã pode ser descarregado aqui. O mesmo filme em cd-rom é oferecido na edição deste mês da revista Ciel et Espace.

terça-feira, outubro 03, 2006

Nobel da Física

John C. Mather e George F. Smoot eram os investigadores responsáveis dos instrumentos do satélite COBE que permitiram importantíssimas descobertas no campo da cosmologia:

"This year the Physics Prize is awarded for work that looks back into the infancy of the Universe and attempts to gain some understanding of the origin of galaxies and stars. It is based on measurements made with the help of the COBE satellite launched by NASA in 1989.
The COBE results provided increased support for the Big Bang scenario for the origin of the Universe, as this is the only scenario that predicts the kind of cosmic microwave background radiation measured by COBE.
".
Ler mais aqui.

Ler "O Neo-liberalismo" no Esquerda Republicana

Em Portugal existe uma confusão infernal sobre o que são liberais, o liberalismo e o neo-liberalismo, isto tanto à esquerda como à direita. A confusão é tanta que parte da esquerda acabou a defender o Não ao Tratado Constitucional, invocando o não a um "neo-liberalismo" europeu, lado a lado com os maiores "neo-liberais" da nossa praça...

Esta excelente entrada do Filipe Castro no Esquerda Republicana ajuda a esclarecer o assunto.

domingo, outubro 01, 2006

Armas de destruição em massa: Big King XXL

866 kcal
13% do peso em gordura
3 % do peso em açúcar

Menu Monster:
Big King XXL +
Coca-cola XXL +
Batatas fritas XXL
= 1648 kcal

Necessidades diárias:
homem - 2200 kcal
mulher - 1800 kcal

Armas de destruição em massa: Fanta