Ao longo dos últimos Verões, começou a ser hábito de muitos comentadores portugueses multiplicarem-se em títulos de artigos onde aparece a expressão silly season, escrevendo os mais originais artigos simplesmente intitulados: silly season. Dá ideia que se lêem muitos artigos da imprensa norte americana sem se conseguir alcançar toda a amplitude da expressão silly season, fazendo-se imediatamente a transposição para a realidade portuguesa que é completamente diferente. Há coisas interessantíssimas que podem ser assunto em tempo de férias, mas alguns comentadores teimam em dar a ideia que anda tudo a meio gás como nos EUA porque no Verão estes nem trabalham nem passam férias. Isto é que é realmente silly.
Muitas vezes se compara a economia europeia à americana, umas vezes bem outras vezes de forma muito mal intencionada. No entanto, geralmente essas comparações omitem o facto de os trabalhadores americanos passarem em média metade do tempo de férias dos europeus.
De facto, em média, na União Europeia cada cidadão europeu tem direito a um mês de férias. Logo, para estes os meses de Verão são geralmente sinónimo de tempo de férias. No entanto, do outro lado do Atlântico os trabalhadores Americanos tem direito em média a apenas 15 dias de férias por ano, logo não estranha que o meses de Verão sejam a famosa silly season. Não se pense que esta diferença fique a dever a algum especial amor ao trabalho. A razão desta diferença deve-se essencialmente a dois factores. O primeiro é resultante da prática exaustiva das empresas americanas da obtenção de margens de lucro extraordinárias à custa dos direitos dos cidadãos. O segundo resulta do receio de muitos dos trabalhadores das empresas americanas de perderem o seu emprego no caso de gozarem férias que possam ser consideradas demasiado prolongadas.
Mas o tempo adicional que os trabalhadores americanos passam no seu local de trabalho não tem como consequência directa um efeito cumulativo de produtividade. Durante o Verão, em vez de passarem verdadeiras férias, os trabalhadores americanos passam mais tempo no local de trabalho, local de trabalho esse que em geral está a meio gás porque os quadro superiores, esses, foram mesmo de férias. Provavelmente muitos aproveitam as ausências dos superiores para se abastecerem de material consumível da empresa lá para casa ou para fazer downloads da internet das “férias dos outros”. É isto é que é realmente a silly season, é realmente a época estúpida dentro das empresas americanas.
Mas há mais dois pontos importantes a acrescentar à comparação que se faz entre a produtividade nos EUA e na União Europeia.
1) Na União Europeia as empresas estão sujeitas a condicionantes ecológicas muito mais exigentes do que nos EUA. Porque no liberalismo não se procuram as soluções de aumento de produtividade de uma forma racional, mas sim apenas em função de relações de força em que o mais fraco é obrigado a ceder ao mais forte. Neste caso são as organizações responsáveis pelo meio ambiente nos EUA.
2) As empresas europeias estão obrigadas a respeitar certas condicionantes resultantes da protecção social oferecida a todos cidadãos que trabalham de forma a que estes usufruam de um país onde toda a gente tenha direito a um mínimo de dignidade. De novo nos EUA as grandes linhas do liberalismo incitam a que estes direitos sejam sacrificados em nome da produtividade.
Estes dois pontos irritam muito um conjunto de grandes empresários da industria norte americana porque as suas empresas estão claramente a prosperar mais à custa de margens obtidas em detrimento da qualidade de vida dos cidadãos relativamente à generalidade das empresas que fazem parte do espaço europeu. Logo a concorrência entre União Europeia e EUA não é leal, é virtual. Por estas e por outras é que estes empresários andam muito empenhados em descredibilizar factos indesmentíveis como o aquecimento global do planeta e os múltiplos sucessos de políticas de erradicação da exclusão social que ocorreram em variados países europeus.
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