terça-feira, janeiro 26, 2010

2009: o segundo ano mais quente de sempre



A NASA publicou os resultados das suas observações meteorológicas realizadas por estações e satélites. As principais conclusões são: 2009 foi o segundo ano mais quente de sempre desde que se realizam medidas, 2009 foi o ano mais quente de sempre no hemisfério sul e esta década foi a mais quente jamais registada (Via de De Rerum Mundi). Clicar aqui para ler mais sobre assunto.


segunda-feira, janeiro 25, 2010

Cyrano de Bergerac



"Cyrano de Bergerac" apesar de se tratar de uma obra de 1990 de Jean-Paul Rappeneau, apenas recentemente passou pelo meu leitor de DVD. E em boa hora passou! Este filme baseado na peça de teatro do mesmo nome da autoria de Edmond Rostand é uma pérola do cinema, um filme único. Inspirada na história de uma personagem real, Savinien Cyrano de Bergerac, a acção desenrola-se na França conturbada do século XVII, conturbada pela Guerra dos Trinta Anos e por um clima de disputa entre notáveis da época. No meio deste ambiente hostil, a poesia, a eloquência e o talento na esgrima de Cyrano é uma fonte de motivação guerreira para os homens e de sedução para as mulheres. Apaixonado por Roxane mas desmotivado pela sua figura, sobretudo pelo seu "gigantesco" nariz, Cyrano projecta a sua paixão através das cartas de amor que escreve assinando pelo jovem Christian de Neuvillette, igualmente apaixonado por Roxane mas incapaz de escrever e encalhado numa timidez que o impede de se exprimir. Adivinha-se o drama...
Durante as duas horas de filme somos agraciados por uma interpretação magistral de Gérard Depardieu (actor que não está entre as minhas preferências), por um recital de bem declamar, bem falar, por um hino à poesia e à literatura, enquadrados no turbilhão da dança irreverente da capa e espada de Cyrano.
Este é um filme que para além de nos lavar a alma, além de ser um filme bem disposto, irónico, cheio de acção e apesar de ser teatral, é um filme que nos manda ir ler. Vai ler! Tens muito para ler! E a seguir declama aos deuses e às infantas da tua paróquia!

domingo, janeiro 24, 2010

Certificação de empresas social e ambientalmente responsáveis

(Publicado no portal Esquerda.net)
Em Filadélfia, nos EUA, foi criada a certificação "B", da palavra benefit, para distinguir os benefícios gerados por contributos sociais e ambientais das empresas. Este certificado B é atribuído após uma inspecção realizada por um painel constituído por 8 consultores independentes que analisa a empresa segundo cerca de 200 critérios que cobrem aspectos relacionados com: a comunidade, os trabalhadores, o ambiente, os fornecedores e os clientes. Grosso modo esses critérios encerram em si as seguintes questões fundamentais:

- A empresa integra explicitamente benefícios ambientais e sociais entre os seus objectivos?

- A empresa partilha toda a informação financeira (excepto informação dos salários) com os seus empregados?

- Quais os responsáveis da empresa que serão avaliados em função do cumprimento dos objectivos sociais e ambientais?

- As contribuições políticas e as participações em grupos de pressão são realizadas de uma forma aberta e transparente?

Por exemplo, uma empresa com certificado B recorre geralmente a fornecedores locais (limitando as emissões de CO2 relativas ao transporte) e contrata trabalhadores provenientes de bairros menos favorecidos situados nas proximidades. No entanto, as actividades destas empresas devem estar devidamente enquadradas por boas práticas de transparência. Os relatórios de contas deverão ser exaustivos e claros, bem diferentes dos relatórios fantasiosos do mundo financeiro durante o clima optimista que precedeu a presente crise financeira. Auditorias aleatórias e rigorosas verificam se estas empresas cumprem de facto o que é declarado.

O processo de reconhecimento deste certificado começou na cidade de Filadélfia, mas está neste momento em curso alargamento a seis estados dos EUA, para que todas as empresas beneficiem da parte da administração estadual de reduções de taxas, de impostos e de outro tipo de incentivos. No entanto, estas empresas registam já benefícios que se traduzem na fidelização da sua clientela e na sua integração em redes orientadas para o serviço social que reduz custos de operatividade.

