Os vistos de residência emitidos pelos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) aos cidadãos estrangeiros presentes no nosso país são entregues em média um ano a um ano e meio após o seu pedido! A demora na prestação de um serviço tão elementar como a atribuição de um visto de residência por parte do SEF causa gravíssimas perturbações na vida de muitos imigrantes que tentam construir a sua vida honestamente em Portugal.
Assim quem pretende iniciar a sua vida em Portugal, tendo todas as condições para o fazer, é obrigado a esperar mais de um ano para gozar de pleno direito à sua cidadania. Por exemplo, perante o Serviço Nacional de Saúde os imigrantes só podem ser inscritos com o estatuto de turistas, não podendo estes cidadãos usufruir deste serviço gratuitamente - como os cidadãos nacionais - até à obtenção do visto de residência. Durante esse tempo estes estrangeiros estão excluídos do mercado de trabalho e não podem descontar para a Segurança Social.
Para os imigrantes que já se encontram no nosso país a sua situação é permanentemente provisória pois são obrigados a fazer o pedido do visto de residência para o ano em curso antes de terem recebido o visto de residência do ano anterior. Por não terem nunca a sua situação regularizada algumas destas pessoas estão sujeitas a variados tipos de multas por parte da administração portuguesa e por vezes da parte do próprio SEF, o principal responsável desta situação.
Para além da precariedade social a que vota os cidadãos estrangeiros que pretendem viver no nosso país, este procedimento parece conter em si algo de mais perverso. Dada a nossa presença na União Europeia, Portugal está impossibilitado de praticar políticas discriminatórias ou políticas de «portas fechadas» em relação à imigração. Uma maneira de contornar uma política explícita de impedimento à imigração seria criando impedimentos burocráticos de tal ordem que fizessem desistir os cidadãos estrangeiros de completar os seus processos de obtenção de vistos de residência no nosso país. O processo de obtenção de vistos gerido pelo SEF parece enquadrar-se numa lógica deste tipo.
O processo de obtenção de vistos dá igualmente uma péssima imagem do nosso país. Na realidade existem numerosos casos de empresários estrangeiros provenientes de países mais desenvolvidos que Portugal que passam pelo mesmo degradante processo de obtençao de visto até perder a paciência. Alguns retornam ao seu país, outros vão investir em países que os recebam civilizadamente.
Por outro lado, os imigrantes que não têm outras opções esperarão sempre, tanto faz serem 6 meses, um ano ou dois anos. Eis uma bela oportunidade de negócio para as mafias ligadas à emigração.
O que nos deveria encher a cara de vergonha é que este procedimento é executado por um país que possui cerca de um terço da sua população (cinco milhões) a viver fora do país. Escapam apenas a este tratamento os países da União Europeia e aqueles com quem temos acordos bilaterais. Nem os países que vão aderir à União Europeia em Junho próximo escapam a esta metodologia. Eslovenos, Checos, Polacos, Lituanos, etc. são tratados todos abaixo de cão! A «Nova Europa» de Rumsfeld e de Paulo Portas só serve para «contar espingardas»! Na hora da verdade, entre duas gargalhadas cínicas, trata-se como esterco os cidadãos dos aliados de conveniência.
Será que este é o tal «rigor nas fronteiras de entrada» de que fala o presidente do Partido Popular? Fica-se com a sensação que discurso do Ministro da Defesa a roçar a xenofobia acaba por ter uma execução prática bastante eficaz. Para quem se auto-intitula como cristão-democrata temos aqui uma distorção da famosa máxima cristã, algo como: «faz aos outros imigrantes o que não gostas que façam aos teus emigrantes!»
terça-feira, setembro 30, 2003
segunda-feira, setembro 29, 2003
Ver estrelas à segunda-feira
O NUCLIO está a organizar uma excelente iniciativa no âmbito da Coimbra Capital da Cultura intitulada “Astronomia Moderna Contada em Português”. Este ciclo de palestras a decorrer no Convento de S. Francisco em Coimbra tem a particularidade de decorrer às segundas-feiras. Esta segunda o Maarten Roos Serote, o principal responsável pela participação portuguesa na missão Mars Express, vai apresentar uma palestra sobre o sistema solar.
sábado, setembro 27, 2003
sexta-feira, setembro 26, 2003
O elefante e a formiga
Depois do acto, deitados debaixo lençóis a fumar um cigarro diz o elefante para a formiga : “Nunca digas desta água não beberei!” ;)
Cá para mim daqui a uns cem anos, mais coisa menos coisa, quando alguém disser “prefiro à moda antiga”, tal como disse a formiga, poderá então significar práticas com andróides com uma constituição e um comportamento praticamente idênticos aos humanos, em vez do que poderá ser a grande novidade da época. Por exemplo, poderão ser práticas sem interacções corporais, onde a prática sexual se realizará a 100 % ao nível do cérebro através da criação de uma espécie de sonhos capazes de simular na perfeição os estímulos de todos os sentidos.
Cá para mim daqui a uns cem anos, mais coisa menos coisa, quando alguém disser “prefiro à moda antiga”, tal como disse a formiga, poderá então significar práticas com andróides com uma constituição e um comportamento praticamente idênticos aos humanos, em vez do que poderá ser a grande novidade da época. Por exemplo, poderão ser práticas sem interacções corporais, onde a prática sexual se realizará a 100 % ao nível do cérebro através da criação de uma espécie de sonhos capazes de simular na perfeição os estímulos de todos os sentidos.
quarta-feira, setembro 24, 2003
Um milhão de Erasmus
Começo a cruzar-me com muitas caras perdidas que olham para os telhados das faculdades, consultam mapas e fazem perguntas aos transeuntes. Rostos vindos de toda a Europa: do norte, do centro, do leste, das ilhas, do mediterrâneo, etc. Revejo-me nestes gestos, lembro-me do longínquo ano de 1993.
Há aproximadamente 10 anos atrás estava eu ávido para chegar Pádua e começar a descobrir a cidade, o país, a cultura e uma das mais antigas universidades da Europa. Mal sabia eu que me esperava um mundo de aventuras com aqueles que iriam ser os meus companheiros de aulas do Dipartimento di Fisica Galileo Galilei, da residência Fusinato, do curso de língua italiana e sobretudo do «universo Erasmus».
Fundámos o «dialecto Erasmus» do ano 1993/94. Todos os anos os novos estudantes Erasmus distorcem entre si a língua local com expressões bizarras que resultam de uma mistura de erros de pronunciação, de entonações e de expressões importadas das respectivas línguas maternas.
Descobrimos que a história de cada país é ensinada de uma forma muito chauvinista. Os Espanhóis aprendem o nome de batalhas em que derrotaram os Portugueses, que os Portugueses fingem que nunca existiram, e os Portugueses só conhecem as batalhas que ganharam aos Espanhóis, mas que por sua vez estes omitem nos seus manuais escolares.
O mais enriquecedor deste tipo de programas é o convívio saudável que se proporciona entre pessoas de diferentes culturas. Durante aqueles meses, a maior parte dos estudantes aprende a conviver com as diferenças. Aprende-se a aceitar as diferentes formas de cumprimentos (aperto de mão, dois beijinhos, três beijinhos, etc.), as diferenças gastronómicas, as diferentes concepções de pontualidade, os diferentes métodos de estudo e a importância relativa de assuntos como a música, o cinema ou o desporto (de sofá ou praticado).
