Li o parágrafo "The battle for clarity of language" publicado no Aviz retirado do texto "The arab street" de Christopher Hitchens. Apesar deste texto globalmente fazer uma crítica oportuna à intoxicação da população árabe pela propaganda islamista (o movimento político-religioso), julgo que o parágrafo em causa não ajuda muito a clarificar a linguagem.
Sabemos que no Iraque há terroristas, os que fazem atentados suicidas, os que colocam bombas no meio da população civil, os que atacam os membros de outros grupos religiosos, aliás desde a intervenção americana o Iraque passou a ser um local de peregrinação de qualquer grupo islâmico radical que se preze. Tal como diz Christopher Hitchens não podemos chamar resistentes a esses terroristas. O problema é que pela mesma "clarity of language" não podemos chamar terroristas a todos os Iraquianos que se opõem à ocupação americana. Existem Iraquianos que são de facto resistentes, uns fazem uso da violência outros não. Uns votaram e outros não. As eleições que houve no Iraque não foram um referendo sobre a presença americana. Depois ainda há os "patos bravos", aqueles que em nome da sobrevivência raptam e vendem a quem der mais. Se queremos de facto ser rigorosos em relação ao Iraque devemos fazer um mapa das resistências e dos terrorismos no Iraque, assim podemos ter uma base sólida para discutir de uma forma séria a questão iraquiana, falando sempre claro.
Quando Christopher Hitchens se coloca do lado dos "opponents of terror" e refere que os que desculpam o terrorismo islâmico são os mesmo que falam na "Arab street", parece-me que está a entrar pela mesma simplificação de linguagem que contribuiu para que o 11 de Março acontecesse há um ano em Espanha.
A banalização da palavra terrorismo e o 11 de Março
Depois do 11 de Setembro Aznar juntou-se a todos aqueles que à pala do ataque ao WTC passaram a meter no mesmo saco das palavras terrorismo e terror, grupos com objectivos e métodos completamente distintos. Aznar meteu a ETA no mesmo saco que a Al-Qaeda, Putin e Yang Zhe Min aproveitaram para fazer o mesmo a todos os grupos separatistas dos respectivos países, Sharon fez o mesmo ao movimento de Arafat, até Fidel Castro mandou fuzilar com o rótulo de terroristas alguns desgraçados que sequestraram um barco para fugir do país. Tudo o que mexia passou a ser terrorista! E não era um terrorista qualquer era o "terror", como o "terror" da Al-Qaeda. Aznar sentiu na altura que tinha encontrado a Via Verde para liquidar a ETA, mas ao juntar-se à aventura iraquiana acabou por conhecer da pior maneira a diferença entre o tradicional terrorismo da ETA e o terrorismo implacável da Al-Qaeda. Foi um banho de sangue ignóbil que poderia não ter acontecido se Aznar ponderasse algo muito simples: para terrorismos diferentes, soluções diferentes. A probabilidade de resolver o problema do terrorismo da ETA é muito maior através de uma solução política que através de uma solução armada. Já em relação à Al-Qaeda a situação é a inversa. Aznar erra a toda a linha ao usar a força para combater a ETA, ilegalizando partidos e fechando assim a porta a algumas soluções políticas, e ao ir atrás da Al-Qaeda para o Iraque, quando na altura a Al-Qaeda estava tranquilamente instalada no Paquistão, na Arábia Saudita, no Dubai, no Qatar, no Sudão e nalguns subúrbios da Europa e dos EUA. Foi tudo ao contrário e quem pagou foram os cidadãos que tiveram o azar de estar no sítio errado na hora errada há um ano atrás em Madrid.
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