sábado, agosto 28, 2004

O ensino em Portugal nos últimos 200 anos

Carlos Fiolhais no seu livro "A coisa mais preciosa que temos", Gradiva, 2002, dedica um seccao ao "Atraso Português". É um texto brilhante onde é feito o retrato do ensino em Portugal nos últimos 200 anos. Esse texto vem acompanhado de significativos dados estatísticos que explicam inequivocamente a origem do nosso atraso. A comparacao entre a percentagem de pessoas de todas as idades que frequentavam a escola entre 1840 e 1928 dá-nos uma ideia muito clara da origem do nosso atraso:

País: % de pessoas na escola em
1840,1850,1887,1928

EUA: 15, 18, 22, 24
Inglaterra: ?, 12, 16, 16
Holanda: 12, 13, 14, 19
Rússia/URSS: ?, 2, 3, 12
Alemanha: 17, 16, 18, 17
França: 7, 10, 15, 11
Hungria: ?, ?, 12, 16
Espanha: 4, ?, 11, 11
Grécia: ?, 5, 6, 12
Portugal: ?, 1, 5, 6

Outro dado importante é o ano em que se atingiu a alfabetizacao de metade da populacao nas diferentes regioes da Europa. Eis o gráfico respectivo tirado do livro "A sociedade da confianca" publicado pelo Instituto Piaget:



A introducao tardia da escola primária em Portugal explica em parte este atraso. Apenas em 1894 se decretou que que o Ensino Primário Elementar era obrigatório para todas as criancas dos seis aos doze anos. Os 48 de ditadura salazarista acabaram por consolidar o atraso que já vinha do passado.

O JPT do Ma-Schamba tem razao quando diz que eu nao devo personalizar a discussao deste assunto atacando em demasia Fátima Bonifácio. A minha ideia era pegar no artigo de Fátima Bonifácio como um exemplo de uma opiniao típica bastante errada e arrogante sobre o ensino em Portugal. Do ponto de vista qualitativo o artigo de Fátima Bonifácio é muito semelhante `a opiniao do caixeiro viajante que telefona para o Forum da TSF e comeca todas as frases por "é assim". Refiro-me `a tradicional opiniao de que agora os jovens sao todos uns burros (versao Fátima é ignorantes) e que "dantes é que o ensino era bom".
O que eu esperava de uma especialista em história contemporânea era uma opiniao bem fundamentada, independentemente de ser certa ou errada. Acaba por ser irónico que um físico como Carlos Fiolhais escreva um artigo (também publicado no Primeiro de Janeiro) com muito mais qualidade e muito mais certeiro do que o artigo de Fátima Bonifácio. Por exemplo, quando Fátima Bonifácio critica que o investimento na educação é "uma promessa que em Portugal tem sido feita, com intermitências, de há perto de duzentos anos a esta parte" condenando a injeccao de dinheiro no sistema, perante os dados que Fiolhais nos fornece nao percebemos muito bem onde é que Portugal andou a investir a mais. O grande problema de Portugal é que investiu sempre a menos e demasiado tarde! Um indivíduo que nao conhecesse os autores dos dois artigos era capaz de se enganar e atribuir o artigo de Fiolhais a um especialista de história contemporânea!

JPT eu concordo contigo mas quando as pessoas usam e abusam da arrogância há que aplicar um valente puxao de orelhas como "dantes, quando o ensino era bom".

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