Este tipo de relacionamento entre indivíduos de diferentes países e culturas contribui fortemente para minimizar comportamentos primários que consistem em fazer generalizações e acusações precipitadas sobre os habitantes do país A, B ou C. Como tão bem retrata o filme o «Albergue Espanhol», as desastradas generalizações do personagem britânico de visita à sua a irmã - segundo o qual os espanhóis dizem todos «Caramba! Caramba!» e os alemães são ainda uns nazis - causa um grande desconforto no seio do grupo Erasmus da residência que já aprendeu a viver com as suas diferenças. Curiosamente, a atitude daquele personagem era tão semelhante ao Vasco Graça Moura do artigo «Europa, 17 de Fevereiro de 2033».
Durante o ano lectivo de 2002/03 a Europa festejou «Um Milhão de Erasmus». Mais de um milhão de estudantes de universidades de toda a Europa participaram neste excelente programa de mobilidade que começou em 1987. Deste milhão de Erasmus muitos irão ocupar lugares de destaque nos respectivos países e na Europa. No meu entender seria benéfico que estes ex-Erasmus - ou pessoas de semelhante formação - começassem progressivamente a ocupar os lugares de Estrasburgo e de Bruxelas apeando aqueles «velhos políticos europeus» que não têm melhor coisa para fazer dos seus mandatos senão incitar a ódios primários entre as várias nações da Europa ou contra outras regiões do mundo. A União Europeia seria sem dúvida uma instituição mais interessante se souber aproveitar estes «novos Europeus» de horizontes mais largos que os «velhos Vascos Graça Moura» desta Europa.
Há aproximadamente 10 anos atrás estava eu ávido para chegar Pádua e começar a descobrir a cidade, o país, a cultura e uma das mais antigas universidades da Europa. Mal sabia eu que me esperava um mundo de aventuras com aqueles que iriam ser os meus companheiros de aulas do Dipartimento di Fisica Galileo Galilei, da residência Fusinato, do curso de língua italiana e sobretudo do «universo Erasmus».
Fundámos o «dialecto Erasmus» do ano 1993/94. Todos os anos os novos estudantes Erasmus distorcem entre si a língua local com expressões bizarras que resultam de uma mistura de erros de pronunciação, de entonações e de expressões importadas das respectivas línguas maternas.
Descobrimos que a história de cada país é ensinada de uma forma muito chauvinista. Os Espanhóis aprendem o nome de batalhas em que derrotaram os Portugueses, que os Portugueses fingem que nunca existiram, e os Portugueses só conhecem as batalhas que ganharam aos Espanhóis, mas que por sua vez estes omitem nos seus manuais escolares.
O mais enriquecedor deste tipo de programas é o convívio saudável que se proporciona entre pessoas de diferentes culturas. Durante aqueles meses, a maior parte dos estudantes aprende a conviver com as diferenças. Aprende-se a aceitar as diferentes formas de cumprimentos (aperto de mão, dois beijinhos, três beijinhos, etc.), as diferenças gastronómicas, as diferentes concepções de pontualidade, os diferentes métodos de estudo e a importância relativa de assuntos como a música, o cinema ou o desporto (de sofá ou praticado).
Este tipo de relacionamento entre indivíduos de diferentes países e culturas contribui fortemente para minimizar comportamentos primários que consistem em fazer generalizações e acusações precipitadas sobre os habitantes do país A, B ou C. Como tão bem retrata o filme o «Albergue Espanhol», as desastradas generalizações do personagem britânico de visita à sua a irmã - segundo o qual os espanhóis dizem todos «Caramba! Caramba!» e os alemães são ainda uns nazis - causa um grande desconforto no seio do grupo Erasmus da residência que já aprendeu a viver com as suas diferenças. Curiosamente, a atitude daquele personagem era tão semelhante ao Vasco Graça Moura do artigo «Europa, 17 de Fevereiro de 2033».
Durante o ano lectivo de 2002/03 a Europa festejou «Um Milhão de Erasmus». Mais de um milhão de estudantes de universidades de toda a Europa participaram neste excelente programa de mobilidade que começou em 1987. Deste milhão de Erasmus muitos irão ocupar lugares de destaque nos respectivos países e na Europa. No meu entender seria benéfico que estes ex-Erasmus - ou pessoas de semelhante formação - começassem progressivamente a ocupar os lugares de Estrasburgo e de Bruxelas apeando aqueles «velhos políticos europeus» que não têm melhor coisa para fazer dos seus mandatos senão incitar a ódios primários entre as várias nações da Europa ou contra outras regiões do mundo. A União Europeia seria sem dúvida uma instituição mais interessante se souber aproveitar estes «novos Europeus» de horizontes mais largos que os «velhos Vascos Graça Moura» desta Europa.
domingo, setembro 21, 2003
Prata e bronze nas Olimpíadas de Matemática
Portugal conquistou as medalhas de prata e de bronze nas Olimpíadas de Matemática Ibero Americanas. É certo que não se trata de um concurso de dimensão mundial, mas o resultado não deixa de ser muito bom.
Este tipo de acontecimentos poderão ser um indicador que estamos a deixar definitivamente para trás a época em que o ensino em Portugal seguia uma metodologia seminarista onde a tabuada não se aprendia, cantava-se, onde as línguas estrangeiras eram uma miragem e onde a tecnologia e o experimentalismo estavam reduzidos aos cursos de dactilografia e costura para as meninas e ao pregar de meia dúzia de pregos numa tábua para os rapazes. Andamos ainda a pagar muito caro esse ensino das escolas industriais e comerciais que durou até muito tarde, até à década de 80!
Este tipo de acontecimentos poderão ser um indicador que estamos a deixar definitivamente para trás a época em que o ensino em Portugal seguia uma metodologia seminarista onde a tabuada não se aprendia, cantava-se, onde as línguas estrangeiras eram uma miragem e onde a tecnologia e o experimentalismo estavam reduzidos aos cursos de dactilografia e costura para as meninas e ao pregar de meia dúzia de pregos numa tábua para os rapazes. Andamos ainda a pagar muito caro esse ensino das escolas industriais e comerciais que durou até muito tarde, até à década de 80!
Noite em Coimbra
...a Porta Férrea
...oiço o eco dos meus passos entre a parede da Reitoria e a da Biblioteca Geral
...passo ao lado de uma figueira
...desço a Couraça de Lisboa
...a força da gravidade leva-me em direcção ao rio
...gosto dos reflexos das luzes do Convento de Santa Clara no Mondego.
Desapareço!
Apareço!
...a ty spíš krásna
...oiço o eco dos meus passos entre a parede da Reitoria e a da Biblioteca Geral
...passo ao lado de uma figueira
...desço a Couraça de Lisboa
...a força da gravidade leva-me em direcção ao rio
...gosto dos reflexos das luzes do Convento de Santa Clara no Mondego.
Desapareço!
Apareço!
...a ty spíš krásna
sexta-feira, setembro 19, 2003
Astrofeira no Observatório Astronómico de Coimbra
Começa hoje uma astrofeira no Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra que se prolonga até Domingo. É organizada pela SAC (Secção de Astronomia da Associação Académica) e inclui várias sessões de observação, stands de material e literatura ligados à astronomia e à astrofísica.
quinta-feira, setembro 18, 2003
James Randi contra a Astrologia Oficial em Portugal
O protesto contra os astrólogos subsidiados pelo Estado Português chegou ao site do James Randi. Não tenho palavras para qualificar um estado que através de uma televisão estatal como a RTP acaba com um programa cultural como o "Acontece" por razões financeiras e continua a subsidiar charlatões.
