terça-feira, outubro 28, 2003

A América que se questiona


Ao contrário da ideia que muitos tentam passar por cá, a América vive um período em que a sua sociedade coloca bastantes reservas sobre a direcção política actual. Nomeadamente a intervenção no Iraque e os custos astronómicos da war on terror, quando a passada semana se descobriu que um adolescente andava há meses a infiltrar objectos cortantes em aviões de linhas internas norte americanas sem ter sido detectado.

Livros como "Dude, Where's My Country?" de Michael Moore, o autor do excelente filme "Bowling for Columbine", ou "Bushwhacked: Life in George W. Bush's America" aparecem no topo das listas de vendas. São também inúmeros os livros e os calendários de citações infelizes e de gaffes de George W. Bush. Mais significativo ainda são o número de ensaios políticos em que a pergunta Why do they hate us? figura no respectivo resumo de contracapa.

São cada vez mais os comentadores dos principais canais de TV que criticam fortemente a situação no Iraque, tendo estas críticas subido de tom a semana passada quando Rumsfeld tentou "calar" os media americanos sobre as notícias diárias de ataques às tropas presentes no Iraque. A coisa chegou ao ponto de terem encomendado uma reportagem de um indivíduo de cerca de 40 anos que se tinha alistado como voluntário para ir para o Iraque. Apresentavam o seu regresso aos EUA onde perante um cenário idílico (relvinha e bandeira americana em pano de fundo, tendo como espectadores a família e amigos de ar sereno e confiante) fazia as seguintes declarações: "they love our troops", "we are helping them and they are gratful for that help", "it's sad when reporters only show attacks on our troops, that's not the real Iraq".



Há um ano atrás registei esta manifestação em Washington em frente ao Capitólio contra as novas leis que retiram direitos à defesa dos acusados, tudo por causa das paranóias da war on terror. Penso que é por aqui que a América terá de se renovar politicamente. Na Europa deveríamos estar mais atentos a estas pessoas que remam contra a maré e que às vezes são rotulados de traidores (na Europa seriam anti-americanos). Esta não é a Velha América de Rumsfeld, mas sim uma Nova América que não se revê num país que ainda não perdeu os tiques da Guerra Fria, que está farta de ver o seu país a gerar ódios pelo mundo fora e que deseja relacionar-se de uma forma mais aberta e saudável com o resto do mundo.

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