sexta-feira, novembro 10, 2006

Iraque: regresso da segregação das mulheres

No capítulo Women's Rights da entrevista da Joana Amaral Dias à iraquiana Mahmud Houzan, directora da Women´s Freedom in Iraq, Houzan faz um resumo deprimente e esclarecedor do recuo que sofreram os direitos das mulheres, desde que os EUA ocupam o país. É um depoimento que confirma muito daquilo que foi escrito por Ali Ajjam na Courrier International (edição nº795 26/1 a 1/2/2006 extraído do jornal Al-Hayat), num artigo intitulado "L'imam a remplacé Saddam" sobre a deriva islamista que flagela o país. Ali denuncia as pressões a que estão sujeitas as mulheres dentro das empresas: "on leur a conseillé avec insistance d'adopter le voile". No mesmo artigo Ali cita um académico, Amer Fayad: "la soumission aux hommes de religion a pris la relève de la soumission aux militaires de Saddam". Na cidade de Kout, a 180 km de Bagdad, foram criados tribunais religiosos que primam sobre o direito do estado, cujas principais vítimas são as mulheres. Bassorah, a segunda cidade mais importante do Iraque, é controlada por grupos armados religiosos. Podemos ler no mesmo artigo: "ces forces contrôllent totalement la ville, disposent à leur guise du budget de l'Etat, imposent leur volonté à la societé grâce à leurs milices. Tout cela anéanti la vie culturelle, et les habitants n'ont plus rien d'autre à faire que se morfondre dans une longue et triste suite de regrets".

Foi também esta "democracia" que a Administração Bush ajudou a nascer no Iraque. Todos os irredutíveis apoiantes da Administração Bush que cantaram hinos a um Iraque no bom caminho deveriam fazer uma reflexão séria sobre o que escreveram.

Também à esquerda estes testemunhos deveriam desencadear uma reflexão séria entre todos aqueles que consideram revolucionária a luta dos fascistas do Hamas, do Hezbollah e da Irmandade Muçulmana cuja atitude em relação às mulheres não é muito diferente da descrita. Expliquem-me o que há de revolucionário em humilhar e segregar as mulheres? No fundo o Hamas e afins têm uma visão sobre as mulheres e a família muito parecida com a dos judeus ultra-ortodoxos, a luta para proibir o desfile gay marcado para hoje em Jerusalém é disso um exemplo.

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