Agradeço ao Jorge Mota o contacto.
Agradeço ao Jorge Mota o contacto.
Portugal Único (actualização)
Ora ponha aqui o seu pézinho e deixe-se escorregar pelos nossos tubos-minhoca (isto é um blogue relativístico!) até à actualização do texto Portugal Único.
terça-feira, setembro 16, 2003
O nome da coisa
Sobre o DERSOU OUZALA - A ÁGUIA DA ESTEPE do Kurosawa, que irá passar hoje à noite na RTP2, li o seguinte:
"Em 1902, Vladimir Arseniev,geógrafo, parte em missão para a taiga,na Sibéria, para efectuar levantamentos topográficos." Aproveito assim este pretexto para explicar que um geógrafo em Portugal é formado numa faculdade de Letras e não percebe nada de levantamentos topográficos. Quem queira procurar os herdeiros dos cartógrafos, exploradores e navegadores portugueses terá de procurar nos departamentos de matemática deste país. É nesses famigerados locais que se escondem os engenheiros geógrafos, especialistas em Cartografia, Topografia e noutras ciências que entram no desenvolvimento de tecnologias como os Sistemas de Informação Geográfica (SIG's) e o Sistema de Posicionamento Global (GPS).
Já agora, vão aproveitando para ver mais uma obra de arte do mestre Kurosawa, enquanto este único canal decente da TV em Portugal ainda o permite.
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"Em 1902, Vladimir Arseniev,geógrafo, parte em missão para a taiga,na Sibéria, para efectuar levantamentos topográficos." Aproveito assim este pretexto para explicar que um geógrafo em Portugal é formado numa faculdade de Letras e não percebe nada de levantamentos topográficos. Quem queira procurar os herdeiros dos cartógrafos, exploradores e navegadores portugueses terá de procurar nos departamentos de matemática deste país. É nesses famigerados locais que se escondem os engenheiros geógrafos, especialistas em Cartografia, Topografia e noutras ciências que entram no desenvolvimento de tecnologias como os Sistemas de Informação Geográfica (SIG's) e o Sistema de Posicionamento Global (GPS).
Já agora, vão aproveitando para ver mais uma obra de arte do mestre Kurosawa, enquanto este único canal decente da TV em Portugal ainda o permite.
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Muro entre os EUA e o México hoje na SIC Notícias
Hoje na SIC Notícias às duas da manhã é transmitida uma reportagem sobre o muro que separa os EUA do México. É um muro em média mais alto e mais largo que o extinto muro de Berlim. Perfaz cerca de 3000 km rasgando montes, vales e rios sem qualquer respeito pela natureza pois a linha fronteira entre os EUA e o México é constituída por muitas secções rectas. O muro é vigiado por cerca de 10 mil polícias americanos!
Mas as aberrações não se ficam por aqui. Todos os camiões mexicanos que entram nos EUA são obrigados a ir à inspecção, que é feita num espaço especial junto à fronteira. No entanto, em San Diego (EUA) todos os dias milhares de mulheres Mexicanas - porque são menos reivindicativas que os homens - estão autorizadas a atravessar o muro para ir trabalhar durante o dia nas empresas americanas a baixos salários regressando a Tijuana (México) ao fim do dia. Os seus maridos ou os seus filhos não estão autorizados a entrar nos EUA.
Mas as aberrações não se ficam por aqui. Todos os camiões mexicanos que entram nos EUA são obrigados a ir à inspecção, que é feita num espaço especial junto à fronteira. No entanto, em San Diego (EUA) todos os dias milhares de mulheres Mexicanas - porque são menos reivindicativas que os homens - estão autorizadas a atravessar o muro para ir trabalhar durante o dia nas empresas americanas a baixos salários regressando a Tijuana (México) ao fim do dia. Os seus maridos ou os seus filhos não estão autorizados a entrar nos EUA.
segunda-feira, setembro 15, 2003
Portugal Único: um solar com um pé no sec. XVII e outro no sec. XX
Portugal Único será uma secção da Klepsýdra onde iremos denunciar as atrocidades que se fazem neste país contra o património, o urbanismo, o meio ambiente, a cultura, etc. Dado que essencialmente, o que vamos aqui denunciar resulta do desastre que é a política regional neste país, Portugal Único é também o nome de um ex-movimento anti-regionalista que defendeu com sucesso a manutenção deste estado de coisas. Este movimento que era liderado por Miguel Sousa Tavares (pessoa que aprecio), Ernâni Lopes e Alfredo Barroso anunciava a extinção do próprio movimento no caso de sucesso do « Não » à regionalização. Apesar da aparente nobreza deste gesto - diziam eles porque era um movimento desinteressado em postos e « tachos » - a verdade é que esta atitude mostra que estes senhores achavam que não havia nada para mudar na política regional em Portugal. É o habitual « deixa andar » tão tipicamente português. Houve outros movimentos que defendiam outras soluções, outros que acreditavam na regionalização, mas não aquela em particular. Mas os membros do movimento Portugal Único saíram de cena como se as indesmentíveis disparidades regionais características do nosso atraso não existissem, aceitando a dança das cadeiras dos 18 Governos Civis cada vez que muda o governo e a duplicação de empresas municipais em municípios contíguos.
Assim, nesta secção, vamos analisar o que Portugal tem realmente de «único». Vamos reflectir sobre algumas das consequências da ausência de políticas à escala regional, nomeadamente na cultura, no meio ambiente, no património, áreas que nos outros países da UE, exceptuando a Grécia, são da responsabilidade de órgãos regionais eleitos. A dependência de algumas autarquias de construtores civis com poucos escrúpulos, devido à ausência de um órgão político intermédio que as ligue ao poder central, produz algumas anomalias terceiro-mundistas que não deixaremos de denunciar aqui.
Vamos inaugurar esta secção «Portugal Único» com este primor do bom gosto, um belo solar de Vila Cova do Alva que foi selvaticamente violado por um apartamento de um aspecto reles dos anos 70/80. Como se pode ver na fotografia metade da fachada do solar é ainda do edifício original. O mais insólito é que a porta de entrada do solar foi geometricamente dividida pela linha de separação dos dois edifícios. O brasão por cima da porta assinala o ano de construção do solar, o ano da graça de 1606. É criminoso não é ?
Vila Cova do Alva é uma vila cheia de edifícios históricos e religiosos muito interessantes mas está quase tudo abandonado. Excepto algumas casas onde os nomes afixados nas portas são do tipo : Van der Qualquer-coisa. Enquanto fotografava algumas casas fui abordado por um grupo de velhinhos. Um deles disse-me : «você interessa-se pela nossa terra ? Olhe, se fizer alguma coisa por nós, a gente vota no senhor…mesmo que seja do Partido Comunista…».
Este é um caso típico de abandono de falta de responsáveis e de falta de uma política patrimonial à escala regional. São as mesmas razões que explicam a queda da ponte de Entre Rios.
Assim, nesta secção, vamos analisar o que Portugal tem realmente de «único». Vamos reflectir sobre algumas das consequências da ausência de políticas à escala regional, nomeadamente na cultura, no meio ambiente, no património, áreas que nos outros países da UE, exceptuando a Grécia, são da responsabilidade de órgãos regionais eleitos. A dependência de algumas autarquias de construtores civis com poucos escrúpulos, devido à ausência de um órgão político intermédio que as ligue ao poder central, produz algumas anomalias terceiro-mundistas que não deixaremos de denunciar aqui.
