Preocupa-me profundamente o ódio crescente em relação ao "ocidente", embora considere que os EUA e a UE não fazem parte do mesmo ocidente. Questões como o desenvolvimento de tecnologia nuclear no Irão revelam uma hipocrisia pouco oportuna face à gravidade da matéria e só contribuem para aumentar esse ódio.
Apesar de já ter acabado a Guerra Fria há mais de 15 anos e apesar de não existirem ameaças a leste, a Europa conserva cerca de 480 ogivas nucleares no seu território:
Bélgica: 20
Alemanha: 150
Itália: 90
Holanda: 20
Reino Unido: 110
Turquia: 90
Deste grupo de países, apenas o Reino Unido (RU) é reconhecido como potência nuclear nos termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que reconhece somente mais quatro países para além do RU: EUA, Rússia, França e China. Apesar de a Bélgica, a Alemanha, a Itália, a Holanda e a Turquia não possuírem armas nucleares próprias, estes países possuem cerca de 370 ogivas americanas estacionadas no seu território em bases da NATO. Das 480 ogivas, apenas 300 estão afectadas a aviões americanos, as restantes são controladas por europeus. Por outras palavras, existem cinco países europeus estão a violar o principal objectivo do Tratado. A desculpa de as ogivas serem americanas também não convence. Imaginem que a China coloca umas ogivas em aviões da Coreia do Norte ou do Vietname...
Se a Europa quer ter credibilidade e não entrar no jogo baixo da realpolitik americana tem que começar a fazer uma limpeza das hipocrisias domésticas. Se a Europa quer exigir alguma coisa ao Irão tem primeiro que arrumar a casa. Eis uma boa oportunidade para a Europa convidar os EUA a levarem o seu arsenal nuclear de volta para casa, até porque as ogivas que se encontram nos referidos países, exceptuando a Turquia, poderão apenas atingir países democráticos e livres. Nem sequer serve a desculpa de que poderiam ter poder dissuasor nas regiões que apresentam maiores ameaças para os EUA. Para mudar o alcance dessas ogivas seria necessário cerca de um ano de trabalho e os EUA possuem milhares de mísseis de longo alcance capazes no seu território e a bordo de submarinos que podem perfeitamente cumprir esse papel dissuasor.
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