Já há longos anos que se percebe que as forças armadas americanas não andam sintonizadas no mesmo comprimento de onda das suas congéneres europeias, no que toca ao respeito pelos inimigos. Eis alguns exemplos:
1. Durante a primeira guerra do Iraque todos nos lembramos dos mísseis decorados com mimos e insultos a Saddam e ao Iraque, do género: «eat this», «up your ass», «smile, you’re going to blow Saddam», etc. Nesta segunda guerra do Iraque repetiram-se de novo as gracinhas nas pontas mísseis e durante a invasão reparei nos nomes inscritos nos canos dos tanques do exército americano: «cojones», «death angels», «predator», «California mother fuckers», etc.
2. Mal acabada a guerra, a administração militar americana no Iraque lançou o famoso baralho de cartas. Sinceramente isto não me parece uma atitude de uma força militar séria, parece-me mais algo saído de um argumento de um filme de série B de Hollywood (deve ser a fonte de inspiração de quem teve esta brilhante ideia).
3. Quando Saddam foi capturado todos ouvimos claramente o «We’ve got him!». Por muito sinistro que tenha sido Saddam julgo que a nível institucional - altas patentes militares e governantes - não se deve ter um comportamento de putos de rua que andam a jogar à apanhada. Porque Saddam é um dos maiores criminosos daquela região do mundo deve ser tratado com gravidade e rigor, para que as vítimas possam sentir que a justiça é aplicada igualmente com rigor. Essa é a melhor justiça, a que deixa menos mazelas.
Neste clima de marialvismo militar misturado com crueldade bem ao jeito do filme «Nascido para Matar» de Stanley Kubrik, não espanta que tenham surgido estes casos de torturas. O pior é que durante estes abusos fica claro que existiu alguma tolerância de patentes mais elevadas e não só, nomeadamente de Rumsfeld.
Obviamente que em teatros de guerra este tipo de comportamentos acontece sempre com mais ou menos frequência, não existem exércitos puros. Mas num contexto de marialvismo militar com baralhos de cartas, mísseis decorados com maminhas e altas patentes com linguagem de putos de rua, a probabilidade de acontecerem abusos e torturas aumenta exponencialmente.
A Europa deveria demarcar-se
Na maior parte dos exércitos europeus estes comportamentos marialvas são proibidos. Tenho colegas franceses e alemães que serviram em destacamentos nos territórios da ex-Jugoslávia e para eles era proibido fazer pinturazinhas com graçolas no material militar e muito menos utilizar linguagem de puto de rua mesmo em face de adversários mais agressivos. É por estas e por outras que acho urgente a criação de um exército europeu com outro tipo de filosofia de intervenção e que respeite os adversários mesmo quando estes são assassinos dos mais execráveis. Em nome das vítimas.
Sem comentários:
Enviar um comentário