Vamos inaugurar esta secção «Portugal Único» com este primor do bom gosto, um belo solar de Vila Cova do Alva que foi selvaticamente violado por um apartamento de um aspecto reles dos anos 70/80. Como se pode ver na fotografia metade da fachada do solar é ainda do edifício original. O mais insólito é que a porta de entrada do solar foi geometricamente dividida pela linha de separação dos dois edifícios. O brasão por cima da porta assinala o ano de construção do solar, o ano da graça de 1606. É criminoso não é ?
Vila Cova do Alva é uma vila cheia de edifícios históricos e religiosos muito interessantes mas está quase tudo abandonado. Excepto algumas casas onde os nomes afixados nas portas são do tipo : Van der Qualquer-coisa. Enquanto fotografava algumas casas fui abordado por um grupo de velhinhos. Um deles disse-me : «você interessa-se pela nossa terra ? Olhe, se fizer alguma coisa por nós, a gente vota no senhor…mesmo que seja do Partido Comunista…».
Este é um caso típico de abandono de falta de responsáveis e de falta de uma política patrimonial à escala regional. São as mesmas razões que explicam a queda da ponte de Entre Rios.
sábado, setembro 13, 2003
Vai e vem, mas fica uma grande obra
Para o meu Querido amigo, das cinzas do meu outro blogue a Aba de Heisenberg:
O meu conterrâneo João César Monteiro (JCM) terminou a sua carreira com mais uma grande obra: Vai e vem. JCM tinha um estilo muito próprio de fazer cinema. Como infelizmente já vem sendo habitual entre nós Portugueses, esse estilo é muito mais apreciado além fronteiras do que em Portugal. Alguns dos anos que passei fora de Portugal fiquei espantado com a expectativa e entusiasmo que criavam as estreias dos filmes de JCM entre alguns dos meus jovens colegas belgas, italianos, alemães e franceses.
JCM pode ser visto de várias maneiras, uma delas é olhando para a sua obra como um cancioneiro moderno de cantigas de escárnio e mal dizer. Está lá tudo: a crítica mordaz às instituições, uma linguagem literária com perfume a rosas que se cruza com um obsceno cavalheiresco, a dança desajeitada dos trovadores, os provérbios populares e as frases burlescas proferidas sempre num tom da maior seriedade. Podemos também olhar para o outro lado de JCM, o da loucura. Quem vê os seus filmes fica com a sensação que JCM viveu sempre de braço dado com a loucura, mas ao mesmo tempo controlava-a e dela fazia proveito. Frequentemente figuravam os desvarios traduzidos em danças de um doce patético. Estava sempre presente uma sexualidade assumidamente refinada e obscena e que roçava por vezes o limite da legislação em vigor. É certo que essa sexualidade era machista, mas era a do seu tempo.
Relembro algumas das deliciosas passagens dos seus filmes:
"Nem a mais, nem a menos, peitinhos de rola!" exclamava João de Deus enquanto espreitava pelo buraco da fechadura uma jovem desnudada que tomava um duche (Recordações da casa amarela).
"Toma lá 10 dólares, mas não gastes tudo em vinho!" dizia em tom de aviso a freira para João de Deus. Este aceita e ao sair do convento cruza-se com o jardineiro. Oferece-lhe os 10 dólares e diz: "Toma lá 10 dólares, mas não gastes tudo em freiras!" (Bodas de Deus)
"Esse poema é do camarada Saramago?" pergunta a jovem comunista a João Vuvu. Ao que este responde: "Não, é do cavalheiro Luís de Camões..." (Vai e vem)
Aquele olho final que reflecte um jardim acompanhado do requiem final diz-nos muita coisa sobre o percurso de JCM. Diz-nos sobretudo que JCM não desapareceu sem deixar rasto. Desapareceu, mas deixou um rasto muito interessante que provavelmente só será devidamente apreciado no nosso país num futuro mais distante.
Espero que não ergam nenhuma estátua àquele que foi provavelmente o Figueirense que mais extravasou o seu talento para além dos limites da cidade e do próprio país. Digo isto porque depois dos últimos quatro anos de desvario camarário que levaram a Figueira da Foz a ser uma das cidades mais endividadas do país, até uma estátua em honra de Baden Powell (o fundador dos escuteiros) foi edificada! A melhor homenagem que se pode fazer a JCM é ver os seus filmes e criticá-los, independentemente de se gostar ou não do seu estilo.
"Queriam...telenovelas?" (João César Monteiro no dia da estreia de Branca de Neve)
O meu conterrâneo João César Monteiro (JCM) terminou a sua carreira com mais uma grande obra: Vai e vem. JCM tinha um estilo muito próprio de fazer cinema. Como infelizmente já vem sendo habitual entre nós Portugueses, esse estilo é muito mais apreciado além fronteiras do que em Portugal. Alguns dos anos que passei fora de Portugal fiquei espantado com a expectativa e entusiasmo que criavam as estreias dos filmes de JCM entre alguns dos meus jovens colegas belgas, italianos, alemães e franceses.
JCM pode ser visto de várias maneiras, uma delas é olhando para a sua obra como um cancioneiro moderno de cantigas de escárnio e mal dizer. Está lá tudo: a crítica mordaz às instituições, uma linguagem literária com perfume a rosas que se cruza com um obsceno cavalheiresco, a dança desajeitada dos trovadores, os provérbios populares e as frases burlescas proferidas sempre num tom da maior seriedade. Podemos também olhar para o outro lado de JCM, o da loucura. Quem vê os seus filmes fica com a sensação que JCM viveu sempre de braço dado com a loucura, mas ao mesmo tempo controlava-a e dela fazia proveito. Frequentemente figuravam os desvarios traduzidos em danças de um doce patético. Estava sempre presente uma sexualidade assumidamente refinada e obscena e que roçava por vezes o limite da legislação em vigor. É certo que essa sexualidade era machista, mas era a do seu tempo.
Relembro algumas das deliciosas passagens dos seus filmes:
"Nem a mais, nem a menos, peitinhos de rola!" exclamava João de Deus enquanto espreitava pelo buraco da fechadura uma jovem desnudada que tomava um duche (Recordações da casa amarela).
"Toma lá 10 dólares, mas não gastes tudo em vinho!" dizia em tom de aviso a freira para João de Deus. Este aceita e ao sair do convento cruza-se com o jardineiro. Oferece-lhe os 10 dólares e diz: "Toma lá 10 dólares, mas não gastes tudo em freiras!" (Bodas de Deus)
"Esse poema é do camarada Saramago?" pergunta a jovem comunista a João Vuvu. Ao que este responde: "Não, é do cavalheiro Luís de Camões..." (Vai e vem)
Aquele olho final que reflecte um jardim acompanhado do requiem final diz-nos muita coisa sobre o percurso de JCM. Diz-nos sobretudo que JCM não desapareceu sem deixar rasto. Desapareceu, mas deixou um rasto muito interessante que provavelmente só será devidamente apreciado no nosso país num futuro mais distante.
