terça-feira, setembro 19, 2006

American Vertigo - o retrato de uma América doente

Bernard-Henri Lévy foi convidado pela revista cultural e literária Atlantic Monthly para percorrer e estudar a América seguindo os mesmos passos de Alexis de Tocqueville aquando da sua viagem pela jovem democracia americana em 1831. O propósito do périplo de Tocqueville pelos EUA foi o de estudar o sistema prisional americano, tendo publicado as conclusões da sua viagem na obra "Democracy in America".

"American Vertigo" de Bernard-Henri Lévy (BHL) é muito mais do que um estudo sobre o sistema prisional americano (aconselho-o vivamente ao caríssimo Zé Amaral), é um diagnóstico de um país que não é um país qualquer, quer o amemos quer o detestemos, trata-se do país mais influente do mundo.

O diagnóstico de BHL é claro, BHL encontra um país visivelmente doente, nas palavras do autor "une nation plus incertaine de ce qu'elle est, mal assurée de ce qu'elle devient, indéterminée quant à la valeur des valeurs, c'est-à-dire des mythes, qui l'ont fondée; c'est un trouble; c'est un malaise; c'est un vacillement des repères et des certitudes, un vertige" (pag.385). BHL justifica a sua tese de uma América doente recorrendo a quatro séries de sinais:

1) A desregulação dos mecanismos de memória. Exemplos de BHL: a negação do evolucionismo, a história fictícia do baseball contada no Hall of Fame de Cooperstown, os múltiplos museus onde o imaginário disney se substitui à história, a deturpação da nacionalidade dos piratas do ar do 11 de Setembro identificados como iraquianos nas sondagens, etc;

2) A obesidade económica, financeira e política: os giga-centros comerciais, as mega-igrejas, os ultra-parques de estacionamento (cliquem a apreciem o contraste), etc. Curiosamente BHL não dá importância à obesidade física dos Americanos;

3) As fracturas no espaço político e social. Basicamente, BHL anuncia o fim do melting pot e faz uma leitura de uma tribalização, de uma balcanização e de uma desintegração da sociedade;

4) A pobreza, a exclusão e as prisões. Para caracterizar estes sinais BHL chega a citar Pierre Bourdieu, embora não concordando totalmente com o autor: "[l'Amérique] a choisi d'opposer l'Etat pénal à l'Etat social, le modèle l'Etat-pénitence à celui de l'Etat providence, le filet des contrôles policiers puis carcéraux à celui du revenu minimal et des soins médicaux garantis" (pag. 396).

Sou suspeito para avaliar BHL, mas na minha opinião este é o livro do ano (não acredito em milagres até 31 de Dezembro de 2006) por razões que vão desde a forma ao conteúdo. "American Vertigo" é também o livro mais bem escrito entre todos os que li do autor. Continuarei a comentar "American Vertigo" em próximas entradas.

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