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Um grande erro foi deixar ao deus-dará as inúmeras organizações políticas democráticas oriundas do Médio Oriente e do Magreb instaladas na Europa, não lhes dar o devido apoio, não lhes dar voz, não os ajudar a estabelecer sólidas redes de trabalho. E aqui julgo que a esquerda europeia tem a sua dose de culpa. Depois de tantos fóruns e tantas manifs pouco, muito pouco foi feito para apoiar decentemente estas redes, sobretudo num momento hostil, em que cada borrada de George W. Bush funciona como um gigantesco balão de oxigénio para o integrismo islâmico. Vi com os meus próprios olhos quando estive em França, como à esquerda se preferia organizar uma manif popularucha contra a guerra ou contra a "Europa Neoliberal" (eu gostava de os ver a viver na "América Social" ou a trabalhar 16 horas por dia na Ásia) em que até a direita alinha, do que fazer acções para apoiar os movimentos progressistas dos países de tradição muçulmana. O problema é que hoje praticamente não existe esquerda nestes países. Ler, por exemplo, o caso do sírio comunista que se converteu ao integrismo no dossier sobre o Islamismo na edição da passada semana da Courrier International.
O escritor tunisino Abdelwahab Meddeb (na foto) é um dos poucos que se tem batido contra a avalanche integrista que devassa o Magreb. A sua intervenção a propósito dos cartoons no debate Ripostes referido na entrada anterior, foi refrescante e brilhante, mas causa angústia perceber que se bate com poucos contra muitos, mesmo muitos. Olhos nos olhos com o conservador Fouad Alaoui (presidente da Union des organisations islamiques de France), Meddeb denunciou o crescimento desmesurado no mundo muçulmano de um obscurantismo que ele apelidou de fascista. Foi um momento corajoso à antiga, que fez Fouad engolir em seco. Precisamos de mais Meddebs neste mundo, porque já toda a gente percebeu que não é com os escuteiros da US Army a guardar o Ministério do Petróleo Iraquiano que vamos lá.
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