Espero que não ergam nenhuma estátua àquele que foi provavelmente o Figueirense que mais extravasou o seu talento para além dos limites da cidade e do próprio país. Digo isto porque depois dos últimos quatro anos de desvario camarário que levaram a Figueira da Foz a ser uma das cidades mais endividadas do país, até uma estátua em honra de Baden Powell (o fundador dos escuteiros) foi edificada! A melhor homenagem que se pode fazer a JCM é ver os seus filmes e criticá-los, independentemente de se gostar ou não do seu estilo.
"Queriam...telenovelas?" (João César Monteiro no dia da estreia de Branca de Neve)
quinta-feira, setembro 11, 2003
11 de Setembro: mais uma factura da Guerra Fria
Alguns dias depois do 11 de Setembro a maior parte das interpretações que vieram a público sobre o significado do atentado às Torres Gémeas eram de parca lucidez. Dividiam-se entre o alarmismo paranóico e o brutal ajuste de contas. Na altura apreciei especialmente a demarcação desta onda de Bernard Henry Levy (BHL) e de Daniel Cohen Bendit. Em Portugal, embora não concordando com Miguel Portas a sua análise dos acontecimentos foi coerente com o que de melhor pode oferecer a esquerda.
Dois anos depois, penso que foi BHL quem mais se aproximou dos factos e foi dos poucos que conseguiu manter um discurso simultaneamente lúcido e muito bem fundamentado. A sua obra « Réflexions sur la guerre, le mal et la fin de l’histoire » editada pouco depois dos acontecimentos do 11 de Setembro continha um prefácio com uma excelente reflexão em parte feita no próprio dia do atentado. Mas o mais interessante desta obra é que o capítulo intitulado «Les damnés de la guerre», escrito antes do 11 de Setembro, é quase premonitório. BHL faz um estudo no terreno daquilo que ele descreve como sendo as guerras esquecidas : Angola, Ceilão e Colômbia. Estas guerras são o exemplo das pesadas facturas herdadas do tempo da Guerra Fria.
Durante a Guerra Fria a União Soviética e os EUA disputaram palmo a palmo o globo terrestre. Apesar da grande diferença entre os respectivos regimes, fora das suas fronteira os métodos utilizados eram frequentemente semelhantes. Os Soviéticos apoiavam organizações comunistas sem olhar à natureza desses grupos, daí que indivíduos inqualificáveis como Pol-Pot, Kim-Il-Sing ou Enver Hoxa tenham deixado um enorme rasto de sangue atrás de si. Os Americanos em nome da luta anti-comunista apoiaram indiscriminadamente organizações que nada ficavam a dever às que eram apoiadas pelos Soviéticos. Augusto Pinochet, Ben Laden, Saddam Hussein e Ferdinand Marcos são apenas alguns nomes que mancharam o planeta de sangue com a cumplicidade dos EUA. Estas práticas foram amplamente denunciadas no ocidente, mas infelizmente perderam-se no meio do «ruído» da Guerra Fria.
Quando a Guerra Fria chegou ao fim, Soviéticos e Americanos retiraram a sua presença e o seu apoio a diferentes organizações intervenientes em conflitos que perduravam pelo mundo. Mesmo assim, muitos desses conflitos continuaram e prolongaram-se após o fim do apoio Americano e Soviético, como aconteceu em Angola. Para além disso, muitas dessas organizações prosperaram e impuseram-se, como é o caso da Al-Qaeda de Ben Laden. É este desenvolvimento que BHL tão bem descreve na sua obra, é «como uma praia onde chegámos durante a maré cheia, mas na maré vazia descobrimos que afinal, ali à beira mar, onde não víamos nada horas antes, existe uma fauna variada de caranguejos, lagostins, ouriços do mar, etc.». E da «maré vazia» surgiu Ben Laden e a Al-Qaeda que conjuntamente com outras organizações criaram um inferno no Afeganistão. Mais tarde, após várias tentativas mais ou menos falhadas a Al-Qaeda conseguiu atingir brutalmente o seu antigo patrocinador a 11 de Setembro de 2001…
Dois anos depois, penso que foi BHL quem mais se aproximou dos factos e foi dos poucos que conseguiu manter um discurso simultaneamente lúcido e muito bem fundamentado. A sua obra « Réflexions sur la guerre, le mal et la fin de l’histoire » editada pouco depois dos acontecimentos do 11 de Setembro continha um prefácio com uma excelente reflexão em parte feita no próprio dia do atentado. Mas o mais interessante desta obra é que o capítulo intitulado «Les damnés de la guerre», escrito antes do 11 de Setembro, é quase premonitório. BHL faz um estudo no terreno daquilo que ele descreve como sendo as guerras esquecidas : Angola, Ceilão e Colômbia. Estas guerras são o exemplo das pesadas facturas herdadas do tempo da Guerra Fria.
Durante a Guerra Fria a União Soviética e os EUA disputaram palmo a palmo o globo terrestre. Apesar da grande diferença entre os respectivos regimes, fora das suas fronteira os métodos utilizados eram frequentemente semelhantes. Os Soviéticos apoiavam organizações comunistas sem olhar à natureza desses grupos, daí que indivíduos inqualificáveis como Pol-Pot, Kim-Il-Sing ou Enver Hoxa tenham deixado um enorme rasto de sangue atrás de si. Os Americanos em nome da luta anti-comunista apoiaram indiscriminadamente organizações que nada ficavam a dever às que eram apoiadas pelos Soviéticos. Augusto Pinochet, Ben Laden, Saddam Hussein e Ferdinand Marcos são apenas alguns nomes que mancharam o planeta de sangue com a cumplicidade dos EUA. Estas práticas foram amplamente denunciadas no ocidente, mas infelizmente perderam-se no meio do «ruído» da Guerra Fria.
Quando a Guerra Fria chegou ao fim, Soviéticos e Americanos retiraram a sua presença e o seu apoio a diferentes organizações intervenientes em conflitos que perduravam pelo mundo. Mesmo assim, muitos desses conflitos continuaram e prolongaram-se após o fim do apoio Americano e Soviético, como aconteceu em Angola. Para além disso, muitas dessas organizações prosperaram e impuseram-se, como é o caso da Al-Qaeda de Ben Laden. É este desenvolvimento que BHL tão bem descreve na sua obra, é «como uma praia onde chegámos durante a maré cheia, mas na maré vazia descobrimos que afinal, ali à beira mar, onde não víamos nada horas antes, existe uma fauna variada de caranguejos, lagostins, ouriços do mar, etc.». E da «maré vazia» surgiu Ben Laden e a Al-Qaeda que conjuntamente com outras organizações criaram um inferno no Afeganistão. Mais tarde, após várias tentativas mais ou menos falhadas a Al-Qaeda conseguiu atingir brutalmente o seu antigo patrocinador a 11 de Setembro de 2001…
terça-feira, setembro 09, 2003
O 11 de Setembro começou a 9 de Setembro
A 9 de Setembro de 2001 o comandante Massoud foi cobardemente assassinado por dois Tunisinos da Al-Qaeda que se faziam passar por jornalistas. Primeiro a organização queria decapitar o comando da resistência afegã para depois lançar o seu ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque.
