"L'indignation de la cour impériale devant une carte jésuite où la Chine était figurée sur le bord droit de l'image donne un bon aperçu du géocentrisme chinois: que faisait donc l'empire du Milieu sur la périphérie du monde? Le père Matteo Ricci eut l'intelligence de modifier la présentation de la carte, en plaçant l'Empire céleste en plein milieu, avec l'Europe loin à l'ouest."
Paul Theroux, L'Atalas des Atlas, Hors-série Courrier International, 2005
quinta-feira, março 31, 2005
quarta-feira, março 30, 2005
Júlio Verne, 100 anos
Quando descobri Júlio Verne não descansei enquanto não comprei todos os romances que havia à venda. Fazia-o à custa dos tostões que me iam oferecendo alguns familiares em ocasiões especiais (Páscoa, Natal, aniversário, etc.). Dediquei uma secção na minha estante só a Júlio Verne. A minha mãe olhava desconfiada para o volume de livros que não parava de aumentar e dizia-me: "em vez de guardares o dinheirinho que te dão, andas a estoirá-lo em livros". Numa família sem tradições académicas ouve-se destas de vez em quando. Os 100 anos da morte de Júlio Verne, que agora se comemoram, evocam-me esses tempos de longas e deliciosas horas a fio passadas a ler e a imaginar todas aquelas aventuras. O que mais impressiona na obra de Júlio Verne é o seu carácter visionário. Ainda hoje, algumas das ideias mais incríveis imaginadas por Júlio Verne são objecto de estudo sério, como é o caso de um elevador capaz de levar os passageiros da Terra até à Lua.
Apesar de ser um grande fã de ficção científica, a obra de Júlio Verne de que mais gostei na altura foi "Miguel Strogoff" (ver ilustração). Não larguei o livro enquanto Miguel Strogoff não cumpriu a sua longa viagem até Yakutsk, uma viagem cheia de duras provas aos seus limites físicos. Muitos consideram ter sido estas duras provas de Miguel Strogoff a fonte inspiração do Barão Pierre de Coubertin para a criação do Pentatlo Moderno, o desporto do atleta perfeito para o Barão.
Apesar de ser um grande fã de ficção científica, a obra de Júlio Verne de que mais gostei na altura foi "Miguel Strogoff" (ver ilustração). Não larguei o livro enquanto Miguel Strogoff não cumpriu a sua longa viagem até Yakutsk, uma viagem cheia de duras provas aos seus limites físicos. Muitos consideram ter sido estas duras provas de Miguel Strogoff a fonte inspiração do Barão Pierre de Coubertin para a criação do Pentatlo Moderno, o desporto do atleta perfeito para o Barão.
segunda-feira, março 28, 2005
Patetices
Vital Moreira desmonta com o seu habitual rigor os delírios anti-francófonos e a análise troca-tintas sobre o PEC de Marcelo Rebelo de Sousa. Para quem conhece um bocadinho a Europa e a sua história, a orientação do discurso de Marcelo mete dó e é avaliado como um discurso pateta pelos outros europeus que o ouvem (e já não são poucos em Portugal). O passado recente de Portugal deve tudo à França. A notícia sobre as remessas dos emigrantes que faz hoje a capa dos jornais refere-se sobretudo a emigrantes que estão em que país? É por isso que os exageros nas críticas à França caem pior do que a qualquer outro país do mundo. Somos pobres e mal agradecidos. Mas Marcelo não é o único em Portugal a alinhar neste tipo de exageros.
sábado, março 26, 2005
Atlas dos atlas
Esta hors-série da Courrier International do 2º trimestre do ano é uma delícia. Todos aqueles que gostam de cartografia e de geopolítica têm aqui uma guloseima que vale bem o preço (12€). A revista para além de fazer uma actualização muito completa do mapa das fronteiras e dos conflitos do nosso planeta, possui várias secções dignas de um jornalismo de alto nível: visões do mundo (cartografia técnica e mapas mundo centrados em países específico), história (vias romanas, geografia árabe, Europa medieval, mapas dos descobrimentos, etc.), futuro (demografia, urbanização, água potável, clima, religião, etc.) e imaginário (filosofia, mapas inventados, jogos, mapas artísticos, etc.). Deixo aqui em jeito de aperitivo alguns dos mapas:
- um mapa mundo centrado na Austrália em que o hemisfério sul aparece no topo do mapa. O editor australiano faz questão de não pedir desculpas por o mapa ser assim e passa a culpa para os do hemisfério norte que impuseram a sua visão mundo.
- mapas de Oz, de Utopia e da Ilha do Tesouro
- mapa mundo em chinês e outro em japonês
- a deformação dos vários tipos de planisférios, onde podemos ver que o mais corrente, o Mercator, possui já uma deformação considerável a partir de latitudes acima dos 60º.
- um mapa mundo centrado na Austrália em que o hemisfério sul aparece no topo do mapa. O editor australiano faz questão de não pedir desculpas por o mapa ser assim e passa a culpa para os do hemisfério norte que impuseram a sua visão mundo.
- mapas de Oz, de Utopia e da Ilha do Tesouro
- mapa mundo em chinês e outro em japonês
- a deformação dos vários tipos de planisférios, onde podemos ver que o mais corrente, o Mercator, possui já uma deformação considerável a partir de latitudes acima dos 60º.
sexta-feira, março 25, 2005
João Miranda vai pagar julgamento de aborto em Setúbal!
No próximo dia 31 de Março, Portugal vai voltar a aparecer na Euronews, BBC, TF1, RAI 1, etc., como aquele país atrasado, terceiro mundista e bárbaro que julga as mulheres que cometem abortos. Mas a grande novidade é que quem vai pagar esse julgamento que ocorrerá em Setúbal será, presumo eu, João Miranda do Blasfémias. Estupefactos? Basta ir ao Blasfémias e ler as três postas de João Miranda intituladas "Propostas de pergunta para o referendo ao aborto". Antes de lerem, aconselho um saquinho de vómito daqueles dos aviões aos que se enervam muito com estas questões. A pergunta mais interessante proposta pelo João é a terceira, que curiosamente engloba a segunda:
"Na sua opinião as pessoas que consideram que o aborto causa a morte de um ser humano devem ser forçadas a pagar, via impostos, os abortos daqueles que o fazem nos hospitais públicos por motivos "psicológicos" ou socio-económicos?"
