Começo a cruzar-me com muitas caras perdidas que olham para os telhados das faculdades, consultam mapas e fazem perguntas aos transeuntes. Rostos vindos de toda a Europa: do norte, do centro, do leste, das ilhas, do mediterrâneo, etc. Revejo-me nestes gestos, lembro-me do longínquo ano de 1993.
Há aproximadamente 10 anos atrás estava eu ávido para chegar Pádua e começar a descobrir a cidade, o país, a cultura e uma das mais antigas universidades da Europa. Mal sabia eu que me esperava um mundo de aventuras com aqueles que iriam ser os meus companheiros de aulas do Dipartimento di Fisica Galileo Galilei, da residência Fusinato, do curso de língua italiana e sobretudo do «universo Erasmus».
Fundámos o «dialecto Erasmus» do ano 1993/94. Todos os anos os novos estudantes Erasmus distorcem entre si a língua local com expressões bizarras que resultam de uma mistura de erros de pronunciação, de entonações e de expressões importadas das respectivas línguas maternas.
Descobrimos que a história de cada país é ensinada de uma forma muito chauvinista. Os Espanhóis aprendem o nome de batalhas em que derrotaram os Portugueses, que os Portugueses fingem que nunca existiram, e os Portugueses só conhecem as batalhas que ganharam aos Espanhóis, mas que por sua vez estes omitem nos seus manuais escolares.
O mais enriquecedor deste tipo de programas é o convívio saudável que se proporciona entre pessoas de diferentes culturas. Durante aqueles meses, a maior parte dos estudantes aprende a conviver com as diferenças. Aprende-se a aceitar as diferentes formas de cumprimentos (aperto de mão, dois beijinhos, três beijinhos, etc.), as diferenças gastronómicas, as diferentes concepções de pontualidade, os diferentes métodos de estudo e a importância relativa de assuntos como a música, o cinema ou o desporto (de sofá ou praticado).
Este tipo de relacionamento entre indivíduos de diferentes países e culturas contribui fortemente para minimizar comportamentos primários que consistem em fazer generalizações e acusações precipitadas sobre os habitantes do país A, B ou C. Como tão bem retrata o filme o «Albergue Espanhol», as desastradas generalizações do personagem britânico de visita à sua a irmã - segundo o qual os espanhóis dizem todos «Caramba! Caramba!» e os alemães são ainda uns nazis - causa um grande desconforto no seio do grupo Erasmus da residência que já aprendeu a viver com as suas diferenças. Curiosamente, a atitude daquele personagem era tão semelhante ao Vasco Graça Moura do artigo «Europa, 17 de Fevereiro de 2033».
Durante o ano lectivo de 2002/03 a Europa festejou «Um Milhão de Erasmus». Mais de um milhão de estudantes de universidades de toda a Europa participaram neste excelente programa de mobilidade que começou em 1987. Deste milhão de Erasmus muitos irão ocupar lugares de destaque nos respectivos países e na Europa. No meu entender seria benéfico que estes ex-Erasmus - ou pessoas de semelhante formação - começassem progressivamente a ocupar os lugares de Estrasburgo e de Bruxelas apeando aqueles «velhos políticos europeus» que não têm melhor coisa para fazer dos seus mandatos senão incitar a ódios primários entre as várias nações da Europa ou contra outras regiões do mundo. A União Europeia seria sem dúvida uma instituição mais interessante se souber aproveitar estes «novos Europeus» de horizontes mais largos que os «velhos Vascos Graça Moura» desta Europa.
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