O que é triste nisto tudo é que meses antes Massoud esteve na Europa no âmbito de um convite feito pelo Parlamento Europeu para expor a situação grave que se vivia no Afeganistão. Na altura foi absolutamente desprezado por vários chefes de estado europeus que se recusaram a recebê-lo e por muitos eurodeputados que viam com maus olhos a sua oposição aos talibãs, pois afinal de contas tinham sido os mesmo talibãs a expulsar os soviéticos do Afeganistão. Estes políticos eram os mesmos que defendiam cegamente a causa Tchetchena como ela se apresentava, ou seja, sob o controlo de grupos armados ligados à Al-Qaeda. Isto tudo só porque estes combatiam os Russos. À falta de verdadeiros comunistas, ex-soviéticos era o melhor que se podia arranjar!
Ironicamente o assassino de Massoud, Dahmane Abdessatar, o homem que deu o “tiro de partida” para o 11 de Setembro, tinha como sonho de vida combater na Tchetchénia pela criação de um estado islâmico. São tiros que saem pela culatra…
O que é triste nisto tudo é que meses antes Massoud esteve na Europa no âmbito de um convite feito pelo Parlamento Europeu para expor a situação grave que se vivia no Afeganistão. Na altura foi absolutamente desprezado por vários chefes de estado europeus que se recusaram a recebê-lo e por muitos eurodeputados que viam com maus olhos a sua oposição aos talibãs, pois afinal de contas tinham sido os mesmo talibãs a expulsar os soviéticos do Afeganistão. Estes políticos eram os mesmos que defendiam cegamente a causa Tchetchena como ela se apresentava, ou seja, sob o controlo de grupos armados ligados à Al-Qaeda. Isto tudo só porque estes combatiam os Russos. À falta de verdadeiros comunistas, ex-soviéticos era o melhor que se podia arranjar!
Ironicamente o assassino de Massoud, Dahmane Abdessatar, o homem que deu o “tiro de partida” para o 11 de Setembro, tinha como sonho de vida combater na Tchetchénia pela criação de um estado islâmico. São tiros que saem pela culatra…
segunda-feira, setembro 08, 2003
Tempo de férias na Europa, silly season nos EUA
Ao longo dos últimos Verões, começou a ser hábito de muitos comentadores portugueses multiplicarem-se em títulos de artigos onde aparece a expressão silly season, escrevendo os mais originais artigos simplesmente intitulados: silly season. Dá ideia que se lêem muitos artigos da imprensa norte americana sem se conseguir alcançar toda a amplitude da expressão silly season, fazendo-se imediatamente a transposição para a realidade portuguesa que é completamente diferente. Há coisas interessantíssimas que podem ser assunto em tempo de férias, mas alguns comentadores teimam em dar a ideia que anda tudo a meio gás como nos EUA porque no Verão estes nem trabalham nem passam férias. Isto é que é realmente silly.
Muitas vezes se compara a economia europeia à americana, umas vezes bem outras vezes de forma muito mal intencionada. No entanto, geralmente essas comparações omitem o facto de os trabalhadores americanos passarem em média metade do tempo de férias dos europeus.
De facto, em média, na União Europeia cada cidadão europeu tem direito a um mês de férias. Logo, para estes os meses de Verão são geralmente sinónimo de tempo de férias. No entanto, do outro lado do Atlântico os trabalhadores Americanos tem direito em média a apenas 15 dias de férias por ano, logo não estranha que o meses de Verão sejam a famosa silly season. Não se pense que esta diferença fique a dever a algum especial amor ao trabalho. A razão desta diferença deve-se essencialmente a dois factores. O primeiro é resultante da prática exaustiva das empresas americanas da obtenção de margens de lucro extraordinárias à custa dos direitos dos cidadãos. O segundo resulta do receio de muitos dos trabalhadores das empresas americanas de perderem o seu emprego no caso de gozarem férias que possam ser consideradas demasiado prolongadas.
Mas o tempo adicional que os trabalhadores americanos passam no seu local de trabalho não tem como consequência directa um efeito cumulativo de produtividade. Durante o Verão, em vez de passarem verdadeiras férias, os trabalhadores americanos passam mais tempo no local de trabalho, local de trabalho esse que em geral está a meio gás porque os quadro superiores, esses, foram mesmo de férias. Provavelmente muitos aproveitam as ausências dos superiores para se abastecerem de material consumível da empresa lá para casa ou para fazer downloads da internet das “férias dos outros”. É isto é que é realmente a silly season, é realmente a época estúpida dentro das empresas americanas.
Mas há mais dois pontos importantes a acrescentar à comparação que se faz entre a produtividade nos EUA e na União Europeia.
1) Na União Europeia as empresas estão sujeitas a condicionantes ecológicas muito mais exigentes do que nos EUA. Porque no liberalismo não se procuram as soluções de aumento de produtividade de uma forma racional, mas sim apenas em função de relações de força em que o mais fraco é obrigado a ceder ao mais forte. Neste caso são as organizações responsáveis pelo meio ambiente nos EUA.
2) As empresas europeias estão obrigadas a respeitar certas condicionantes resultantes da protecção social oferecida a todos cidadãos que trabalham de forma a que estes usufruam de um país onde toda a gente tenha direito a um mínimo de dignidade. De novo nos EUA as grandes linhas do liberalismo incitam a que estes direitos sejam sacrificados em nome da produtividade.
Estes dois pontos irritam muito um conjunto de grandes empresários da industria norte americana porque as suas empresas estão claramente a prosperar mais à custa de margens obtidas em detrimento da qualidade de vida dos cidadãos relativamente à generalidade das empresas que fazem parte do espaço europeu. Logo a concorrência entre União Europeia e EUA não é leal, é virtual. Por estas e por outras é que estes empresários andam muito empenhados em descredibilizar factos indesmentíveis como o aquecimento global do planeta e os múltiplos sucessos de políticas de erradicação da exclusão social que ocorreram em variados países europeus.
Muitas vezes se compara a economia europeia à americana, umas vezes bem outras vezes de forma muito mal intencionada. No entanto, geralmente essas comparações omitem o facto de os trabalhadores americanos passarem em média metade do tempo de férias dos europeus.
De facto, em média, na União Europeia cada cidadão europeu tem direito a um mês de férias. Logo, para estes os meses de Verão são geralmente sinónimo de tempo de férias. No entanto, do outro lado do Atlântico os trabalhadores Americanos tem direito em média a apenas 15 dias de férias por ano, logo não estranha que o meses de Verão sejam a famosa silly season. Não se pense que esta diferença fique a dever a algum especial amor ao trabalho. A razão desta diferença deve-se essencialmente a dois factores. O primeiro é resultante da prática exaustiva das empresas americanas da obtenção de margens de lucro extraordinárias à custa dos direitos dos cidadãos. O segundo resulta do receio de muitos dos trabalhadores das empresas americanas de perderem o seu emprego no caso de gozarem férias que possam ser consideradas demasiado prolongadas.
Mas o tempo adicional que os trabalhadores americanos passam no seu local de trabalho não tem como consequência directa um efeito cumulativo de produtividade. Durante o Verão, em vez de passarem verdadeiras férias, os trabalhadores americanos passam mais tempo no local de trabalho, local de trabalho esse que em geral está a meio gás porque os quadro superiores, esses, foram mesmo de férias. Provavelmente muitos aproveitam as ausências dos superiores para se abastecerem de material consumível da empresa lá para casa ou para fazer downloads da internet das “férias dos outros”. É isto é que é realmente a silly season, é realmente a época estúpida dentro das empresas americanas.
Mas há mais dois pontos importantes a acrescentar à comparação que se faz entre a produtividade nos EUA e na União Europeia.
