Já sabíamos que cabia a Ségolène atacar. Também já sabíamos que a Sarkozy bastava gerir a vantagem das sondagens. Apesar disso, Ségolène surpreendeu toda gente, inclusive o próprio Sarkozy. Ségolène esteve muito melhor no ataque a Sarkozy do que este a gerir a sua vantagem. Sabemos que a proeza de Ségolène terá pouca expressão na inversão da tendência de voto, mas foi muito interessante ver Sarkozy a entrar no debate de peito feito contra a semana das 35 horas de trabalho e a sair do debate com as 35 horas entre as pernas. Ficámos a saber que Sarkozy não quer acabar com as 35 horas, nem as principais associações patronais (estas já consultaram os índices de produtividade). Em vez, Sarkozy propõe aumentar as horas extraordinárias. Num país onde apenas metade dessas horas são utilizadas, a ideia é fraca.
Grandes calinadas foram proferidas pelos dois sobre a energia nuclear, valeu-lhes o desconhecimento sobre o assunto da generalidade dos eleitores. Ségolène patinou fortemente nos números da segurança social e Sarkozy transpareceu alguma insegurança nos seus conhecimentos quando interpelado com agressividade, mesmo quando tinha razão.
Foi essa determinação na interpelação do adversário, esse espremer constante dos conhecimentos e das propostas do outro, que fez deste debate um grande debate. Ambos se queimaram, ambos ficaram expostos às suas fragilidades, mas as propostas políticas ficaram muito mais claras para os eleitores. Estou a pensar nos quatro debates insonsos entre Kerry e Bush, onde se repetiam constantemente frases feitas, onde o raciocínio político era linear e simplista apesar da gravidade dos assuntos (como a guerra) e onde os candidatos se debatiam como se tivessem num campo de squash, contra a parede, e não olhos nos olhos.
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