Um ano depois dos tumultos em França, o colectivo ACLEFEU, composto por residentes das cités, realizou um levantamento sobre o que foi feito em todo país para resolver os problemas das mesmas cités: a exclusão, o desemprego, o estado das habitações e dos equipamentos, etc. A conclusão desse levantamento é que muito pouco ou nada mudou.
Devo referir que esta conclusão não me espanta absolutamente nada. O que me incomoda mais nisto tudo é incrível passividade da esquerda perante a gravidade da situação das cités. A "luta" contra o CPE simboliza melhor do que qualquer outro exemplo essa passividade e um certo egoísmo político que caracterizam uma boa parte da esquerda francesa.
Durante anos a resposta da direita aos problemas das cités foi essencialmente a política da bastonada, com os resultados que se viram. Villepin foi o primeiro político de direita a propor medidas alternativas ao bastão. Villepin propôs o CPE com o objectivo de oferecer mais oportunidades de trabalho nas cités. A esquerda não concordou. Sendo assim, o que eu esperava da esquerda era que centrasse a sua luta contra o CPE no quadro da resolução dos problemas das cités, apresentando alternativas por exemplo, mas não foi isso que aconteceu. Em poucos dias as "vítimas" do CPE deixaram de ser os jovens das cités para passarem a ser os estudantes universitários, que muito dificilmente seriam abrangidos pela lei, visto que esta só poderia ser aplicada a trabalho não qualificado e a jovens até aos 24 anos. Mais uns dias volvidos e entre as "vítimas" que se manifestavam já se encontravam trabalhadores quase na reforma. As cités tinham sido já completamente esquecidas. A esquerda mergulhou num egoísmo eleitoralista fácil e perdeu uma grande oportunidade para debater as cités a sério. Um ano volvido, ainda estamos no ponto de partida...
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