Conto de Natal
Michael Moore apresenta no seu filme "Bowling for Columbine" o caso de um rapazito de seis anos que abate a tiro uma rapariga também ela de seis anos de idade numa escola primária. Michael Moore descobre que o rapaz vivia sozinho com a mãe. A sua mãe tinha dois empregos. Como não tinha grandes qualificações e um emprego mal pago não chegava, foi obrigada a trabalhar em dois empregos diferentes para poder sustentar o filho. O problema é que ficou sem tempo nenhum para cuidar do rapazito.
Quem conhece a importância que tem a presença dos pais junto das crianças destas idades (aconselho a leitura de “O inferno somos nós” uma compilação acessível do Prof. Carlos Amaral Dias) não fica espantado com o acto cometido pelo rapazito. Falhas no processo de socialização das crianças, que são da responsabilidade dos pais ou de outros familiares que a criança reconheça como seus mentores, levam a que as mesmas crianças sintam necessidade de afirmar a sua associabilidade de uma forma violenta. Neste caso foi da pior maneira.
Michael Moore descobre também que alguns anos antes a mãe do rapazito recebia o rendimento mínimo e quando este foi cortado por decisão política não teve outra alternativa senão arranjar dois empregos para poder sustentar o rapaz. Os mesmos dois empregos que fizeram que deixasse de ter tempo para educar o seu filho. Fica assim patente as consequências gravíssimas que têm políticas que desprezam por completo a solidariedade social e uma educação equilibrada de crianças que nascem em meios mais desfavorecidos.
De vez em quando lêem-se umas lendas liberais de conteúdo duvidoso em que os beneficiários do rendimento mínimo garantido (RMG) têm piscinas, vão receber o RMG de Mercedes e em que a atribuição do mesmo RMG divide muito as pessoas nos meios rurais. Pois bem, aqui a divisão entre mãe e filho causada pelo fim do rendimento mínimo acabou a tiro!
É dedicado a estes liberais que vos deixo este conto de Natal. É uma espécie de versão actualizada e violenta de “O Natal do Sr. Scrooge” de Charles Dickens.
Reflexão sobre o Natal cristão
Num país de cristãos, onde a 24 de Dezembro se gosta muito de dizer que o Natal deveria ser todos os dias, deixem então que seja efectivamente Natal todos os dias para aqueles que recebem esse mísero RMG. Deixem-nos estoirar essa “fortuna” (em média são nove contos por pessoa) oferecida pela União Europeia – não somos nós que pagamos o RMG - e preocupem-se sim com evasão fiscal. Para termos uma ideia, o custo do rendimento mínimo está para uma gota de água como o custo da evasão fiscal está para uma piscina. Isso sim um verdadeiro cancro que paga efectivamente muitas piscinas e muitos Jaguares!
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