Eis alguns dos resultados conseguidos até ao presente entre as empresadas com certificado B:

  • 72% recorrem a energias renováveis ;

  • 51% aplicam políticas de utilização de transportes públicos e de partilha de automóveis entre os seus empregados;

  • 82% participam em programas de voluntariado nas comunidades locais;

  • 74% são parceiras de associações locais de caridade, atribuindo donativos de cerca de 10% dos seus lucros;

  • 90% são propriedade de empresários locais, cuja percentagem de proprietários mulheres e pertencentes a minorias étnicas é três vezes superior à média;

  • 44% aplicam políticas de partilha de propriedade da empresa com os seus trabalhadores.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Astronomia no Casino da Figueira

Numa sala bem composta de alunos desde os 9 anos de idade dissertei sobre as aventuras cósmicas da astronomia, sobre telescópios, missões espaciais e astronautas. No final fui bombardeado de perguntas num clima de efervescente curiosidade. Gostei da experiência e da iniciativa. Tal como critiquei o Casino da Figueira recentemente por outras razões, deixo aqui o meu elogio a esta iniciativa que permitiu levar um assunto que nem sempre é acessível a miúdos de variadas proveniências. Ao cumprir estas obrigações sociais, o Casino dá um contributo pontual mas valioso à formação dos futuros cidadãos da Figueira.

PS- Juro que não falei sobre o casamento entre cristãs e muçulmanos!

segunda-feira, janeiro 18, 2010

O melhor cinema da década (actualização)

A Joana iniciou uma lista dos seus 50 filmes preferidos desta década ali no Córtex Frontal. Alinho no exercício mas contenho-me para já em 16 filmes. Irei acrescentando à medida que me for lembrando. Aqui vai, mais ou menos por ordem de preferência:



Partículas Elementares de Oskar Roehler (2006)
Mulholland Drive de David Lynch (2001)
Crash de Paul Haggis (2004)
O Gosto dos Outros de Agnès Jaoui (2000)
Irreversível de Gaspar Noé (2002)
A Queda de Oliver Hirschbiegel (2004)
A Cidade de Deus de Fernando Meirelles (2002)
Brokeback Mountain de Ang Lee (2005)
Babel de Alejandro Iñárritu (2006)
Quem quer ser bilionário de Danny Boyle (2008)
Conversas com o meu Jardineiro de Jean Becker (2007)
O Inferno de Danis Tanovic (2005)
Perfume de Tom Tykwer (2006)
Dancer in the dark de Lars von Trier (2000)
Last Days de Gus Van Sant (2005)
O Fabuloso Destino de Amelie Poulain de Jean-Pierre Jeunet (2000)

domingo, janeiro 17, 2010

Aquecimento global trapalhada local

Resposta em conjunto com o caro João Vaz a um editorial trapalhão de "O Figueirense" sobre o aquecimento global:

O editorial de 8 Janeiro de 2010 intitulado “Do Embuste aos Negócios!” da autoria de V. Exa., director de “O Figueirense”, transmite várias ideias e apreciações erradas sobre o aquecimento global e a ciência em geral.
A conclusão de que o aquecimento global é causado pelo homem (com mais de 90% de certeza) decorre do cálculo do forçamento radiativo produzido pela actividade humana. Ao contrário do que se afirma no editorial, este resultado divulgado num relatório de 2007 da ONU já inclui a contribuição dos factores naturais (vulcões, ciclos solares, etc.) que determinam que a Terra oscile entre períodos quentes e frios, em que existiram desertos no Canadá e mantos gelo sobre a Europa. Os cientistas conhecem bem os ciclos da Terra até há 600 mil anos atrás, através da análise de gelos de Vostok.



O relatório da ONU foi revisto por 2500 especialistas do clima, sendo o resultado de milhares de trabalhos publicados nas revistas científicas de maior prestígio (revistas Nature e Science)
Refere-se no vosso editorial o caso climagate, em que os computadores de cientistas ingleses foram violados por piratas informáticos. Este fait divers que visava especular sobre o conteúdo dos emails não teve qualquer impacto científico. Publicações posteriores confirmam a curva de aumento de temperatura em causa ainda com mais solidez.
No mesmo editorial insinua-se que o problema do “buraco de ozono” é um embuste científico e que “foi de férias” [sic]. Segundo dados actuais a camada de ozono só recuperará completamente em 2070. A camada de ozono é continuamente monitorizada por satélites, cujas observações dão toda a razão aos cientistas quando em 1987 forçaram a implementação do Protocolo de Montreal para a redução de emissão de aerossóis (CFC), dado que o buraco da camada de ozono tem diminuído à medida que diminui a concentração de CFC.
Lamenta-se a colagem de um assunto (alterações climáticas) de grande solidez científica a negócios, até porque pela experiência os figueirenses sabem que um clima mais quente significa que um “negócio” menos desejável floresce: o “negócio dos incêndios”. Actualmente, a concentração de CO2 na atmosfera é superior a 350 ppm (partes por milhão), quando nos últimos 600 mil anos esta nunca ultrapassou os 300 ppm. Uma das consequências do aumento de CO2 é o incremento da acidez da água do mar que terá repercussões noutra actividade importanteno nosso concelho: a pesca. Somente esta razão deveria levar Joaquim Gil a usar o princípio da precaução quando se refere a estes problemas globais.
Por último não podemos deixar de referir a má leitura que o director de o Figueirense faz das palavras do artigo de opinião de Adriano Moreira. Logo na introdução, o artigo citado apoia com clareza a necessidade dos povos, especialmente os que mais contribuem i.e. os industrializados, em assumir as alterações climáticas como uma prioridade: “Mais uma vez o passo dado na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de Copenhaga é decepcionante em relação às esperanças semeadas pela prévia campanha mobilizadora da opinião pública mundial.» Adriano Moreira in Diário de Notícias 06.01.2010