Para os que não vomitaram depois de ler esta questão, julgo que já devem ter tirado a mesma conclusão que eu: 1) ou os julgamentos às mulheres que abortam são de borla 2) ou o João Miranda, pondo em prática todo o seu espírito liberal, num acto louvável e raro de mecenato em Portugal, vai pagar todos os julgamentos de mulheres que praticarem o aborto no nosso país. Como a justiça não é de borla em Portugal e quem paga estes julgamentos são todos os contribuintes, os que votaram Não e Sim no anterior referendo (é assim em democracia somos beneficiados ou prejudicados independentemente do que individualmente colocámos na urna) a hipótese 1) está fora de questão. Resta a hipótese 2), João Miranda vai pagar os julgamentos das mais de 10 mil mulheres que abortam por ano. João Miranda vai pagar os bufos que as denunciam (aconselho a actualização da última tabela da PIDE de 1974), vai pagar os inquéritos judiciários, vai pagar os advogados, vai pagar os juízes, os funcionários das audiências e todos os dias de prisão a cumprir pelas mulheres que forem condenadas. Ah leão!
Este neo-conservadorismo tem escola, não cai do céu. Os EUA são um exemplo deste tipo de cocktail exótico que mistura o liberalismo económico selvagem com um moralismo católico-protestante fanático. Por questões ideológicas, há uns anos os EUA cortaram a eito em despesas sociais. Hoje cerca de 1% dos americanos estão atrás das grades. É isso mesmo que estão a pensar, os mais de 2 milhões de detidos americanos produzem uma despesa incomensuravelmente maior do que as ajudas sociais que eram prestadas anteriormente. Mas o meu exemplo preferido é o do estado da Califórnia. Um dos dogmas da catequese liberal dos neo-conservadores advoga que o ensino deve ser privado. A Califórnia seguiu esse dogma, o investimento público no ensino é minimalista. As prisões da Califórnia estão a abarrotar. Ironia das ironias, hoje o estado da Califórnia gasta nas prisões quase o dobro do dinheiro que é gasto no ensino! Deveria ser ao contrário, não era? Tentem lá explicar isso ao João Miranda...
"Na sua opinião as pessoas que consideram que o aborto causa a morte de um ser humano devem ser forçadas a pagar, via impostos, os abortos daqueles que o fazem nos hospitais públicos por motivos "psicológicos" ou socio-económicos?"
Para os que não vomitaram depois de ler esta questão, julgo que já devem ter tirado a mesma conclusão que eu: 1) ou os julgamentos às mulheres que abortam são de borla 2) ou o João Miranda, pondo em prática todo o seu espírito liberal, num acto louvável e raro de mecenato em Portugal, vai pagar todos os julgamentos de mulheres que praticarem o aborto no nosso país. Como a justiça não é de borla em Portugal e quem paga estes julgamentos são todos os contribuintes, os que votaram Não e Sim no anterior referendo (é assim em democracia somos beneficiados ou prejudicados independentemente do que individualmente colocámos na urna) a hipótese 1) está fora de questão. Resta a hipótese 2), João Miranda vai pagar os julgamentos das mais de 10 mil mulheres que abortam por ano. João Miranda vai pagar os bufos que as denunciam (aconselho a actualização da última tabela da PIDE de 1974), vai pagar os inquéritos judiciários, vai pagar os advogados, vai pagar os juízes, os funcionários das audiências e todos os dias de prisão a cumprir pelas mulheres que forem condenadas. Ah leão!
Este neo-conservadorismo tem escola, não cai do céu. Os EUA são um exemplo deste tipo de cocktail exótico que mistura o liberalismo económico selvagem com um moralismo católico-protestante fanático. Por questões ideológicas, há uns anos os EUA cortaram a eito em despesas sociais. Hoje cerca de 1% dos americanos estão atrás das grades. É isso mesmo que estão a pensar, os mais de 2 milhões de detidos americanos produzem uma despesa incomensuravelmente maior do que as ajudas sociais que eram prestadas anteriormente. Mas o meu exemplo preferido é o do estado da Califórnia. Um dos dogmas da catequese liberal dos neo-conservadores advoga que o ensino deve ser privado. A Califórnia seguiu esse dogma, o investimento público no ensino é minimalista. As prisões da Califórnia estão a abarrotar. Ironia das ironias, hoje o estado da Califórnia gasta nas prisões quase o dobro do dinheiro que é gasto no ensino! Deveria ser ao contrário, não era? Tentem lá explicar isso ao João Miranda...
quinta-feira, março 24, 2005
quarta-feira, março 23, 2005
Irão? Temos 480 ogivas nucleares na Europa
Preocupa-me profundamente o ódio crescente em relação ao "ocidente", embora considere que os EUA e a UE não fazem parte do mesmo ocidente. Questões como o desenvolvimento de tecnologia nuclear no Irão revelam uma hipocrisia pouco oportuna face à gravidade da matéria e só contribuem para aumentar esse ódio.
Apesar de já ter acabado a Guerra Fria há mais de 15 anos e apesar de não existirem ameaças a leste, a Europa conserva cerca de 480 ogivas nucleares no seu território:
Bélgica: 20
Alemanha: 150
Itália: 90
Holanda: 20
Reino Unido: 110
Turquia: 90
Deste grupo de países, apenas o Reino Unido (RU) é reconhecido como potência nuclear nos termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que reconhece somente mais quatro países para além do RU: EUA, Rússia, França e China. Apesar de a Bélgica, a Alemanha, a Itália, a Holanda e a Turquia não possuírem armas nucleares próprias, estes países possuem cerca de 370 ogivas americanas estacionadas no seu território em bases da NATO. Das 480 ogivas, apenas 300 estão afectadas a aviões americanos, as restantes são controladas por europeus. Por outras palavras, existem cinco países europeus estão a violar o principal objectivo do Tratado. A desculpa de as ogivas serem americanas também não convence. Imaginem que a China coloca umas ogivas em aviões da Coreia do Norte ou do Vietname...
