quarta-feira, novembro 10, 2004

Europa destrói um muro e os EUA constroem outro

Apenas um mês depois da queda do muro de Berlim ocorrida há 15 anos, na cimeira de Estrasburgo a CEE decidiu criar o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento com o intuito de ajudar os países da Europa central e de leste recentemente libertados das garras do Império Soviético. Esse foi um primeiro passo dado pela União Europeia (UE) até à integração de quase todos esses países no seu seio ocorrida no passado 1 de Maio (faltam alguns países balcânicos, a Roménia e a Bulgária). Fruto dessa política solidária, todos esses países atingiriam níveis de crescimento e de desenvolvimento notáveis, recuperando em apenas alguns anos uma boa parte do atraso que tinham em 1989 para os restantes países da UE. Por exemplo, hoje a Eslovénia é um país já com indicadores económicos superiores aos de Portugal.
Esta recuperação de um espaço geográfico extenso para o campo da democracia e do desenvolvimento foi talvez a melhor medida da história da União Europeia.


Muro entre os EUA e o México, 2001 (para os que chamam "cerca" ao muro Israelo-palestiniano, corrijo para: duplo muro entre os EUA e México).

Contraste com a vizinhança dos EUA
A relação dos EUA com o seu espaço geográfico vizinho contrasta brutalmente com a atitude da União Europeia. Mais ou menos na mesma altura que a Europa acabou com o muro de Berlim, os EUA começaram a construir um gigantesco muro de 3000 km com o vizinho México.
As políticas dos EUA de ajuda ao desenvolvimento dos estados vizinhos da América central têm sido um fracasso absoluto. Alguns desses países vivem em sistemas democráticos há muito mais tempo do que qualquer país da Europa de leste, no entanto, a convergência do PIB per capita desses países em relação ao PIB dos EUA tem sido irrelevante ou negativa, ao contrário do que se passou entre os países do leste da Europa e a UE. A Letónia, o país mais pobre da UE, passou de um PIB per capita de 29,8% da média da UE em 1995 para 45,7% em 2003. Na América central a generalidade dos países têm um PIB per capita a menos de 10 % do valor dos EUA e apenas alguns se aproximam dos 20 % (México 17 %). A razão deste falhanço é em parte devido a factores culturais, estruturais e políticos desses países da América Central, mas também devido à ideologia que os EUA praticam nas suas relações com países mais frágeis. É a ideologia de um liberalismo praticamente selvagem, aliado a um conservadorismo de catequese e de perseguição a todas as políticas de âmbito social. Exceptuando Cuba, quantos comunistas e socialistas é que há na América Central, do México ao Panamá? E sindicatos? Certamente não são muitos. E o pior é que alguns desses países ainda estão pior que a miserável Cuba. Pois é, não há mesmo desculpa para o desastre da política americana na América Central. O melhor é mesmo aprender com a Europa.

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