Convido-os a confrontar estes dois textos da passada quinta-feira sobre a Europa : o texto de Pacheco Pereira no Público e o de Miguel Portas no Diário de Notícias.
Digam lá sinceramente! Lêem alguma ideia nova sobre a Europa no texto de Pacheco Pereira? É que eu só extraio dali mais do mesmo. As mesmas ideias do impasse, as mesmas soluções que só eternizam conflitos, a única diferença é que estas ideias aparecem agora gastas e agastadas pelo tempo, pelo balanço forçosamente negativo da intervenção americana no Iraque que Pacheco Pereira continua a intrometer no discurso europeu.
Por outro lado leia-se o texto de Miguel Portas. A proposta é arrojada, mas o alcance é bem mais extenso do que o «ponto-morto» que Pacheco Pereira nos propõe. A Europa ligada ao mediterrâneo sul e o norte de África ligado ao mediterrâneo norte para acabar com as causas da emigração precária. O intercâmbio de competências técnicas, científicas, económicas, culturais parece-me também a solução mais desejável para que o mediterrâneo deixe de ser um fosso e volte a ser um mar entre dois continentes. A solução de Miguel Portas não é fácil, ainda é vaga e até pode parecer bastante utópica, mas é um excelente ponto de partida para termos um mundo mais inteligente.
Destaco a frase de Miguel Portas: "...a maioria das pessoas prefere ficar na sua terra se tiver condições de vida aceitáveis". Esta parece-me ser a chave para abordar as questões ligadas à emigração precária e ilegal. É por isso que a "aliança europa-mediterrâneo" que Portas refere faz todo sentido. Se se conseguir fazer circular nos dois sentidos as pessoas que têm real vontade de mudar de país e simultaneamente aproveitar essa mobilidade de cidadãos mais qualificados para produzir novas competências nas regiões mais desfavorecidas poderemos contribuir fortemente para evitar que as pessoas que emigram por falta de opções deixem progressivamente de o fazer, tornando as suas escolhas mais livres. Parece-me que assim temos maiores probabilidades de chegar a bom porto.
Destaco do texto de Pacheco Pereira : "...a completa impreparação europeia (em relação ao terrorismo)". Pacheco Pereira revela ser mais um dos que esquece o desmantelamento da primeira tentativa de atentado de larga escala da Al-Qaeda na Europa. Se não fossem as polícias alemã e francesa provavelmente no ano 2000 teria havido um gigantesco «bum» em Estrasburgo, no mesmo Estrasburgo por onde passam os caminhos de Pacheco Pereira desde 1999. Por isso algum reconhecimento a esse trabalho seria bonito, em vez de desprezo que tresanda a anti-francesismo militante. Ou será que só contam as que estoiram? (Os astrólogos também só contam as previsões em que acertam)
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