Se a Europa quer ter credibilidade e não entrar no jogo baixo da realpolitik americana tem que começar a fazer uma limpeza das hipocrisias domésticas. Se a Europa quer exigir alguma coisa ao Irão tem primeiro que arrumar a casa. Eis uma boa oportunidade para a Europa convidar os EUA a levarem o seu arsenal nuclear de volta para casa, até porque as ogivas que se encontram nos referidos países, exceptuando a Turquia, poderão apenas atingir países democráticos e livres. Nem sequer serve a desculpa de que poderiam ter poder dissuasor nas regiões que apresentam maiores ameaças para os EUA. Para mudar o alcance dessas ogivas seria necessário cerca de um ano de trabalho e os EUA possuem milhares de mísseis de longo alcance capazes no seu território e a bordo de submarinos que podem perfeitamente cumprir esse papel dissuasor.
Apesar de já ter acabado a Guerra Fria há mais de 15 anos e apesar de não existirem ameaças a leste, a Europa conserva cerca de 480 ogivas nucleares no seu território:
Bélgica: 20
Alemanha: 150
Itália: 90
Holanda: 20
Reino Unido: 110
Turquia: 90
Deste grupo de países, apenas o Reino Unido (RU) é reconhecido como potência nuclear nos termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que reconhece somente mais quatro países para além do RU: EUA, Rússia, França e China. Apesar de a Bélgica, a Alemanha, a Itália, a Holanda e a Turquia não possuírem armas nucleares próprias, estes países possuem cerca de 370 ogivas americanas estacionadas no seu território em bases da NATO. Das 480 ogivas, apenas 300 estão afectadas a aviões americanos, as restantes são controladas por europeus. Por outras palavras, existem cinco países europeus estão a violar o principal objectivo do Tratado. A desculpa de as ogivas serem americanas também não convence. Imaginem que a China coloca umas ogivas em aviões da Coreia do Norte ou do Vietname...
Se a Europa quer ter credibilidade e não entrar no jogo baixo da realpolitik americana tem que começar a fazer uma limpeza das hipocrisias domésticas. Se a Europa quer exigir alguma coisa ao Irão tem primeiro que arrumar a casa. Eis uma boa oportunidade para a Europa convidar os EUA a levarem o seu arsenal nuclear de volta para casa, até porque as ogivas que se encontram nos referidos países, exceptuando a Turquia, poderão apenas atingir países democráticos e livres. Nem sequer serve a desculpa de que poderiam ter poder dissuasor nas regiões que apresentam maiores ameaças para os EUA. Para mudar o alcance dessas ogivas seria necessário cerca de um ano de trabalho e os EUA possuem milhares de mísseis de longo alcance capazes no seu território e a bordo de submarinos que podem perfeitamente cumprir esse papel dissuasor.
segunda-feira, março 21, 2005
Programa EURATOM 2002-2006 em euros
Distribuição de fundos do programa 6ºPQ EURATOM 2002-2006:
Investigação:
Fusão termonuclear controlada - 750 M€
Gestão de resíduos radioactivos- 90 M€
Protecção contra radiações - 50 M€
Outras actividades (tecnologias e segurança) - 50 M€
Deixo aqui estes números para ilustrar o meu texto anterior "Energia Nuclear à Bruta". Se o debate sobre o futuro energético do país não tiver em linha de conta a importância do desenvolvimento da fusão (cerca de 80% do investimento da EURATOM), corremos o risco de protagonizar um debate obsoleto em Portugal, como é infelizmente hábito nestas matérias. Por outras palavras, optar pelo facilitismo da fissão, com o argumento de este ser um assunto tabu dos ambientalistas, é estar a ir mais uma vez pelo caminho errado, em vez de fazermos uma análise séria ao futuro energético do país equacionando seriamente a nossa participação no desenvolvimento da prometedora fusão. E para variar poderíamos estar envolvidos num verdadeiro projecto de vanguarda de que poderão beneficiar bastante os nossos netos.
Investigação:
Fusão termonuclear controlada - 750 M€
Gestão de resíduos radioactivos- 90 M€
Protecção contra radiações - 50 M€
Outras actividades (tecnologias e segurança) - 50 M€
Deixo aqui estes números para ilustrar o meu texto anterior "Energia Nuclear à Bruta". Se o debate sobre o futuro energético do país não tiver em linha de conta a importância do desenvolvimento da fusão (cerca de 80% do investimento da EURATOM), corremos o risco de protagonizar um debate obsoleto em Portugal, como é infelizmente hábito nestas matérias. Por outras palavras, optar pelo facilitismo da fissão, com o argumento de este ser um assunto tabu dos ambientalistas, é estar a ir mais uma vez pelo caminho errado, em vez de fazermos uma análise séria ao futuro energético do país equacionando seriamente a nossa participação no desenvolvimento da prometedora fusão. E para variar poderíamos estar envolvidos num verdadeiro projecto de vanguarda de que poderão beneficiar bastante os nossos netos.
Entre a pena de morte e a sagrada vida humana
Ontem o presidente Bush abandonou o seu rancho para tentar revogar a decisão dos tribunais da Florida, que considera como um atentado ao direito à vida. Todos conhecemos as convicções religiosas da tendência política de Bush, ele faz parte dos que consideram a vida humana sagrada.
Nos EUA, 36 estados aplicam a pena de morte, entre os quais o do Texas, estado do qual Bush já foi governador.
E agora? A vida humana é sagrada?
É, excepto a dos maus...
Bush sabe muito bem quem são os maus, ele está de consciência tranquila.