1) Na União Europeia as empresas estão sujeitas a condicionantes ecológicas muito mais exigentes do que nos EUA. Porque no liberalismo não se procuram as soluções de aumento de produtividade de uma forma racional, mas sim apenas em função de relações de força em que o mais fraco é obrigado a ceder ao mais forte. Neste caso são as organizações responsáveis pelo meio ambiente nos EUA.
2) As empresas europeias estão obrigadas a respeitar certas condicionantes resultantes da protecção social oferecida a todos cidadãos que trabalham de forma a que estes usufruam de um país onde toda a gente tenha direito a um mínimo de dignidade. De novo nos EUA as grandes linhas do liberalismo incitam a que estes direitos sejam sacrificados em nome da produtividade.
Estes dois pontos irritam muito um conjunto de grandes empresários da industria norte americana porque as suas empresas estão claramente a prosperar mais à custa de margens obtidas em detrimento da qualidade de vida dos cidadãos relativamente à generalidade das empresas que fazem parte do espaço europeu. Logo a concorrência entre União Europeia e EUA não é leal, é virtual. Por estas e por outras é que estes empresários andam muito empenhados em descredibilizar factos indesmentíveis como o aquecimento global do planeta e os múltiplos sucessos de políticas de erradicação da exclusão social que ocorreram em variados países europeus.
quinta-feira, setembro 04, 2003
Um relógio Geiger-Muller
Há invenções que nos continuam a espantar. Este relógio-detector Geiger-Muller é uma dessas invenções. Imaginem que vão dar um passeio nas proximidades de algum sítio suspeito (uma base da NATO, um barracão nos confins de Trás-os-Montes, um porto onde passam barcos que levam lixo do primeiro para o terceiro mundo, etc.), se levarem este relógio convosco é muito provável que este dê início a um frenético bip-bip. Nesse momento, o melhor é dar corda aos sapatos!
quarta-feira, setembro 03, 2003
Luís Fazenda tem razão!
Luís Fazenda tem razão em solicitar as provas que o Primeiro Ministro afirmou conhecer sobre a existência de armas de destruição em massa em posse do ex-governo Iraquiano. O Primeiro Ministro afirmou categoricamente ter visto essas provas. Esta não é uma questão menor, não é o mesmo que ver ou não ver um penalty. É uma questão que envolve a defesa do país e a credibilidade dos nossos aliados e das organizações militares a que fazemos parte. Face aos recentes desenvolvimentos que ocorreram em Inglaterra resultantes da morte do investigador David Kelly, este é o momento para esclarecer uma questão que não é nenhuma brincadeira. Durão Barroso tem que explicar o que viu. Se Durão Barroso provar o que afirmou ganha credibilidade. Se não quiser provar ou se não conseguir provar, a única coisa que fica provada é que se anda a brincar com assuntos muito sérios.
terça-feira, setembro 02, 2003
Charles Bronson morreu
Por entre o alarido das noticias da manhã de ontem sobre o "caso Casa Pia" tomei conhecimento da morte de Charles Bronson. Era um daqueles meus heróis de infância, um distribuidor de porrada que punha os maus da fita na ordem ou no cemitério. Vendo bem, a influência anglo-saxónia sobre a infância e a adolescência das pessoas da minha geração é esmagadora e tem vindo a aumentar. No meio disto tudo interrogo-me: quanto de americano terão os anti-americanos que por aí andam?
Caminhos da diáspora: Estrasburgo -> Figueira da Foz
Os Portugueses são 15 milhões. Desses, apenas 10 milhões vivem em Portugal. Uma terça parte de todos nós está no estrangeiro. A esmagadora maioria desses 5 milhões que vivem fora do país emigraram um dia porque não tinham grandes alternativas para viver com dignidade. Esta é uma ferida que herdámos em grande parte do regime salazarista e uma das consequências mais miseráveis do fascismo português que não deveríamos esquecer nunca.
Eu fiz parte daqueles que nos últimos anos tiveram já o privilégio de ir para o estrangeiro por opção. Passei quatro anos em Estrasburgo. Passado este tempo e novamente por opção decidi voltar. Gostei muito da experiência mas não voltaria a viver em Estrasburgo e foi por isso que parti sem saudades.
Como estamos em época de partidas e de regressos, tal como fez o Zé Mário nas suas belas "Notas de Viagem", decidi partilhar convosco alguns dos fragmentos da minha viagem de regresso. No entanto gostaria que ficasse presente que esta viagem que eu fiz confortavelmente sentado no banco do meu carro, nos anos 60 e 70, era feita por muitos portugueses no sentido inverso às vezes a pé, outras vezes dentro da mala de um automóvel ou debaixo de um oleado na caixa aberta de uma camioneta e os mais sortudos lá conseguiam fazer partes da viagem de comboio ou de autocarro.
A parte mais chata da viagem foi carregar toda a “tralha” às “costas” do meu Rocinante. Só havia espaço para o condutor, parecia um feirante!
Quando finalmente o meu Rocinante começou a trotar pela estrada fora foi um alívio!
Chega o cruzamento do adeus a Estrasburgo. Para Portugal a direcção é: Mulhouse. Apesar do meu itinerário Michelin me aconselhar a ida por Paris eu escolhi o itinerário económico, sem portagens. As portagens são, talvez, uma das coisas mais estúpidas que existem e é revelador que só os países do sul da Europa adoptem este tipo de sistema (Portugal, Espanha, França e Itália). É um sistema que só serve para perder tempo em estradas cujo objectivo é o de ganhar tempo. Por exemplo na Suiça, Áustria e Rep. Checa compra-se uma vez uma vinheta válida para um determinado período de tempo e não são ao preço da chulice que se pratica em Portugal ou em França. Nos EUA, na Holanda e na Alemanha as auto-estradas são pagas pelos impostos. No sector dos transportes deveríamos penalizar pelos impostos os combustíveis fósseis e não as estradas de qualidade. Enfim, é tudo feito ao contrário!
A Europa Central no Outono é muito diferente do Outono em Portugal. Existe um colorido muito variado da folhagem das árvores. Há vermelhos, amarelos e laranjas muito vivos que se misturam com o verde. Parecia que ia a viajar através de uma tela pincelada de mil cores!
À noite paragem num motel nos arredores de Limoges. Acendo a televisão, transmitem uma reportagem sobre a eleição de George W. Bush. O marketing é altamente profissional. Bush em público tem todos os movimentos corporais e faciais controlados por um batalhão de peritos. Dentro do seu jacto privado longe dos olhares do público, a descontracção é total: piropos às jornalistas, uma cervejola para descontrair e comentários rascas sobre o adversário. A foto mostra o momento em que Bush é informado que venceu as eleições. “Félicitations”, diz um dos conselheiros. “On verra”, responde Bush...
Paragem em Rochefoucauld. Um belo castelo renascentista como que a querer lembrar-me, antes de sair do territótio Francês, o quão belo é este país.
Chego à fronteira espanhola. A placa tinha o nome de Espanha riscado. É uma atitude estúpida, mas também não custava nada escrever País Basco na mesma placa. Não custava nada e toda a gente ficaria satisfeita. Assim a prepotência subtil dá lugar a um nacionalismo sanguinário e intolerante.
