Entre o que mais me choca no conflito iraquiano é essa imperial indiferença aos atentados que abalam diariamente o Iraque. No seu novo livro, o Miguel Portas descreve muito bem essa indiferença:
"[A televisão] mostra-nos a dor que se esconde nos escombros, nos cemitérios ou nas valas comuns. Mas mostrar e sentir estão longe de ser sinónimos. Depois, as câmaras iludem. A morte, a destruição e a miséria são perversamente cenográficas. E ao fim de alguns dias, o que vemos perde significado, é mais uma notícia, a mesma de ontem e de anteontem e, quase certo, a de amanhã. (...) [No Iraque] há muito que já não se somam os dias e perdeu conta aos mortos. "Aquilo" é o dia-a-dia. Quando assim é, as câmaras podem entrar nas ruínas de famílias amputadas, estropiadas e destroçadas, mas são incapazes de nos transportar para dentro dessa realidade. Ficamos de lado, imunizados, aturdidos ou indiferentes."
"No Labirinto: o Líbano entre Guerras, Política e Religião", Miguel Portas, Almedina, 2006, pag. 99.
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