Nos EUA, 36 estados aplicam a pena de morte, entre os quais o do Texas, estado do qual Bush já foi governador.
E agora? A vida humana é sagrada?
É, excepto a dos maus...
Bush sabe muito bem quem são os maus, ele está de consciência tranquila.
quinta-feira, março 17, 2005
Energia nuclear à bruta!
A entrada de Vital Moreira "Interditos" é claramente inspirada num tipo de opiniões que ultimamente têm andado a circular nos meios de comunicação social portugueses sobre a opção nuclear (leia-se fissão nuclear). A maior parte, tratam-se de opiniões verdadeiramente à papo seco sobre as opções energéticas do país, pois não têm em conta nem a dimensão do nosso país, nem o contexto europeu em que nos encontramos, nem qualquer rigor científico.
Portugal não tem capacidade tecnológica nem recursos humanos para nos lançarmos sozinhos na aventura nuclear. Seria por isso não só uma tarefa para as calendas gregas, como teríamos que hipotecar o traseiro para construirmos pelo menos duas centrais nucleares, para que a aventura nuclear pudesse ser viável. Na minha opinião só o poderíamos fazer em conjunto com o plano nuclear espanhol ou outro da mesma dimensão (talvez o da Atlântida).
No contexto europeu, se entrarmos na produção de energia nuclear tradicional (por fissão), na minha opinião isso seria um tremendo erro estratégico. A Europa no seu 6º Programa Quadro no capítulo da energia nuclear, atribui cerca de 80% dos fundos para a investigação e desenvolvimento da produção de energia nuclear por FUSÃO. Teoricamente esta forma de produção de energia não tem subprodutos perigosos e seria de alto rendimento. Apesar da produção de energia por fusão ainda estar longe de ser uma realidade, o que a EURATOM está investir no desenvolvimento da fusão é um sinal inequívoco de que a Europa quer acabar ou reduzir ao máximo a produção de energia nuclear a médio ou a longo prazo. Os alemães estão a fechar todas as centrais nucleares e os italianos estão a reduzir ao mínimo o seu programa de produção por fissão nuclear. Os restantes 20 % da verba da EURATOM para as centrais nucleares destinam-se quase exclusivamente para manutenção e tratamento de resíduos e não para a investigação.
A enveredarmos pela energia nuclear por fissão, manteríamos a nossa tradição de escolhermos sempre as piores opções: em vez de escolhermos as inovações (fusão), escolheríamos as velhas tecnologias (fissão) e em vez de escolhermos tecnologia não poluente (fusão) escolheríamos a opção mais arriscada e poluente (fissão).
Quando Vital Moreira invoca um tabu sobre o assunto, na minha opinião a haver tabu seria mais um tabu sobre a nossa cultura e a nossa mentalidade. O que interessaria saber é a razão pela qual somos uns ases a fazer tudo ao contrário e a repetir os erros dos outros.
Portugal não tem capacidade tecnológica nem recursos humanos para nos lançarmos sozinhos na aventura nuclear. Seria por isso não só uma tarefa para as calendas gregas, como teríamos que hipotecar o traseiro para construirmos pelo menos duas centrais nucleares, para que a aventura nuclear pudesse ser viável. Na minha opinião só o poderíamos fazer em conjunto com o plano nuclear espanhol ou outro da mesma dimensão (talvez o da Atlântida).
No contexto europeu, se entrarmos na produção de energia nuclear tradicional (por fissão), na minha opinião isso seria um tremendo erro estratégico. A Europa no seu 6º Programa Quadro no capítulo da energia nuclear, atribui cerca de 80% dos fundos para a investigação e desenvolvimento da produção de energia nuclear por FUSÃO. Teoricamente esta forma de produção de energia não tem subprodutos perigosos e seria de alto rendimento. Apesar da produção de energia por fusão ainda estar longe de ser uma realidade, o que a EURATOM está investir no desenvolvimento da fusão é um sinal inequívoco de que a Europa quer acabar ou reduzir ao máximo a produção de energia nuclear a médio ou a longo prazo. Os alemães estão a fechar todas as centrais nucleares e os italianos estão a reduzir ao mínimo o seu programa de produção por fissão nuclear. Os restantes 20 % da verba da EURATOM para as centrais nucleares destinam-se quase exclusivamente para manutenção e tratamento de resíduos e não para a investigação.
A enveredarmos pela energia nuclear por fissão, manteríamos a nossa tradição de escolhermos sempre as piores opções: em vez de escolhermos as inovações (fusão), escolheríamos as velhas tecnologias (fissão) e em vez de escolhermos tecnologia não poluente (fusão) escolheríamos a opção mais arriscada e poluente (fissão).
Quando Vital Moreira invoca um tabu sobre o assunto, na minha opinião a haver tabu seria mais um tabu sobre a nossa cultura e a nossa mentalidade. O que interessaria saber é a razão pela qual somos uns ases a fazer tudo ao contrário e a repetir os erros dos outros.
Einstein na blogosfera
Bons e interessantes textos sobre a vida e obra de Einstein na blogosfera:
Físicos de Lisboa (abundante informação); Nuno Guerreiro na Rua da Judiaria (reflexões, belas fotos e curiosidades); Filipe Moura no Blog de Esquerda (recomendo ainda este texto sobre Hans Bethe)
Físicos de Lisboa (abundante informação); Nuno Guerreiro na Rua da Judiaria (reflexões, belas fotos e curiosidades); Filipe Moura no Blog de Esquerda (recomendo ainda este texto sobre Hans Bethe)
quarta-feira, março 16, 2005
Obrigado!
Obrigado rapaziada! Foram dois anos e meio sem sermos eliminados, muito mais do que aquilo que imaginávamos nos nossos melhores sonhos. Como muitos, comecei a acreditar que algo de especial estava a acontecer depois daquela recuperação e victória em Atenas contra o Panatinaikos em que Vítor Baía venceu por KO o guarda-redes adversário: Nikopolidis (sim, é esse mesmo, o da final aos papéis...). Foi o jogo chave que nos deu a UEFA. O ano passado, aquela sobremesa semi-fria servida por Costinha ao Manchester United abriu-nos as portas da final e o título Europeu era nosso. Depois veio o título Mundial, muito, muito suado.