Na mesma página podemos ler a resposta do Director de "O Figueirense". Quem está por dentro destes assuntos topa que o director não percebeu que o resultado que revela a influência humana (>90%) é o do forçamento radiativo. A curva ascendente de temperaturas é apenas um entre vários resultados que dão solidez a esta conclusão, algo que o director também não percebeu. Como não percebeu que o texto já continha as respostas às perguntas que formula.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Narco-turismo espacial

Esta notícia do Publico vai dar muitas ideias brilhantes ao Richard Branson da Virgin Galactic:

"A Agência espacial norte-americana (NASA) encontrou "uma pequena quantidade" de cocaína no edifício que alberga o vaivém Discovery, no Centro espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Florida, foi hoje revelado."

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Substituir Lajes por Centro de Socorro Internacional

A Base Militar das Lajes que não serve para fins sérios - serviu para transportar prisioneiros e armas nucleares clandestinamente, por exemplo - poderia ser usada para fins realmente úteis, quer para o nosso país quer para a comunidade internacional. Aproveitando os meios disponíveis poderia ser reconvertida num Centro Internacional de Socorro gerido pela ONU ou pela UE, que seria da maior utilidade para acorrer em casos de acidentes e calamidades naturais ocorridos no Atlântico Norte. No caso do furacão Katrina, os primeiros meios de socorro significativos só chegaram alguns dias depois, vindos do Canadá. No caso do avião da Airfrance que se despenhou ao largo do norte do Brasil, foi preciso esperar por barcos de exploração oceânicos vindos de França. E na presente catástrofe do Haiti, os meios vão chegar demasiado tarde para milhares de pessoas.

Dado que os EUA não têm implementado as compensações e os apoios aos Açores que constam do acordo com o nosso país, seria uma boa ocasião para negociar com uma outra entidade a utilização da base. Poderia propor-se à ONU ou à UE a instalação nas Lajes de um centro internacional equipado de barcos de transporte rápido de víveres e material de socorro, submarinos de pesquisa em profundidade e aviões de apoio logístico e socorro que seriam da maior utilidade num caso como o do Haiti. Seria também uma boa maneira de encerrar um capítulo do século XX e trilhar uma nova filosofia para o século XXI.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Filmes da década do Cahiers du Cinéma

Eis a escolha dos 10 filmes da década feita pela redacção do Cahiers du Cinéma:

1. Mulholland Drive, David Lynch
2. Elephant, Gus Van Sant
3. Tropical Malady, Apichatpong Weerasethakul
4. The Host, Bong Joon-ho
5. A History of Violence, David Cronenberg
6. La Graine et le mulet, Abdellatif Kechiche
7. A l’ouest des rails, Wang Bing
8. La guerre des mondes, Steven Spielberg
9. Le Nouveau monde, Terrence Malick
10.Ten, Abbas Kiarostami

Fico banzado com a escolha da Guerra dos Mundos. Sendo um grande consumidor de ficção científica considero esta década foi fraquíssima e tenho alguma dificuldade em escolher algum filme do meio da mediocridade. Salva-se a originalidade do Minority Report e do Inteligência Artificial.
Achei o "Uma História de Violência" uma bodega cheia de gajos aos gritos e de exageros gratuitos. Da escolha dos Cahiers subscrevo entre os filmes que vi o Mulholland Drive, La Graine et le mulet e o Elephant.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Empathic Civilization de Jeremy Rifkin

O autor de "A Economia do Hidrogénio" e "O Sonho Europeu", Jeremy Rifkin, acaba de publicar "Empathic Civilization" (edições Jeremy P. Tarcher). Neste sítio podemos ler gratuitamente a Introdução e o Capítulo I.

domingo, janeiro 10, 2010

Experiência que demonstra efeito de estufa

(publicado no portal Esquerda.net)

A astrofísica britânica Maggie Aderin Pocock, especialista em instrumentação para satélites de observação da Terra, tem-se distinguido por um trabalho de divulgação notável no domínio da climatologia. Através de uma experiência muito simples que poderá ser realizada numa escola, Maggie demonstra inequivocamente o papel do dióxido de carbono como gás de efeito de estufa e por conseguinte a sua influência directa no aquecimento do nosso planeta.




