Envolvida num secretismo a fazer lembrar a primeira viagem tripulada de Yuri Gagarine, hoje ou amanhã a China tentará pela primeira vez enviar uma missão tripulada para o espaço. O foguetão Longa Marcha lançará o feliz Taikonauta que, se tudo correr bem, será recebido como um herói pelo regime e muito provavelmente também pelo povo Chinês.
Durante o tempo decorrido desde o início do programa espacial chinês até ao lançamento do primeiro Taikonauta a comunidade científica chinesa percorreu caminhos bem duros. A dureza a que me refiro não se resume apenas à dureza e à complexidade inerente ao trabalho que leva à realização deste tipo de missões. A maior dificuldade encontrada pelos investigadores chineses mais seniores foi o período da Revolução Cultural. Nessa altura as universidades foram encerradas durante cerca de 10 anos e os investigadores foram trabalhar para o campo e para a indústria. As consequências deste período ainda estão bem presentes no perfil da ciência chinesa. Existe aquilo a que se chama o buraco geracional. Esse buraco geracional foi bastante difícil de gerir sobretudo quando as universidades voltaram a abrir. Durante alguns anos coexistiam investigadores muito jovens e investigadores já de alguma idade que tinham estado 10 anos sem fazer investigação.
Em 97 tive oportunidade de testemunhar esse perfil particular do corpo científico chinês que parecia ter continuidade no perfil das instalações da CSSAR que visitei em Pequim. Registei o contraste entre os laboratórios instalados em casas que faziam lembrar garagens de reparações onde a internet era praticamente inexistente e o moderníssimo centro de controlo de missões espaciais, de fazer roer de inveja os centros de Houston ou de Moscovo, cheio de jovens chineses que me pareciam bastante à vontade com as novas tecnologias que tinham ali à disposição.
A ciência parece deste modo reabilitada num país que tem uma longuíssima tradição de contributos científicos valiosos. Agora só falta reabilitar o essencial...
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