Sabíamos que um dia tudo isto iria acabar, foi hoje, mas foi a custo. O nosso valoroso capitão ainda nos fez acreditar que o sonho poderia prosseguir. Adriano, esse magnífico avançado, colocou-nos os pés no chão, definitivamente.
Obrigado!
Sabíamos que um dia tudo isto iria acabar, foi hoje, mas foi a custo. O nosso valoroso capitão ainda nos fez acreditar que o sonho poderia prosseguir. Adriano, esse magnífico avançado, colocou-nos os pés no chão, definitivamente.
Obrigado!
segunda-feira, março 14, 2005
Klepsýdra de Ouro 2004: "Der Untergang"
A qualidade dos filmes de 2004 a que fui assistindo deixou muito a desejar, até ver "Mar Adentro". Mas foi preciso ver "Der Untergang" (ver trailer) para descobrir um daqueles filmes que me vão ficar para sempre na retina.
"Der Untergang" (aguardemos o título em português) é um filme baseado nos relatos de Traudl Junge, secretária de Adolf Hitler, que descrevem os últimos dias passados no bunker onde estavam refugiados Hitler e os seus colaboradores mais próximos. Estes relatos só foram tornados públicos em 2002, daí a pertinência deste filme que revela novas e interessantes informações sobre os últimos dias de Hitler. O realizador Oliver Hirschbiegel apresenta no seu curriculum a popularíssima série de TV "Rex", mas é estranho, muito estranho ver Bruno Ganz, o maravilhoso anjo Damiel do filme "Asas do Desejo", a interpretar Adolf Hitler. O elenco é muito bom e conta ainda com Thomas Kretschmann, o Nikopol do filme "Imortal".
O que mais me impressionou neste magnífico documento da II Guerra Mundial foi a estoicidade ideológica e comportamental dos últimos refugiados no bunker de Hitler. A frieza de Goebbels vai para além da compreensão do comum mortal. As ideias expostas por Goebbels parecem ficção, mas não são, são baseadas nos relatos de quem lá esteve e o ouviu. De Hitler já sabíamos que era um monstro, mas é sempre diferente saber como se comportou um monstro até à hora final e é desconcertante perceber que Goebbels ainda superava Hitler no fanatismo pela causa Nazi. A mulher de Goebbels considerada por Hitler, "a melhor de todas mães alemãs", a certa altura afirma que não consegue imaginar os seus cinco filhos a viverem num mundo sem Nacional-Socialismo. Ela própria os mata um por um, fazendo-os ingerir comprimidos de cianeto. Tal como os generais, os graduados das SS, o casal Hitler e Braun todos se suicidaram metodicamente, com uma disciplina mórbida e doentia, mas o suicídio do casal Goebbels foi o expoente máximo do fanatismo, um suicídio fetichista e implacável.
A importância deste filme é a de nos relembrar que fanatismos e fundamentalismos extremos que grassam agora noutros quadrantes do nosso planeta já estiveram bem enraizados na Europa e não são exclusivo dos lugares onde há miséria e analfabetismo. A II Guerra Mundial não foi uma guerra convencional de puro confronto militar, foi muito mais do que isso, é o que nos diz "Der Untergang".
"Der Untergang" (aguardemos o título em português) é um filme baseado nos relatos de Traudl Junge, secretária de Adolf Hitler, que descrevem os últimos dias passados no bunker onde estavam refugiados Hitler e os seus colaboradores mais próximos. Estes relatos só foram tornados públicos em 2002, daí a pertinência deste filme que revela novas e interessantes informações sobre os últimos dias de Hitler. O realizador Oliver Hirschbiegel apresenta no seu curriculum a popularíssima série de TV "Rex", mas é estranho, muito estranho ver Bruno Ganz, o maravilhoso anjo Damiel do filme "Asas do Desejo", a interpretar Adolf Hitler. O elenco é muito bom e conta ainda com Thomas Kretschmann, o Nikopol do filme "Imortal".
O que mais me impressionou neste magnífico documento da II Guerra Mundial foi a estoicidade ideológica e comportamental dos últimos refugiados no bunker de Hitler. A frieza de Goebbels vai para além da compreensão do comum mortal. As ideias expostas por Goebbels parecem ficção, mas não são, são baseadas nos relatos de quem lá esteve e o ouviu. De Hitler já sabíamos que era um monstro, mas é sempre diferente saber como se comportou um monstro até à hora final e é desconcertante perceber que Goebbels ainda superava Hitler no fanatismo pela causa Nazi. A mulher de Goebbels considerada por Hitler, "a melhor de todas mães alemãs", a certa altura afirma que não consegue imaginar os seus cinco filhos a viverem num mundo sem Nacional-Socialismo. Ela própria os mata um por um, fazendo-os ingerir comprimidos de cianeto. Tal como os generais, os graduados das SS, o casal Hitler e Braun todos se suicidaram metodicamente, com uma disciplina mórbida e doentia, mas o suicídio do casal Goebbels foi o expoente máximo do fanatismo, um suicídio fetichista e implacável.