Munindo-se de dois simples garrafões de água vazios, um contendo uma mistura de ar normal da nossa atmosfera e o outro contendo ar com uma concentração superior de dióxido de carbono superior, Maggie irradia cada um dos garrafões com uma fonte de luz artificial que simula o nosso Sol (ver vídeo em inglês e vídeo em português). Os garrafões simulam a nossa atmosfera com duas composições diferentes. No início da experiência a temperatura dos dois garrafões é a mesma. Após breves minutos, a temperatura do garrafão onde se injectou dióxido de carbono está alguns graus acima da temperatura do gás com uma composição equivalente à da nossa atmosfera. Deste modo, através de uma simples experiência, Maggie demonstra um dos efeitos que foi frequentemente negado pelas grupos de interesse pouco interessados na resolução do aquecimento global.

O recente caso de piratagem dos computadores de cientistas do clima da Universidade de East Anglia, voltou a lançar algum ruído na comunicação social sobre a idoneidade da investigação do aquecimento global. No entanto, o árduo trabalho dos piratas foi em vão e nada do que foi revelado altera os resultados publicados nas revistas científicas da especialidade. A experiência de Maggie mostra de uma forma simples, quase ao alcance de todos, que hoje a ciência que explica o aquecimento global é sólida e facilmente verificável.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

O Editorial do Figueirense

O Editorial do Figueirense desta semana é confrangedor no nível de desconhecimento que revela sobre o que é a ciência, na confusão total do que se escreve à volta dos 2°C e sobre a conclusão absolutamente errada sobre o problema do buraco do ozono. O pior é que há informação abundante sobre estes temas nos sites das instituições científicas mais relevantes do mundo. Quando não se domina bem um assunto, o melhor é estar quieto.
Mas sobre os erros, as confusões e a desinformação, lá iremos!

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Umberto Eco a propósito de listas

Para viciados em listas como eu, a obra de Umberto Eco "A Vertigem das Listas" vem mesmo a calhar. Não sei se concordo com a tese deste livro "Gostamos de listas porque não queremos morrer", conclui Umberto Eco. Mas já se sabe que o viciado nunca simpatiza muito com a revelação da causa do seu vício.

Ler a entrevista de Umberto Eco à "Der Spiegel" a propósito das listas no Aventar ou no blogue da Patrícia Reis.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Um lembrete para a discussão do orçamento



Uma das coisas que mais me fascina na discussão deste orçamento é a lata com que os Tatcheristas do PSD falam da crise. Como se isto tudo fosse um problema exclusivamente interno. Como se a pancada económica que estamos a levar não tivesse nada a ver com as marotices de Tatcher e Reagan quando estes criaram todas as condições políticas para desacoplar o lucro da produção, abrindo autoestradas para gigantescas fraudes económicas e para a concentração de riqueza em sectores não produtivos. Desde os anos Tatcher, o ilusionismo matemático tomou conta da bolsa de Londres, a maior praça financeira do mundo. Estas práticas criticadas abertamente por traders como Dirk Mülller continuam a fazer parte do modelo económico de muita desta gente cheia de lata que fala da crise e do défice como se não fosse nada com ela. Por muito criticável que seja Sócrates, esse Tatcherismo tem as mãos muito mais sujas desta crise do que qualquer outra tendência política.

Córtex Frontal

Espero que a nova casa do José Medeiros Ferreira e da Joana os motive para escrever com mais frequência.

domingo, janeiro 03, 2010

Gazeta da Física especial astronomia

O Ano Internacional da Astronomia findou em 2009 mas algumas actividades prolongam-se até Março de 2010.
Aqui fica a ligação para um número da Gazeta da Física inteiramente dedicado ao trabalho que se faz na astronomia em Portugal, cujo editor foi o Filipe Moura. Lá poderão encontrar um texto escrito por mim sobre o projecto de telescópio de raios gama que andamos a congeminar há alguns anos.

Bom ano!