segunda-feira, dezembro 01, 2003

Trabalhar no feriado e os subsídios

Hoje é feriado e vim trabalhar. Na investigação não temos horários, temos objectivos. Por isso às vezes trabalhamos 16 ou mais horas por dia. Vezes há em que o trabalho está parado porque se espera uma encomenda ou uma peça da oficina e há tempo para pôr outras coisas em dia que têm menos a ver com o trabalho.

Como eu, hoje segunda-feira feriado, vieram trabalhar centenas de investigadores portugueses que recebem bolsas de investigação, quer isto dizer que descontam para as suas reformas como se ganhassem o ordenado mínimo, que não têm declaração de IRS - nem imaginam o problema que isso causa quando se quer viver normalmente, por exemplo, arrendar ou comprar uma casa - e quer dizer também que não existem regalias nenhumas se o bolseiro quiser ter um filho. Se se seguir a lei à risca, uma bolseira investigadora que esteja grávida pode ser obrigada a trabalhar até ao dia do parto e no dia seguinte deve comparecer no local de trabalho...

Sopra na blogosfera mais um daqueles "ventos" cheio de ódio de estimação (Ler no Mar Salgado). Agora são os subsídios. Começou pelos subsídios aos escritores e já começou a alastrar a outras áreas em que a atribuição ou não de subsídios já não é uma questão tão linear. Palpita-me que ainda vai sobrar para nós investigadores, só porque em investigação são atribuídas bolsas e a palavra bolsa faz confusão à cabeça de muita gente que tem ódio aos subsídios. Na investigação as bolsas existem para proteger o estado e não os investigadores. O estado necessita que seja desenvolvida investigação, mas não se quer comprometer a ter a seu cargo alguns milhares de investigadores em postos fixos (prefere fazê-lo antes em relação aos astrólogos da RTP e a funcionários que vieram do jornal Independente para o Ministério da Defesa). As bolsas são assim um expediente para o estado não se comprometer e efectuar "cortes" à medida das suas necessidades e não um subsídio de caridade pago aos investigadores. Relembro que as bolsas a que me refiro obedecem aos critérios de avaliação mais rigorosos (vai desde a média de curso ao número de artigos publicados e citados em revistas científicas com arbitragem internacional) que se praticam no país.

Para se obter uma bolsa de investigação não basta ter sido colega de trabalho do Ministro da Defesa no Independente, nem ser a astróloga particular de um director da RTP, é preciso dar à unha!

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