A importância deste filme é a de nos relembrar que fanatismos e fundamentalismos extremos que grassam agora noutros quadrantes do nosso planeta já estiveram bem enraizados na Europa e não são exclusivo dos lugares onde há miséria e analfabetismo. A II Guerra Mundial não foi uma guerra convencional de puro confronto militar, foi muito mais do que isso, é o que nos diz "Der Untergang".
sexta-feira, março 11, 2005
Problemas insolúveis de geometria
O eixo Paris-Berlim-Madrid (ver última linha) é que nos propõe Teresa de Sousa no seu artigo do Público desta semana. O Luís Januário propõe um Broche a Bush como elemento descodificador deste eixo enigmático. Eu por mim estou aqui há não sei quanto tempo a tentar desenhar um eixo unindo os pontos pela ordem proposta por Teresa de Sousa. Primeiro uno Paris a Berlim, tudo bem, não há nada de estranho. Mas quando uno Berlim a Madrid lá se vai a porra do eixo! Fico assim com dois segmentos de recta mesmo a pedirem um terceiro para formar um triângulo. Depois, se uno Berlim a Madrid pelo o outro lado planeta passo com o traço por cima de Washington, o que dá logo cabo da teoria toda da Teresa. Isto já para não referir que o traço que fica em forma de espiral entre Berlim, Washington e Madrid, com um apêndice entre Berlim e Paris. Até faz lembrar o "eixo" da era Aznar...
Falar claro: Terroristas, Resistentes e o 11 de Março
Li o parágrafo "The battle for clarity of language" publicado no Aviz retirado do texto "The arab street" de Christopher Hitchens. Apesar deste texto globalmente fazer uma crítica oportuna à intoxicação da população árabe pela propaganda islamista (o movimento político-religioso), julgo que o parágrafo em causa não ajuda muito a clarificar a linguagem.
Sabemos que no Iraque há terroristas, os que fazem atentados suicidas, os que colocam bombas no meio da população civil, os que atacam os membros de outros grupos religiosos, aliás desde a intervenção americana o Iraque passou a ser um local de peregrinação de qualquer grupo islâmico radical que se preze. Tal como diz Christopher Hitchens não podemos chamar resistentes a esses terroristas. O problema é que pela mesma "clarity of language" não podemos chamar terroristas a todos os Iraquianos que se opõem à ocupação americana. Existem Iraquianos que são de facto resistentes, uns fazem uso da violência outros não. Uns votaram e outros não. As eleições que houve no Iraque não foram um referendo sobre a presença americana. Depois ainda há os "patos bravos", aqueles que em nome da sobrevivência raptam e vendem a quem der mais. Se queremos de facto ser rigorosos em relação ao Iraque devemos fazer um mapa das resistências e dos terrorismos no Iraque, assim podemos ter uma base sólida para discutir de uma forma séria a questão iraquiana, falando sempre claro.
Quando Christopher Hitchens se coloca do lado dos "opponents of terror" e refere que os que desculpam o terrorismo islâmico são os mesmo que falam na "Arab street", parece-me que está a entrar pela mesma simplificação de linguagem que contribuiu para que o 11 de Março acontecesse há um ano em Espanha.
A banalização da palavra terrorismo e o 11 de Março
Depois do 11 de Setembro Aznar juntou-se a todos aqueles que à pala do ataque ao WTC passaram a meter no mesmo saco das palavras terrorismo e terror, grupos com objectivos e métodos completamente distintos. Aznar meteu a ETA no mesmo saco que a Al-Qaeda, Putin e Yang Zhe Min aproveitaram para fazer o mesmo a todos os grupos separatistas dos respectivos países, Sharon fez o mesmo ao movimento de Arafat, até Fidel Castro mandou fuzilar com o rótulo de terroristas alguns desgraçados que sequestraram um barco para fugir do país. Tudo o que mexia passou a ser terrorista! E não era um terrorista qualquer era o "terror", como o "terror" da Al-Qaeda. Aznar sentiu na altura que tinha encontrado a Via Verde para liquidar a ETA, mas ao juntar-se à aventura iraquiana acabou por conhecer da pior maneira a diferença entre o tradicional terrorismo da ETA e o terrorismo implacável da Al-Qaeda. Foi um banho de sangue ignóbil que poderia não ter acontecido se Aznar ponderasse algo muito simples: para terrorismos diferentes, soluções diferentes. A probabilidade de resolver o problema do terrorismo da ETA é muito maior através de uma solução política que através de uma solução armada. Já em relação à Al-Qaeda a situação é a inversa. Aznar erra a toda a linha ao usar a força para combater a ETA, ilegalizando partidos e fechando assim a porta a algumas soluções políticas, e ao ir atrás da Al-Qaeda para o Iraque, quando na altura a Al-Qaeda estava tranquilamente instalada no Paquistão, na Arábia Saudita, no Dubai, no Qatar, no Sudão e nalguns subúrbios da Europa e dos EUA. Foi tudo ao contrário e quem pagou foram os cidadãos que tiveram o azar de estar no sítio errado na hora errada há um ano atrás em Madrid.
Sabemos que no Iraque há terroristas, os que fazem atentados suicidas, os que colocam bombas no meio da população civil, os que atacam os membros de outros grupos religiosos, aliás desde a intervenção americana o Iraque passou a ser um local de peregrinação de qualquer grupo islâmico radical que se preze. Tal como diz Christopher Hitchens não podemos chamar resistentes a esses terroristas. O problema é que pela mesma "clarity of language" não podemos chamar terroristas a todos os Iraquianos que se opõem à ocupação americana. Existem Iraquianos que são de facto resistentes, uns fazem uso da violência outros não. Uns votaram e outros não. As eleições que houve no Iraque não foram um referendo sobre a presença americana. Depois ainda há os "patos bravos", aqueles que em nome da sobrevivência raptam e vendem a quem der mais. Se queremos de facto ser rigorosos em relação ao Iraque devemos fazer um mapa das resistências e dos terrorismos no Iraque, assim podemos ter uma base sólida para discutir de uma forma séria a questão iraquiana, falando sempre claro.
Quando Christopher Hitchens se coloca do lado dos "opponents of terror" e refere que os que desculpam o terrorismo islâmico são os mesmo que falam na "Arab street", parece-me que está a entrar pela mesma simplificação de linguagem que contribuiu para que o 11 de Março acontecesse há um ano em Espanha.