Finalmente, entro em Espanha. Quanto mais conheço o mundo mais gosto deste país. A costa Basca é como uma exposição dos rochedos mais belos da Península. Parei em Gasteiz (Victória) e fui logo a um bar de tapas daqueles onde toda a gente come de pé e as pessoas se vão servindo ao balcão sem ter de pedir ao empregado. No fim é só dizer ao empregado o que comemos, ele confia e paga-se tudo. Lindo! Sentimos que já saímos definitivamente da Europa Central onde não há margem de manobra para confianças.
A viagem foi feita nas calmas. Mais uma noite, agora em Salamanca, a Ciudad Dorada. A cidade está muito diferente e diferente para melhor. De manhã a reentrada em Portugal é feita com um pequeno desvio pelas propriedades castelhanas de patas negras, de touros e de cavalos. Um regalo!
A 30, 40 km da fronteira começo a captar a TSF, essa velha companheira. Temos Fórum! O tema é a pedofilia. A caixa de Pandora está a começar a ser aberta. Um senhor diz que resolveu um caso de pedofilia na freguesia dele com um barrote cheio de pregos...Eu pensei no esforço que o Manuel Acácio deve fazer para não se escangalhar a rir (ou a chorar) em directo!
Finalmente a fronteira portuguesa. As regras da IP5 relembram que entrámos numa estrada que não é para brincadeiras: médios acesos e 90 km/h de velocidade máxima. De 15 em 15 minutos lá passava um esperto por mim largamente acima dos 90 km/h...
Uma paragem para reabastecer e uma olhada pelos títulos dos jornais. Pedofilia e futebol a rodos! Não há dúvida, estamos em Portugal!
A chegada à Figueira da Foz é relaxante. Não só porque a viagem chegou ao fim, mas porque ao fazer-se a última curva antes de entrar na cidade avista-se logo a ponte e o Mondego a mergulhar no oceano. A vista do oceano para mim é sempre uma terapia fantástica para a paz de espírito.
Koniec...o fim da viagem. Vou dar “palha” ao Rocinante. O meu cão é o primeiro a dar-me as boas-vindas completamente eufórico, depois a família, os abraços...
Eu fiz parte daqueles que nos últimos anos tiveram já o privilégio de ir para o estrangeiro por opção. Passei quatro anos em Estrasburgo. Passado este tempo e novamente por opção decidi voltar. Gostei muito da experiência mas não voltaria a viver em Estrasburgo e foi por isso que parti sem saudades.
Como estamos em época de partidas e de regressos, tal como fez o Zé Mário nas suas belas "Notas de Viagem", decidi partilhar convosco alguns dos fragmentos da minha viagem de regresso. No entanto gostaria que ficasse presente que esta viagem que eu fiz confortavelmente sentado no banco do meu carro, nos anos 60 e 70, era feita por muitos portugueses no sentido inverso às vezes a pé, outras vezes dentro da mala de um automóvel ou debaixo de um oleado na caixa aberta de uma camioneta e os mais sortudos lá conseguiam fazer partes da viagem de comboio ou de autocarro.
A parte mais chata da viagem foi carregar toda a “tralha” às “costas” do meu Rocinante. Só havia espaço para o condutor, parecia um feirante!
Quando finalmente o meu Rocinante começou a trotar pela estrada fora foi um alívio!
Chega o cruzamento do adeus a Estrasburgo. Para Portugal a direcção é: Mulhouse. Apesar do meu itinerário Michelin me aconselhar a ida por Paris eu escolhi o itinerário económico, sem portagens. As portagens são, talvez, uma das coisas mais estúpidas que existem e é revelador que só os países do sul da Europa adoptem este tipo de sistema (Portugal, Espanha, França e Itália). É um sistema que só serve para perder tempo em estradas cujo objectivo é o de ganhar tempo. Por exemplo na Suiça, Áustria e Rep. Checa compra-se uma vez uma vinheta válida para um determinado período de tempo e não são ao preço da chulice que se pratica em Portugal ou em França. Nos EUA, na Holanda e na Alemanha as auto-estradas são pagas pelos impostos. No sector dos transportes deveríamos penalizar pelos impostos os combustíveis fósseis e não as estradas de qualidade. Enfim, é tudo feito ao contrário!
A Europa Central no Outono é muito diferente do Outono em Portugal. Existe um colorido muito variado da folhagem das árvores. Há vermelhos, amarelos e laranjas muito vivos que se misturam com o verde. Parecia que ia a viajar através de uma tela pincelada de mil cores!
À noite paragem num motel nos arredores de Limoges. Acendo a televisão, transmitem uma reportagem sobre a eleição de George W. Bush. O marketing é altamente profissional. Bush em público tem todos os movimentos corporais e faciais controlados por um batalhão de peritos. Dentro do seu jacto privado longe dos olhares do público, a descontracção é total: piropos às jornalistas, uma cervejola para descontrair e comentários rascas sobre o adversário. A foto mostra o momento em que Bush é informado que venceu as eleições. “Félicitations”, diz um dos conselheiros. “On verra”, responde Bush...
Paragem em Rochefoucauld. Um belo castelo renascentista como que a querer lembrar-me, antes de sair do territótio Francês, o quão belo é este país.
Chego à fronteira espanhola. A placa tinha o nome de Espanha riscado. É uma atitude estúpida, mas também não custava nada escrever País Basco na mesma placa. Não custava nada e toda a gente ficaria satisfeita. Assim a prepotência subtil dá lugar a um nacionalismo sanguinário e intolerante.
Finalmente, entro em Espanha. Quanto mais conheço o mundo mais gosto deste país. A costa Basca é como uma exposição dos rochedos mais belos da Península. Parei em Gasteiz (Victória) e fui logo a um bar de tapas daqueles onde toda a gente come de pé e as pessoas se vão servindo ao balcão sem ter de pedir ao empregado. No fim é só dizer ao empregado o que comemos, ele confia e paga-se tudo. Lindo! Sentimos que já saímos definitivamente da Europa Central onde não há margem de manobra para confianças.
A viagem foi feita nas calmas. Mais uma noite, agora em Salamanca, a Ciudad Dorada. A cidade está muito diferente e diferente para melhor. De manhã a reentrada em Portugal é feita com um pequeno desvio pelas propriedades castelhanas de patas negras, de touros e de cavalos. Um regalo!
A 30, 40 km da fronteira começo a captar a TSF, essa velha companheira. Temos Fórum! O tema é a pedofilia. A caixa de Pandora está a começar a ser aberta. Um senhor diz que resolveu um caso de pedofilia na freguesia dele com um barrote cheio de pregos...Eu pensei no esforço que o Manuel Acácio deve fazer para não se escangalhar a rir (ou a chorar) em directo!
Finalmente a fronteira portuguesa. As regras da IP5 relembram que entrámos numa estrada que não é para brincadeiras: médios acesos e 90 km/h de velocidade máxima. De 15 em 15 minutos lá passava um esperto por mim largamente acima dos 90 km/h...
Uma paragem para reabastecer e uma olhada pelos títulos dos jornais. Pedofilia e futebol a rodos! Não há dúvida, estamos em Portugal!
A chegada à Figueira da Foz é relaxante. Não só porque a viagem chegou ao fim, mas porque ao fazer-se a última curva antes de entrar na cidade avista-se logo a ponte e o Mondego a mergulhar no oceano. A vista do oceano para mim é sempre uma terapia fantástica para a paz de espírito.
Koniec...o fim da viagem. Vou dar “palha” ao Rocinante. O meu cão é o primeiro a dar-me as boas-vindas completamente eufórico, depois a família, os abraços...
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