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Apesar de tudo, entre todos os filmes de Amenábar continuo a preferir "Abre los ojos", gosto daquela capacidade de fazer um filme excelente com meios da loja dos 300. Além do mais não perdoo duas coisas a "Mar Adentro". Em primeiro lugar, achei escusado a activista do direito à eutanásia ter um filho no momento em que Rámon morre. Parece-me uma resposta directa aos argumentos pró-vida de que quem defende a eutanásia é pela morte. É escusado descer tão baixo. A segunda cena que não apreciei foi a cena final, em que me pareceu haver ali um moralismo activista velado. Talvez me engane, mas o facto de Julia estar a caminhar para a morte sem a memória da existência de Rámon pareceu-me fazer apelo à justeza da decisão que Julia tinha entretanto abandonado de também cometer eutanásia. Cheirou-me a moralismo activista, mas não tenho a certeza.
Quanto à história de Rámon Sanpedro tal como é descrita no filme, apresenta-nos um homem cuja dor não é física. Rámon construiu uma imagem dele próprio que está muito perto da fronteira entre o que ele era e o que desejava ser. Rámon estava lá em cima, na torre de um palácio muito alto. O acidente destruiu quase tudo, destruiu até a modesta máxima: "si quieres viajar sin diñero: marinero"! Talvez seja injusto, mas parece-me que depois do acidente Rámon manteve a mesma relação com a sociedade, manteve as mesmas referências formatavam a sua vida antes do acidente. Rámon não tentou criar uma nova ordem na sua vida desde que ficou tetraplégico. Em certo sentido Rámon parece conformista com a forma como a sociedade interage com os deficientes físicos. Um psicólogo poderia dizer melhor do que eu se o caso de Rámon teria solução, a mim parece-me que sim, mas não tenho a certeza.
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