Portugal Único será uma secção da Klepsýdra onde iremos denunciar as atrocidades que se fazem neste país contra o património, o urbanismo, o meio ambiente, a cultura, etc. Dado que essencialmente, o que vamos aqui denunciar resulta do desastre que é a política regional neste país, Portugal Único é também o nome de um ex-movimento anti-regionalista que defendeu com sucesso a manutenção deste estado de coisas. Este movimento que era liderado por Miguel Sousa Tavares (pessoa que aprecio), Ernâni Lopes e Alfredo Barroso anunciava a extinção do próprio movimento no caso de sucesso do « Não » à regionalização. Apesar da aparente nobreza deste gesto - diziam eles porque era um movimento desinteressado em postos e « tachos » - a verdade é que esta atitude mostra que estes senhores achavam que não havia nada para mudar na política regional em Portugal. É o habitual « deixa andar » tão tipicamente português. Houve outros movimentos que defendiam outras soluções, outros que acreditavam na regionalização, mas não aquela em particular. Mas os membros do movimento Portugal Único saíram de cena como se as indesmentíveis disparidades regionais características do nosso atraso não existissem, aceitando a dança das cadeiras dos 18 Governos Civis cada vez que muda o governo e a duplicação de empresas municipais em municípios contíguos.
Assim, nesta secção, vamos analisar o que Portugal tem realmente de «único». Vamos reflectir sobre algumas das consequências da ausência de políticas à escala regional, nomeadamente na cultura, no meio ambiente, no património, áreas que nos outros países da UE, exceptuando a Grécia, são da responsabilidade de órgãos regionais eleitos. A dependência de algumas autarquias de construtores civis com poucos escrúpulos, devido à ausência de um órgão político intermédio que as ligue ao poder central, produz algumas anomalias terceiro-mundistas que não deixaremos de denunciar aqui.
Vamos inaugurar esta secção «Portugal Único» com este primor do bom gosto, um belo solar de Vila Cova do Alva que foi selvaticamente violado por um apartamento de um aspecto reles dos anos 70/80. Como se pode ver na fotografia metade da fachada do solar é ainda do edifício original. O mais insólito é que a porta de entrada do solar foi geometricamente dividida pela linha de separação dos dois edifícios. O brasão por cima da porta assinala o ano de construção do solar, o ano da graça de 1606. É criminoso não é ?
Vila Cova do Alva é uma vila cheia de edifícios históricos e religiosos muito interessantes mas está quase tudo abandonado. Excepto algumas casas onde os nomes afixados nas portas são do tipo : Van der Qualquer-coisa. Enquanto fotografava algumas casas fui abordado por um grupo de velhinhos. Um deles disse-me : «você interessa-se pela nossa terra ? Olhe, se fizer alguma coisa por nós, a gente vota no senhor…mesmo que seja do Partido Comunista…».
Este é um caso típico de abandono de falta de responsáveis e de falta de uma política patrimonial à escala regional. São as mesmas razões que explicam a queda da ponte de Entre Rios.
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