O Francisco do Aviz chamou-me a atenção para o seguinte pormenor de Brida: "o namorado de Brida (que é secretária numa empresa de Dublin) ganha menos do que ela; ele é professor no departamento de Física numa universidade pública irlandesa"
Aproveito já para esclarecer que não sou professor universitário. Em física, os doutorados da minha geração depararam-se com os departamentos saturados de docentes e só entra um novo docente por cada quatro que se reformem ou...morram! Faço parte do grande pelotão de investigadores bolseiros (no meu caso do Ministério da Ciência) que ganha um bocadinho menos que um professor universitário e ainda menos que a secretária Brida. No entanto, não me preocupa nada o facto de uma secretária de uma empresa ganhar mais do que eu, nem o Zé Cabra, nem a Manuela Moura Guedes, nem o Ricardo do Sporting. Mas há outras coisas que me preocupam profundamente:
- Aqueles professores universitários que não investigam, não publicam, não são referidos pelos seus pares, não participam nem em projectos nem em redes nacionais ou internacionais, que passam a sua carreira a apresentar a mesma resma de acetatos. Em Portugal não devem ser nada poucos, arrisco a dizer que são metade e já excluo os que têm excesso de tempo de aulas. Alguns destes professores do acetato chegam ao ponto de escrever artigos em jornais referindo que "dantes é que o ensino era bom". Então não era! Era o tempo em que Portugal tinha o pior sistema de ensino da Europa (pior que países como Chipre ou a Albânia), em que não havia produção científica nas universidades, não havia interacção nem com as empresas nem com a sociedade. Estes professores se ganhassem menos que as secretárias seria da mais profunda justiça.
- Os investigadores bolseiros são responsáveis por cerca de 40% da produção científica nacional e são avaliados como não se faz em mais nenhuma actividade deste país. Ao contrário dos professores universitários não recebem 13° mês, não têm direito a subsídio de férias ou de desemprego e descontam através de um manhoso seguro social voluntário como se recebessem o ordenado mínimo. Os bolseiros não contam para o IRS o que os exclui de muitos procedimentos administrativos e financeiros indispensáveis para se viver com algum conforto, como pedir um simples empréstimo ao banco.
- Não existir uma aposta na ciência e na tecnologia (um plano apenas tecnológico, é como querer andar de mota só com a roda da frente) num país dos que investe apenas 0,8% do seu PIB em investigação quando a meta estabelecida pelos objectivos de Barcelona apontam para 3% em 2010. Ainda mais quando há exemplos na Europa de países que saíram de crises profundas apostando na ciência (Finlândia e Suécia).
- As empresas privadas nacionais praticamente não fazerem investigação (apenas 0,2% do PIB) e apostarem sempre na mão-de-obra barata, na exploração e na precariedade. Por isso não deverão existir muitas Bridas em Portugal.
- Toda a cambada de incompetentes que ocupam lugares em empresas públicas sem terem qualificações para os ocupar, nomeados pelo aparelho partidário do partido no governo. Isso choca-me bem mais que uma secretária ganhar mais que um professor, tal como me choca numa altura de crise o estado pagar a uma astróloga para participar em programas da RTP um salário equivalente ao que ganham 10 investigadores doutorados ou 20 investigadores licenciados.
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