O anúncio de José Sócrates de cortes orçamentais em todos os ministérios, excepto no Ministério da Ciência cujo o orçamento aumenta mais de 60%, segue um modelo decalcado da estratégia seguida com sucesso pela Finlândia que fez emergir o país da maior recessão registada na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Há cerca de um ano, nesta entrada, sugeri que se analisasse e se apostasse em políticas semelhantes ao exemplo finlandês. No entanto, há algumas salvaguardas que é preciso ter em conta para que este tipo de orientação política tenha sucesso no caso particular que é Portugal:
1- Portugal é o país da Europa com o nível educacional mais baixo, e de longe mais baixo. Esta é uma grande diferença em relação à Finlândia. Temos os trabalhadores e os empresários com qualificações mais baixas, por isso é imperativo combater o abandono escolar e apostar na reciclagem e formação de trabalhadores e empresários. A Universidade (sem propinas) deveria ter um papel importante neste trabalho de reciclagem e de formação.
2- O modelo aplicado na Finlândia foi conduzido por uma instituição semelhante à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), mas com poderes mais amplos de coordenação e de monitorização que foram essenciais para o sucesso do modelo. A FCT está longe desse nível de versatilidade e de poder.
3- Se a investigação não interagir com a sociedade de pouco servirá aumentar o orçamento do ministério da ciência. As universidades e os centros de investigação deverão trabalhar em rede com empresas, instituições públicas (câmaras, hospitais, forças armadas, etc.) e empresas. Neste particular ainda temos muito trabalho a fazer.
4- A investigação fundamental deve ser protegida, visto ser uma área cujos frutos surgem em geral a longo prazo, muito para além do tempo de vida das empresas, incompatível com a generalidade dos objectivos empresariais, mais centrados sobre o curto e o médio prazo. Logo este é um domínio de investigação que deve ser financiado e regulado preferencialmente pelo estado.
5- É absolutamente necessário divulgar o trabalho de investigação. A divulgação científica serve não apenas para informar os cidadãos sobre o destino dos seus impostos, mas também para aumentar a sua qualidade de vida, informando os mesmos sobre o que consomem, sobre fraudes pseudo-científicas, sobre o alcance da tecnologia e sobre as portas que se vão abrindo à exploração de novas áreas do conhecimento.
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