Em Agosto o DN publicava na primeira página os resultados de um estudo económico sobre qual seria o custo da factura da electricidade se se produzisse energia nuclear em Portugal. Detectei meia dúzia de erros, gafes e trapalhadas. Apesar de estar de férias, tentei sem sucesso contactar a jornalista para a alertar das incongruências do tal estudo.
Hoje às 15.00 participo num debate sobre o nuclear na FCUP. Para o preparar descarreguei da página da FEP o tal estudo, da autoria de Pedro Cosme Vieira da FEP, intitulado "Energia nuclear: Uma solução para Portugal?".
Trata-se de um estudo sobre uma questão importantíssima com 37 páginas... Descontando a capa, a contracapa e a bibliografia ficamos com 31 páginas de estudo. A análise económica, a polpa deste estudo começa na página 26 e acaba na página 32. Até à página 26 é só palha cheia de erros e alguns bem graves, como os 600 anos para que a radioactividade dos lixos tóxicos atinjam o nível da radioactividade natural. De facto são 600 mil anos! O autor não se esqueceu de acrescentar três zeros, visto que reforça qualitativamente a ideia dos 600 anos noutras passagens do estudo. A polpa do estudo está polvilhada de tabelas e gráficos de pouca utilidade. As contas que realmente interessam resumem-se a meia página (pag. 27), cabem num guardanapo de papel, e estão ao alcance de um bom aluno da quarta classe. As contas partem de um pressuposto errado. É que Portugal não são os EUA. Portugal não gastou cerca de 5821027000000 dólares num programa nuclear, como é o caso do programa americano. Portugal não tem nem as instalações, nem os laboratórios, nem as empresas especializadas, nem o pessoal qualificado que permitam construir uma central ao custo de 1500€/kW como o podem fazer os EUA. Por isso, o custo estimado pelo autor de 0,05€/kWh para electricidade de origem nuclear não tem grande significado, até porque nos EUA os consumidores domésticos pagam-na ao custo médio de 0,059€/kWh e os serviços a 0,076€/kWh. Em França - país que possui mais de 70 reactores - a electricidade custa 0,11€/kWh (sem iva).
Por todas estas razões considero que estamos perante um rascunho e não um estudo, e sublinhe-se que se trata de um mau rascunho. Convido os meus pares de física a espreitar os termos utilizados no texto, basta passar os olhos pelas primeiras páginas...
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