A banalização da palavra terrorismo e o 11 de Março
Depois do 11 de Setembro Aznar juntou-se a todos aqueles que à pala do ataque ao WTC passaram a meter no mesmo saco das palavras terrorismo e terror, grupos com objectivos e métodos completamente distintos. Aznar meteu a ETA no mesmo saco que a Al-Qaeda, Putin e Yang Zhe Min aproveitaram para fazer o mesmo a todos os grupos separatistas dos respectivos países, Sharon fez o mesmo ao movimento de Arafat, até Fidel Castro mandou fuzilar com o rótulo de terroristas alguns desgraçados que sequestraram um barco para fugir do país. Tudo o que mexia passou a ser terrorista! E não era um terrorista qualquer era o "terror", como o "terror" da Al-Qaeda. Aznar sentiu na altura que tinha encontrado a Via Verde para liquidar a ETA, mas ao juntar-se à aventura iraquiana acabou por conhecer da pior maneira a diferença entre o tradicional terrorismo da ETA e o terrorismo implacável da Al-Qaeda. Foi um banho de sangue ignóbil que poderia não ter acontecido se Aznar ponderasse algo muito simples: para terrorismos diferentes, soluções diferentes. A probabilidade de resolver o problema do terrorismo da ETA é muito maior através de uma solução política que através de uma solução armada. Já em relação à Al-Qaeda a situação é a inversa. Aznar erra a toda a linha ao usar a força para combater a ETA, ilegalizando partidos e fechando assim a porta a algumas soluções políticas, e ao ir atrás da Al-Qaeda para o Iraque, quando na altura a Al-Qaeda estava tranquilamente instalada no Paquistão, na Arábia Saudita, no Dubai, no Qatar, no Sudão e nalguns subúrbios da Europa e dos EUA. Foi tudo ao contrário e quem pagou foram os cidadãos que tiveram o azar de estar no sítio errado na hora errada há um ano atrás em Madrid.
quinta-feira, março 10, 2005
Notas da China: Recibo-Raspadinha
Este é um recibo de um restaurante chinês que premeia o cliente com a quantia de 50 Yuans, mais ou menos 5 €, o que para o nível de vida dos chineses ainda é dinheiro. No canto superior direito aquele quadradinho cinzento escuro é a raspadinha onde sai o prémio. O felizardo foi um dos nossos colaboradores chineses.
Este esquema do recibo-raspadinha serve para incitar o cliente de um serviço a pedir o recibo, na perspectiva de ganhar um prémio na raspadinha. É um método de combate à evasão fiscal. Já conhecia algumas ideias de implementação de lotarias nacionais em que o número do jogador seria o número da sua declaração de IRS ou do IRC, mas confesso que fiquei surpreendido ao encontrar este método na China profunda, nos confins da província do Yunan.
Na China a economia paralela é monstruosa, principalmente fora das grandes cidades ocidentalizadas (Hong Kong, Pequim ou Xangai). Quando se anda por aquelas paragens até dá a sensação que os chineses têm um cromossoma negociador, tudo se vende, tudo se compra. Apesar de medidas como esta julgo que será muito difícil nas próximas duas décadas a China poder controlar mais do que 50% das transacções passíveis de pagar impostos. Só para terem uma ideia, em Janeiro havia DVD's à venda por todo lado de filmes novos (Mar Adentro, Alexandre o Grande, Supersize Me, etc.) a quantias da ordem dos 50, 60 cêntimos...
Mais notas da China: I'm lovin'it / Figo, Yao Ming e o fim da monarquia / Lijiang
quarta-feira, março 09, 2005
Hélas! Falhei o aniversário do Blog sobre Kleist!!
Desde puto que gosto de festas de aniversário, de me alambazar à fartazana com bolos, só os que passavam uma selecção rigorosa, nada de mousses de pacote ou bolos de bolacha feitos com margarina, despejava garrafas de Fri-sumo e de Sumol só para sacar as colecções do homem-aranha e do Tintin que saíam nas respectivas caricas e as fatias de pão com Tulicreme era vê-las a desaparecer.
Mas perdi o aniversário do Um blog sobre Kleist. É pena deve ter sido uma daquelas festas sofisticadas, champanhe e cerejas, moelleux au chocolat servidos entre duas partidas de xadrez, concursos de arremesso das obras completas de Kleist e de anúncios inventados e galões tirados por um profissional de confeitaria da alta Lisboeta, tudo isto ao som de Smiths, claro.
Mas perdi o aniversário do Um blog sobre Kleist. É pena deve ter sido uma daquelas festas sofisticadas, champanhe e cerejas, moelleux au chocolat servidos entre duas partidas de xadrez, concursos de arremesso das obras completas de Kleist e de anúncios inventados e galões tirados por um profissional de confeitaria da alta Lisboeta, tudo isto ao som de Smiths, claro.
terça-feira, março 08, 2005
sexta-feira, março 04, 2005
Mar Adentro
O que é que acontece quando se juntam no mesmo filme um dos vossos realizadores preferidos (Alejandro Amenábar) com um dos vossos actores preferidos (Javier Bardem)? No meu caso é apreensão. As expectativas são demasiado altas e a probabilidade de desilusão é alta. Não foi o caso de "Mar Adentro". Sobre Amenábar tinha escrito aqui na Klepsýdra em Maio do ano passado "Alejandro Amenábar para já está ali no fundo da minha lista, mas considero-o como uma jovem esperança, bastante promissora. Fez poucos filmes, mas de grande profundidade (...) Espero que continue na senda da qualidade". Corresponde. Sobre Bardem tinha escrito em Abril que "é um especialista em personagens de carácter bem vincado". É o caso de Rámon Sanpedro de Mar Adentro. Considero o filme muito bom, muito mais do que um filme sobre a eutanásia, é um filme também sobre as encruzilhadas da vida, as oportunidades que agarramos e as que deixamos partir.
