Se fosse americano só poderia ser dos Verdes, em nome da minha sanidade mental. Mas nestas eleições não teria qualquer dúvida em votar útil e votaria em Kerry, numa tentativa desesperada de prolongar a esperança de vida do planeta Terra.
No início desta campanha eleitoral confesso que ainda segui os primeiros momentos da Convenção Democrática, mas este vosso amigo ia tendo uma crise de paralisia cerebral a assistir a tão hediondo espectáculo. De política ouvi muito pouco, ouvi a mulher de Kerry, ouvi o filho da mulher de Kerry, ouvi as filhas de Kerry, ouvi um primo de Kerry, só me faltou ouvir o periquito e o cão de Kerry. Todos falaram de Kerry como quem fala de um deus. Mas o momento mais marcante foi quando uma das filhas de Kerry descreveu um momento demonstrativo da magnificência de Kerry. Tratava-se de um episódio em que o seu hamster (que por acaso não falou na convenção) tinha caído ao rio e foi salvo miraculosamente pelo corajoso Kerry que não hesitou em saltar de cabeça para a água. Confesso que não me lembro se Kerry o salvou por respiração boca-a-boca ou por massagem cardíaca, o que é certo é que o roedor se safou. Eram umas três da manhã e por momentos tive a sensação que estava na Coreia do Norte a ouvir as heróicas histórias de almanaques do partido dos grandes líderes Kim Il-Sung ou Kim Jong-Il. Obviamente que depois disto nem sequer me passou pela cabeça assistir à Convenção Republicana, não sou assim tão masoquista!
Salvaram-se apenas alguns momentos dos debates. Mas para quem está a falar da maior potência mundial o nível geral dos debates foi mau. Não ouvi nenhuma ideia nova. Era tudo velho e repetido. E repetir foi o verbo dos debates. Repetir as mesmas frases e as mesmas ideias 5, 10 vezes. Nisso eles eram realmente bons. Tal como eram bons em não falar de coisas minimamente complexas. Só política para estúpidos. Quanto ao Bush dos debates realmente nota-se que tinha uns pais capazes de lhe pagar as propinas de Yale. Se tivesse nascido noutro berço não estaria ali certamente.
O sistema político americano é um sistema sem plasticidade nenhuma, completamente blindado por dois partidos que se alternam no poder, onde não há espaço para vozes alternativas, estamos quase no grau zero da democracia. A palhaçada da campanha americana é apenas um sintoma evidente da doença que graça no sistema político americano. Realmente estamos bastante longe do cenário europeu, onde nas últimas eleições concorreram várias centenas de partidos que preencheram lugares no Parlamento Europeu que cobrem um espectro que vai desde o maoismo até aos extremistas do partido da independência britânica. E o mais engraçado é que ambas as eleições têm mesmo nível de abstenção apesar das americanas serem muito disputadas no terreno e as europeias serem bastante discretas.
É talvez também por isto que não reconhecemos hoje a américa, aquela américa da liberdade e da esperança.
Sem comentários:
Enviar um comentário