Apesar de tudo, entre todos os filmes de Amenábar continuo a preferir "Abre los ojos", gosto daquela capacidade de fazer um filme excelente com meios da loja dos 300. Além do mais não perdoo duas coisas a "Mar Adentro". Em primeiro lugar, achei escusado a activista do direito à eutanásia ter um filho no momento em que Rámon morre. Parece-me uma resposta directa aos argumentos pró-vida de que quem defende a eutanásia é pela morte. É escusado descer tão baixo. A segunda cena que não apreciei foi a cena final, em que me pareceu haver ali um moralismo activista velado. Talvez me engane, mas o facto de Julia estar a caminhar para a morte sem a memória da existência de Rámon pareceu-me fazer apelo à justeza da decisão que Julia tinha entretanto abandonado de também cometer eutanásia. Cheirou-me a moralismo activista, mas não tenho a certeza.
Quanto à história de Rámon Sanpedro tal como é descrita no filme, apresenta-nos um homem cuja dor não é física. Rámon construiu uma imagem dele próprio que está muito perto da fronteira entre o que ele era e o que desejava ser. Rámon estava lá em cima, na torre de um palácio muito alto. O acidente destruiu quase tudo, destruiu até a modesta máxima: "si quieres viajar sin diñero: marinero"! Talvez seja injusto, mas parece-me que depois do acidente Rámon manteve a mesma relação com a sociedade, manteve as mesmas referências formatavam a sua vida antes do acidente. Rámon não tentou criar uma nova ordem na sua vida desde que ficou tetraplégico. Em certo sentido Rámon parece conformista com a forma como a sociedade interage com os deficientes físicos. Um psicólogo poderia dizer melhor do que eu se o caso de Rámon teria solução, a mim parece-me que sim, mas não tenho a certeza.
Apesar de tudo, entre todos os filmes de Amenábar continuo a preferir "Abre los ojos", gosto daquela capacidade de fazer um filme excelente com meios da loja dos 300. Além do mais não perdoo duas coisas a "Mar Adentro". Em primeiro lugar, achei escusado a activista do direito à eutanásia ter um filho no momento em que Rámon morre. Parece-me uma resposta directa aos argumentos pró-vida de que quem defende a eutanásia é pela morte. É escusado descer tão baixo. A segunda cena que não apreciei foi a cena final, em que me pareceu haver ali um moralismo activista velado. Talvez me engane, mas o facto de Julia estar a caminhar para a morte sem a memória da existência de Rámon pareceu-me fazer apelo à justeza da decisão que Julia tinha entretanto abandonado de também cometer eutanásia. Cheirou-me a moralismo activista, mas não tenho a certeza.
Quanto à história de Rámon Sanpedro tal como é descrita no filme, apresenta-nos um homem cuja dor não é física. Rámon construiu uma imagem dele próprio que está muito perto da fronteira entre o que ele era e o que desejava ser. Rámon estava lá em cima, na torre de um palácio muito alto. O acidente destruiu quase tudo, destruiu até a modesta máxima: "si quieres viajar sin diñero: marinero"! Talvez seja injusto, mas parece-me que depois do acidente Rámon manteve a mesma relação com a sociedade, manteve as mesmas referências formatavam a sua vida antes do acidente. Rámon não tentou criar uma nova ordem na sua vida desde que ficou tetraplégico. Em certo sentido Rámon parece conformista com a forma como a sociedade interage com os deficientes físicos. Um psicólogo poderia dizer melhor do que eu se o caso de Rámon teria solução, a mim parece-me que sim, mas não tenho a certeza.
quinta-feira, março 03, 2005
Cent jours sans convaincre
Cent jours sans convaincre foi a frase mais utilizada ontem para caracterizar os primeiros 100 dias de Durão Barroso à frente da Comissão. Pois é... Quando se vai para o cargo de Presidente da Comissão sem ideias, sem motivação e sem o mínimo de Europeísmo é no que da'. Não estamos propriamente a presidir a câmara da Figueira da Foz ou a junta de freguesia da Merdaleja, em Bruxelas a mediocridade não passa em claro.
quarta-feira, março 02, 2005
O Carteiro entregou a sua ultima encomenda
Não podia deixar passar o fim da carreira de Karl Malone (foto sítio NBA), o carteiro para os amigos, sem lhe dedicar aqui duas linhas.
Malone era o carteiro porque fizesse chuva ou fizesse sol, fossem eles muitos ou fossem eles poucos, com os seus 2,06 m e o seu cabedal de armário era sempre tão fácil levar a bola ao cesto, como quem entrega uma encomenda ao destinatário, não era preciso grande espalhafato, o afundanço era executado com classe e profissionalismo. Ainda tive o privilégio de o ver em acção num jogo contra os Wizzards de Michael Jordan no MCI Center, dois deuses do basquete face a face. Andaram picados como se convinha, cotoveladas, caretas e muita provocação, foi um regalo. Malone abandona a carreira com 41 anos!
Malone era o carteiro porque fizesse chuva ou fizesse sol, fossem eles muitos ou fossem eles poucos, com os seus 2,06 m e o seu cabedal de armário era sempre tão fácil levar a bola ao cesto, como quem entrega uma encomenda ao destinatário, não era preciso grande espalhafato, o afundanço era executado com classe e profissionalismo. Ainda tive o privilégio de o ver em acção num jogo contra os Wizzards de Michael Jordan no MCI Center, dois deuses do basquete face a face. Andaram picados como se convinha, cotoveladas, caretas e muita provocação, foi um regalo. Malone abandona a carreira com 41 anos!
hjhkj
terça-feira, março 01, 2005
Bush e a Europa, dois ocidentes bem distintos
Este artigo da Joana Amaral Dias no Diário de Noticias faz uma síntese bastante interessante do bizarro périplo de Bush na Europa. Mas chamo especial atenção para a nota final da Joana, intitulada "Os loucos exemplares". Ali, a Joana desmonta bem o apelo de Bush à Europa para um hipotético património civilizacional comum. Percebemos bem que essa coisa a que chamamos "Ocidente" não passa de uma fantasia para políticos distraídos. Como refere e bem "basta ver como ambas as partes lidam com a religião, homossexualidade, pena de morte, direito internacional, ambiente, interrupção voluntária da gravidez e armas de fogo".
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